domingo, 28 de julho de 2013

Gafanhões vistos por outros — 5

Quando passei na Gafanha


«Quando passei na Gafanha [1922], vi as cachopas da beira-rio, todas molhadas, sempre metidas na água a rapar o moliço. Feias e ingénuas. A uma calculei-lhe: – Tem para aí treze ou catorze anos. – Tenho vinte e um, e três filhos, respondeu. – Outra tinha ficado a olhar para mim com olhos inocentes de bicho e as mãos postas sobre os seios redondinhos – sobre aquilo, como diz a Ti Ana, que o Senhor lhe deu e ela precisa…
A ti Ana Arneira, com cuja amizade me honro, é um dos meus melhores conhecimentos da Gafanha. Mulher capazona, como por lá se diz. Acompanha-me pelo areal, e conta-me logo à primeira a sua vida. Tipo atarracado e forte, de grossos quadris, vestida de escuro, chapéu na cabeça e aguilhada em punho. O homem foi para o Brasil há muitos anos (— É o rei dos homes!... —), ficou ela e os filhos por criar. Criou-os todos. Netos, doenças, lutos. Nunca desanimou. A força que a sustenta é admirável, profunda e radicada, como a de quase todas as mulheres do povo que conheço. Deitou-se à vida — lavrou campos. Vieram mais aflições e outras mortes.
— Então de que lhe morreram os filhos?
— Sei lá, a morte não se quer culpada. Era preciso sustentar a família. Pegou nos bois e no carrinho e começou a transportar sal da Gafanha para Mira. Fez mais: antigamente no Arião também havia companhas, e quando faltava um pescador a ti Ana agarrava-se ao remo como um homem e ia ao mar no barco. — Nem do diabo tenho medo. Só tenho medo aos cães loucos. 
— A extensa planície que atravessa, duas, três vezes por dia, é um deserto. A Ti Ana vai e vem de noite, sozinha, com os bois que lhe fazem companhia. Agora tem um campo, barcos para o moliço, novos netos para criar — e olha cara a cara o destino sem esmorecer. A sua vida é uma grande lição de energia.»

Raul Brandão, 

in “Os Pescadores”




sábado, 27 de julho de 2013

Jovens e Idosos excluídos

Denuncia papa Francisco:


Culto ao «deus dinheiro» 
está a excluir jovens e idosos 

O papa afirmou esta quinta-feira no Rio de Janeiro que o «culto» ao «deus dinheiro» está a excluir «os dois polos da vida que são as promessas dos povos»: os mais velhos e os mais novos.
Os idosos são vítimas de uma «espécie de eutanásia escondida», porque não são devidamente acompanhados, e também de uma «eutanásia cultural», porque são impedidos de «falar» e «atuar», disse Francisco num encontro com compatriotas argentinos.


Férias em tempos difíceis — 1



Para muitos portugueses, não faz sentido falar de férias. As situações económicas e sociais provocadas pela conjuntura, patente aos olhos de todos, no mundo em geral e  no  nosso pais em particular, quase nos proíbem de falar do que possa implicar despesas, para além das estritamente indispensáveis. Contudo, atrevemo-nos a avançar com algumas propostas para momentos de ócio e de descanso forçado ou permitido pelo emprego e pela vida académica.
Como tristezas não pagam dívidas nem nos livram de aflições, desgostos, problemas e preocupações, nem nos trazem de volta o emprego perdido, então precisamos de olhar em frente, com coragem e determinação, mas ainda com esperança, pois temos como certo que depois da tempestade vem a bonança.
Se é verdade que devemos e podemos divertir-nos, dentro do razoável e possível, propomos que o façamos aproveitando o que temos à nossa volta, que muito é, começando, naturalmente, por dar mais atenção aos que nos são próximos, familiares e amigos doentes, isolados e, quem sabe?, esquecidos. Uns dias de férias para eles seria ouro sobre azul.

Fernando Martins


O saber para agir e viver

Os três estádios da existência 
e o combate da fé

Sören Kierkegaard


«A fé e o amor são levados ao paroxismo. Luterano, foi crítico ácido da Igreja oficial dinamarquesa: "Na sumptuosa catedral, eis que aparece o Reverendíssimo e Venerabilíssimo pregador da Corte, o eleito do grande mundo, e aparece perante um círculo de uma elite e prega com emoção sobre este texto que ele mesmo escolheu: "Deus escolheu o que é humilde e desprezado no mundo" - e ninguém se põe a rir." Mas, já à beira da morte, foi-lhe perguntado se acreditava em Jesus Cristo. E ele (cito de cor): "Sim. Em quem haveria de acreditar nesta hora?"»

Anselmo Borges

Rosto de Deus no coração humano


PAIZINHO QUERIDO



A resposta de Jesus abre novas dimensões ao pedido que o seu discípulo lhe faz para ensinar o grupo a rezar. São dimensões familiares que manifestam o ser de Deus na sua relação connosco, que o fazem presente nas entranhas filiais de cada humano, que o definem e tornam reconhecido como a fonte de vida comum que gera “um nós” inconfundível e original. Constituem, por isso, a verdade que nos identifica e consolida na existência e a realidade performativa que nos impele a viver cada vez mais de acordo com a matriz do nosso ser humano.
O pedido do discípulo surge após a oração de Jesus. Que haveria de especial neste gesto de Jesus para ele se sentir tão desejoso e impressionado? É certo que os mestres ensinavam os discípulos a rezar, transmitindo-lhes o resumo da mensagem que pretendiam difundir. Jesus praticava a oração com normalidade no decorrer do dia e das festas, sozinho e em família, com o grupo de acompanhantes, em lugares silenciosos, nos espaços públicos, na sinagoga, no templo. O grupo sabia-o e podia testemunhá-lo.
A novidade está, sem dúvida, na relação filial que manifesta ao dirigir-se a Deus como Abba, Papá querido, e consequentemente em “reconfigurar” o rosto de Deus no coração humano, em condensar o seu projecto de salvação em preces e atitudes vividas por ele e transmitidas aos discípulos, seus fiéis seguidores.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Dia Mundial dos Avós

26.07.2013


“Os brinquedos mais simples, 
que até bebés sabem operar, 
chamam-se avós.”

Sam Levenson


No “Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações", a palavra avós ganha uma nova dimensão no contexto social do nosso país.
Nos tempos atribulados que correm, os avós são uma mais valia, no banco de recursos humanos de uma qualquer família, em que haja crianças a seu cargo. Os avós são aquelas criaturas disponíveis, cheias de amor para dar, sem regatear e que estão sempre ali, para qualquer solicitação da família.
Não tive o privilégio de conhecer os avôs, pois partiram antes da minha aparição na terra e o tempo de convívio, com as avós, foi demasiado curto para quem tinha tanto a ganhar com esse contacto.
Quis o destino que tivesse, em contrapartida, um tempo dilatado de fruição da companhia dos avós, da minha prole.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Igreja fala muito de si...


Uma página eloquente  para ler e meditar



«O cardeal Ratzinger, futuro Papa, disse, no II Sínodo da Europa (1999), que “a Igreja fala muito de si e pouco de Jesus Cristo”. Os acontecimentos recentes recomendam um sério exame de consciência neste aspeto, tendo em conta o que se diz, se escreve, se faz e promete. Também a isso nos obriga o testemunho do Papa Francisco, que se debate numa Igreja que se fez centro, olha muito para si, mas continua poluída por excrescências históricas que ensombram a verdade de um só Senhor, o Senhor Jesus.»

António Marcelino

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