domingo, 21 de junho de 2020

Continuidade e ruptura

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

"O recurso à diferença histórica não pode significar 
o culto da indiferença perante a violência, seja de que época for."

1. Os incitamentos à violência em nome de Deus, no chamado Antigo Testamento (AT), espantam-nos por boas e ambíguas razões. Por boas razões, porque a voz que pode ser escutada, em todos os tempos e lugares, no íntimo da consciência humana, consciência ética, não desresponsabiliza ninguém. O bem é para fazer e o mal para evitar, como o próprio S. Paulo lembrou [1]. Por outro lado, o poema que abre a actual organização da biblioteca do povo de Israel é um hino à bondade e à beleza do universo coroado pela harmonia do ser humano, masculino e feminino. É o fruto da bênção criadora de Deus extasiado com o seu próprio poema cósmico [2].
Nesta perspectiva, dizer Deus é evocar a infinita generosidade de fazer ser e de nos fazer uns para os outros, segundo o carisma de cada um, incompatível com a força demoníaca da destruição. O recurso à diferença histórica não pode significar o culto da indiferença perante a violência, seja de que época for.
Mas a violência actuante no AT pode espantar-nos por ambíguas razões. A mais ambígua de todas é a proclamação comunitária de salmos que invocam Deus para massacres diabólicos. É também ambígua, porque uma desejável selecção dos salmos ou de parte de alguns salmos, para a oração comunitária – o que me parece desejável –, poderia sugerir o projecto de uma Bíblia expurgada, mutilada. Seria uma violência contra a história e um atentado contra a biblioteca de um povo.

sábado, 20 de junho de 2020

A pandemia. Onde está Deus?

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


"A realidade é processual, e o crente em Deus como Amor e Anti-mal espera a salvação definitiva e plena para lá da morte."

A Universidade de Viena investigou a relação da religiosidade com a pandemia. Os resultados mostraram que as pessoas mais religiosas utilizam estratégias mais activas para dominar a crise. Enquanto as pessoas menos religiosas tendem a reprimi-la ou a negá-la, as mais religiosas procuram apoio social e lidam com ela de modo mais forte, mais optimista e com mais serenidade. 
São dados significativos. Não houve, creio, nenhum estudo sobre o outro lado, mas estou convencido de que dele resultaria que muitos, esmagados pela pandemia, pelo sofrimento, se perguntaram: Onde está Deus? 
A História é um autêntico calvário. Hegel referiu-se-lhe como um Schlachtbank: um açougue, um matadouro. E lá está o famoso dilema de Epicuro: Deus tem de ser todo-poderoso e infinitamente bom. Ou Deus pôde evitar o mal e não quis, e não é bom; ou quis e não pôde, e não é omnipotente. Ou quis e pôde; então, donde vem o mal? 
Mesmo teólogos de renome sentiram-se atenazados pelo dilema, de tal modo que alguns, como J. Moltmann, falaram de um Deus impotente, que sofre connosco; outros, como R. Guardini, chegaram a exclamar que “pediriam contas” a Deus pelo sofrimento dos inocentes, Karl Rahner disse que, “num tribunal humano, não sairia absolvido”, Karl Barth afirmou que, no Jardim das Oliveiras, quando Jesus rezava, suando sangue, Deus “se portou como Judas”, e Urs von Balthasar disse que “se deve falar de uma descarga de ira de Deus sobre aquele que lutava no Jardim das Oliveiras.” Nestas posições, a pergunta ergue-se talvez ainda mais veemente: acreditar como e para quê num Deus irado ou impotente?

VERÃO


Com um dia luminoso, o VERÃO chegou. A estação do calor, do sol luminoso, das praias da alegria, das águas cristalinas, das serras acolhedoras, das férias para descanso, dos amigos que voltam para matar saudades, dos encontros familiares e de tantos momentos de convívio está de volta! Sem pretender acordar tristezas, falar de vírus e mágoas desesperantes, de doenças que incomodam, de ausências, tantas de curta duração e outras definitivas, o VERÃO veio para nos animar a vencer barreiras, para restaurar a nossa esperança, para nos levar a criar raízes de partilha e verdade, para nos convidar a espalhar fraternidade, para nos abrir a novos horizontes.
Eu continuarei por aqui, se Deus quiser. Vontade não me falta!
Bom VERÃO para todos.

Fernando Martins

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Ria de Aveiro na literatura

Costa Nova e Barra
Torreira

“E voltando-se então, verá as águas mansas da extensíssima ria fulgurando de todos os lados: e, entre elas, as salinas, recticuladas pelos tabuleiros em evaporação, com os seus montes cónicos de sal novo dando a impressão de um largo acampamento de tendas imaculadamente brancas espalhadas a perder de vista pela vastidão dos polders. Para o sul, terá o braço da ria que segue para Ílhavo e Vagos e que margina os pinhais e campos arenosos da Gafanha; a seguir, em sentido inverso, o outro braço que se alonga para as Duas Águas e vai dar à Barra, e donde emergem as mastreações das chalupas e iates ancorados; ao poente, a linha fulva das dunas da costa, vaporizadas pela tremulina; e para o norte a imensa ria da Torreira, onde o arquipélago das ilhas baixas, formadas pelas aluviões, a Testada, o Amoroso, a dos Ovos, a das Gaivotas, Monte Farinha, verdejam nas suas extensas praias de junco. E nessa vastidão de águas tranquilas, nesse gigantesco pólipo fluvial que por todos os lados estende os seus fluídos tentáculos, entre a rede confusa dos esteiros e canais, bordados de tamargueiras e de caniços, velas sem conta, velas às dezenas, às centenas, vão, vêm, bolinando em todos os sentidos, e pondo no verde das terras ou no azul das águas a doçura do seu deslizar silencioso e a graça da silhueta branca.”


Luís de Magalhães

In “A arte e a natureza em Portugal”, 
citado por Orlando de Oliveira,
no seu livro "Origens da Ria de Aveiro"

Não tenhais medo! Confiai em mim

Reflexão de Georgino Rocha 
para o XII domingo do Tempo Comum

"Ocorre, hoje, o dia europeu da música e o início do Verão. Boa oportunidade para a mudança de sentimentos negativos e timoratos, saborear o novo ambiente social que vai surgindo e fomentar a harmonia e a beleza do universo."

Os discípulos recebem a missão de Jesus de ir anunciar a Boa Notícia do Reino, de ir por aldeias e cidades, de praticar actos de libertação em favor das pessoas necessitadas e de denúncia de situações opressivas. O desempenho da missão está cheio de riscos: desprezo, injúrias, perseguições, morte. Como Lhe vem a acontecer a Ele.
Que sentimentos e emoções assaltariam o seu coração ao ouvirem tal anúncio? E nós, ao contemplar o rosto sereno e a voz firme de Jesus, ao escutar a exortação a não temer, a não ter medo, mas a confiar porque é essa a vontade do Pai? E nós, ao tomarmos consciência do que acontece hoje no mundo e na Igreja? Lembremos o cortejo de rostos humanos desfigurados e de símbolos religiosos banidos da “praça pública”.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Porto de Aveiro visto do Miradouro...







Junto à rotunda onde termina a Avenida José Estêvão que atravessa a Gafanha da Nazaré, dando acesso ao Jardim Oudinot, Forte da Barra, Farol e outros destinos, há um miradouro que me intrigava. Para que serviria aquilo? Vai daí, hoje com tempo, parei para ver. E descobri, então, que tem a sua utilidade: O turista chega, sobe as escadinhas (com alguma dificuldade para mim) e pode apreciar uma boa parte da Zona Portuária, com Farol, Forte, Jardim Oudinot, ponte, laguna e casario...

NOTA:
1. Fotos registadas com telemóvel
2. Clicar nas imagens para ampliar

POBREZA: É a hora de todos colaborarem

«É preciso deixar ideologias, 
esta é a hora de todos colaborarem»

Pobreza - Foto da Cáritas 

“Assim aconteceu quando se viabilizaram as medidas de prevenção do Covid-19, no nosso país, portanto é possível. Que os deputados com assento parlamentar discutam a real situação da pobreza, se revelem verdadeiros políticos, que a sua motivação seja a defesa do bem comum”. 

Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa 

Ler mais na Agência Ecclesia

Gafanha na Literatura


“É certo que de cada popa se vê um Portugal diferente, conforme a latitude: verde e gaiteiro em cima, salino e moliceiro no meio, maneirinho e a rilhar alfarroba no fundo. Camponeses de branqueta e soeste a apanhar sargaço na Apúlia, marnotos a arquitectar brancura em Aveiro, saloios a hortelar em Caneças, ganhões de pelico a lavrar em Odemira, árabes a apanhar figos em Loulé. Metendo o barco pela terra dentro, é mesmo possível ir mais além. Assistir, em Gaia, à chegada do suor do Doiro, ver transformar em húmus as dunas da Gafanha, ter miragens nos campos de Coimbra, quando a cheia afoga os choupos, fotografar as tercenas abandonadas do Lis, contemplar, no cenário da Arrábida, a face mística da nossa poesia, ou cansar os olhos na tristeza dos sobreirais do Sado. Mas são vistas… Imagens variegadas dum caleidoscópio que vai mudando no fundo da mesma luneta de observação.”

Miguel Torga

In PORTUGAL

Nota: Foto publicada na revista "Aveiro e o seu Distrito", nº 5, para ilustrar um trabalho de Frederico de Moura (Médico e licenciado em Letras - História e Filosofia), intitulado "Apontamentos para um trabalho sobre a paisagem de Aveiro". A foto mostra um batatal na Gafanha. O guarda-sol protege um bebé que deve estar a dormir numa canastra, berço típico das Gafanhas, nos ambientes agrícolas.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Palmeiras no Oudinot e na Costa Nova

Marginal da Costa Nova
Marginal na Costa Nova
A Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) substituiu as 22 palmeiras afetadas na Calçada Arrais Ançã (na Costa Nova) e outras 20 palmeiras no Jardim Oudinot, Gafanha da Nazaré, por outras palmeiras da espécie washingtónias, mais robustas e onde o escaravelho-vermelho não provoca danos, ação que tem um custo global de 40 590 euros. No ano passado, a CMI já tinha realizado idêntica operação na Praia da Barra e no relvado marginal à ria da Costa Nova.

Fonte: Timoneiro 

terça-feira, 16 de junho de 2020

Estabilidade...



Na vida, qualquer ser humano luta incansavelmente para chegar à estabilidade. E não é fácil, tais são os obstáculos que surgem na caminhada. Teimando e treinando haverá sempre hipóteses de alcançar os objetivos desejados, que são a garantia do equilíbrio. Na natureza a estabilidade é notória... 
Ao fixar no retrato esta estabilidade aplicada e traduzida nos cubos à entrada da moradia, sentimos que ali está patente o desejo de concretizar o sonho de uma vivência equilibrada, talvez um sinal de felicidade tranquila.

Flores



A beleza da natureza está pujante em todos os cantos, mas com a pressa da vida nem tempo temos para a apreciar. Quando saio para o meu quintal, deparo com flores que me deixam embebecido. E então prometo a mim mesmo que é altura de pôr de lado frivolidades para dar mais atenção ao belo que me cerca.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Vingança do cato


Um dos catos que temos cá por casa foi sujeito a uma poda... Quando se julgava que estaria condenado a morte lenta, fomos surpreendidos pelo seu amor à vida. Quando menos se esperava, venceu a sua alegria de voltar ao nosso convívio. 
Dos quatro troncos, de um dia para o outro, brotaram filhotes como vingança pelo que lhe fizeram. Tudo se conjuga para daqui a uns meses o cato se apresentar como um ramalhete...

domingo, 14 de junho de 2020

A Bíblia, Trump e a violência

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

1. Donald Trump não era obrigado, mas seguiu o costume de fazer o juramento de posse de Presidente dos EUA sobre a Bíblia. Agora, acossado pelas manifestações contra a morte do afro-americano George Floyd, exibiu-a como autentificação divina da sua política.
As Sociedades Bíblicas Unidas e os diferentes movimentos bíblicos católicos não podem protestar contra o uso da obra mais traduzida e editada no mundo. A Bíblia não é sempre inocente em relação à guerra, ao terror, à violência.
É verdade que o movimento fundamentalista norte-americano confessa que a Bíblia é inspirada pelo Espírito Santo, razão da inerrância das suas escrituras. Servir-se dessa equívoca evocação, para cobertura da política nacional e internacional de Donald Trump que destila ódio e violência, obriga a questionar esse ambíguo biblismo.
É frequente a pergunta: não será o próprio Antigo Testamento (AT), acolhido nas edições cristãs da Bíblia, que documenta as mais extremas e cruéis práticas de ódio e violência, não apenas em nome de Deus, mas até por ordem de Deus?
Não é legítimo responder com o recurso ao contexto histórico para desculpar actuações que foram, são e serão sempre criminosas.
Comecemos pelo mais elementar: de onde vem a palavra Bíblia?
Existia uma cidade fenícia, muito antiga, Biblos, cujas ruínas são visíveis, hoje, no Líbano. É sabido que os fenícios inventaram um dos primeiros alfabetos com 22 signos. Desde o século XI a.C., Biblos era um importante lugar de produção do papiro e tinha uma reputada escola de escribas. Não admira que os seus escritos tenham usado o nome da cidade. A língua grega herdou a palavra biblion para designar um escrito, um livro. Em grego, o plural – livros – diz-se: ta biblia. Este plural usava-se, também, para designar uma biblioteca. Alguns séculos, antes da nossa era, os judeus de cultura grega usaram esta expressão, ta biblia, para designar a colecção dos seus livros sagrados.

Desconfinados e desmascarados. 2

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Na crónica anterior, tentei reflectir sobre o desconfinamento. A crónica de hoje, que não põe de modo nenhum em causa a importância do uso da máscara no contexto da pandemia, tenta ser uma breve reflexão sobre outras máscaras e a necessidade do desmascaramento, outro desmascaramento. Não se dedica a um estudo aprofundado sobre a história e a riqueza cultural da máscara, desde as máscaras das divindades e dos guerreiros, passando pelo teatro, até aos bailes de máscaras e aos carnavais. Aqui, é aquela máscara que colocamos, umas vezes inconscientemente outras conscientemente, para parecermos o que realmente não somos, enganarmos os outros e enganarmo-nos a nós próprios. Temos medo e vergonha de nós, do que verdadeiramente somos? O desmascaramento é particularmente urgente numa sociedade como a nossa: sociedade do parecer, da pós-verdade, do espectáculo e, por isso, da mentira e da ilusão.
Quem esperava esta pandemia? Um vírus invisível chegou e invadiu o planeta e atingiu a Humanidade inteira. E foi preciso fazer uma pausa, e tudo o que parecia inadiável ficou parado, para depois, para quando for possível. Afinal, quais são as prioridades? Foi e é preciso colocar uma máscara, porque a covid-19 nos desmascarou quanto à nossa pretensa omnipotência. Afinal, não somos omnipotentes nem imortais. Fomos desmascarados. Como disse o filósofo Nicolas Grimaldi, "trata-se de um acontecimento natural como pode sê-lo um tremor de terra. Isso teria interessado a Pascal: como é que um infinitamente pequeno como um vírus pode produzir efeitos tão imensos? A Humanidade toma consciência da sua universalidade ao tomar consciência da sua mortalidade, da sua precariedade, em toda a parte no mundo, no mesmo momento. De repente, é-nos lembrado: é igual em toda a parte, porque vamos morrer." E fomos obrigados, inevitavelmente, a pensar. Porque é a morte, o impensável, que obriga a pensar no essencial: o que é morrer?, o que é estar morto?, para onde vão os mortos?, "onde estarei quando deixar de existir?" (Tolstoi), "que morto serei para os que me sobreviverem?" (Paul Ricoeur), o que é existir autenticamente, porque é que há algo e não nada?, para quê tudo?, qual é o sentido último da minha vida?, o que sou?, quem sou?, o que é que quero verdadeiramente ser?, o que é que autenticamente vale?

sábado, 13 de junho de 2020

Prémio Europeu para Tolentino Mendonça

  
O cardeal José Tolentino Mendonça venceu a edição deste ano do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, pelo seu contributo “excecional” enquanto divulgador da cultura e dos valores europeus, anunciaram este sábado os promotores. Os membros do júri frisaram que ficaram "impressionados com a capacidade que Tolentino  Mendonça demonstra ao divulgar a Beleza e a Poesia como parte do património cultural intangível da Europa e do mundo". E referiram a sua arte de comunicar multifacetada, quer através da  sua notável poesia, quer dos artigos de opinião publicados  na imprensa portuguesa e italiana.

Ler mais aqui 

Verão sem festas

Parque Infante D. Pedro
Está visto e revisto que o próximo verão vai ser muito monótono sob o ponte de vista festivo. Os programas oficiais de autarquias e paróquias não contemplam festas. E sem elas, teremos de recorrer à imaginação para nos divertirmos sem ajuntamentos. Mesmo que as condições de saúde pública se alterem para melhor, o que será desejável mas difícil de prever, não haverá possibilidades de organizar as tradicionais festas, tanto de âmbito particular como de freguesia e concelhia, como regional e nacional. 
Nesse pressuposto, temos à nossa disposição e imaginação tempo para recrearmos os nossos lazeres de férias e de convívios, porque nem só de trabalho vivemos nós. Dentro do que será permitido, podemos enveredar por passeios, perto ou mais longe, viagens que nos permitam contemplar outros ambientes, pessoas e culturas, recorrendo aos nossos próprios meios para registar o que mais nos sensibilizou, porque não faltam plataformas digitais para tudo partilhar, numa troca frutuosa de gostos, os mais diversos e até acessíveis. E para além disso, há leituras para pôr em dia, músicas para recordar, filmes para ver ou rever, encontros familiares para nos sentirmos mais próximos, passeios sempre apetecidos. 
Boas férias para todos no próximo verão.

Fernando Martins

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Poesia de Daniel Faria

Para momentos de tempo livre




Os livros fazem parte natural dos meus momentos livres, em férias ou fora delas. É assim desde que me conheço como capaz de ler. É por isso que não posso dizer, com propriedade, que nada tenho que fazer. Ao lado das minhas obrigações, profissionais, familiares e outras, tenho os livros por salutares companheiros de jornada. 
Quando cheguei à Figueira da Foz para um período de algum afastamento do dia a dia na terra que me viu nascer, a minha primeira saída foi a uma livraria para apreciar as novidades. E desta vez, a novidade não seria assim tão atual, já que saiu, em primeira edição, em 2013. Trata-se de “POESIA” de Daniel Faria, com reedição de Abril de 2019, da responsabilidade da Assírio & Alvim. O cuidado da edição é de Vera Vouga que, em Confidência (Prefácio à Poesia de um poeta maior), traça um bonito perfil de Daniel Faria, utilizando frases e poemas do poeta que faleceu em 9 de junho de 1999, com apenas 28 anos, prestes a concluir o noviciado no mosteiro de Singeverga, vitimado por um acidente. 
Ter este livro, 458 páginas, à mão, para ser lido, poema a poema, sem pressas, que a poesia é alimento para saborear, é um prazer que não tem explicação. Os seus versos são preciosas vitaminas que animam o espírito, afastando dos nossos quotidianos tanta frivolidade... 
Como simples leitor, que pouco ou nada sei de crítica literária, aqui deixo uma modesta contribuição para quem gosta de ler. É uma simples opinião que vale o que vale para muitos, que não para mim. Alguns dos meus amigos saberão apreciar a poesia de Daniel Faria e talvez outros digam que isto nada lhes diz. 

Um poema de Daniel Faria 

Escolha minha para 

Lita, 
Aida 
Filipa 

MULHER 

Antes da noite 
Brunirás os montes 

Bordarás a chuva 
Tecerás o tempo 

Com as tuas lágrimas 
Lavarás o vento


Fernando Martins


Tolentino Mendonça - O que é amar um país

Dia de Portugal, de Camões
e das Comunidades Portuguesas

Cardeal Tolentino (Foto do meu arquivo)

O QUE É AMAR UM PAÍS

Agradeço ao senhor Presidente o convite para presidir à Comissão das comemorações do dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Estas comemorações estavam para acontecer não só com outro formato, mas também noutro lugar, a Madeira. No poema inicial do seu livro intitulado Flash, o poeta Herberto Helder, ali nascido, recorda justamente «como pesa na água (…) a raiz de uma ilha». Gostaria de iniciar este discurso, que pensei como uma reflexão sobre as raízes, por saudar a raiz dessa ilha-arquipélago, também minha raiz, que desde há seis séculos se tornou uma das admiráveis entradas atlânticas de Portugal.
É uma bela tradição da nossa República esta de convidar um cidadão a tomar a palavra neste contexto solene para assim representar a comunidade de concidadãos que somos. É nessa condição, como mais um entre os dez milhões de portugueses, que hoje me dirijo às mulheres e aos homens do meu país, àquelas e àqueles que dia-a-dia o constroem, suscitam, amam e sonham, que dia-a-dia encarnam Portugal onde quer que Portugal seja: no território continental ou nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, no espaço físico nacional ou nas extensas redes da nossa diáspora.
Se interrogássemos cada um, provavelmente responderia que está apenas a cuidar da sua parte – a tratar do seu trabalho, da sua família; a cultivar as suas relações ou o seu território de vizinhança – mas é importante que se recorde que, cuidando das múltiplas partes, estamos juntos a edificar o todo. Cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele. Pois quando arquitetamos uma casa não podemos esquecer que, nesse momento, estamos também a construir a cidade. E quando pomos no mar a nossa embarcação não somos apenas responsáveis por ela, mas pelo inteiro oceano. Ou quando queremos interpretar a árvore não podemos esquecer que ela não viveria sem as raízes.

Jesus chama os discípulos e envia-os em missão

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XI do Tempo Comum


Jesus chama os discípulos, após ter percorrido aldeias e povoados, ensinado nas sinagogas, pregado a Boa Notícia do Reino e curado enfermos. Desperta o interesse das pessoas que O seguem em multidão. O seu proceder era diferente do habitual entre os pregadores itinerantes, contrastava com a mentalidade predominante, preferindo a misericórdia ao sacrifício e o amor à lei e sua observância. 
Ao ver a multidão e sentindo compaixão por ela pois estava cansada e abatida, abandonada como ovelhas sem pastor, Jesus chama os discípulos pelo seu nome. São os Apóstolos, os DOZE. Mt 9, 36 e 10,1-8. São eles: Simão chamado Pedro, André, Tiago e João, filhos de Zebedeu, Filipe e Bartolomeu, Tomé e Mateus, o publicano, Tiago, filho de Alfeu e Tadeu, Simão, o Cananeu e Judas Iscariotes.
Que diversidade de pertenças e de situações sociais. E que grande iniciação lhes faz Jesus, antes de os enviar em missão. Depois o Espírito Santo se encarrega de prosseguir esta formação. Alguns exemplos facilitam o acesso a este labor. Os irmãos de sangue vêem as suas relações determinadas pelo fazer a vontade do Pai (Mt 12, 50); Mateus, de cobrador de impostos e colaboracionista do sistema administrativo romano torna-se discípulo e Apóstolo; Simão, o Cananeu, de um passado de zelota, de resistente armado contra os Romanos, de igual modo; Judas que de amigo vem a ser o traidor. (Manicardi).
Jesus revela o seu propósito original – o de dar início ao projecto de um relacionamento humano de iguais, onde se valorizem as diferenças e se promova a liberdade. A partir do seu grupo, esteios da Igreja e luzeiros da nova humanidade. Por isso, os envia em missão e lhes indica o mundo como horizonte, o serviço de libertação integral como acção concreta, a compaixão como atitude constante e solícita.
“Ide”, diz-lhes Jesus. Percorrei os caminhos da vida, entrai em casa de quem vos receber e proclamai a Boa Nova de que sois portadores.
O Papa Francisco no seu comentário afirma: “Se um discípulo fica parado e não sai, não dá aos outros aquilo que recebeu no Batismo, não é um verdadeiro discípulo de Jesus: falta-lhe a missionariedade, falta-lhe sair de si próprio para levar gratuitamente alguma coisa boa aos outros vindo”.
E o Papa continua: “Contudo, há outro percurso do discípulo de Jesus: o percurso interior, o percurso dentro de si, o percurso do discípulo que procura o Senhor todos os dias, na oração, na meditação. E conclui: Se não procurar continuamente a Deus, o Evangelho que leva aos outros será um Evangelho débil, diluído, sem força”.
Como “encaixamos” no nosso dia-a-dia estas indicações de Jesus? Que sentido lhes damos? Sentimos “o fogo” da missão, saímos da nossa zona de conforto e vemos com olhos novos as situações gritantes que nos rodeiam e nos chegam de toda a parte a pedir ajuda para aliviar a sua desumanidade?
Tolentino de Mendonça, cardeal madeirense que, no passado dia 10, presidiu às Comemorações do Dia de Portugal, diz na sua solene mensagem:
“Uma comunidade desvitaliza-se quando perde a dimensão humana, quando deixa de colocar a pessoa humana no centro, quando não se empenha em tornar concreta a justiça social, quando desiste de corrigir as drásticas assimetrias que nos desirmanam, quando, com os olhos postos naqueles que se podem posicionar como primeiros, se esquece daqueles que são os últimos. Não podemos esquecer a multidão dos nossos concidadãos para quem o Covid-19 ficará como sinónimo de desemprego, de diminuição de condições de vida, de empobrecimento radical e mesmo de fome. Esta tem de ser uma hora de solidariedade.”

Pe. Georgino Rocha

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Portugal é um país seguro

País seguro (Foto da rede global)
Segundo o Índice Global de Paz, Portugal é o terceiro país mais seguro do mundo. Subiu uma posição em comparação com o ano anterior. Em 2013, Portugal ocupava o 18.º lugar.
À margem da cerimónia de entrega de 224 novas viaturas à GNR, Eduardo Cabrita considerou aos jornalistas que, o facto de o país estar em “3.º, 4.º ou 5.º” não é importante, porque o que é “muito significativo” é que Portugal tenha vindo, “gradualmente, ano a ano, a consolidar esta imagem” de segurança".

NOTA: Um dado muito importante para quem nos visita ou pretende visitar, mas também para nós que prezamos a tranquilidade. E  já agora, importa continuar a valorizar esta componente, num tempo em que o turismo contribui para o nosso  equilíbrio económico e financeiro. 

O avião só descola...

"Quando tudo parece estar contra ti, 
lembra-te que é contra o vento, e não com o vento a favor, 
que o avião descola"

Henry Ford (1863-1947), norte-americano, 
fundador da Ford Motor Company

"Escrito na Pedra"  do PÚBLICO

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades

Mosteiro dos Jerónimos

Celebrou-se hoje, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, sob o signo das limitações impostas pelo Covid-19, sem multidões mas com dignidade. 
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alertou, no seu discurso, que chegou «o momento para acordarmos», pois a pandemia ainda não terminou». «É preciso mudar o que é preciso mudar», disse. e informou que  vai homenagear os profissionais de saúde, «os heróis» que têm estado na primeira linha no combate à pandemia.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que somos capazes  de controlar a expansão da epidemia para níveis para os quais temos, neste momento, capacidade de resposta. E adiantou que «estamos confrontados agora com uma crise económica e social muito profunda que exige o mesmo espírito de cooperação e de convergência política nacional de todos os partidos na Assembleia da República, de todas as instituições nacionais, regionais e locais».

O cardeal Tolentino Mendonça, presidente destas celebrações que estiveram programadas para Lisboa, Funchal e África do Sul, mostrou a sua preocupação sobre os mais jovens, envolvidos por incertezas quanto ao futuro, e pelos mais velhos e mais pobres, e disse que o pior que nos poderia acontecer seria arrumarmos a sociedade em faixas etárias, resignando-nos a uma visão desagregadora e desigual, «como se não fôssemos a todo o momento uma coisa coesa e inseparável». 
Tolentino Mendonça sublinhou a necessidade de uma visão inclusiva das diversas gerações. «É uma erro pensar uma geração como dispensável ou como peso, pois não podemos viver uns sem os outros. É essa a lição das raízes.»
O cardeal Tolentino Mendonça destacou o sentido da pertença a uma nação e afirmou que o amor a um país implica «não só a admiração e o orgulho, mas também a compaixão», frisando  ainda «o exercício efetivo de fraternidade».
Apresentando-se como membro da «comunidade de concidadãos», incluindo as «extensas redes» da diáspora, o cardeal lembrou que «cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele». «Portugal é uma viagem que fazemos juntos há quase nove séculos», procurando criar «uma comunidade aberta e justa», acrescentou.

F. M.

Poesia no jardim

Figueira da Foz





A arte na rua chega, inevitavelmente, a toda a gente. E quem a lê ficará mais sensível ao que o rodeia. Se pensarmos bem, reconheceremos que há artes e história em cada esquina. Em cada largo, praça e  ruas, com os nomes com que foram batizados, poderemos ver motivos para descobrirmos marcas indeléveis de quem foi importante na região e até no país.
Quem passeia deve ter nos seus horizontes a valorização pessoal. Eu sei que nem sempre há tempo para isso, mas urge aproveitar as caminhadas para aprendermos algo que contribua para a nossa formação. 

NOTA: Clique nas fotos para ampliar.

Acolhe Jesus, o Pão da Vida

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa do Corpo de Deus



Jesus, após a multiplicação dos pães, faz um ensinamento cheio de novidade na sinagoga de Cafarnaúm que provoca as mais diversas reacções. É um ensinamento em que desvenda toda a riqueza do seu amor por nós, a vontade de entregar o seu corpo e derramar o seu sangue em benefício de toda a humanidade, a decisão de ficar com aqueles que acreditem na sua palavra, comunguem o seu desejo e acolham a sua oferta. Que generosidade maravilhosa! Jo 6, 51-58.
A Igreja celebra esta maravilha na Eucaristia, sobretudo dominical, e uma vez ao ano na Festa do Corpo de Deus. Pretende realizar o que Jesus deixou como mandato aos seus discípulos: “Fazei isto em memória de Mim”. Nasce assim a celebração que dá por vários nomes, sendo o mais popular a missa, conhece vários modos de organização, incorpora vários ritos que, muitas vezes, a pretexto de a solenizar e embelezar, a transformam numa cerimónia de pompa e de personalidades. Por isso, surgiu o movimento da reforma litúrgica que o Concílio Vaticano II assumiu e ordenou e o magistério da Igreja vai implementando.
As reacções dos ouvintes são diversas: a multidão saciada quer confirmar a fonte do seu sustento, muitos discípulos acham duras as declarações de Jesus e deixam de andar com ele, as autoridades censuram-no abertamente, lembrando a sua humilde pertença familiar. “Deixai de criticar” – admoesta-os ele, fazendo apelo a Deus Pai que o enviou. Um pequeno grupo, de que se destaca Simão Pedro, garante-lhe fidelidade e afirma que só ele tem palavras de vida eterna.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Schoenstatt evoca Paulo Teixeira



Na impossibilidade de estar presente, fisicamente, estarei em espírito na celebração, em homenagem ao amigo que Deus chamou e acolheu no seu coração maternal. Ficará em nós o seu exemplo de dedicação à Igreja e ao Movimento de Schoenstatt, mas ainda a outras instituições da nossa terra. 

Fernando Martins


Buarcos... de passagem


Casamento entre o antigo e o moderno
O educativo 

O espiritual 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Figueira da Foz para variar


Para variar, que a experiência aconselha, dei um saltinho até à Figueira da Foz. Dirão os meus amigos que os ares são os mesmos, tocados pelo mesmo mar e pelas mesmas ventanias, mas há sempre algumas diferenças, que eu bem as noto quando chego. Foi o caso. 
Por aqui tenho andado sem enfado. O silêncio esperado, o aconchego desejado, a serenidade no corpo e na alma, o ânimo à procura de motivos para se não perder em banalidades. Faço o exame de consciência e penso com tempo sobre o que fazer e como fazer e desejo ensaiar novas formas de ver e de partilhar e sinto que me faltam forças para inovar. 
Olho o oceano cujo Dia Mundial hoje se comemora e aprecio a mansidão das águas que nunca atravessei para além das praias de areais convidativos. E por aqui me fico na contemplação dos anos que vivi com alguns sonhos tão longínquos.

F. M. 

domingo, 7 de junho de 2020

Viver é muito perigoso

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO


1. O título desta crónica anda comigo desde 1962. Quando o dominicano brasileiro, Frei Mateus Rocha, foi a Toulouse convidar-me para ir trabalhar no Instituto de Teologia da Universidade de Brasília, falou-me apaixonadamente do Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa [1]. Deixou-me o exemplar que trazia consigo, com o aviso: vais conhecer a obra-prima da literatura brasileira e uma das mais belas expressões da teologia literária. Tinha razão.
O projecto de Brasília era do grande antropólogo, Darcy Ribeiro, ministro da Educação no governo de João Goulart, derrubado por um golpe militar em 1964. A ditadura durou 21 anos. Não fui para Brasília, mas o Grande Sertão nunca mais me largou.
Viver é muito perigoso é um dos refrões que ritma a poderosíssima escrita do Grande Sertão. Que viver é mesmo perigoso já Siddhartha Gautama, chamado Buda, o iluminado (nascido em 560 a.C.), o tinha verificado quando, ao sair para fora da sua zona de grande conforto e prazer, encontrou um velho, um doente, um cadáver e um monge pedindo esmola. A doença, a velhice e a morte foram o começo do seu despertar para a descoberta das causas do sofrimento e das quatro nobres verdades que conduzem à sua superação, mediante o nobre caminho das oito virtudes.
Sem a vitória sobre o desejo, sobre a vontade de viver, não é possível a perfeita iluminação libertadora do medo. Seja qual for a história e a fantasia dessas narrativas, a verdade é que provocaram, ao longo dos tempos, diversas escolas de sabedoria: o Budismo forma uma constelação ou uma nebulosa impressionante de ensaios de sabedorias de viver, sobretudo nas áreas culturais asiáticas.
O monaquismo ocidental, de inspiração cristã, teve muitas expressões. S. Bento superou a acusação de parasitas do trabalho alheio, com a regra norteada pela sabedoria de ora et labora, reza e trabalha. S. Paulo tinha sido mais sintético: quem, podendo trabalhar, não trabalha, não coma [2]​.

2. O Grande Sertão situa a sua religiosidade no âmbito cristão, da forma mais ecuménica que se possa imaginar e capaz de beber em todas as fontes. Riobaldo, o fervoroso teólogo jagunço, tem uma experiência terrível de como é mesmo perigoso viver, mas nunca desiste de pensar e repensar a sua fé e as suas crenças, para não perder a esperança de tornar o homem humano. Para ele, “o existir da alma é a reza… Quando estou rezando, estou fora da sujidade, à parte de toda a loucura. Ou o acordar da alma é que é?”.

Desconfinados e desmascarados

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Claro que precisamos da devida “distância social” e do confinamento apropriado e, evidentemente, também e sobretudo, da máscara. Para preservarmos a saúde, a nossa e a dos outros. Podemos contagiar-nos uns aos outros e somos responsáveis uns pelos outros. Quem é cristão tem uma razão suplementar para isso: segundo os Evangelhos, um dos interesses e preocupações maiores de Jesus foi a saúde das pessoas. Por isso, não entendo aquele debate à volta da comunhão na mão ou na boca, havendo quem invoque razões para a comunhão na boca. Sempre fui contra a comunhão na boca, pois só damos de comer na boca às crianças. Agora, ainda mais se impõe a comunhão na mão, por causa da preservação da saúde. Ah!, e para quem continua a propugnar a comunhão na boca: não é verdade que provavelmente há línguas mais sujas do que as mãos? 
Mas não foi este tema que me motivou hoje. A questão é mais funda. O que provoca a minha reflexão de hoje são outros confinamentos e outras máscaras, ficando a crónica de hoje para os desconfinamentos e a da próxima semana para os desmascaramentos. Desconfinados e desmascarados. 

1. Como a gente se sente mal no confinamento! Mas, ao contrário do que pensamos, andamos e somos demasiado confinados, no sentido de auto-centrados, e, por isso, pobres, se não paupérrimos. Afinal, na contradição de nós. Vejamos. 
Uma vez, uma antiga aluna pediu-me para ir à escola onde agora lecciona, para fazer uma palestra sobre o umbigo, esperando ela que fosse falar sobre o egoísmo, o individualismo. Cheguei lá e fui mostrando aos jovens que é verdade que essa expressão de “voltado, voltada para o seu umbigo” é vulgarmente usada com esse sentido. Mas em contradição com o próprio umbigo. De facto, o umbigo é em nós a marca biológica de que não vimos de nós, vimos de uma relação, não somos a nossa origem. 
Outra vez, uma outra estudante queria uma nota melhor. Para isso, até escreveu um trabalho sobre ética. Na defesa, perguntei-lhe: “Se houvesse uma única pessoa no mundo, como seria um tratado de ética?”. E ela: “Nem sequer se punha a questão ética, porque essa ‘pessoa’ não sabia que era ser humano.” E teve a boa nota que queria.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Dia Mundial do Ambiente

Ria - Costa Nova

Praia da Barra

Floresta
O Dia Mundial do Ambiente celebra-se hoje, 5 de junho, com a finalidade de promover o cuidado que devemos ter com a natureza e com tudo o que nos cerca. Preservar e cuidar devem ser os verbos que nos indicam caminhos certos... nessa tarefa que é de todos e para todos. 
Esta celebração nasceu em 1972 e tem de continuar porque todos sabemos que imensa gente, infelizmente, não tem nenhum respeito pelo ar que respiramos, pela floresta que é o pulmão do mundo, pelo mar que é fonte de vida e de pão para muitos, e por tudo o mais que nos rodeia e nos enriquece com beleza, arte e alegria.
Importa construir um futuro para uma humanidade mais sensível ao bem e ao belo, mais solidária e participativa, começando por iniciativas integradoras e estimulantes, tendo sempre nos horizontes um mundo novo  a partir de uma sociedade em constante renovação.

F. M. 

Flor no deserto


A flor fugiu do jardim para viver no deserto. Os eremitas eram mestres da meditação, só possível, em plenitude, na opinião de muita gente, longe do burburinho do mundo. 

Tanto amou Deus o mundo

Uma reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Santíssima Trindade



“Tanto amou Deus o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito para que todo o que n’Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna”

Jesus atende Nicodemos ao cair da noite e abre horizontes novos ao círculo fechado das suas dúvidas e perplexidades. Fazem um diálogo de consciência acerca de Deus e da consequente relação humana. Passam dos sinais – ditos, ensinamentos e milagres – que manifestam as intenções de Jesus, o enviado de Deus, à necessidade de ver com olhos novos essa realidade, de a compreender no seu alcance anunciador, de a assumir como presença do Reino de Deus já em movimento. Jo 3, 16-18.
É no decorrer deste diálogo profundo e interpelante que Jesus faz a solene declaração: “Tanto amou Deus o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito para que todo o que n’Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna”. E desvenda outra dimensão desta entrega: Para que o mundo seja salvo por Ele e não condenado. Jesus deixa a claro o que está em causa: o amor de Deus Pai, o sentido da missão do Filho, o valor do baptismo fruto do Espírito Santo a ser enviado e da água – berço da vida nova.
Nicodemos, homem culto e influente, fica admirado e pergunta: “Como é que isso pode acontecer?” E Jesus lança-lhe outro desafio com “ares” de censura: Acreditar nas coisas do céu que se revelam de modo especial no grande sinal, o do Filho do Homem ser levantado na cruz salvadora, como havia feito Moisés com a serpente no deserto.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue