Unidade não se faz por decreto
O presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização encara a semana de oração pela unidade dos cristãos, que começa este domingo [começou no passado domingo] como uma oportunidade de fortalecer o percurso ecuménico em Portugal.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Manuel Linda sublinha o sentido da frase bíblica que vai “dar o tom” a estes oito dias, “Dá-me de beber”, retirada do diálogo entre Jesus e a samaritana.
Para o prelado católico, num tempo em que judeus e samaritanos não se davam, o gesto de aproximação de Cristo àquela mulher continua hoje a ser um “símbolo de abertura” e um convite a que todas as pessoas tenham a “capacidade” de não se fecharem aos outros, “mesmo nos momentos difíceis”.
No caso das Igrejas cristãs, esta passagem do Evangelho apela a que elas continuem a estreitar laços, ainda que “a cultura, as tradições, os hábitos digam que não é possível”, salienta aquele responsável.
Num olhar para a caminhada ecuménica em Portugal, D. Manuel Linda diz que “oficialmente, formalmente”, têm sido dados no país “passos significativos na ordem da unidade”.
Isto depois de “um tempo em que a Igreja Católica era praticamente a única existente na sociedade” e os “grupos minoritários”, as outras confissões religiosas “porventura não eram tão respeitados como deveriam ser”.
“Pelo menos a hierarquia católica já colocou de lado aquele ódio, aquela desconfiança que existiria em relação a estes grupos evangélicos. Oxalá possamos dizê-lo a respeito de toda a Igreja Católica”, exorta D. Manuel Linda.
Ainda recentemente, os líderes das várias confissões cristãs existentes no país assinaram um acordo sobre o valor e aceitação mútua do baptismo.
No entanto, o bispo sustenta que é preciso ir mais além, com “a certeza de que a unidade não se faz por decreto”, é fundamentalmente “uma dádiva”.
Daí a importância dos cristãos pedirem e rezarem pela “unidade” nesta semana de oração, e que os sacerdotes saibam também “lembrar o povo de Deus que existem outras perspetivas cristãs” com as quais é preciso fortalecer laços.
D. Manuel Linda recorda que, independentemente das suas diferenças, as Igrejas cristãs “repartem a mesma base, a mesma fé, a mesma convicção de que só Jesus Cristo é o salvador”.
“A forma delas se organizarem, seja mais sinodal como é por exemplo na Igreja Evangélica, seja mais hierárquica, como na Igreja Católica, é de segunda importância. O nosso inimigo não é a outra convicção religiosa, é o agnosticismo ou o ateísmo”, defende o presidente Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização.
No que toca a esta área pastoral da Igreja Católica, D. Manuel Linda está plenamente convencido de que o sucesso do esforço missionário e a eficácia da evangelização depende também muito do ecumenismo.
“Há um grande escândalo neste mundo moderno, o facto de nós que nos reclamamos cristãos vivermos, ou termos vivido, de costas voltadas uns para os outros. Se formos ler muitos intelectuais do século XIX, eles acusam exatamente este toque: que credibilidade pode ter um cristianismo que se divide, que se guerreia um ao outro, nas suas várias fações, nas suas diversas Igrejas?”, conclui.
Li na Agência Ecclesia