D. António Marcelino
Pequenos segredos
que dão sentido à vida
Os jornais noticiaram que um casal, ao comemorar oitenta e três anos de matrimónio, ambos tinham já ultrapassado os cem, foi revelando, com um sorriso de ternura e felicidade, que o segredo de tal êxito está em evitar diariamente as discussões… No fundo, está em defender o amor e o seu sentido, todos os dias, e com esforço pessoal.
Li esta notícia no café e, ao pagar a bica, comentei-a com a senhora, conhecida de todos os dias, que estava na caixa. Muito séria, ela respondeu: “ É isso mesmo. Eu e o meu marido já acertamos que quando um fala alto o outro cala-se. Problemas todos temos. A ralhar não se resolvem.”
Guardando estes pequenos grandes segredos de casais, que são vivências que dão sentido à vida, chegou-me pelo correio electrónico um texto de Mahatma Gandhi, cheio de sabedoria, e que resumo de modo fiel:
Um mestre indiano perguntava a seus discípulos: “Porque é que as pessoas gritam com as outras quando estão aborrecidas ou zangadas? Por vezes gritam, e a pessoa que está ao seu lado não precisa de gritos para ouvir…”
As respostas dos discípulos foram surgindo: “Porque perdem a calma”, “Porque querem ser ouvidos”, “Porque acham que têm razão…”
O motivo, porém, diz o mestre, é outro. À medida que surge um pequeno problema e se grita, os corações vão-se afastando sempre mais. E, quanto mais se grita, maior é o afastamento, julgando-se, então, que os gritos encurtam a distância de quem se vai separando. Pelo contrário. Quando duas pessoas estão enamoradas, não gritam, por vezes somente sussurram. E se o seu amor é muito grande, nem precisam de sussurrar. Apenas se olham, e basta. Os seus corações se entendem. Quando duas pessoas se amam de verdade, os seus corações estão muito próximos.
E o mestre conclui com palavras sábias: “Quando discutirdes, não deixeis que os vossos corações se afastem, não digais palavras que os distanciem mais, não aconteça que um dia a distância seja tão grande que não mais encontrareis o caminho do regresso.”
A sabedoria tem o jeito de dizer verdades grandes com palavras simples e ao alcance de toda a gente.
É uma dor de alma ver famílias a desmoronarem-se, deixando atrás de si ruínas insanáveis; gente a pensar que a sua razão está na força dos seus gritos; opiniões diferentes a levantar muros de silêncio; pequenos problemas a dar ocasião a ódios de morte; falta de diálogo a secar corações…
Porque anda tanta gente irritada e não suporta uma pequena dificuldade?
Será que, na sociedade actual, há cada vez menos espaço para o amor, esquecendo-nos que quem mata o amor tira o sentido à vida? Será que o perdão que une é menos meritório que o ódio que separa e mata?