terça-feira, 1 de abril de 2008

Um poema de Mário de Sá-Carneiro


ÁPICE

O raio de sol da tarde
Que uma janela perdida
Reflectiu
Num instante indiferente –
Arde
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente…

Seu efémero arrepio
Zig-zagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva…
– E não poder adivinhar
Porque mistério se me evoca
Esta ideia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...

– Ah, não sei porquê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi a minha sorte
Que a sua projecção atravessou…

Tanto segredo no destino duma vida…

É como a ideia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou…

Mário de Sá-Carneiro
Paris, Agosto 1915

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