domingo, 24 de maio de 2020

CARÍCIAS DE DEUS

Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias

«Estou convencido de que o bispo de Bragança não é caso único. Mas é um excelente exemplo da Igreja em saída, que olha para o Céu, com os pés assentes na Terra, distribuindo “carícias de Deus”. Para que se concretize um mundo melhor.»

1. Hoje celebra-se, na liturgia católica, a festa da Ascensão de Jesus ao Céu. Evidentemente, quando se fala em ascensão, não se está a fazer descrições geográficas; trata-se tão-só de tentar expressar simbolicamente que Jesus entrou na plenitude da Vida que é Deus. 
Antes da despedida, prometeu aos discípulos o Espírito Santo, o Espírito de Deus, que é Amor, aquela luz e força que ilumina, vivifica, dá ânimo, consolação, confiança, coragem. E disse-lhes, segundo os Actos dos Apóstolos, de São Lucas: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.” Desapareceu da sua vista e “como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Porque estais assim a olhar para o céu?” E observou-lhes que agora a sua missão era partir, para cumprir a missão que Jesus lhes entregara. 
Esta é a missão da Igreja. Sim, olhar para o Céu, anunciar o sentido da vida, o Sentido último da existência humana, que não caminha para o nada, mas para a plenitude da Vida em Deus. A missão da Igreja, essencial, é ser a multinacional do sentido de todos os sentidos, do Sentido último. Ao mesmo tempo, e por isso mesmo, não pode ficar parada a olhar para o Céu. Não pode abandonar o mundo, a Terra, criação de Deus. É aqui que vivemos e a missão da Igreja é continuar o projecto de Jesus, concretizá-lo, aqui, porque queremos, como é desígnio de Jesus, viver num mundo que é de todos e que deve ser para todos, na justiça, na igualdade radical, na dignidade livre e na liberdade digna, num mundo onde todos possam viver em paz e realizar a sua dignidade humana e divina. 
A missão da Igreja tem esta dupla vertente: olhar, na Terra, para o Céu. A igreja de Marco de Canavezes, de Siza Vieira, di-lo como só um artista o sabe dizer. Tem uma porta com 10 metros de altura e, quando se sai da celebração, ela abre-se e continuamos com os pés assentes na Terra, mas, diante de nós, abre-se o Céu. 

sábado, 23 de maio de 2020

D. JOÃO EVANGELISTA NOMEADO BISPO DE VILA REAL

1923-23-Maio

D. João chega a Vila Real - Foto da Ilustração Moderna
“O insigne aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal foi nomeado pelo Papa Pio XI como primeiro bispo da nova Diocese de Vila Real de Trás-os-Montes, cuja bula foi assinada nesta data” 
(João Gonçalves Gaspar, Lima Vidal no seu Tempo, II, pg. 135) — J. 

In Calendário Histórico de Aveiro 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

À ESPERA DA MARÉ


Para quebrar a monotonia do dia, nada melhor do uma foto que me conduza à nossa ria. O marinheiro espera a maré para seguir viagem rumo a novos pesqueiros. Ali, as três canas de pesca não dão sinal de peixe, mas o marinheiro não desespera. A sua hora há de chegar.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

ACOLHE A MISSÃO QUE JESUS TE CONFIA

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Ascensão do Senhor

“Ide e ensinai”, ordena Jesus, com toda a sua autoridade, na declaração final que precede a sua Ascensão. Os discípulos vivem um “feixe” de sentimentos que vão da dúvida ao reconhecimento e à adoração. Acolhem a ordem/envio com docilidade e “temor” pois os horizontes da missão são desproporcionados às suas forças e capacidades. Ir por todo o mundo, ensinar todas as nações, fazer discípulos de todos os povos, baptizar os que acreditam, constituem expressões que configuram a amplitude da sua nova responsabilidade. E eles, seres humanos frágeis e hesitantes, limitados nas capacidades e nos conhecimentos, marcados e formatados pelos hábitos de trabalho duro e da cultura judaica, eles a sentirem a desproporção do que lhes é incumbido e a realidade das suas forças, sem contar com a adversidade de certas e surpreendentes circunstâncias. Mt 28, 16-20.
Quem se atreveria a aceitar tal mandato ou, pelo menos, não pediria algum esclarecimento? Quem não sentiria a tentação da debandada, deixando o lugar vago à espera que outros viessem fazer o que era da sua responsabilidade? Quem não hesitaria em fazer “ouvidos moucos” a tal imperativo, ainda que se retardasse o ritmo do que estava planeado? Estas e outras interrogações trespassariam qualquer coração humano que contasse apenas com os seus recursos. A probabilidade do fracasso era grande.
Mas os discípulos não dão sinais de reagir desfavoravelmente, não manifestam qualquer temor e dispõem-se a tudo. Reconforta-os, sem dúvida, a promessa/garantia de Jesus: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” e ainda: Enviar-vos-ei o Espírito para que esteja em vós e habite convosco.

terça-feira, 19 de maio de 2020

PONTO DE VISTA: VERÃO SEM FESTAS


Está visto e revisto que o próximo verão vai ser muito monótono, sob o ponte de vista festivo: Os programas oficiais não contemplam festas. E sem elas, teremos de recorrer à imaginação de cada um e das famílias. Mesmo que as condições de saúde pública se alterem para melhor, o que será desejável mas difícil de prever, não haverá possibilidades de organizar as tradicionais festas, tanto de âmbito particular como de freguesia e concelhia como regional e nacional.
Nesse pressuposto, temos à nossa disposição e imaginação tempo para recrearmos os nossos lazeres de férias e de convívios, porque nem só de trabalho vivemos nós. Dentro do que será permitido, podemos enveredar por passeios, perto ou mais longe, viagens que nos permitam contemplar outros ambientes, pessoas e culturas, recorrendo aos nossos próprios meios para registar o que mais nos sensibilizou, porque não faltam plataformas digitais para tudo partilhar, numa troca frutuosa de gostos, os mais diversos e até acessíveis.
Por aqui darei conta do que fizer e daquilo que mais me há de marcar no próximo verão.

F. M.

CONFINAMENTO


Falhei no confinamento. No princípio, fiquei confuso sem saber que fazer. Pensei num diário, que não vingou. Tentei e atirei ensaios para a reciclagem. Para não cair na tentação, limpei o que lá estava. Olhando para trás, vislumbrei recordações carregadas em período de exceção: pessoas, gestos, visões de cidades, do mar, da ria, de jardins e caminhos... senti vontade de transgredir, notei olhares magoados, dramas, ameaças, medos. E nas conversas, sem hora marcada, planeei que haveria de fugir do nada. Viajei pelo meu interior, sozinho ou acompanhado. E na viagem lá estavam horizontes escondidos, e quis voltar onde já estive, e imaginei futuros sem horas da saída, e quis saber quando recomeçar, e percebi que estou a caminho. 

F. M.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A VIDA VAI CONTINUAR


Ontem, domingo, parte significativa da minha família reuniu-se para um almoço-convívio, o primeiro da nova era das nossas vidas, sob a lupa atenta de todos, não fosse o danado coronavírus atacar-nos sem dó nem piedade. Estava patente na mente e nos gestos de todos o respeito rigoroso pelas regras ditadas pelas leis em vigor e pelo bom senso de quem, desde que a crise se instalou no mundo, sem olhar a políticas, etnias e horizontes, sentiu as ameaças e as angústias de milhões de pessoas. 
Ao ar livre, no relvado e no coberto anexo, duas mesas à distância necessária, comes e bebes bem acondicionados e divididos, nada de abraços e beijos, conversas e alegrias partilhadas, máscaras prontas para entrar em ação… E assim se passou o primeiro dia das nossas vidas de família alargada, ao ar livre, dia soalheiro, sem o vento incomodativo, sem pressas, com os receios postos de lado, que deles andávamos todos fartos e ansiosos de procurar a natureza. 
Nos meus silêncios habituais, que deles por temperamento não consigo fugir, lembrei os que não puderam vir, que tudo aconteceu por acaso, por parte dos que desejavam libertar-se por umas horas da grande cidade que é o Porto e porque as saudades eram muitas. 
Tenho para mim que a vida vai continuar. As autoridades já escancararam os portões com regras à mistura a partir de hoje, segunda-feira. Ontem, fizemos em família o primeiro ensaio. Correu bem porque  quisemos que assim fosse. Assim toda a gente queira fazer o mesmo.

Fernando Martins