DOMINGO XXVII
“Senhor aumenta a nossa fé” disseram-Lhe os Apóstolos após a advertência de Jesus sobre a necessidade do perdoar a quem os ofende, perdoar tantas vezes quantas forem ofendidos. Lc 17, 5-10. Esta advertência mostra a relação que há entre fé e perdão, entre a necessidade humana e a oferta divina; mostra o perdão na sua dimensão de gesto ético e de dom do Espírito Santo.
Por isso afirma Manicardi: “A fé é sempre «pouca», e os discípulos são sempre «homens de pouca fé», ou seja, incapazes daquela relação de entrega plena e confiante, gratuita e convicta, humilde e perseverante, doce e robusta, numa palavra, daquele amor que está na base do poder da fé”. Como se mantém actual o pedido dos Apóstolos!
“Não nos tornamos cristãos com as nossas forças” – afirma o Papa Francisco, no Twitter. “A fé é, primeiramente, um dom de Deus que nos é dado na Igreja e através da Igreja”.
É o amor que impele o cristão a ser missionário na sua vida diária, no acolhimento e ajuda a quem precisa, nos serviços de promoção e de libertação dos oprimidos. É o amor que faz surgir a vocação para o matrimónio cristão e correspondente família, revigora quem exerce o ministério ordenado ou quem se vê confirmado na consagração religiosa e em tantas outras formas de doação gratuita e definitiva.
Por especial indicação do Papa Francisco, assumida pelos nossos Bispos, o mês de Outubro deste ano tem como lema “Baptizados e enviados em Cristo, a Igreja de Cristo em missão no mundo”. É também para nós. Somos todos/as convidados/as a viver intensamente a nossa fé missionária.
“Senhor aumenta a nossa fé”. Esta súplica manifesta que a fé brota do contacto com Jesus, da relação cordial com ele, do conhecimento da sua vontade, do envolvimento na sua paixão que não desiste de ir até ao fim. O amor a Deus Pai e a realização do seu projecto de salvação “comandam” todas as suas decisões e ousadias. Sem esta familiaridade com Jesus, a fé corre o risco de se desvirtuar, não tendo consistência nem autenticidade; corre o risco de se diluir e até desaparecer; corre o risco de dar lugar à indiferença, à hostilidade.
Jesus atende o pedido dos discípulos e reencaminha-o de modo surpreendente. “Se tivésseis fé, como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Arranca-te daí e vai plantar-te no mar, e ela obedecer-vos-ia”. O recurso ao grão, pequena semente, cheia de vigor, realça o contraste com o aumento pretendido. Não se trata de quantidades, mas de qualidade; não se trata de ter uma fé mais vistosa, mas de viver uma fé mais confiante e consistente.
A fé, que Jesus ilustra com a referida comparação do grão de mostarda e do servo obediente, alicerça-se na Palavra de Deus que é sempre fiel e tem uma única medida: o vigor que a adesão cordial faz brotar no coração dos discípulos, adesão credenciada por uma atitude de serviço generoso e desinteressado.
A coerência de quem vive a fé, em obras concretas, brilha em tantos rostos humanos, sorridentes e felizes, em tantos voluntários de causas solidárias e fraternas, em tantos espoliados da sua dignidade que não desistem de a reivindicar, correndo riscos de morte. Infelizmente, também acontece o contrário.
A qualidade da fé é típica dos discípulos, mulheres/homens de Deus, cheios do Espírito de fortaleza, caridade e moderação – como lembra Paulo a Timóteo; preocupados em guardar o “tesouro” recebido e em mantê-lo íntegro; cheios de audácia evangelizadora em todas as circunstâncias, firmes e determinados na prossecução do ideal que aprendem do Mestre. É típica de quem assume conscientemente o baptismo e faz desabrochar toda a sua riqueza ao longo da vida.
Georgino Rocha