sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A FORÇA DA HUMILDADE

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Assunção da Virgem Santa Maria


A festa da Assunção de Maria, que a Igreja celebra a 15 de Agosto, constitui o momento final do seu itinerário terreno e a passagem definitiva para junto de Seu Filho glorioso. Momento especial que realça a novidade da sua vida humilde e disponível, sempre atenta ao que Deus quer a ponto de ser a Mãe do Seu Filho Jesus. Lc 1, 39-56. 
A Igreja oferece-nos a visitação com evangelho desta festa. Vamos deter-nos em alguns pontos e tentar saborear o diálogo entre as primas que dão largas à alegria que a maternidade lhes faz gerar. 
O encontro de Maria com Isabel em casa de Zacarias tem um especial significado que Lucas realça no Magnificat. Em resposta à saudação da prima, Maria louva o Senhor pelas maravilhas operadas na história da salvação, deixando transbordar a alegria que lhe vai no coração e lendo, a partir da luz de Deus, o surgir de uma nova situação pelas transformações realizadas. 
O Magnificat “é talvez, afirma Sophia de Mello Breyner Andresen, grade poetisa portuguesa, o mais formoso poema que existe. Entre dois mundos, na encruzilhada da história, uma mulher levanta-se e recita o poema da salvação”. Poema que é oração oficial da Igreja e dos seus fiéis que, deste modo, saboreiam e contemplam a intervenção solícita de Deus na realização da história. 
Como elas, também nós exultamos de júbilo porque, em Maria, Deus abre-nos horizontes de futuro, levantando a ponta do véu da eternidade. A assunção de Nossa Senhora mostra-nos que a relação de Jesus com sua Mãe não acaba com a morte; pelo contrário, reforça-se, se é possível. E o que a Ele aconteceu, também acontece a Maria, dentro da medida que lhe é própria. Jesus ressuscitado sobe ao céu e entra na glória de Deus Pai, assim Maria, na sua assunção e coroação. 
A vida gloriosa de Cristo é fonte de vida para todo o universo e toda a humanidade, para cada um de nós. Maria, em estreita cooperação, é a distribuidora generosa e solicita das suas graças e bênçãos. A novidade original da comunhão entre as pessoas divinas – que Jesus nos dá a conhecer – reflecte-se, de modo significativo, na relação de Maria com os discípulos de seu Filho que, confiadamente, lhos entrega como o seu melhor legado na despedida da Cruz. 
A Assunção é também Coroação, reconhecimento da vida de Maria em Nazaré, no seu ambiente familiar, na sua relação de vizinhança, no acompanhamento e na educação de Jesus, no serviço discreto a Isabel, na procura angustiada do Filho, na aceitação de ficar sozinha quando ele parte para a missão pública, na firmeza de estar junto à cruz e de receber o seu cadáver descido do madeiro, a pedido de José de Arimateia. 
A Coroação de Maria tem as pedras preciosas do amor generoso, do serviço discreto, da confiança total, da peregrinação na fé, da relação próxima, da busca de sintonia e de comunhão com a vontade de Deus. É a coroa da vida, tecida no dia-a-dia da história. É a coroa dos humildes – como ela canta, segundo São Lucas, no elaborado Magnificat – para quem Deus olha com especial predileção e neles realiza maravilhas. É a coroa da fragilidade humana que aceita ser fortalecida e revitalizada, à maneira de grão lançado à terra que se torna vigoroso e fecundo, e a seu tempo, dá origem à messe loira promissora de boa e abundante colheita. 
“…A humildade é como um vazio que deixa espaço a Deus. O humilde é poderoso porque é humilde, não porque é forte, afirma o Papa Francisco. Esta é a grandeza do humilde e da humildade”. 
A Assunção de Nossa Senhora celebra esta associação e cooperação de Maria com o Filho de Deus, nosso Salvador, mesmo para além da morte. Esta verdade sublime é muito antiga na Igreja, embora tenha sido proclamada oficialmente em 1950 por Pio XII, confirmando a fé celebrada pelas comunidades cristãs. O Papa recorreu ao modo mais solene para apresentar, como verdade de fé/dogma, o facto sublime de Maria ter sido elevada ao Céu, em corpo e alma. Está junto do seu Filho numa comunhão de amor. A humanidade exulta de alegria porque alguém abre as portas do futuro que nos espera e canta o Magnificat, cheia de alegre esperança. 

Pe. Georgino Rocha

Nota: Ilustração: Ticiano - Assunção da Virgem

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