Crónica de Natália Faria no PÚBLICO
Foi capa da Time e da Rolling Stone, alimentou quilómetros de notícias por, já na qualidade de Papa, se ter escapulido do Vaticano para comprar óculos e sapatos, por ter trocado a limusina por um carro utilitário, por ter renunciado ao luxuoso apartamento papal para residir com os funcionários da Santa Sé na Casa de Santa Marta. O argentino Jorge Mario Bergoglio é, quase oito anos depois de ter sido eleito Papa, um dos maiores ícones políticos da actualidade. E o mínimo que dele se pode dizer é que, mesmo que não consiga mudar o mundo, está seguramente a reinventar a Igreja Católica, implodindo o conservadorismo de milénios e chamando para a mesa discussões tidas como impossíveis, das excepções ao celibato à ordenação de mulheres, passando pelos divórcios e pela homossexualidade.
Quando, no dia 13 de Março de 2013, se anunciou ao mundo como a escolha dos 115 cardeais reunidos em conclave, ao fim de 26 horas e de cinco votações, nada do que se passaria a seguir se adivinhava. Mas os sinais do desprezo pelos velhos símbolos do poder eclesial estavam todos lá. Naquele início de noite frio e chuvoso, o jesuíta de 76 anos mostrou-se sorridente, afável, vindo do “fim do mundo”, despojado da costumeira parafernália papal, como recordam os jornalistas Joaquim Franco e António Marujo, no livro Papa Francisco – Uma Revolução Imparável. Em vez dos famosos sapatos vermelhos, uns velhos sapatos pretos. Desprezou o discurso em latim que lhe tinham preparado para a sua primeira missa e, em vez disso, proferiu uma homilia simples, directa, e em italiano. Logo depois do habemus papam, fizera questão de ir pessoalmente pagar a conta do albergue onde se hospedara nos dias anteriores. 

 


