“Os brinquedos mais simples,
que até bebés sabem operar,
chamam-se avós.”
Sam Levenson
No “Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações", a palavra avós ganha uma nova dimensão no contexto social do nosso país.
Nos tempos atribulados que correm, os avós são uma mais valia, no banco de recursos humanos de uma qualquer família, em que haja crianças a seu cargo. Os avós são aquelas criaturas disponíveis, cheias de amor para dar, sem regatear e que estão sempre ali, para qualquer solicitação da família.
Não tive o privilégio de conhecer os avôs, pois partiram antes da minha aparição na terra e o tempo de convívio, com as avós, foi demasiado curto para quem tinha tanto a ganhar com esse contacto.
Quis o destino que tivesse, em contrapartida, um tempo dilatado de fruição da companhia dos avós, da minha prole.
O avô Manel, na Invicta era o “agricultor”/ poeta duma horta altamente sofisticada, em que as flores ornamentais conviviam lado a lado com a couve penca, os tomateiros, os pimentos, a alface, e tantas outras espécies vegetais. Cresciam numa promiscuidade bem tolerada e até apreciada pelos visitantes do espaço. Tinha uma localização soberba, pois crescia num nível sobranceiro, à linha-férrea, hoje, adaptada ao metro de superfície, ali no apeadeiro de Ramalde.
O avô Manel era um hortelão exemplar e de tal modo acarinhava a sua hortinha, que vinham tripeiros de todas as partes da cidade, admirar e adquirir os seus produtos. Até a RTP fez menção de divulgar as imagens aí colhidas, para publicitar o grande objetivo do arquiteto paisagista, Gonçalo Ribeiro Teles.
Era colírio para uma vista cansada, contemplar a minúcia, o alinhamento dos canteiros onde os muretes de terra eram aplainados como na sua anterior arte de marcenaria. E as “mil-lindas”, aquelas flores rubras semelhantes a os cravos túnicos, meticulosamente agrupadas em canteiro próprio, cresciam para satisfazer as necessidades da sua Maria, nas suas visitas ao cemitério de Agramonte. O sistema de rega que engendrou na quinta, evidenciava os seus dotes de engenharia hidráulica, com os escassos meios que tinha à disposição. A “reforma agrária” era o seu forte a que dedicava todo o seu tempo, após a reforma.
Por outro lado, por terras da Gafanha a figura que mais me marcou e durante mais tempo, apenas 63 anos, foi o avô Almeida. Era, para os netos aquela fonte de sabedoria, aquele conselheiro presente e interventivo. Para a minha prole, era uma figura de referência que deixou toda a família consternada com a sua partida, há meio ano.
Quando as pessoas nos tocam, bem lá no fundo, algo delas ficará, para sempre nos nossos corações e na nossa memória.
Mª Donzília Almeida
26.07.2013
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