quarta-feira, 9 de outubro de 2019

D. António Marcelino regressou à casa do Pai faz hoje seis anos


Que Deus o aconchegue 
no seu regaço maternal 

A triste notícia do falecimento de D. António Marcelino chegou-me pelo telefone, abruptamente. Faz hoje seis anos. O choque que senti não tem palavras que o definam. Embora esperada a sua partida para o seio de Deus, fiquei, contudo, com a tranquilidade necessária para a aceitar porque acredito que D. António Marcelino intercederá por nós junto do Senhor de todos os dons. 
D. António passou pela Diocese de Aveiro como um corredor de fundo, animando tudo e todos, rumo a uma Igreja mais aberta ao mundo dos homens e mulheres destes tempos. Rápido no pensar e no agir, foi dos bispos que mais apostaram na comunicação social, qual profeta que denuncia as injustiças, mas que não deixa de proclamar caminhos que nos conduzam a uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais caritativa e mais solidária. 
Nesta hora difícil, louvo a Deus pelos ensinamentos que dele recebi, pelo seu testemunho de crente e de bispo que me ordenou diácono permanente, pelo homem corajoso que enfrentou com determinação os desafios do Vaticano II, na convicção de que a Igreja Católica e o mundo só teriam a ganhar com as luzes que do concílio dimanaram. 
Que Deus o aconchegue no seu regaço maternal. Assim escrevi na hora da triste notícia. E hoje, passados seis anos, lembro-o com saudade. 

Fernando Martins

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Bento Domingues - Teologia e literatura


"Em Portugal e no Mundo, há muitas referências 
à dimensão religiosa e cristã na literatura dos últimos séculos"


1. A fonte de toda a teologia cristã é o chamado Novo Testamento (NT) que, por sua vez, é uma inovadora interpretação da Bíblia Hebraica ou, como é usual dizer-se, do Antigo Testamento (AT). Hoje, encontramos todos os livros da Bíblia de épocas, autores, géneros literários e línguas diferentes, encadernados num só volume. Podem dar a ilusão de constituírem apenas um livro, quando a própria palavra Bíblia significa livros. É preferível, por isso, falar de teologias e não de teologia do AT ou do NT. A expressão muito usada, como diz a Bíblia, não pode indicar nada de muito preciso.
Nessa biblioteca, coexistem, na teia contraditória das experiências humanas narradas, apresentações de Deus cheias de contrastes irredutíveis. O próprio Jesus diz, aos seus interlocutores rabínicos: disseram-vos, mas eu digo-vos. Sustentava muitas vezes o contrário do que vinha nas Sagradas Escrituras.
Para quem tem uma noção de livros divinamente inspirados, como ditados de Deus, pode ser levado a pensar que Deus não se levanta todos os dias com a mesma disposição, pois são-lhe atribuídas afirmações que não batem certo umas com as outras. A inspiração divina acontece através de múltiplas e complexas mediações humanas. Quando se afirma que a Bíblia é palavra de Deus importa não esquecer que se trata de uma metáfora para dizer que aquela literatura, sem a referência ao Deus sem nome, seria impossível.
Pelo caminho da sua escrita poética, narrativa, romanesca, sapiencial, a Bíblia revela a profundidade e a complexidade que nenhum dilúvio poderá vencer. Como nota o Prof. José Augusto Ramos, “poderíamos por isso, dizer, sem qualquer intenção de sectarismo, que, em termos históricos e culturais, a Bíblia hebraica completa é a Bíblia cristã. Uma antologia literária que começa no Génesis e termina muito bem no Apocalipse” [1].

domingo, 6 de outubro de 2019

Anselmo Borges - O B. I. dos cristãos

“Eu estou encantado com este Papa. Penso que ele é o Papa preciso para este momento da história do mundo” 

Walter Kasper


1. No início do século XX, A. Loisy fez uma afirmação que é decisiva para a compreensão dos problemas dramáticos por que passa a Igreja: “Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja”. Realmente, não se pode dizer que Jesus fundou a Igreja. Jesus é o fundamento da Igreja, mas não o seu fundador. 
Jesus anunciou o Reino de Deus. E o que é o Reino de Deus? O próprio Jesus, na sua pessoa, na sua palavra, na sua vida, na sua morte e ressurreição. Ele é o Vivente em Deus para sempre. O que é que anunciou? Que Deus é Abbá, querido Pai, e também podemos e devemos dizer que é Mãe, Mãe querida. Como Pai e Mãe, Deus quer o bem, a alegria, a felicidade, a realização plena de todos os seus filhos e filhas e nem na morte os abandona: na morte, não se cai no nada, entra-se na plenitude da Vida. Foi essa fé que moveu Jesus, realizando, por palavras e obras, o Reino de Deus, o Reino da fraternidade, da paz, da solidariedade e da verdadeira liberdade, para todos, a começar pelos mais frágeis, abandonados, pobres, aflitos, marginalizados, desprezados, desvalorizados... Para Deus, todos valem infinitamente. 
Muitos acreditaram em Jesus, cada vez mais homens e mulheres, através dos primeiros discípulos, foram acreditando nEle e, através dEle, em Deus, no Deus de Jesus. E foram surgindo comunidades cristãs fraternas no mundo inteiro, realizando o Reino de Deus. Nelas, o amor era a lei suprema: “vede como se amam”, diziam os pagãos. 

Ainda as férias – Ruínas do Balneário Romano de S. Pedro do Sul

Piscina D. Afonso Henriques
As Termas de S. Pedro do Sul ostentam, com natural orgulho, a bandeira da ancestralidade romana das suas origens, sendo as mais importantes e bem conservadas do país, «com uma utilização contínua ao longo de dois mil anos”, garantindo um notório "desenvolvimento regional”, como se lê nas notas promocionais. 
Nelas se sublinha que “aos romanos se deve a construção inicial do balneum” em dois momentos no 1.º século d.C., sendo visível pelas descobertas arqueológicas as piscinas, canais de escoamento, colunas, fustes e capitéis, lápides epigrafadas, revestimentos e construções. 
A chamada piscina de D. Afonso Henriques, inserida em “estruturas romanas preexistentes promovidas pelo rei conquistador”, é motivo de justo realce. 
Dom Afonso, o primeiro deste nome, frequentou as termas, na ânsia de procurar cura para uma fratura sofrida numa perna durante a batalha de Badajoz (1169), contra o seu próprio genro, na  qual saiu derrotado. 
Aqui  estabeleceu o paço real, com seu filho Sancho, que lhe haveria de suceder, e filhas Teresa e Urraca, bem como a cúria régia. Daí, naturalmente, as marcas indeléveis alusivas ao rei Conquistador, um pouco por cada esquina desta zona termal.
No século XVI, o rei D. Manuel I avançou com os apoios indispensáveis para converter o velho edifício medicinal em Real Hospital das Caldas de Lafões, tendo frequentado os banhos para tratar  de um mal de pele, sublinha o folheto que foi distribuído aos visitantes.







Mais tarde, no século XIX, durante quatro temporadas, as termas foram procuradas pela última Rainha de Portugal, D. Amélia de Orleães, que ali fez tratamentos, deixando marcas no novo edifício balnear, que ostenta o seu nome, “descontinuando assim o uso do antigo balneário romano”. Na altura da visita, estava patente no edifício, denominado Balneário Rainha Dona Amélia, uma exposição de fotografias alusivas à última rainha de Portugal, muito bem conservadas. 
Diz a informação distribuída no momento da visita às ruínas do Balneário Romana, durante a qual ouvimos com muito agrado uma bela lição de história de um guia cego, Eduardo Oliveira, licenciado em Educação e autor do livro “Implantação da República e Monarquia do Norte (Ocorrências e Vivências em S. Pedro do Sul)”, que é oportuno  frisar o conjunto patrimonial que possui “o seu carácter único no país”, com “aproveitamento contínuo ao longo de dois mil anos”. Lê-se ainda que as várias intervenções arquitetónicas realizadas no decurso dos tempos constituem “uma peça patrimonial e histórica de inegável valor nacional”, não existindo outro com “as mesmas características em Portugal”. Aliás, as Termas de S. Pedro do Sul são as mais frequentadas do país, merecendo a preferência de 35 por cento dos aquistas portugueses. 

Fernando Martins

sábado, 5 de outubro de 2019

José Tolentino Mendonça - O poeta também é Cardeal

O poema 

O poema é um exercício de dissidência, uma profissão de incredulidade na omnipotência do visível, do estável, do apreendido. O poema é uma forma de apostasia. Não há verdadeiro poema que não torne o sujeito um foragido. O poema obriga a pernoitar na solidão dos bosques, em campos nevados, por orlas intactas. Que outra verdade existe no mundo para além daquela que não pertence a este mundo? O poema não busca o inexprimível: não há piedoso que, na agitação da sua piedade, não o procure. O poema devolve o inexprimível. O poema não alcança aquela pureza que fascina o mundo. O poema abraça precisamente aquela impureza que o mundo repudia. 


Em "A noite abre meus olhos" 
de José Tolentino Mendonça 

Ler mais aqui 

Nota - Foto da minha autoria


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

E vamos então votar!



No domingo, vamos viver um dia especial no âmbito da democracia pluripartidária. Os portugueses vão escolher, livremente, os partidos políticos que hão de exercer funções parlamentares e governativas, na convicção de que a justiça social, a liberdade, o progresso a vários níveis e o respeito de cada um pelas opiniões dos outros sejam norma de vida de uma sociedade que tem de apostar na erradicação da exclusão e da pobreza. 
Neste meu espaço, onde, à minha maneira, partilho sentimentos, emoções, gostos, paixões, alegrias e tristezas, saberes, buscas e opiniões, não abordo políticas partidárias, mas respeito sempre os vencedores e os vencidos. 
Nesta linha, pretendo, tão-só, lembrar aos meus amigos que é imperioso votar para adquirirmos o direito à crítica, na perspetiva de apoiar o que consideramos certo e de denunciar o que nos parece errado. E vamos então votar! 

Fernando Martins 

Georgino Rocha - Crescer na fé, viver na confiança

DOMINGO XXVII



“Senhor aumenta a nossa fé” disseram-Lhe os Apóstolos após a advertência de Jesus sobre a necessidade do perdoar a quem os ofende, perdoar tantas vezes quantas forem ofendidos. Lc 17, 5-10. Esta advertência mostra a relação que há entre fé e perdão, entre a necessidade humana e a oferta divina; mostra o perdão na sua dimensão de gesto ético e de dom do Espírito Santo. 
Por isso afirma Manicardi: “A fé é sempre «pouca», e os discípulos são sempre «homens de pouca fé», ou seja, incapazes daquela relação de entrega plena e confiante, gratuita e convicta, humilde e perseverante, doce e robusta, numa palavra, daquele amor que está na base do poder da fé”. Como se mantém actual o pedido dos Apóstolos!
“Não nos tornamos cristãos com as nossas forças” – afirma o Papa Francisco, no Twitter. “A fé é, primeiramente, um dom de Deus que nos é dado na Igreja e através da Igreja”.

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