A fragilidade do mundo e das grandes nações
O furacão Katrina, previsto há muito pelos cientistas, mostrou à saciedade a fragilidade do mundo e dos Estados. A mais poderosa nação do globo, os Estados Unidos da América, mostrou-se impotente para evitar as destruições e mortes que a natureza descontrolada provocou. E assim, o maior império económico e militar da terra não pôde deixar de se render à sua insignificância, obrigando-se mesmo a aceitar a solidariedade de países que vivem no limiar da pobreza.
Um Estado que apoia democracias e pactua com ditaduras, que promove a paz e faz a guerra, que ajuda os povos mais fragilizados do mundo e que age em função dos seus interesses comerciais, fazendo e desfazendo alianças a seu bel-prazer, viu a desgraça bater-lhe à porta sem apelo nem agravo, atingindo as suas populações mais débeis.
Os EUA não souberam ouvir as notícias que previram o furacão, não se preocuparam com os prováveis danos da tempestade, não acautelaram a evacuação das populações, não prepararam o realojamento de muitos milhares de pessoas, não estudaram os apoios a prestar aos desalojados e só tardiamente começaram a combater os grupos organizados de assaltantes e a prestar auxílio aos que ficaram apenas com a roupa que traziam vestida.
Os prejuízos incalculáveis que o Katrina provocou, na região mais pobre dos EUA, deixando um rasto de destruição raramente visto, obrigaram os governantes americanos a reconhecerem que, afinal, não são, afinal, tão poderosos como supunham. E a gravidade da situação é tão grande, que não há certezas quanto ao tempo que demora a reconstrução da cidade de Nova Orleães, presentemente mergulhada no caos, com gente sem alimentos, sem habitação e sem medicamentos.
Pelo mundo vão-se multiplicando os gestos e as acções de apoio humanitário, numa demonstração clara de que o nosso planeta está cheio de gente boa. E até Cuba, curiosamente, se prontificou a enviar mais de mil médicos e a fornecer medicamentos ao país que há décadas a persegue. Ainda bem.
Fernando Martins