quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
A PAZ AO ALCANCE DE TODOS
Abertos ao Infinito de Deus
A guerra, em qualquer das suas formas, atormenta a consciência de uma parte da humanidade. Fere o que de mais sagrado há em nós. Avilta, destrói, mata.
A paz expressa a harmonia do ser humano em comunhão com o universo. É natural, apesar de supor algumas tensões. É “artificial” pois exige relação, aceitação do diferente, tolerância, justiça e equidade.
A pobreza imposta surge como um factor “provocatório” de situações conflituosas. Cada vez mais. E em maior extensão.
Daí a urgência de se empreenderem esforços para erradicar a pobreza. Em todas as suas formas. Nas mais diversas situações. De âmbito material e de outros: menosprezo de si mesmo, instabilidade interior e inversão de valores, despiste no sentido da vida, imaturidade relacional, desnorte ético, preconceitos inibidores, secura de espírito, mediocridade banal, horizonte redutor face à beleza da visão integral do ser humano e da plenitude das suas capacidades. Também aqui se verifica que “a águia atrofia na capoeira” e a galinha cansa-se depressa no seu voo rasante.
A paz supõe a compreensão e aceitação da dignidade comum. Expressa na mesma natureza. Enaltecida pelas culturas de cada povo ou etnia. Configurada pelo direito positivo ou por declarações universais (como a da ONU de 1948). Respeitada e promovida pelos vários códigos. Espelhada na lei corrente e potenciada pelas políticas concretas.
O teste à vontade comum sobre a paz tem aqui a “sua prova de fogo”. Examinar as políticas específicas e aferir da sua justeza. Colocar-se no lugar das vítimas espoliadas da sua dignidade e sentir a voz da humanidade a clamar por atenção e respeito. Armazenar anos e anos de privações humilhantes agravadas pela desconsideração oficial e pela exploração do seu nome, história e bens. Aguentar o insulto supremo de ver manipulada a verdade e de ser tratado como um excedente da humanidade.
A paz é a harmonia periclitante de toda a criação. Cresce e adquire consistência na medida em que assenta na solidariedade e visa construir o bem comum. Lança raízes num estilo de vida digno da condição humana: próximo no relacionamento entre as pessoas, grupos e povos; moderado e sóbrio no desejo, posse e uso dos bens; generoso e altruísta na atenção aos outros e, sendo necessário, na abdicação de benefícios individuais em prol dos mais necessitados; aberto ao Infinito de Deus, acolhedor dos seus dons que reparte largamente em comunicação benfazeja e amiga.
Georgino Rocha
"New York Times" esteve na Gafanha da Nazaré
O jornal norte-americano “New York Times”, um dos mais prestigiados em todo o mundo, esteve na Gafanha da Nazaré para fazer uma reportagem sobre o bacalhau. A reportagem saiu na edição de 16 de Dezembro com o título “Tradição portuguesa enfrenta futuro congelado”.
A jornalista Elaine Sciolino considera o bacalhau “a coisa mais perto de ser símbolo nacional” e compara-o ao peru que os americanos comem no Dia de Acção de Graças. Refere ainda que no tempo da ditadura o bacalhau foi a grande fonte de proteínas para os portugueses.
A jornalista visitou a empresa Rui Costa e Sousa, conversou com Gonçalo Guedes Vaz e observou o trabalho de preparação do bacalhau. Gonçalo Guedes Vaz afirmou que o futuro do bacalhau passa pelo venda em congelado, pronto a confeccionar, sem dar grande trabalho a quem tem pouco tempo. As vendas de bacalhau congelado representam 17 por cento da produção da empresa, mas o responsável espera que representem 50 por cento dentro de cinco anos.
A Elaine Sciolino viajou até Lisboa e falou com cozinheiros, vendedores e apreciadores, que mostraram preferência pelo bacalhau tradicional, que é preciso demolhar, mas que “sabe a verdadeiro bacalhau”.
Fonte: "Timoneiro" de Janeiro
Fim de Ano na Madeira
Para trás ficou a saudade
de uma ilha paradisíaca
Logo à saída do aeroporto de Santa Catarina, fomos acariciados no rosto pela brisa morna da noite madeirense. O encanto prolongou-se até à entrada para os autocarros, que nos esperavam, onde dois simpáticos jovens madeirenses, envergando trajes típicos da região, nos presentearam com o perfume de uma orquídea e um minúsculo barrete simbólico.
Fomos conduzidos ao centro de Juventude da Madeira, onde ficámos muito bem instalados, durante a nossa estada na ilha. Dado o tardio da hora e o cansaço da viagem, feita de noite, não pudemos apreciar a qualidade e a beleza das instalações. Só na manhã seguinte nos foi possível contemplar todo o empenho e encanto das ornamentações de Natal. Louvor seja feito às mãos meticulosas que deram o seu toque a toda a casa, realçando a exuberância dos enfeites e o colorido das formas.
Durante a nossa permanência, demos a volta à ilha, em autocarro, e eu não posso esquecer o fascínio e sedução que senti por esta terra encantada; fiquei totalmente rendida a esta obra do Criador. Os grandes penhascos arrojando-se para o mar; as encostas repletas de vegetação luxuriante; as extensas plantações de bananeiras, a desafiar o apetite do mais esfomeado; a aldeiazinha perdida no Curral das Freiras, observada do altaneiro miradouro da Eira do Serrado; as temperaturas mais baixas, do Pico do Areeiro, a convidar à compra do barrete do “Alberto João”... e alguns não resistiram à tentação; o almoço em Porto Moniz, onde saboreámos o famoso espada da Madeira; as temperaturas amenas das águas do mar, cativas em piscina natural; quantos de nós não sentiram a nostalgia do “maillot”, arrumado a um canto, lá no velho continente!... Ficaram as fotos para recordar!
Ao longo da viagem, em autocarro, iam sucedendo em catadupa, ora encostas ensolaradas, ora picos altíssimos que se adivinhavam por entre um nevoeiro cerradíssimo. Daí a pouco tempo, o sol vencia de novo o seu antagonista, deixava-nos admirar as polícromas e variegadas flores que ofereciam ao forasteiro, o sortilégio das suas formas: agapantos, orquídeas, buganvílias, sobrálias, antúrios, hibiscos, maçarocas, estrelícias, etc. Fascinou-me a garridice das “manhãs de páscoa” que proliferavam em muitos jardins madeirenses, a fazer inveja às nossas raquíticas “estrelas de natal”, aprisionadas em pequenos vasos e oferecidas, na época natalícia. Fiquei embriagada de cor e beleza, com as casinhas de colmo de Santana; o colorido das madeiras, a contrastar com a alvura das paredes, fizeram as delícias dos Companheiros.
E que dizer das ornamentações soberbas das ruas, do presépio gigantesco que é toda a baía do Funchal, do mar de luz que ofuscava o transeunte... E para cumular toda esta beleza, a apoteótica passagem de ano com o majestoso fogo de artifício e toda a euforia dos espectadores. Não tenho palavras adequadas para traduzir todo esse arrebatamento. Só a alma o sente e o guarda para memória futura.
Mas, para que todo esse “clima” fosse possível, não devo esquecer todo o empenhamento dos nossos Companheiros da revista Campismo, - a solicitude do Manecas - e a simpatia dos nossos compatriotas da Madeira, na pessoa do Companheiro Isidro. Este fez questão de nos acompanhar no convívio da passagem d’ano, onde houve de tudo à mistura: petiscos saborosos, cantorias, dança... Os Companheiros puderam dar largas ao que lhes ia na alma. Cantámos e dançámos até às tantas, havendo apenas a preocupação de chegar ao Centro de Juventude antes das suas portas fecharem. Houve alegria, camaradagem, confraternização sã. O resto da noite foi para ganhar forças para a viagem de regresso. O tempo passou num ápice ... e... para trás ficou a saudade duma ilha paradisíaca!
A todos quantos nos permitiram esta inolvidável experiência, o nosso grato reconhecimento. Bem-hajam!
Mª Donzília Almeida
Viagem realizada de 27.12. 1994 a 01.01.1995
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Ainda o Estatuto dos Açores
![]() |
Paisagem açoriana - São Miguel |
"O Presidente da República reafirmou ontem os princípios fundamentais que o levaram a vetar politicamente o Estatuto dos Açores, princípios de fidelidade à Constituição que o levaram ontem a aceitar o novo voto do Parlamento e a mandar promulgar um diploma de que discorda profundamente.
Já aqui escrevemos e repetimos: o Estatuto dos Açores possui normas absurdas, que violam o equilíbrio de poderes, e só foram aprovadas por puro oportunismo político de todos os partidos. Todos, repito. As razões do Presidente são claras e só num país analfabeto politicamente se compreende que se tenha perdido mais tempo nas últimas semanas a discutir o método que escolheu do que a substância do que estava em causa.
Triunfou a politiquice, perdeu-se mais uma oportunidade de explicar aos portugueses a importância de cumprir as regras no jogo democrático. E como se tudo isso já não fosse suficientemente mau, viu-se o primeiro-ministro a procurar explorar politicamente um conflito que ele contribuiu para criar, se é que não foi mesmo o principal responsável ao determinar que o PS não alteraria uma vírgula na norma em causa do Estatuto dos Açores.
No fundo ficou provado que em Portugal são raros os que se mantêm fiéis aos seus princípios e numerosos os que preferem adaptar-se aos tempos que correm, gracejando ou desculpando-se, conforme for mais conveniente.
Vivemos os anos que vivemos num regime autoritário, e vivemos esses anos todos com uma oposição bem mais anémica do que seria natural, porque já éramos assim. E porque muitos acham que ter princípios é ser dogmático e sectário, quando é exactamente o contrário: quem tem princípios sabe guiar-se em terrenos pantanosos sem sacrificar o essencial, quem não os tem apenas sabe ser autoritário ou servil em função das conveniências do momento."
José Manuel Fernandes,
no Editorial do PÚBLICO
no Editorial do PÚBLICO
Presidente da Junta quer prendas para os gafanhões
quer oferecer alguns melhoramentos à população
Manuel Serra |
A criação da freguesia, em 31 de Agosto de 1910, mas também a elevação a vila, em 1969, e o salto para cidade, em 2001, vão ser, sem dúvida, “datas que possam proporcionar boas reflexões sobre a terra que fomos, somos e queremos ser”, na perspectiva do autarca da Gafanha da Nazaré.
Nessa altura, quem circular habitualmente pela Avenida José Estêvão vai experimentar uma alteração significativa, na zona da igreja matriz. Aí, passa a haver um só sentido para o trânsito automóvel, “entre o cruzamento das Caçoilas e o acesso que conduz ao Centro Cultural, com passeios mais largos e arranjos modernos, sem estacionamentos”, referiu Manuel Serra.
Ao lado, na área correspondente ao antigo mercado, vai nascer “um amplo e funcional edifício”, para sede da Junta de Freguesia e Correios, de forma “a responder às exigências actuais”, garante o autarca. Este novo largo, com estacionamento subterrâneo, “vai tornar-se num novo centro cívico da cidade”, com ornamentação condigna e zona lúdica “próprias da celebração do centenário da freguesia”, acrescentou.
Apesar de estes projectos resultarem de um concurso de ideias, o presidente da Junta fez questão de sublinhar que “as alterações aplicadas resultaram de sugestões dos moradores”, durante o período de discussão pública. Entretanto, o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré também vai passar por obras de melhoramentos e remodelação, resultantes de “carências sentidas ao longo dos 14 anos da sua existência”, como nos confirmou o presidente da Junta.
Manuel Serra adiantou que o palco foi dado “como desadequado”, e que “as comodidades dos espectadores, em festas e outros eventos, amplamente justificam o que vai ser feito”. O novo palco avança para o anfiteatro exterior, melhorando-se o interior, que ficará maior e “mais digno, com galerias para artistas e outras pessoas do espectáculo”.
O autarca da Gafanha da Nazaré lembrou que o Centro Cultural já foi contemplado com diversas obras laterais, “criando-se novas funcionalidades”, sendo certo que os trabalhos agora programados vão ser “mais significativos”. Oferecem-se, deste modo, novos espaços para o desenvolvimento de actividades culturais e sociais, num esforço de responder, objectivamente, “às necessidades das populações”, frisou.
Em jeito de conclusão, Manuel Serra garantiu-nos que estes melhoramentos foram agendados, de certa forma, tendo em conta as celebrações do centenário da criação da freguesia. Nessa linha, admite que tudo vai ser feito pela Câmara Municipal de Ílhavo, com o apoio da Junta, para que 2010 possa oferecer aquelas prendas ao povo da Gafanha da Nazaré.
Fernando Martins
NOTA: Texto publicado no "Timoneiro" de Janeiro
Crise para a história
Uma crise histórica que mudou a forma como vemos o mundo. É assim que várias personalidades auscultadas pela ECCLESIA avaliam os acontecimentos de 2008, lembrando ainda factos e personalidades que ficam para a história.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
CAVACO ZANGADO COM RAZÃO
A política tem destas coisas. Dá a impressão que os nossos políticos têm um certo prazer em criar problemas, mexendo em temas que não dão pão a ninguém. Vai daí, toda a gente se envolve em polémicas, com análises, debates, editoriais, discussões e protestos, prós e contras. Mas as carências, as fomes, as crises, os desempregos, as guerras, tudo isso é posto de lado. Se eu fosse pessimista, ousaria dizer, como alguém um dia disse: "Adeus Portugal que te vais à vela!"Mas como sou optimista, vou acreditar que esta questão dos Açores, para já, não vai dar em nada. E um dia qualquer, outro parlamento nacional, da mesma forma, dará a volta ao texto e tudo fica como antigamente. Afinal, até parece que vivemos uma política barata, daquelas que nem aquecem nem arrefecem. Existe, mas é como se não existisse.
Para já, se tiverem paciência, podem ler a comunicação que o Presidente da República fez hoje ao País.
Santa Maria Manuela, na hora da partida para Espanha

Santa Maria Manuela regressa ao mar

Santa Maria Manuela volta ao seu meio natural
Noticia o Diário de Aveiro que hoje, à tarde, o Santa Maria Manuela vai regressar ao mar. Vai ser, para quem gosta de navios e do mar, um belo espectáculo, a não perder. Uma arreliadora e persistente constipação não me deixa estar presente, neste momento simbólico e depois de profundas obras de recuperação do navio, outrora dedicado à pesca do bacalhau. Mas estou em crer que não hão-de faltar os apaixonados por estes temas.
Ler mais no DA
Seminaristas de Aveiro
Dúvida sobre o futuro marca a vida de oito seminaristas
:
"Quando entro no Seminário, tenho a certeza que é isto que quero para o meu futuro, mas quando chego à escola e vejo as minhas colegas já não sei se quero ser padre". O desabafo de um seminarista ao padre João Paulo Soares traduz um dos principais dilemas que atormentam os jovens candidatos a párocos, como os oito que estão no Seminário Santa Joana Princesa, em Aveiro.
Leia mais no JN
domingo, 28 de dezembro de 2008
Rua Júlio Dinis
Um primo do escritor tinha na GAFANHA
uma elegante propriedade rural
A homenagem ao escritor Júlio Dinis, de seu nome de baptismo Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), é mais do que justa. Autor de romances célebres, dos mais lidos da literatura portuguesa, bem compreendidos pelo povo, figura com propriedade na toponímia da Gafanha da Nazaré. E se soubermos que o romancista andou pela nossa terra e dela falou em termos encomiásticos, então mais naturalmente aceitaremos a razão por que o seu nome é lembrado a toda a hora pelo nosso povo e por quem nos visita.
A Rua Júlio Dinis começa, podemos dizer, junto ao café Palmeira, quando se sai da Av. José Estêvão para o lado sul, serpenteando a Marinha Velha, até encontrar a Rua António Sardinha. Atravessa uma significativa parte daquele lugar da nossa terra, cujo nome herdou de uma velha marinha de sal que por ali existiu.
Identificada a rua, que tem à vista o Porto de Pesca Costeira e a ponte que liga às praias da Barra e da Costa Nova, vamos então voltar ao nosso homenageado, autor de romances que nos encantaram na nossa adolescência. A Morgadinha dos Canaviais, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Uma Família Inglesa, As Pupilas do Senhor Reitor e Serões da Província, entre outros escritos, mostram-nos uma alma pura e simples, ávida de felicidade.
Como médico que era, facilmente sentiu que a tuberculose pulmonar o minava, condenando-o a uma morte prematura. Procura saúde em ares diferentes, mais sadios, e também esteve na Gafanha. Em 28 de Setembro de 1864, escreveu ao seu amigo Custódio Passos, de Aveiro, como se lê em Cartas e Esboços Literários. E diz: “Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali. Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela.” Depois, acrescenta, como que a querer dar-nos uma lição: “Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui.”
Fernando Martins
O Nosso Mar
Nós, os da beira-mar, gostamos de ver o nosso mar. Pode não haver nenhum motivo especial, mas essa vontade de contemplação e, por que não dizê-lo?, de êxtase, acontece-nos frequentemente. Hoje, por exemplo, alguém me desafiou para experimentar esse prazer. Compromissos inadiáveis impediram-me a curta viagem que nos separava do oceano. Mas como não fiquei de consciência tranquila, aqui estou a manifestar a necessidade que sinto de o olhar de perto e de frente. Não fui até ele, mas peguei numa foto, há tempos fixada pela minha digital, e deste modo manifesto o sabor que o nosso mar me dá. Nos dá.
FM
Em tempo de festas

Serviço Cívico Europeu
A Comunidade Ecuménica de Taizé inicia hoje, em Bruxelas, o Encontro de Jovens de toda a Europa. Mais de 40 mil vão viver, até ao dia 1 de Janeiro de 2009, uma experiência de fé, de oração e de comunhão, em torno do tema “Por uma Europa Aberta e Solidária”. Foi já anunciada, como tarefa a seguir, a proposta da implementação do serviço cívico europeu, como forma de levar à prática iniciativas de solidariedade entre povos e nações.
Os jovens entendem que, face à crise económica que se vive, à escala mundial, importa criar mecanismos de auxílio para apoiar os países e as pessoas mais pobres.
Ainda sugerem, com toda a generosidade que caracteriza a juventude capaz de pensar, que, à mundialização da economia, se associe uma mundialização da solidariedade.
Em tempo de tantas festas, carregadas de nadas, onde muitos jovens e menos jovens se afogam no efémero de prazeres egoístas, importa lembrar, aqui e agora, que, felizmente, ainda há quem queira pensar e viver de forma diferente.
FM
Suave Aparição
Desde que fora assolada por violenta tempestade, na sua vida, procurava, afanosamente, a sua alma gémea, a sua companhia de jornada, o seu alter ego!
Desde os píncaros gelados e puros do Kilimanjaro, onde a atmosfera rarefeita condiciona a existência de vida, até aos pântanos nauseabundos da WWW, onde a diversidade biológica é surpreendente, tudo fora analisado e estudado, minuciosamente!
Se no primeiro lugar, mal deparara com algum exemplar da espécie humana, no segundo, pululavam aos magotes, atropelando-se e “chafurdando” no lodo! Dalila, empurrada para uma solidão forçada, ainda acreditou que a Divina Providência a recompensaria por todo o seu empenho e esforço, na construção de caminhos úteis. Afinal, a vida havia-lhe demonstrado que são os mais ousados, os mais hábeis que singram na vida! Serão?
Não se arrependera, no entanto, de ter conduzido toda a sua vida, com abnegação e espírito de sacrifício! Deus, que tudo ouve e tudo vê, haveria de a recompensar. Deixava fluir os dias, e numa atitude de dádiva aos outros, repartia-os, entre as suas atribuições profissionais e os seus hobbies que lhe preenchem as ânsias da alma.
Era neste cenário que se preparava para a vivência de mais um Natal. Sentia uma alegria genuína, uma serenidade, há muito arredia, e a sua casa era disso um sinal bem evidente. Luzes multicores, acordes natalícios, numa ornamentação colorida, em amplexo envolvente, recebiam as visitas e os amigos, nessa quadra calorosa.
Já pela noite dentro, depois de satisfeita a curiosidade das prendas, quando se preparava para ir assistir ao ritual da missa do galo, eis que se abre a porta, lenta e suavemente... Uma luz diáfana envolvia uma figura resplandecente, que balbuciou:
- Estou aqui!
Eu sou o J... o Jesus... o José, o Jorge, o João... aqueles que, nas procelas da vida, estiveram presentes e nunca te desampararam.
Dalila teve um rebate... Aquele... demarcava-se dos outros, daqueles... que, antes de estenderem um braço, já o outro apresentava o orçamento!
Sou... Aquele que, quando te sentias desamparada, a calcorrear, sozinha, os caminhos da vida, eram as minhas pegadas que vias, nos sulcos da areia, pois pegara em ti ao colo!
Mª Donzília Almeida
21 de Dezembro de 2008
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 110
FÉRIAS
Caríssima/o:
Logo que o Professor se despedia, era uma corrida desenfreada para a Borda que nos atraía qual íman benfazejo: naquelas águas transparentes, nos moliços verdes, nas pedras lamacentas, nos miopores, nos macios, nas Portas d'Água, na Cambeia, no Paredão Arrunhado, no Esteiro Pequeno e no Grande, no Jardim Oudinot e em toda a zona envolvente residia agora o nosso novo mundo de estudo e de experiência.
A roupa ia sendo desenfiada à medida que corríamos para o Esteiro que nos apanhava já descontraídos e na mais aferroada das competições nas travessias e mergulhos.
E as pescarias?
Não havia pedra que ficasse por virar e o cesto ia-se enchendo...Os robalitos também não deviam estar muito satisfeitos: em cada maré apanhávamos algumas dezenas... A serradela levava cá uma destas tareias que nem vos conto! É que para iscar os anzóis era precisa muita e nós lá andávamos pelo lamaçal em busca dos melhores sítios (a lama mais rija e areenta com muitos buraquinhos como que a dizer-nos que as bichas estavam lá por baixo à nossa espera... era só dar a cavadela, virar e, rápidos, apanhá-las pelas cabeças e puxá-las sem as partir!...)
Dias e dias se passavam entre a ria e o jogo da bola; era um corropio e uma animação, apenas e só interrompidos quando um ralhete da Mãe nos chamava para tomar conta de um irmão mais pequeno! Oh, céus! Grande desconsolo...
Por vezes, os mais velhos permitiam que assistíssemos aos seus jogos, mas tínhamos de estar caladinhos como cordeiros mansinhos: nem pio! O mais animado era o jogo do xui!
Claro, na Cambeia, só os mais velhos estavam autorizados a nadar; os mais novos podíamos dar umas pajadelas mas só se um irmão mais crescido rondasse por perto.
Entretanto, o tempo passava muito depressa, tão rápido que já não se sabia quais eram os trabalhos marcados para férias e até o poiso dos cadernos e dos livros se foi... Mesmo, mesmo no último dia, lá se corria a casa de companheiro cuidadoso e num lufa-lufa apertadinho tudo ficava em ordem ... Uf!
[Agora com o magalhães não há o perigo de perder o TPF... Há que aproveitar as vantagens...]
Não esqueço que alguns e algumas passavam umas férias amarguradinhas sempre atrás do rabo da vaca, na rega, até esvaziar o velho estanca-rios ... e em todos os trabalhos agrícolas próprios da época; de vez em quando lá davam uma escapadela para integrar o nosso grupo de natação no Esteiro!
E por estes lados aproveitamos a escapadela para desejar um fim de ano à nossa maneira e que seja o prenúncio de um ANO NOVO repleto de saúde e de tudo o que de melhor a vida nos pode reservar.
Manuel
A Família
O ser humano é familiar por natureza. Começa na família de sangue e vai crescendo em horizontes progressivos de toda a humanidade e, sendo crente, da própria religião a que vem a aderir. Sempre a família o acompanha, ainda que seja como nostalgia de a haver perdido ou a de verificar que as regras pedidas pelo coração estão a ser alteradas.
Toda a família humana cria um estilo de vida relacional típico que facilita a cada membro ser ele mesmo, ganhar identidade própria, desenvolver a sua personalidade, expandir as suas capacidades, buscar espaços para a sua realização integral. Este crescimento vai-se fazendo de muitos modos, sendo o mais básico e comum a relação recíproca, a de ser amado e aprender a amar, a de dialogar partilhando emoções e experiências, a de receber e dar confidências, a de gerar certezas e enraizar convicções. Emerge assim, condicionado também por outros factores, um tipo de pessoa capaz de se afirmar perante outras e de aceitar benevolamente o que são e como são, consentindo nas diferenças e procurando dar-lhes harmonia construtiva.
Sem uma personalidade estruturada nas suas diversas funções e em harmonia com as demais, dificilmente o companheirismo e a vizinhança se desenvolvem, as associações de convivência e lazer, de cooperação e reivindicação, de crenças e religiões encontram a consistência indispensável para estar ao serviço do bem comum. Sem consistência, irrompe a insegurança e a fragilidade, o medo da aventura e o risco da surpresa frustrante. Sem consistência, nem a liberdade alcança os seus voos atraentes e sedutores próprios dos espíritos desinibidos face à verdade e à sua aceitação incondicional.
A família, alicerçada na verdade do seu ser, é um valor escolhido livremente que exige cultivo constante. Como os outros valores. Como as árvores de rega. Pode assim atingir uma qualidade de vida em sintonia com as aspirações mais profundas e constantes do coração humano. Pode assim construir-se como uma história de vivências e recordações, de envelhecimentos progressivos, de memórias inesquecíveis, de sonhos e expectativas, de cumplicidades aliciantes, de amizades confiantes.
O estilo de vida familiar facilita ou dificulta o crescer do seu ser e o afirmar da sua verdade. Neste vaivém, não diminui, desaparece ou se destrói aquela realidade que, à maneira de sonho ideal, aumenta a apetência e aguarda realização.
Uma família, para quem a vê com olhos de fé cristã, emite sinais da presença de Deus, espaço da realização do seu amor, fonte de vida em relação, oportunidade especial de encontro e comunhão. Não sendo a única nem frequentemente a mais publicitada, é certamente a mais válida e qualificada escola de educação e humanização, a melhor configuração do espaço de partilha de experiências de vida, a mais promissora e eficaz força de esperança no futuro.
Georgino Rocha
sábado, 27 de dezembro de 2008
IDOSOS ABANDONADOS
Francisco José Viegas, escritor e director da revista LER, afirmou, na sua pequena mas oportuna crónica do Correio da Manhã, transcrita depois para o seu blogue, A Origem das Espécies, o seguinte, que aqui ofereço aos meus amigos, para reflexão:
"Segundo parece, o 'jantar de consoada' é cada vez mais encomendado de fora ou servido nos hotéis. Nas sociedades tradicionais, as festas tradicionais são essencialmente domésticas, caseiras, familiares – e Portugal está a mudar de hábitos. Não vem daí grande mal, a não ser a revelação de que as pessoas já não sabem nem gostam de cozinhar. Ou não têm tempo para isso, porque trabalham muito. Também não têm tempo para os seus velhos, e isso é mais grave: por esta altura, há famílias que entregam os seus velhos nos hospitais e dão, em troca, números de telefone falsos para não serem incomodados. Uma sociedade sem generosidade nem compaixão, fria e sem paciência – e com vergonha dos seus velhos, que incomodam e relembram que todos morremos e envelhecemos. É um retrato abjecto."
INVERNO

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM

Há 60 anos, exactamente no dia 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em Paris a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Havia precedentes. Por exemplo, a famosa Charta Magna libertatum - a Magna Carta -, de 1215. Mas ela começa assim: "Estas são as demandas que os barões solicitam e o senhor rei concede", acabando, portanto, por abranger apenas os "homens livres".
A Declaração de Direitos (Bill of Rights) do Bom Povo de Virgínia, de 1776, já reconhecia os direitos dos indivíduos enquanto pessoas, mas não se estendia a todos, pois não incluía os negros, considerados "uma espécie inferior".
Em 1789, a Assembleia Nacional Francesa promulgou a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas este Homem era ainda só o varão branco e proprietário.
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclama-se, pela primeira vez, que toda a pessoa humana, independentemente do sexo, condição social, raça, religião, nacionalidade, é detentora de direitos fundamentais, que devem ser respeitados por todos, pois são universais e valem em todo o tempo e lugar.
Mas não houve consenso. Oito países abstiveram-se de votar a favor. A Arábia Saudita e o Iémen puseram em causa "a igualdade entre homens e mulheres". A África do Sul do apartheid contestou o "direito à igualdade sem distinção de nascimento ou de raça". A Polónia, a Checoslováquia, a Jugoslávia e a União Soviética, comunistas, contestaram que alguém pudesse invocar os seus direitos e liberdades "sem distinção de opinião política".
Entretanto, em 1966, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o "Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais" e o "Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos", que, para entrarem em vigor, precisariam de ser ratificados pelo menos por 35 países membros, o que só aconteceu dez anos mais tarde.
Embora a sua violação continue uma constante, como permanentemente informa e denuncia a Amnistia Internacional, há uma consciência universal crescente dessas duas gerações de direitos - civis e políticos, e económicos e sociais -, a que veio juntar-se uma terceira geração, cujos titulares não são os indivíduos, mas os povos, como o direito ao desenvolvimento, o direito à autodeterminação, a um meio ambiente sadio, à paz.
Continua o debate sobre a sua universalidade, que J.-Fr. Paillard sintetizou nesta pergunta: "Um instrumento ideológico ao serviço do Ocidente", para impor ao resto do mundo a sua visão do bem e do mal? M. Gauchet, por exemplo, disse: "Do ponto de vista de um dirigente chinês, indiano ou árabe, os direitos do Homem são antes de mais os direitos do homem branco a exportar o modelo de civilização que os tornou inteligíveis."
No entanto, ainda recentemente - Junho de 1993 -, na Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos do Homem, os Estados reafirmaram: "Todos os direitos do Homem são universais, indissociáveis, interdependentes e intimamente ligados." E, considerando a diversidade cultural em conexão com este universalismo, acrescentaram: "Se importa não perder de vista a importância dos particularismos nacionais e regionais e a diversidade histórica, cultural e religiosa, é dever dos Estados, seja qual for o sistema político, económico e cultural, promover e proteger todos os direitos do Homem e todas as liberdades fundamentais."
No início de um novo ano, que melhores votos que os do cumprimento pleno destes direitos?
Referindo o Preâmbulo da Declaração - "Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; considerando que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar, de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem..." -, um caricaturista do El País pôs Deus a ler e a exclamar: "Que preâmbulo! Não tinha lido nada tão bom desde o Sermão da Montanha."
Procura...

Uma pequena pausa para férias
Soube-me bem descansar um pouquinho nesta quadra. A família, com as suas naturais solicitações e com os meus desejos de estar com ela, entre conversas e alegrias quase em fim, levaram-me a ficar um tanto ou quanto ausente do mundo. Esta ausência provocou em alguns amigos uma certa inquietação. Não, meus caros, não estive doente, graças a Deus. E como não estou, aqui volto com vontade de continuar com todos os que me lêem por esse mundo fora.
Fernando Martins
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
SANTO NATAL PARA TODOS
Deste meu recanto, desejo a toda a gente um SANTO NATAL. Que a ternura do MENINO nos ajude a descobrir caminhos de paz, de fraternidade e de amor.
Fernando Martins
Conto de Natal

terça-feira, 23 de dezembro de 2008
NATAL: Notas do Meu Diário

16 de Dezembro
Cada dia de Dezembro é mais um passo para a noite ansiosamente esperada. Em torno da mesa, também se sentam, connosco, os que Deus já acolheu no seu seio. Os que, afinal, moldaram com a sua ternura as nossas vidas. Então, vamos recordar estórias de vivências que encheram o saco das muitas prendas que ao longo das nossas existências recebemos e ofertámos. Prendas que nos ensinam o prazer da partilha e o dom da paz. Prendas que nos iluminam os olhares para o diálogo com os outros. Prendas que nos estimulam o sorriso para os que mais precisam de pão e de amor. Prendas que hão-de ser, ainda hoje, se quisermos, um lindo gesto natalício.
Fernando Martins
Daqui a pouco, o "Natal do calendário" está aí!

Um Conto de Natal
Regresso à prisão
Véspera de Natal. Na grande cidade sente-se o furor das últimas compras e da correria dos transeuntes para os locais onde irão festejar em família esta noite tradicional ligada ao nascimento do Menino Jesus. Indiferente ao que o rodeia João Luís aproxima-se do Estabelecimento Prisional, cabisbaixo e triste, um saco às costas, única ligação com o passado recente em que sentiu alguma felicidade. Ali estava de novo junto do local onde passara quase um ano e desta vez para se entregar voluntariamente. Chegou à porta, tocou a campainha e esperou.
Tudo começou dois anos atrás. Enviado para a grande urbe pela instituição que lhe substituíra os pais que perdera em criança, depressa abandonou os estudos que viera fazer. Conhecera um amigo com quem tinha alguma afinidade e foi atrás da amizade que a sua presença lhe proporcionava. O amigo trabalhava numa Bomba de Gasolina e este passou a ser o local de vida de João Luís. Disse ao amigo que lhe ia aumentar as vendas e por lá foi ficando. Enquanto o amigo abastecia João Luís limpava os vidros. Em troca do ar sisudo de alguns clientes receando o pedido duma gorjeta, João Luís atirava-lhe: “é oferta da casa”. Outros, porque o serviço era oportuno, contribuíam com alguma coisa. João Luís agradecia não deixando de lembrar que “era oferta da casa”.
O patrão apercebeu-se da presença do simpático colaborador que ia sacando umas sandes e uns sumos nem sempre pagos, mas talvez porque o movimento da caixa vinha aumentando, fechou os olhos à acção do perspicaz assistente. Acabou por autorizar o empregado a proporcionar-lhe meios para uns lanches mais adequados. Saberia ele que João Luís pernoitava no local de trabalho? É verdade: tinha lá o seu cantinho. O tempo foi passando e já se vislumbrava uma oportunidade de emprego efectivo no local. Mas um dia João Luís ausentou-se e nessa noite houve um assalto à Bomba de Gasolina. Veio a polícia, pergunta atrás de pergunta, não tardou muito, João Luís estava preso preventivamente, por forte suspeita de co-autor do assalto. De nada valeu o aval do patrão e do amigo considerando o rapaz pessoa incapaz de tal gesto.
Na cadeia ninguém percebia como uma tal criatura ali tinha ido parar. Os presos gozavam com a história, os guardas cautelosos ficavam perplexos com o ar bonacheirão do preso e a directora do estabelecimento condoía-se com a situação: tinha um filho da mesma idade e com o mesmo nome. Não tardou muito tempo, João Luís tinha tarefas que lhe permitiam uma certa mobilidade no estabelecimento. Uma delas, zelar o jardim do pátio exterior, altura em que era acompanhado por mais um ou dois presos e um guarda. Durante estas tarefas João Luís regalava a vista para o exterior: uma avenida e mesmo em frente instalavam uma nova Bomba de Gasolina. Isto fascinava-o: saberiam eles conquistar a clientela? Como gostaria de ajudar… Naquele dia trabalhava sozinho no jardim.
O guarda ausentava-se frequentemente para se inteirar do desenrolar do derby futebolístico e a porta para o exterior abriu-se com a força do vento. Alguém não a fechara completamente. Dedicou-se ao trabalho mas não resistiu. Num instante iria oferecer os seus préstimos para quando saísse em liberdade. Teve azar: na bomba retiveram-no indagando da sua experiência no ramo e curiosos pela voluntariedade do moço a conversa foi esticando. Não tardou muito ouviam-se carros de polícia a tocar e a correr para um e outro lado da avenida. Ficou baralhado: aquilo teria alguma coisa a ver com ele? Ficou por ali. À noite enroscou-se a um canto. Ao outro dia, com tudo mais sereno, resolveu partir. Apanhou boleia num camião que parara para abastecer e seguiu viagem. Com o sol a pino, ali ia a ermo, a pé, Alentejo adentro. Tinha a roupa que vestia e um boné oferecido pelo camionista. Uma fome desabrida e a goela seca fizeram-no aproximar do monte que avistou. Um casal já idoso regressava a casa fugindo ao calor tórrido. João Luís perguntou se lhe arranjavam um copo de água. Apercebendo-se do estado do rapaz convidaram-no para o almoço. E ele ficou, um dia, e outro e mais outro… Trabalhava com eles no campo, com eles comia e na sua casa pernoitava. Não dava mostras de pensar partir e ninguém lho mencionava. Afinal onde comem duas bocas comem três e o moço até merecia o sustento. Para Manuel Cortez e Benvinda, João Luís passou a ser o filho que perderam em Angola. O tempo corria devagar e João Luís sentia ter finalmente um tecto.
Na vila comentava-se a dedicação do rapaz ao casal. O Verão estendeu-se, fizeram-se as colheitas e entrou-se no Outono. Manuel Cortez comentava com a mulher a ajuda inesperada. De alguma forma procuravam retribuir ao moço o seu empenho no trabalho. Este ano sim, iriam ter outra vez Natal imaginava ele antecipadamente. E o Natal estava já aí à porta. Mas quem bateu à porta foi a GNR. Dois soldados vinham com a suspeita de que João Luís era o foragido há muito procurado.
Manuel Cortez ficou abatido. Inicialmente não disse nada. Depois, ainda incrédulo pediu que o deixassem ir falar a sós com o rapaz e voltou com a confirmação da suspeita. Mas pediu-lhes por tudo que ignorassem este encontro pois o rapaz se entregaria na vila, depois do Natal, dali a dois dias. Conhecedores da dedicação do rapaz ao casal e da garantia da palavra de Cortez, os guardas olharam atónitos um para o outro pasmados com a insólita proposta. O mais estranho é que concordaram. Efeito da Quadra?! Nessa noite João Luís esteve muito ocupado: escreveu uma carta onde explicava a sua última decisão, meteu umas coisas num saco e saiu sorrateiramente de casa. De manhã Manuel Cortez sentiu alguma frustração que transmitiu aos guardas. Estes nada podiam fazer além de ficar calados pois foram coniventes numa ilegalidade. O Natal parecia estragado para todos estes intervenientes.
João Luís voltou a tocar a campainha. Algo se passava no interior que demorava o atendimento. Tocou mais uma vez. Ao mesmo tempo a porta abriu-se dando passagem à directora e a um guarda. Ficaram estupefactos com a presença do rapaz. Seguiram-se as explicações e a notícia dos últimos desenvolvimentos. Para já João Luís iria participar da consoada prisional depois de cumpridas as formalidades oficiais. Nessa noite as Rádios e Televisões deram a notícia: “Jovem preso preventivamente, evadido há cerca de um ano, entregou-se hoje no estabelecimento prisional onde estivera retido.
O insólito da notícia é que no mesmo dia a polícia prendeu o confesso autor do assalto que levou à prisão preventiva do primeiro por suspeita.” Nessa noite de Natal muita gente gostaria de abraçar João Luís: o amigo da Bomba de Gasolina, o patrão que lhe reiterava o posto de trabalho, os clientes que se habituaram ao seu ar prazenteiro, os soldados da GNR da vila alentejana preteridos pelos da cidade e Manuel Cortez e Benvinda que ganhavam do novo esperança em ter de volta o seu rapaz. A directora sentia-se feliz por ter confiado no seu instinto. E João Luís com redobrada alegria retirou do saco para a mesa da consoada o que carregava: presunto, queijo e vinho. A um canto da sala, no presépio aí instalado alguém foi colocar o Menino Jesus. As luzes ganharam mais brilho e deu-se início à consoada. A Esperança renascia.
João Marçal
O natal na poesia portuguesa

Há mais de oito séculos que o Natal se celebra na poesia portuguesa. As belíssimas composições de Afonso X, do Mestre André Dias e do maior teólogo da nossa literatura que é Gil Vicente (bastaria, para qualquer natal futuro, o seu «Breve sumário da História de Deus»:
«Adorai, montanhas,
o Deus das alturas,
também das verduras.
Adorai, desertos
e serras floridas, o Deus dos secretos,
o Senhor das vidas.
Ribeiras crescidas,
louvai nas alturas
o Deus das criaturas…»)
representam uma espécie de pórtico para uma viagem que, em cada época, encontrou os seus cantores. No século XVI, há um trecho anónimo, talvez cantado numas dessas romarias como ainda hoje se vêem
«Non tendes cama bom Jesus não
non tendes cama senão no chão»,
mas também sonetos de Camões
«Dos Céus à Terra desce a
mor Beleza»
e de Frei Agostinho da Cruz.
Ao século XVII bastariam os vilancicos de Sóror Violante do Céu
«Todos dizem, meu Menino,
Que vindes libertar almas,
Mas eu digo, vida minha,
Que vindes a cativá-las
Porque é tal a formosura…»,
como ao século XVIII, do Abade de Jazente, de Correia Garção e outros, bastaria a composição piedosa do satírico Bocage, cotejando com elegância o texto profético de Isaías
«A Virgem será mãe; vós dareis flores,
Brenhas intonsas, em remotos dias;
Porás fim, torva guerra, a teus horrores».
O século XIX é de Garrett, com um poema delirante e “incorrecto”, onde faz valer o natal folgado e guloso da sua «católica Lisboa» sobre o «natal sem graça» dos protestantes londrinos. Mas, a seu lado, Feliciano de Castilho, canta «O Natal do pobrezinho» e João de Lemos e João de Deus descrevem sobretudo a experiência mística da contemplação. O século XX desdobra, seculariza, interroga, e, por fim, talvez adense o escondido significado do Mistério da Encarnação de Deus. Há o Natal devoto de Gomes Leal; há o Natal distanciado de Pessoa (o seu grande poema de natal é evidentemente o Poema VIII de O Guardador de rebanhos, mas isso dava outra conversa); o Natal dilacerado pela procura de Deus em José Régio
«Distância Transcendente,
Chega-te, uma vez mais,
Tão perto que te aqueças, como a gente,
No bafo dos obscuros animais»
e em Torga; o evangélico Natal de Sophia e de Nemésio (como esquecer aquele «Natal chique», onde «Só [um] pobre me pareceu Cristo»?); o Natal asperamente profético de Jorge de Sena («Natal de quê? De quem?/ Daqueles que o não têm?») ou de David Mourão Ferreira
«Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada».
Declinações diferentes de um único Natal.
José Tolentino Mendonça
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
NATAL: Notas do Meu Diário

14 de Dezembro
A rádio anuncia as ceias de consoada para os sem-abrigo, como sinal da generosidade do povo. Não falta quem ofereça tudo e mais alguma coisa. Haverá bacalhau com batatas e couves, tudo bem azeitado, bolo-rei e rabanadas, vinho e outras guloseimas. E até lembranças embrulhadas em coloridos papéis. Nisto todos podem colaborar. Fica bem e sabe melhor a quem nada tem. Concordo. Ao menos, uma vez por ano, por esta altura, todos teremos oportunidade de dizer quanto e como estamos ao lado dos pobres dos pobres. Depois, quando passar a quadra que ainda envolve o ano novo, toda ela capaz de nos sensibilizar para o bem-fazer, voltaremos a não ter qualquer ocasião de olhar para o lado. As tarefas do quotidiano, profissionais, culturais, sociais, religiosas e familiares, não nos deixam tempo livre. Mas no próximo Natal, aí si, vamos ter que agendar um espaço para dedicar aos outros. Para nos darmos aos outros, como enfaticamente costumamos sublinhar. Importa, na minha perspectiva, prolongar o Natal por todos os dias do ano, sem sinais de lugar-comum.
Faleceu o Dr. Ribau
O sol brilhante e acariciador convidou-me esta manhã para um passeio pela nossa Av. José Estêvão. Meia dúzia de passos andados, dei de chofre com a notícia do falecimento do Dr. Maximiano Ribau, com a provecta idade de 96 anos. Licenciado em medicina pela Universidade do Porto, em 1940, desde essa data começou a exercer clínica na sua terra Natal, Gafanha da Nazaré.
O Dr. Ribau foi médico de inúmeras famílias e pessoas desta sua terra durante décadas. E em épocas de parcos haveres, para muitos, sempre atendeu os pacientes, sem preocupações de receber os honorários que lhe eram devidos. Tratava-os, ao domicílio ou no consultório, e depois se via…
Foi meu médico durante muito tempo, sobretudo durante uma grave doença pulmonar que me afectou, fatal para muitos nessa altura. Recordo bem a forma persistente com que me assistia, como me levava a especialistas para não haver dúvidas sobre o tratamento a seguir, como ralhava comigo quando não tomava alguns remédios intragáveis. E ainda recordo a sua alegria (e a minha) quando me deu por curado. Mas acrescentou, então sem perigo de me provocar qualquer angústia, que escapei por milagre.
Sempre lhe fiquei grato por isso. O Dr. Ribau ainda se envolveu nos assuntos da terra, chegando a criar a Cooperativa Humanitária, fruto de um sonho seu, que nunca chegou a atingir os objectivos que se propunha, por várias razões.
O Dr. Ribau, que hoje [22 de dezembro de 2008] nos deixou, perdurará na memória de muitos gafanhões como médico competente, interessado pelos seus doentes e amigo da sua terra e das suas gentes.
O seu funeral será amanhã [23 de dezembro de 2008], pelas 15.30 horas, com missa de corpo presente, na igreja matriz da Gafanha da Nazaré.
Paz à sua alma.
Fernando Martins
110 anos da Restauração do Município de Ílhavo
Estátua Comemorativa na Via da Ria
Encontra-se em adiantada fase de execução a Estátua Comemorativa dos 110 Anos do Município de Ílhavo, obra que ficará a perpetuar esta data que a Câmara Municipal comemorou durante todo ano. O local escolhido para a implantação desta obra foi a rotunda da Via da Ria (junto à Friopesca), por se tratar de um ponto de encontro entra as duas Cidades do Município, Ílhavo e Gafanha da Nazaré, ficando também próxima da maior Cidade da Região, Aveiro A Estátua, da autoria do artista Ilhavense António Neves, será inaugurada no próximo dia 18 de Janeiro.
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 109
NATAL DE 2008: Figuras do meu presépio
Três dias depois, encontraram-n'O no Templo,
sentado entre os doutores, a ouvi-los
e a fazer-lhes perguntas.
Todos quantos O ouviam, estavam estupefactos
com a sua inteligência e as suas respostas.
Lc 2, 46-47
Este Natal, se mo permitis, gostaria que o Presépio fosse armado naquele cantinho da sala de aula, ali mesmo onde está a caixa métrica. Além de meus netos terei a ajuda e a colaboração dos alunos que, nestas ocasiões, estão sempre prontos. E ainda bem.
1. Inesperadamente surgiu-nos uma dificuldade: desta vez há muitas figuras novas e que teimo em colocar, carinhosa e comodamente, na nossa armação. É difícil e exige uma boa coordenação dos espaços; contudo, para alguma coisa conto com a ajuda da rapaziada...
Comecemos então por estas dos mais novos, os alunos que já partiram para o Pai. Um grupinho: da Escola da Marinha Velha só sabemos de um mas, de Vilar, são quase meia dúzia e, do Porto, apenas tive conhecimento de um... Confiadamente, podemos sentá-los em carteiras e pedir ao Menino que venha para junto deles e combinar as brincadeiras para o recreio...
2. Certamente que os meus companheiros e em especial os da Quarta Classe não me dirão que não e vamos encontrar para eles alguns lugares vagos nas carteiras. Ali fica bem o Amilcar Madaíl que connosco brincou e muito nos aturou, na Escola do ti Conde...
3. A seguir, os meus Professores: a Zulmira, o Salviano e todos os outros que me puxaram para a sua beira e me indicaram caminhos a percorrer... Que dizeis: S. José aceitará uma secretária daquelas que havia nas nossas Escolas? Mas que dúvida, até dá para sorrir... Assim eles ali ficarão, como que um júri que só distribuirá distinções!
4. Já ouço um burburinho: o Professor Ramos tem receio de ser esquecido.
Como é possível?! Não, meu amigo, o seu lugar é junto dos Professores/as da Gafanha: Maria da Luz, Filipe, Carlos, Oliveira, Ribau...
Agora tudo está calmo e podemos continuar...
5. ... e prosseguir pelos/as que aqui leccionaram, embora de cá não sendo naturais. E quem poderá não chamar para junto dos que acima estão a Sílvia e a Odete, aquela da Cambeia e esta da Chave? E quantos e quantas por aqui passaram!... Para todos e todas prepararemos um cantinho onde continuem a sentir-se bem!
BOAS FESTAS!
Manuel
NOTA: Estava a tarefa concluída e cada figura no seu lugar, quando toca o telefone...Assim, com o coração aberto, as mãos a tremer e os lábios a balbuciar "Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso...", sentei na carteira dos colegas da Quarta Classe, o Manuel Roque! Paz à sua alma!
domingo, 21 de dezembro de 2008
Crónica de um Professor...

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 108

O EXAME DE ADULTOS
Caríssima/o:
Será que ainda não estais cansados de exames?
Paciência, não posso deixar de falar do exame de adultos...
Como já vimos muitos e muitas não iam além da terceira classe. Ora, quando se chegava ao mercado de trabalho e se era confrontado/a com uma lei que exigia o diploma da quarta para continuar nesse emprego, era uma aflição e uma corrida a casa do/a Professor/a “que lhe desse o diploma”, senão estava desgraçado e não tinha com que dar de comer aos filhos! E começava uma lufa-lufa contra o tempo que o pessoal só se lembra de Santa Bárbara quando troveja...
Verdade seja que o exame, embora tivesse a mesma abrangência do do 2.º grau das crianças, era adaptado à nova realidade e amenizado pelo humanismo dos examinadores, conhecedores da “aflição” dos examinandos... Em todo o caso havia sempre os mínimos a atingir e uma dignidade a defender: os alunos, para conseguirem o tal diploma, tinham de saber ler, escrever e operar ... Logo um homem/uma mulher que tivesse uma terceira classe bem feita do seu tempo de criança, com uma ligeira refrescadela, poderia submeter-se ao tal exame e seria considerado apto.... O problema era quando a pessoa necessitada não tinha passado dos cartões ou nem sequer passara pelos bancos da Escola; com os movimentos embotados, tínhamos pela frente um caso bicudo... Mas a necessidade aguça o engenho e multiplica o interesse e a dedicação: autênticos milagres presenciávamos que iam do pesado rabiscar do nome até uma leitura fluente e uma ortografia limpa!
Claro que não fiz este exame (e curiosamente nunca me vi como parte dum desses heróicos júris...), mas familiares meus apoiei nessa travessia e, mais tarde, ajudei muitos rapazes e raparigas a ultrapassarem essa meta.
Só que nunca pensei presenciar, nos dias que vão correndo, octagenários (e até nonagenários, afirmaram!...) sentados numa mesa a aprenderem a rabiscar o seu nome; e esta aprendizagem a ser realizada numa escola secundária...! Sinais dos tempos ou... das novas oportunidades!?
Manuel
JESUS É O PRESENTE

O natal de Jesus provoca uma onde de generosidade que manifesta a nova era a despontar na humanidade. Alegria esfusiante nos corações, afluência animada dos peregrinos da Gruta, entusiasmo crescente em procurar caminhos novos, confusão de pessoas sobressaltadas perante a notícia do sucedido, abundância de gestos significativos e prendas expressivas. Dir-se-ia que a terra se une ao céu para em admirável harmonia celebrarem a festa do nascimento de Jesus – o presente mais excelente que Deus nos faz. É um começo germinal que há-de crescer constantemente como o Menino até ser Homem adulto.
Jesus é o Presente, por excelência. À sua luz, todos as outras prendas reforçam o valor que têm. Sem ele, ficam apenas com o lusco-fusco do alvorecer, ainda que promissor, que aguarda a chegada do pleno dia.
Jesus é o Presente que Deus nos oferece: De tal modo Deus ama o mundo que lhe entrega o Seu Filho muito amado. Oferta de Deus em que nos é proporcionado tudo o que há de melhor. Basta dispormo-nos e querermos. Basta entrar na lógica do amor gratuito e expansivo. Basta reconhecer que a reciprocidade é a resposta mais acertada de quem é amado a quem ama.
Jesus é o Presente de Deus no tempo. Agora e não apenas ontem ou amanhã. É presente de salvação das feridas da vida, de cura e revigoramento das forças debilitadas, de coragens esmorecidas, de sonhos e projectos truncados. Hoje é o dia em que pode haver natal. Depende de ti e de mim. E se houver, o mundo fica melhor! “Agora, estais mais perto da salvação” - lembra Paulo numa das suas cartas.
Jesus é o Presente de Deus no espaço. Aqui onde nos encontramos. “Ele está presente no meio de nós” – respondemos ma saudação litúrgica. Fazer natal a partir do coração, da família, da vizinhança, do ambiente de trabalho, do grupo apostólico, do partido ou movimento político. E há tantas situações onde o Natal pode acontecer: nos egoísmos sem nome, nas injustiças camufladas, nas mediocridades consentidas e alimentadas, nas aspirações a mais e melhor abafadas, nos encontros pessoais conscientemente adiados, nos sorrisos disfarçados que aguardam um rosto amigo e atraente como o de Deus feito Menino.
Jesus é o Presente que fica connosco e em nós. Para dar uma nova dimensão ao nosso pensar e agir, amar e sentir, parecer e ser. Para fazer de nós, a seu jeito e a seu gosto, presentes para toda a humanidade. Que alegria e responsabilidade!
Georgino Rocha
sábado, 20 de dezembro de 2008
STELLA MARIS: Almoço Solidário
Bispo de Aveiro deseja presença da Igreja
mais atenta e solícita no mundo de hoje
O Almoço Solidário, promovido pelo Stella Maris, juntou hoje, 20 de Dezembro, 125 pessoas. Gente diversa que precisa, de facto, de quem se lembre dela. Bom bacalhau, com batatas e couves, tudo bem regado com azeite, vinho e sumos, mais doces variados, onde sobressaíram o bolo-rei, a aletria, o arroz-doce e o leite-creme, de mãos dadas com a generosidade de voluntários, fizeram deste almoço um bonito gesto de solidariedade.
D. António Francisco lembrou, a abrir a refeição, que “à volta da mesa nos sentimos mais família”. E foi essa a mensagem que todos aceitaram para esta quadra natalícia, prometendo cada um, decerto, no seu íntimo, levá-la à prática no dia-a-dia.
O Bispo de Aveiro, atento ao que o rodeava, olhou e viu, na decoração da sala, redes, âncora, farol, o presépio e uma imagem de Nossa Senhora, que nos revela “o rosto solidário de Deus”, nesta época “de sonhos e esperanças”, que todos acalentamos.
D. António lembrou o bem que no Stella Maris se faz e que “urge continuar a fazer”, valorizando “uma relação de comunhão entre as instituições da paróquia e da diocese”. E sobre o Natal de Cristo, manifestou o desejo de que ele faça nascer, nas pessoas, “energias e coragem para vencerem as dificuldades da vida”. Mas ainda sublinhou a necessidade de que a Igreja se torne “uma presença atenta e solícita no mundo de hoje”.
Dirigindo-se aos autarcas presentes, frisou a importância de todos criarmos “pontes de amizade, unindo os nossos esforços, para melhor servirmos as comunidades”.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Ílhavo, Ribau Esteves, louvou o gesto de partilha, “num mundo cheio de dificuldades”, apelando ao esforço e à união de todos, “na procura de soluções novas para os problemas que vamos ter”. Adiantou que é nossa obrigação ajudar, verdadeiramente, os que mais precisam, “cuidando melhor dos mais pobres”. Mas ainda referiu a urgência de apoiarmos as instituições e o próprio Estado, criando mais empregos, “para sermos mais felizes”.
Joaquim Simões, presidente da direcção do Stella Maris, disse que este Almoço Solidário, preparado pelos dirigentes da instituição e suas famílias, com a colaboração de voluntários amigos, serviu para alimentar o “sentido familiar”, numa perspectiva de valorizar o espírito fraterno. E ao evocar o Natal de Jesus Cristo, referiu que ele é sinal visível do “encontro entre o Céu e a Terra”. Considerou, também, o esforço permanente de todas as instituições, quando promovem a partilha do pão e estimulam o lazer, a cultura e as mais diversas acções sociais junto das populações, sobretudo das mais carenciadas.
Fernando Martins
'PROVAVELMENTE DEUS NÃO EXISTE'

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
NATAL: Notas do Meu Diário

FM
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Dia Internacional das Migrações

Mesmo com o dia a chegar ao fim, sinto que é minha obrigação assinalar aqui o Dia Internacional das Migrações. Não para fazer doutrina sobre as vantagens, desvantagens e necessidades das migrações, afinal um fenómeno de todos os tempos e de todas as zonas do globo, mas para me associar a todos quantos sentiram a urgência da partida, deixando famílias e sonhos para trás.
Dar as mãos aos que chegam e apoiar, com a nossa solidariedade, os que têm de partir, é obrigação de cada um de nós, porque, afinal, ninguém sabe, concretamente, o que o espera um dia.
Já vi chegar até junto de mim as mais diversas pessoas de rostos, culturas e sensibilidade bem diferentes das que presenciei desde a minha infância; também já vi partir conhecidos e amigos que, nem sempre pelo espírito da aventura, experimentaram na alma a obrigação de buscar noutras paragens, de usos e costumes tantas vezes estranhos, o que de essencial lhes faltava na terra natal.
Dos que saíram e nunca mais regressaram, bem como dos que, enraizados noutros ares, com famílias que entretanto foram nascendo e crescendo, por aqui aparecem, de férias, de quando em vez, quero, neste Dia Internacional das Migrações, saudar com uma palavra fraterna e solidária, na esperança de que, onde quer que se encontrem, aqui permanecem as suas raízes, que vamos regando com a nossa amizade.
Fernando Martins
Crónica de um Professor

Era a última aula duma das NACs (Novas Áreas Curriculares), do 1.º período escolar, do ano civil, deste Outono tardio!
Estava na memória dos alunos a tradição, que aqui convém manter, de que “Prima non datur, ultima non recipitur”! Aqui o Latim tem a vivacidade e actualidade duma qualquer língua viva, apesar de qualquer indivíduo, menos informado, ter o conhecimento que é e se mantém como língua morta!
Para fugir à imposição das obrigações escolares, qualquer aluno guarda bem, na sua memória, estas tradições! A 1.ª não se dá, sendo da responsabilidade do professor esse encargo; da última encarregam-se os alunos, que estão sempre prontos para a gazeta. Ou... não fossem eles alunos! Todos já por lá passaram, não constituindo a teacher uma excepção!
Vai daí, há que fazer recurso de todo o seu know how, de toda a sua experiência, de toda a sua versatilidade de pedagoga.
Assim fez! Foi aos arquivos da sua memória e anteviu a possibilidade de atingir algum objectivo pedagógico! Os professores são uns interesseiros, claro que são! Estão sempre a tentar levar a água ao seu moinho! E... às vezes, este está tão distante!
Pois bem, a teacher almejou, nas suas actividades de última aula, conseguir, ‘inda assim, construir/reforçar/instaurar a autodisciplina, nos alunos. Deste modo, preparou-os para o que se ia seguir, mas… havia uma condição! Tinham que fazer silêncio total!
Se alguém, que esteja fora da esfera docente, nunca o experimentou, eu lanço daqui um desafio: que venha a uma Escola, assistir a uma aula de gente miúda e verifique quantos segundos uma turma de 20 alunos consegue estar sem qualquer ruído! Que proeza a teacher lhes estava a pedir! Ficarem em silêncio! Crianças de 10 anos, com toda a vitalidade e pujança de “coisinhas” que mexem? Brinquedos de corda a que não falta energia? Que têm o bicho-carpinteiro, mesmo que o material didáctico seja essencialmente de papel e plástico! Uf! É uma tarefa de titãs!
Ora, foi neste contexto de gente hiperactiva, que a teacher pediu silêncio, para dramatizar um pequeno sketch. Foi criando a expectativa acerca do que ia contar, inspirando, até, um sentimento de ansiedade e algum temor, nos alunos mais sensíveis!!!
A teacher sabia o que fazia! P’ra que somara anos de experiência a lidar com o que há de mais belo, complicado, problemático, à face deste Planeta Azul, que é o ser humano! A teacher gostava de desafios e estava a enfrentar um, naquele momento. Queria ver até onde ia a capacidade de se autocontrolarem, aquelas cabecinhas irrequietas, irreverentes!
Pediu silêncio… e para criar o cenário/ambiente adequado ao teor do “drama”, sugeriu até que se fechassem as persianas! Todos colaboraram a criar o escuro e daí... até se criarem as condições exigidas para a declamação da actriz… foi um dia de juízo! Havia sempre alguém que, a propósito disto ou daquilo, emitia algum som, o que deitava por terra todo o esforço até aí conseguido! Queria treinar os seus alunos a saberem intervir, apenas quando solicitados, ou quando se justificasse, em absoluto, a sua interpelação.
Estavam finalmente criadas as condições para a actuação! A teacher recortara, até, em papel branco, uma knife, como material necessário para a dramatização. Quando tudo já estava a postos para ‘levantar o pano’, com a sala toda às escuras, vem sorrateiramente a Bia, aquela menina que oferecera o Brad Pitt (!?) à professora, murmurar, assustada, ao seu ouvido:
- Eu tenho medo do escuro! Aí, chegando ao de leve a sua cara à pele de pêssego da menina, tranquiliza a teacher:
- É só uma brincadeira, Bia!
Afinal, o dramático, o terrível, o fantasmagórico daquela cena, resumia-se a “Uma velha, com um enorme facalhão, que, à meia-noite, em que faltara a electricidade!?, punha manteiga... no pão!”.
Mª Donzília Almeida
18.12.08
Subscrever:
Mensagens (Atom)
DESTAQUE
Arquivo do blogue
- abril 2025 (29)
- março 2025 (52)
- fevereiro 2025 (48)
- janeiro 2025 (50)
- dezembro 2024 (49)
- novembro 2024 (45)
- outubro 2024 (43)
- setembro 2024 (38)
- agosto 2024 (21)
- julho 2024 (29)
- junho 2024 (40)
- maio 2024 (25)
- abril 2024 (39)
- março 2024 (51)
- fevereiro 2024 (36)
- janeiro 2024 (61)
- dezembro 2023 (46)
- novembro 2023 (61)
- outubro 2023 (66)
- setembro 2023 (37)
- agosto 2023 (37)
- julho 2023 (48)
- junho 2023 (48)
- maio 2023 (58)
- abril 2023 (67)
- março 2023 (54)
- fevereiro 2023 (53)
- janeiro 2023 (56)
- dezembro 2022 (59)
- novembro 2022 (60)
- outubro 2022 (71)
- setembro 2022 (54)
- agosto 2022 (59)
- julho 2022 (48)
- junho 2022 (56)
- maio 2022 (53)
- abril 2022 (65)
- março 2022 (60)
- fevereiro 2022 (51)
- janeiro 2022 (66)
- dezembro 2021 (73)
- novembro 2021 (57)
- outubro 2021 (66)
- setembro 2021 (67)
- agosto 2021 (52)
- julho 2021 (56)
- junho 2021 (68)
- maio 2021 (60)
- abril 2021 (48)
- março 2021 (67)
- fevereiro 2021 (55)
- janeiro 2021 (60)
- dezembro 2020 (61)
- novembro 2020 (57)
- outubro 2020 (68)
- setembro 2020 (69)
- agosto 2020 (64)
- julho 2020 (76)
- junho 2020 (60)
- maio 2020 (63)
- abril 2020 (49)
- março 2020 (63)
- fevereiro 2020 (57)
- janeiro 2020 (73)
- dezembro 2019 (66)
- novembro 2019 (67)
- outubro 2019 (55)
- setembro 2019 (43)
- agosto 2019 (45)
- julho 2019 (40)
- junho 2019 (41)
- maio 2019 (54)
- abril 2019 (63)
- março 2019 (54)
- fevereiro 2019 (41)
- janeiro 2019 (45)
- dezembro 2018 (49)
- novembro 2018 (52)
- outubro 2018 (43)
- setembro 2018 (44)
- agosto 2018 (33)
- julho 2018 (68)
- junho 2018 (50)
- maio 2018 (68)
- abril 2018 (63)
- março 2018 (68)
- fevereiro 2018 (43)
- janeiro 2018 (65)
- dezembro 2017 (63)
- novembro 2017 (59)
- outubro 2017 (59)
- setembro 2017 (50)
- agosto 2017 (24)
- julho 2017 (60)
- junho 2017 (85)
- maio 2017 (61)
- abril 2017 (54)
- março 2017 (52)
- fevereiro 2017 (43)
- janeiro 2017 (42)
- dezembro 2016 (46)
- novembro 2016 (46)
- outubro 2016 (36)
- setembro 2016 (48)
- agosto 2016 (35)
- julho 2016 (53)
- junho 2016 (63)
- maio 2016 (66)
- abril 2016 (49)
- março 2016 (46)
- fevereiro 2016 (50)
- janeiro 2016 (50)
- dezembro 2015 (69)
- novembro 2015 (62)
- outubro 2015 (79)
- setembro 2015 (54)
- agosto 2015 (39)
- julho 2015 (48)
- junho 2015 (47)
- maio 2015 (79)
- abril 2015 (48)
- março 2015 (54)
- fevereiro 2015 (57)
- janeiro 2015 (78)
- dezembro 2014 (76)
- novembro 2014 (88)
- outubro 2014 (82)
- setembro 2014 (57)
- agosto 2014 (63)
- julho 2014 (54)
- junho 2014 (45)
- maio 2014 (27)
- abril 2014 (57)
- março 2014 (68)
- fevereiro 2014 (74)
- janeiro 2014 (88)
- dezembro 2013 (76)
- novembro 2013 (81)
- outubro 2013 (92)
- setembro 2013 (70)
- agosto 2013 (72)
- julho 2013 (75)
- junho 2013 (73)
- maio 2013 (37)
- abril 2013 (60)
- março 2013 (80)
- fevereiro 2013 (64)
- janeiro 2013 (81)
- dezembro 2012 (84)
- novembro 2012 (67)
- outubro 2012 (80)
- setembro 2012 (65)
- agosto 2012 (57)
- julho 2012 (61)
- junho 2012 (49)
- maio 2012 (115)
- abril 2012 (94)
- março 2012 (117)
- fevereiro 2012 (117)
- janeiro 2012 (118)
- dezembro 2011 (108)
- novembro 2011 (106)
- outubro 2011 (99)
- setembro 2011 (94)
- agosto 2011 (66)
- julho 2011 (80)
- junho 2011 (108)
- maio 2011 (121)
- abril 2011 (109)
- março 2011 (127)
- fevereiro 2011 (119)
- janeiro 2011 (105)
- dezembro 2010 (94)
- novembro 2010 (83)
- outubro 2010 (87)
- setembro 2010 (109)
- agosto 2010 (88)
- julho 2010 (93)
- junho 2010 (66)
- fevereiro 2010 (48)
- janeiro 2010 (144)
- dezembro 2009 (126)
- novembro 2009 (137)
- outubro 2009 (130)
- setembro 2009 (111)
- agosto 2009 (118)
- julho 2009 (124)
- junho 2009 (103)
- maio 2009 (131)
- abril 2009 (124)
- março 2009 (114)
- fevereiro 2009 (101)
- janeiro 2009 (109)
- dezembro 2008 (116)
- novembro 2008 (118)
- outubro 2008 (139)
- setembro 2008 (111)
- agosto 2008 (69)
- julho 2008 (139)
- junho 2008 (153)
- maio 2008 (169)
- abril 2008 (160)
- março 2008 (142)
- fevereiro 2008 (124)
- janeiro 2008 (135)
- dezembro 2007 (119)
- novembro 2007 (106)
- outubro 2007 (119)
- setembro 2007 (87)
- agosto 2007 (68)
- julho 2007 (45)
- junho 2007 (79)
- maio 2007 (83)
- abril 2007 (76)
- março 2007 (108)
- fevereiro 2007 (132)
- janeiro 2007 (106)
- dezembro 2006 (66)
- novembro 2006 (87)
- outubro 2006 (101)
- setembro 2006 (74)
- agosto 2006 (109)
- julho 2006 (89)
- junho 2006 (111)
- maio 2006 (122)
- abril 2006 (107)
- março 2006 (149)
- fevereiro 2006 (89)
- janeiro 2006 (145)
- dezembro 2005 (109)
- novembro 2005 (120)
- outubro 2005 (142)
- setembro 2005 (101)
- agosto 2005 (129)
- julho 2005 (113)
- junho 2005 (145)
- maio 2005 (152)
- abril 2005 (148)
- março 2005 (113)
- fevereiro 2005 (115)
- janeiro 2005 (101)
- dezembro 2004 (44)