sexta-feira, 30 de março de 2018

A IMPRESSIONANTE MORTE DE JESUS

Reflexão de Georgino Rocha



João, o apóstolo predilecto, é testemunha da morte de Jesus, juntamente com algumas mulheres, de que se destaca Maria, a Mãe. E descreve os momentos principais dos instantes derradeiros que, com alguns elementos dos outros evangelistas, nos oferecem um quadro exemplar da “arte de bem morrer”, da boa morte. A situação não podia ser mais dramática: insultos dos ladrões crucificados, mofa dos soldados romanos, no ofício de algozes e vigias, João e a Mãe de Jesus com o pequeno grupo de mulheres indefectíveis. A ver o acontecimento está o centurião. A dar sinais do sucedido fica o templo e o universo. E, nós à distância que o coração aproxima, contemplamos com devoção o evoluir da vida do Nazareno prestes a findar-se. Ele, o agonizante, é o protagonista. Entregando o espírito entre gritos e lágrimas. Com dignidade. Em liberdade. Com confiança filial.
Jesus toma a iniciativa. De silêncio e respeito, para com o ladrão revoltado e injurioso; de aceitação benevolente do pedido do ladrão arrependido; de entrega da Mãe a João e desta àquela; de reclinar a cabeça, antes de confiar ao Pai o seu espírito. Que maravilha, humanamente falando! Tudo prevê em harmonia. Tudo deixa a indicar que a missão fora cumprida com perfeição. Tudo com enorme dignidade.
E parecia ser tão natural e humano agir de modo diferente. Ao ladrão revoltado dizer-lhe: recebes o que mereces; ao arrependido, ainda bem que reconheces; à Mãe e a João, não se esqueçam de mim e guardem a minha memória; aos soldados vigilantes, satisfazer-lhes o desejo vencendo o desafio. Mas a atitude de Jesus manifesta a novidade do ser humano tão diferente que “transpira” de divino. Não desce da cruz, dando provas de um amor inexcedível e da justeza da opção tomada livremente; não se preocupa pela sua memória efémera (havia previsto outra presença na ceia e no mandamento novo); não retribui os ladrões com repreensões e censuras; não condiciona a natureza e demais elementos da criação, mantendo-os fora do que lhe estava a acontecer. De facto, Deus humanado em Jesus é totalmente diferente. O episódio do Calvário manifesta-o claramente. E fica como símbolo emblemático para todo o sempre. Olhar para ele é ver o visível e admirar o Invisível. Vêem-se dores, descobrem-se amores. Vêem-se trevas, descobrem auroras da Páscoa. Vêem-se lágrimas de desolação, descobrem-se sinais de júbilo e consolação. Só a fé no Crucificado/Ressuscitado abre o acesso a esta realidade nova.

HOJE ACORDEI ASSIM…






Hoje acordei assim… com as nuvens ameaçadoras, descarregando, quando menos se espera, a chuva benfazeja, mas incomodativa para quem espera e desespera com a ausência real da primavera. Mas ela há de vir, mais dia menos dia, com a ressurreição de Jesus, que é sempre, desde há 20 séculos, a certeza de vida nova.
Boa Páscoa para todos.

Praia da Vagueira



Por este empedrado inacabado da praia da Vagueira andei um dia destes, saboreando a maresia debaixo duma aragem agreste, mas reconfortante. Os prazeres da alma não suplantam, imensas vezes, as dores físicas?

SEXTA-FEIRA SANTA

Anselmo Borges 


1 Estava já sentado para escrever este texto, quando me telefonam da portaria: que estava lá uma senhora, já de idade, que precisava muito de falar comigo. A senhora: "Como é que se pode acreditar em Deus que enviou o seu Filho para ser crucificado?" E eu: "Não se pode, minha senhora." Porque esse seria um deus bárbaro.
Em termos simples, foi assim. Pregou-se o pecado original - chamo a atenção para o facto de Jesus nunca ter falado em pecado original. De qualquer modo, pressupondo o pecado original, pensou-se que ele constituiu uma ofensa infinita a Deus, ficando uma dívida infinita para com Ele, que o ser humano não podia pagar. No contexto do direito feudal, Santo Anselmo teorizou sobre a doutrina da satisfação: Deus enviou então o seu Filho, que, sacrificado na Cruz, pagava a dívida, aplacando a ira de Deus e reconciliando-o com a humanidade.
Aí está um Deus sádico, pior do que um pai normal, sadio, um Deus que aliás contradiz o núcleo da mensagem de Jesus, que revelou que Deus é Pai-Mãe, de tal modo que a Primeira Carta de São João, a partir da experiência que os discípulos fizeram com Jesus, escreveu, na tentativa de dizer quem é Deus, que "Deus é amor incondicional". Este é o único Deus que é Evangelho, isto é, literalmente, notícia boa e felicitante, em quem se pode acreditar, entregar-se a Ele confiadamente na vida e na morte. O outro deus, tão frequentemente pregado e que tolheu e envenenou a vida de tantos, seria um deus sádico, em relação ao qual, portanto, só haveria uma atitude humanamente digna: ser ateu.

2 Jesus não foi vítima de Deus, mas dos homens. O cristianismo constitui a maior revolução na história da humanidade: uma revolução de e para a liberdade, a mais humanizadora. E tudo com fundamento na nova compreensão de Deus. Jesus fez a experiência filial de Deus, que não é omnipotente no sentido da omnipotência enquanto dominação e arbítrio, mas Força infinita de criar. Deus tudo criou e cria por amor e o seu único interesse é a alegria, a felicidade, a realização e a plenitude de vida de todos os homens e mulheres. A partir desse encontro com Deus Pai-Mãe, Jesus fez o que Deus faz: amou a todos, por palavras e obras, a começar pelos mais frágeis, os excluídos, os tristes, aqueles e aquelas que ninguém ama. E ousou transgredir as leis religiosas, como o Sábado, porque "o Sábado é para a pessoa e não a pessoa para o Sábado". E enfrentou os sacerdotes e as leis, curando ao Sábado. E disse que o núcleo da religião na sua verdade essencial passa pelo compromisso a favor dos abandonados e não pelos rituais religiosos: "Eu tive fome e destes-me de comer, eu tive sede e destes-me de beber, eu estava nu e vestistes-me, estava na cadeia e no hospital e fostes ver-me." "E quando é que o fizemos, Senhor?" "Sempre que o fizestes a um destes mais pequeninos foi a mim que o fizestes." Nada de explicitamente religioso nem confessional. O combate religioso essencial trava-se na luta pela justiça, pela dignidade de todos.

ENCONTRO FELIZ COM O SENHOR RESSUSCITADO

Reflexão de Georgino Rocha


Maria virou-se e viu Jesus


É manhãzinha. Maria Madalena está sentada à beira do túmulo de José de Arimateia. Tinha ido, com outras mulheres, ultimar o ritual de despedida que se fazia a pessoas de bem. A surpresa apanha-a em cheio. O coração havia ficado preso a sexta-feira “de trevas”, sobretudo ao enterro de Jesus, de que fora testemunha. Agora, a pedra de entrada tinha sido removida, o sudário arrumado e dobrado o lençol. Dir-se-ia que tudo estava disposto com o cuidado de quem termina a missão recebida. Surgia o vazio com toda a sua eloquência, a ausência com todo o seu enigma a suscitar dúvidas, a levantar interrogações. As lágrimas da saudade intensificam-se com hipóteses de desrespeito, de profanação, de rouba. Olhava para o chão e estava cheia de medo, diz o texto de Lucas, pois “dois homens, com roupas brilhantes, pararam perto delas e disseram: Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Ressuscitou”. (Lc 24, 1-12; Jo 20, 1-9).
“A manhã desse primeiro da semana, explica a Bíblia Pastoral em nota de rodapé, marca a transformação radical na compreensão e respeito do homem e da vida. O projecto vivido por Jesus não é caminho para a morte, mas caminho aprovado por Deus que, através da morte, conduz à vida. Doravante, o encontro com Jesus realiza-se no momento em que os homens se dispõem a anunciar o coração da fé cristã”.

quinta-feira, 29 de março de 2018

O DISCERNIMENTO É ESSENCIAL PARA O CRESCIMENTO ESPIRITUAL

Bênção dos Santos Óleos

Citando o decreto do Concílio Vaticano II sobre o Ministério e a Vida dos sacerdotes, o Bispo de Aveiro, António Moiteiro, lembrou hoje, Quinta-Feira Santa, na homilia da Missa Crismal, na Sé de Aveiro, às 10 horas, que os presbíteros devem viver entre os homens como bons pastores  que conhecem  as suas ovelhas,  procurando «trazer aquelas que não pertencem a este redil, para que também elas oiçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor».
O Bispo de Aveiro falou sobre o dom da vocação presbiteral, salientando que nesta Quinta-Feira Santa «revemos a nossa identidade, as nossas dificuldades e possibilidades», tendo acrescentado que «a vida do padre está sujeita a muitas contradições na sociedade em que vivemos, mesmo nas comunidades cristãs onde exercemos o nosso ministério». «Somos vistos como pessoas solitárias, muitas vezes alheados das preocupações do mundo de hoje, ou então construímos um estilo de vida bastante individual e pouco comunitário», disse.
Ao responder à questão que colocou a si próprio e aos presentes, sobre como e onde «buscar forças para sermos sal que dê sabor e luz que ilumine tantos dos nossos irmãos que andam afastados do projeto que Deus tem para a humanidade», o nosso bispo, dirigindo-se mais concretamente aos presbíteros e diáconos, frisou a importância da dimensão humana, «que deve estar muito presente na nossa vida e na relação com os nossos irmãos». Destacou a necessidade de todos cultivarem «o trato amável», sendo «autênticos, leais, interiormente livres, afetivamente estáveis» e, ainda, capazes de todos se dedicarem aos outros,  «com a alegria de sermos amados por Deus». 
António Moiteiro falou da dimensão espiritual, «a qual nunca se pode dar por adquirida», tendo em conta que «a consciência da nossa identidade presbiteral não se mede por aquilo que fazemos, nem pelo modo como organizamos a vida das nossas paróquias, mas sim em sermos discípulos verdadeiramente enamorados do Senhor, cuja vida e ministério se fundam na íntima relação com Deus e na configuração a Cristo, o Bom Pastor». 
Disse que o cristão deve «abrir o coração às sugestões interiores do Espírito, que convida a ler em profundidade os desígnios da Providência», sem esquecer que «o discernimento é essencial para a maturidade e o crescimento espiritual». 

Fernando Martins

terça-feira, 27 de março de 2018

VITORINO NEMÉSIO - PRECE



PRECE 

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco de teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é beberei. Não faças caso.

Vitorino Nemésio


Li aqui 

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue