Ecumenismo
Criação comum
Irmão Roger |
«Quer sejam católicas ou protestantes, as gerações ascendentes exigem mais do que reformas: um renascimento da comunidade cristã. Mas, muitas vezes, metem o carro à frente dos bois esquecendo que não há reforma de uma comunidade sem reforma do indivíduo. É preciso que o ser preceda o agir. Obcecados por uma vontade de reforma, arriscamo-nos a esquecer que a atualização começa nas profundezas de nós mesmos.
A estes jovens repito frequentemente: na comunhão fraterna que hoje junta várias gerações em Taizé, queremos escutar o Espírito Santo em vós, alargando a nossa inteligência, o nosso espírito, o nosso coração. Pedi a nossa conversão a Deus e construiremos em conjunto, e em conjunto diremos: «Vê, Senhor, o teu povo; considera os homens, nossos irmãos, pelo mundo. Separámo-nos, não nos conseguimos voltar a unir para participar numa criação comum. Desfaz a nossa suficiência. Abrasa-nos todos do fogo do teu amor».
E digo-lhes também: ninguém constrói a partir do zero. O poder das pulsões que vos anima pode fazer-vos crer que conseguireis reconstruir sozinhos. Mas o espírito do povo de Deus é construir com todos. Não esqueceis o dia de ontem. Nada de duradouro se realiza sem uma criação comum.
Na comunidade do povo de Deus, como em toda a comunidade cristã, conjugal ou outra, é cada membro que dia após dia participa na recriação de todo o corpo. Se um membro, dominado por uma paixão criadora pessoal, completa a sua obra sem a inserir na criação comum, destrói-a sem se dar conta.
Não há vida comum sem que a única referência de todos seja a de construir em conjunto. O sinal de comunhão que irradiará então entre os homens é mais importante do que a mais nobre obra individual, concebida à margem da comunidade.
A nossa criação torna-se comum desde que consideremos o que Deus nos prepara. Muitos são os sinais que hoje nos são dados. Deus prepara-nos uma comunidade cristã que será lugar de comunhão, que oferecerá à insegurança dos homens através do mundo um chão sólido para todos. Não haverá violência para chegar a esta comunhão. Ninguém será jamais arrancado à sua família eclesial ou humana. Proceder assim não seria uma criação comum. Seria ferir o amor, e quem fere o amor não constrói o povo de Deus.
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Irmão Roger (1915-2005)Fundador da comunidade ecuménica de Taizé, França
In Dynamique du provisoire, Les Presses de Taizé
Trad.: SNPC