Reflexão de Georgino Rocha
para a Festa da Ascensão do Senhor
“Ide e ensinai”, ordena Jesus, com toda a sua autoridade, na declaração final que precede a sua Ascensão. Os discípulos vivem um “feixe” de sentimentos que vão da dúvida ao reconhecimento e à adoração. Acolhem a ordem/envio com docilidade e “temor” pois os horizontes da missão são desproporcionados às suas forças e capacidades. Ir por todo o mundo, ensinar todas as nações, fazer discípulos de todos os povos, baptizar os que acreditam, constituem expressões que configuram a amplitude da sua nova responsabilidade. E eles, seres humanos frágeis e hesitantes, limitados nas capacidades e nos conhecimentos, marcados e formatados pelos hábitos de trabalho duro e da cultura judaica, eles a sentirem a desproporção do que lhes é incumbido e a realidade das suas forças, sem contar com a adversidade de certas e surpreendentes circunstâncias. Mt 28, 16-20.
Quem se atreveria a aceitar tal mandato ou, pelo menos, não pediria algum esclarecimento? Quem não sentiria a tentação da debandada, deixando o lugar vago à espera que outros viessem fazer o que era da sua responsabilidade? Quem não hesitaria em fazer “ouvidos moucos” a tal imperativo, ainda que se retardasse o ritmo do que estava planeado? Estas e outras interrogações trespassariam qualquer coração humano que contasse apenas com os seus recursos. A probabilidade do fracasso era grande.
Mas os discípulos não dão sinais de reagir desfavoravelmente, não manifestam qualquer temor e dispõem-se a tudo. Reconforta-os, sem dúvida, a promessa/garantia de Jesus: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” e ainda: Enviar-vos-ei o Espírito para que esteja em vós e habite convosco.
Animados por este Espírito, descobrem as novas formas de presença de Jesus. Já não é como antes. A morte no Calvário foi a sério. E a ressurreição, ainda mais. Agora é diferente. O ressuscitado está presente nos sinais previamente escolhidos: a vida humana, a reunião fraterna, a oração a Deus, o bem-fazer aos necessitados, os factos sociais relevantes que indicam um novo rumo na humanidade, a escuta da Palavra, a celebração dos sacramentos na assembleia cristã, o valor do sofrimento por amor, a preocupação por comunicar aos outros a experiência da fé que se vai fazendo, a esperança no futuro definitivo e tantos outros. São eles que indicam e podem desvendar a presença de Jesus ressuscitado. A ascensão significa esta transposição de presenças. Oculto à vista humana é bem visível aos olhos da fé. O Espírito Santo ilumina o nosso olhar para captar, penetrar, compreender, narrar e orar esta nova realidade. A linguagem espacial de “sobe e desce” é bíblica, denota uma conceção diferente do universo e pretende tornar acessível o que ocorre com Jesus após a sua ressurreição.
A Igreja escolheu a Festa da Ascensão para fazer a celebração do Dia Mundial das Comunicações Sociais que este ano tem por lema: «“Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história», lema que evoca o Evangelho de hoje. O Papa Francisco faz publicar uma excelente mensagem de que transcrevo breves parágrafos.
…”Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade duma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros.” … “A Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus…” O próprio Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com as parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias. Aqui a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e transforma-a.”
Retomando a reflexão do nosso texto, vemos que os discípulos, reanimados pelo Espírito, partem em missão, dando origem à mais bela história de amor que faz da autoridade um serviço à verdade que liberta e, da debilidade humana, a força especial do agir de Deus na história. E da narração, a forma de comunicação por excelência.
Vive esta realidade maravilhosa. Acolhe a missão que Jesus te/nos confia.
Pe. Georgino Rocha