sábado, 15 de agosto de 2020

BENTO XVI. UMA VIDA. 2

Crónica de Anselmo Borges 



Como estudante de Teologia, J. Ratzinger destacou-se entre todos e viveu esses anos mergulhado na grande ebulição teológica que se seguiu à Guerra, preparando um novo futuro para a Igreja. A orientação era o diálogo entre a fé e a razão, a racionalidade e a beleza, o diálogo ecuménico, a “Nova Teologia” ..., seguindo a verdade, porque “a renúncia à verdade não resolve nada, pelo contrário, leva à ditadura do arbitrário”.
Foi ordenado padre com o irmão no dia 29 de Junho de 1951. Tornou-se capelão, ouvindo confissões aos Sábados durante 4 horas e aos Domingos celebrando duas Missas e duas ou três pregações. Doutorou-se em Julho de 1953 com uma dissertação sobre “Povo e Casa de Deus na doutrina de Agostinho sobre a Igreja”. Ficou uma palavra marcante de Santo Agostinho, ao definir a Igreja como “Povo de Deus espalhado pela Terra”.
Para poder realizar o seu sonho de fazer carreira como Professor de Teologia, preparou uma tese de habilitação (Habilitationsschrift) sobre a revelação: Offenbarung und Heilsgeschichte nach der Lehre des heiligen Bonaventura (Revelação e história da salvação segundo a doutrina de São Boaventura). Os dois exemplares exigidos foram entregues na Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Munique no Outono de 1955. Aí, começou um drama de abismo. Michael Schmaus comunicou de modo seco, “sem qualquer emoção”, que tinha de rejeitar a tese. Foi tal o choque que da noite para o dia o cabelo de Ratzinger ficou grisalho. Teria de deixar a Universidade e, pensando sobretudo nos pais, “seria uma catástrofe, se tivesse de deixá-los na valeta”. Razões para a rejeição, por parte de Schmaus e outros professores: Ratzinger sabe “ligar fórmulas floridas, mas onde está o cerne da questão?”, “evita definições precisas”, é “demasiado emocional”; mais: foi considerado “quase perigoso”, “um modernista”, “progressista”, acabando numa “compreensão subjectivista da revelação”... 

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A MULHER CANANEIA, CORAGEM DE ORAÇÃO

Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo XX do Tempo Comum


Mulher cananeia, há muito que queria enviar-te uma mensagem de saudação e estima pessoal. Mas só agora descobri o teu email: grande.fe@cananeia.ts Sou um padre católico, que lê com frequência os textos sagrados. Em dois deles, é narrado o teu encontro com Jesus de Nazaré. Marcos e Mateus são os seus autores e descrevem, de forma maravilhosa, o teu desejo apaixonado e lúcido. Mt 15, 21-28. 
Tudo começa, como bens sabes, pelo tormento atroz em que vives o sofrimento cruel da tua filha. Grande coração de Mãe! Quantas voltas terás dado à imaginação impulsionada pela força do amor maternal! Quantas tentativas terás feito para encontrar quem te pudesse valer! Quantas hesitações terás vivido, antes de te decidires a ir ter com Jesus de Nazaré, tu que pertencias à raça dos excluídos das bênçãos de Deus, segundo as leis judaicas! Venceste-te e, por isso, alcançaste o que tanto desejavas. Parabéns! 
Mulher cananeia, permite-me uma pergunta: foi só a predisposição natural do coração que te fez abeirar de Jesus ou já tinhas ouvido falar dele e dos seus discursos admiráveis e gestos curativos? Eu inclino-me por uma e outra hipótese. 

A FORÇA DA HUMILDADE

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Assunção da Virgem Santa Maria


A festa da Assunção de Maria, que a Igreja celebra a 15 de Agosto, constitui o momento final do seu itinerário terreno e a passagem definitiva para junto de Seu Filho glorioso. Momento especial que realça a novidade da sua vida humilde e disponível, sempre atenta ao que Deus quer a ponto de ser a Mãe do Seu Filho Jesus. Lc 1, 39-56. 
A Igreja oferece-nos a visitação com evangelho desta festa. Vamos deter-nos em alguns pontos e tentar saborear o diálogo entre as primas que dão largas à alegria que a maternidade lhes faz gerar. 
O encontro de Maria com Isabel em casa de Zacarias tem um especial significado que Lucas realça no Magnificat. Em resposta à saudação da prima, Maria louva o Senhor pelas maravilhas operadas na história da salvação, deixando transbordar a alegria que lhe vai no coração e lendo, a partir da luz de Deus, o surgir de uma nova situação pelas transformações realizadas. 
O Magnificat “é talvez, afirma Sophia de Mello Breyner Andresen, grade poetisa portuguesa, o mais formoso poema que existe. Entre dois mundos, na encruzilhada da história, uma mulher levanta-se e recita o poema da salvação”. Poema que é oração oficial da Igreja e dos seus fiéis que, deste modo, saboreiam e contemplam a intervenção solícita de Deus na realização da história. 

sábado, 8 de agosto de 2020

Artes no Canal – Mercado de Fusão



A iniciativa “Artes no Canal – Mercado de Fusão” regressa este mês de agosto com três edições agendadas para os dias 8, 15 e 29 assumindo-se estas duas últimas datas como “edições especiais” de verão.
A área de implantação do “Artes no Canal” foi aumentada, em formato de linha localizada ao longo do Canal Central da Ria de Aveiro, a partir do Canal do Côjo, junto ao Fórum Aveiro, passando pelo Largo do Mercado Manuel Firmino e prosseguindo até ao Cais da Fonte Nova. Comerciantes e visitantes poderão, deste modo, interagir de forma segura, entre as 09h30 e as 19h00. Haverá animação que acontecerá em Barco Moliceiro que percorrerá toda a extensão do Artes no Canal (Canal Central, Canal do Côjo e Canal Fonte Nova) entre as 10h30 e as 12h00 e das 15h00 às 16h30 com um septeto de sopro e percussão.
O “Artes no Canal – Mercado de Fusão” consiste num encontro entre feira urbana e cultura, que acontece no segundo sábado de cada mês e que anima o Centro da cidade.

FONTE: CMA

BENTO XVI. UMA VIDA. 1

Crónica de Anselmo Borges 




Encontrei uma vez em Roma Bento XVI, ainda não era Papa. A impressão com que fiquei: um homem afável e tímido. No encontro rápido, falou-me da importância decisiva da pastoral da inteligência. 
Nos últimos dois meses, foi para mim um prazer intelectual imenso poder ler a sua biografia — são 1150 páginas —, escrita por Peter Seewald: Benedikt XVI. Ein Leben (Bento XVI. Uma vida). Pude acompanhar 90 anos de história, a brutalidade esmagadora da Segunda Guerra Mundial, os filósofos e teólogos que também estudei, a reconstrução da Alemanha e da Europa, os debates teológicos que levaram ao Concílio Vaticano II, a primavera do Concílio e o inverno que se seguiu, Maio de 68, o cardeal Ratzinger como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, Bento XVI como Papa e a sua renúncia, o Papa Francisco... Em três crónicas simples — previno que a obra não é fácil —, tentarei apresentar rapidamente alguns flashes desta biografia. 
Uma família modesta: o pai era polícia e a mãe cozinheira. Três filhos: Maria, nascida em 1921, Georg, em 1924, Joseph em 1927, às 4.15 de Sábado Santo. No mesmo dia, às 8.30 já estava na igreja para ser baptizado com a nova água pascal, acabada de benzer, e ao som do canto do Glória: “Cristo ressuscitou”.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Hoje recordámos o passado a pensar no futuro



Hoje foi  dia de recordar  o passado a pensar no futuro, com os pés bem assentes no chão que habitamos. O passado foi e continua a ser a mola-real da caminhada a prosseguir até se atingir a meta que nunca saberemos onde está. Caminhada que começou no dia 7 de Agosto de 1965, na igreja do Bunheiro. Dia cheio de projetos, sonhos e alegrias, nunca de medos ou dúvidas. Eu e a Lita demo-nos com amor para ambos nos projetarmos no futuro através dos filhos. No ano seguinte veio o primeiro e depois mais três. A seguir, mais tarde, três netos. Todos garantem a nossa eternidade no mundo. 
Hoje, portanto, completámos 55 anos de casados com as bênçãos de Deus, que pedimos e aceitámos como crentes que somos. E durante este tempo, com imensas alegrias, paixões, trabalhos e canseiras, as nossas vidas foram pautadas pelo seguimento do bom senso e bom gosto, procurando lutar em união para vencer dificuldades, incompreensões e tristezas que só o amor venceu, enchendo a nossa existência de felicidade partilhada com os que nos cercam. 
Pelo caminho, muitos dos que amámos e nos amaram partiram para o Senhor do universo, não sem antes nos legarem valores que enformaram as nossas maneiras de ser e de estar na vida. Valores marcados pela procura da paz, da verdade, da ternura, da partilha, da justiça,  da fraternidade, da solidariedade e do amor. 
Vivemos este dia na esperança de que ainda haverá muito por fazer, se Deus quiser. Foi um dia para nós com o pensamento nos que amamos, dando-nos um ao outro, e ambos aos outros, sem limites e com otimismo. Cada um com o seu estilo e com a sua sensibilidade. O pessimismo não pode ter lugar nos nossos corações. A vida tem de prosseguir. Continuaremos a sonhar e a acreditar no futuro. Lá no fim, estará Deus de braços abertos para nos acolher no seu regaço maternal. Assim desejamos. 

Lita e Fernando

O SAL DA LÍNGUA

 Um poema de Eugénio de Andrade


O SAL DA LÍNGUA

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

In "O Sal da Língua"

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