terça-feira, 31 de outubro de 2017

Georgino Rocha — Sereis felizes por minha causa




«Felizes os que cultivam a mansidão e a humildade, sobretudo em situações de irritabilidade e violência, e optam pela intervenção directa não violenta, mas persuasiva e paciente. Em todas as situações, sobretudo na família e na escola, no ambiente de trabalho e de lazer. Sem esquecer o desporto e as suas claques. Mansidão que nos faz mais sensíveis à relação com as pessoas e a natureza, à contemplação do belo e da harmonia do universo, do sol poente e do abraço amigo.»


A liturgia da festa de todos os Santos faz-nos ver uma multidão imensa, que “ninguém pode contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”. Identifica-os como os “melhores filhos da Igreja”. E garante que são para nós exemplo a imitar e apoio para a nossa debilidade. Eles alcançaram a meta e nos estamos a caminho, unidos pela paixão que dá sentido à nossa vida: Mostrar por acções que a novidade do Evangelho de Jesus humaniza as relações humanas e robustece os esforços de quem colabora na construção de uma sociedade de todos/as, em que a dignidade se espelha na liberdade responsável de cada um/a.

O caminho a percorrer é claramente indicado por Jesus aos discípulos e à multidão que o acompanha. Quer dizer é caminho para todos. Mateus apresenta-o no início do “manifesto” programático do Reino (Mt 5, 1-12) no cimo da montanha, estando Jesus sentado, como mestre, à semelhança de Moisés. E realça a fluência do discurso que, em sequência progressiva, proclama as vias concretas da felicidade. Vias relacionadas com as situações de vida presente, embora abertas ao futuro definitivo de Deus. E destaca a admiração dos ouvintes perante a clareza e a autoridade do ensinamento apresentado. Reacção que brota certamente do contraste com o que outros mestres faziam e se divulgava como modo normal de ser feliz. Reacção que, certamente, se verifica entre nós que queremos levar a sério as bem-aventuranças da felicidade. Vamos salientar o contraste possível que se encontra na leitura do Evangelho de hoje.

Felizes os que vivem em espírito de pobreza e sobriedade, relativizando a riqueza material e apreciando os valores de realização integral de todas as pessoas, valores que “não se compram, nem se vendem, não se pesam nem medem”. Valores que brotam de um coração educado e bondoso, que desenvolve as suas capacidades e as coloca ao serviço dos outros, necessitados de ajuda e atenção. É a felicidade que resplandece no estilo de vida e nas atitudes de Jesus como ele irá testemunhar no exercício da missão pública.

Felizes os que cultivam a mansidão e a humildade, sobretudo em situações de irritabilidade e violência, e optam pela intervenção directa não violenta, mas persuasiva e paciente. Em todas as situações, sobretudo na família e na escola, no ambiente de trabalho e de lazer. Sem esquecer o desporto e as suas claques. Mansidão que nos faz mais sensíveis à relação com as pessoas e a natureza, à contemplação do belo e da harmonia do universo, do sol poente e do abraço amigo.

Felizes os que têm lágrimas de solidariedade, de compaixão e proximidade para com os que sofrem, vítimas de maus tratos e de carências sem fim, sobretudo de amor compreensivo e libertador; lágrimas de revolta pacífica que gera as mais ousadas atitudes e despertam a letargia dos insensíveis e dos indiferentes, especialmente dos responsáveis por minorar os males verificados. A alegria do coração brota do compromisso com os débeis e ostracizados, como fica claro no exemplo de Madre Teresa de Calcutá.

Felizes os que escolhem percorrer os caminhos de justiça porque sentem o coração necessitado de mais e melhor que vem de Deus e quer ser repartido em medidas humanas. “Há uma íntima felicidade quando sentimos fome de Deus, fome de paz, fome de justiça, pois neste desejo se vislumbra a felicidade que, por vezes, vemos no sorriso de uma criança que tudo espera da sua mãe; ou de um idoso e de um doente que dependem de quem os cuida e aguardam um sorriso ou uma carícia”. J. Rubio Fernandez, Homilética, 2017/5, p. 628.

Felizes os que são misericordiosos, dão e recebem ajuda que humaniza, vence a dureza e a frieza do coração, abate muros e ergue pontes de comunhão, corre riscos de se deixar contagiar pela bondade que irradia de tantos rostos, às vezes, cheios de rugas de amargura e esquecimento. Deixar-se ajudar quando é necessário é experimentar a felicidade de ser frágil e estar dependente e proporcionar a outras pessoas a oportunidade de serem misericordiosos. Como os avós em relação aos familiares, os idosos em relação às gerações novas.

Felizes os que cuidam do coração e educam os desejos, apreciam a limpeza interior e a transparência, não pactuam com as intenções escondidas e malévola, abominam a mentira e o calculismo interesseiro, a cegueira que não olha a meios para alcançar os fins. O coração feliz tem outro bater e segue outro ritmo: o da simplicidade e da singeleza, da pureza no sentir e no ver, que são reflexo em nós do olhar de Deus.

Felizes os que promovem a paz assente no respeito pela justiça, que se pôem a caminho para dar e receber o perdão e promover a reconciliação, dos que estão prontos a sanar as feridas provocadas e ainda não cicatrizadas, as ofensas não reparadas. A felicidade dos violentos é efémera. A paz da consciência, fruto da compreensão recta das relações humanas à luz dos critérios do Evangelho, tem garantias duradoiras: “Serão chamados filhos de Deus”, afirma Jesus.

Felizes os que tém a coragem de ser coerentes com as consequências do bem feito e da justiça praticada, aceitando o sofrimento que lhes é imposto, e a perseguição que lhes é movida. O reino dos Céus brilha na sua atitude paciente e silenciosa que aguarda a vez e a voz de Deus a dar-lhes razão. Então será descoberta a verdade que certamente confundirá os intriguistas violentos.

Jesus conclui o seu ensinamento com uma certeza reconfortante: “Felizes sereis, quando por minha causa…disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa”. Como Ele, os que perdedores deste mundo são os verdadeiros vencedores. As bem-aventuranças são preciosos marcos do nosso caminhar. A festa de todos os Santos dá-nos a garantia de que é possível vivê-las agora. A celebração dos Fiéis Defuntos mostra-nos claramente que há um prazo para o fazer. Depois, será tarde. Sejamos coerentes com a mensagem que nos chega.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Ares de Outono — Voz de Outono de Antero de Quental

São Miguel - Açores
Voz de Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» —

Antero de Quental,
in "Sonetos"

Nota:  Durante este ano de 2017, entraram em minha casa duas edições de Sonetos Completos de Antero de Quental. A primeira,  com prefácio de Ana Maria Almeida Martins,  e a segunda, de José Manuel dos Santos. Foram outros tantos motivos para reler os sonetos do grande Antero e para saborear os textos dos prefaciadores.
Ana Maria sublinha que «Sonetos Completos é uma das obras mais traduzidas de toda a literatura portuguesa», acrescentando que «Miguel de Unamuno referir-se-á sempre a Antero como “el autor de los immortales Sonetos […] Quental ha sido una de las almas más atormentadas por la sed de infinito, por el hambre de eternidade. Hay sonetos suyos que vivirán cuanto viva la memoria de las gentes”».
Por sua vez, José Manuel dos Santos diz, logo a abrir, que «Ler poesia é dar a um segredo a possibilidade de ser nosso. O livro que o leitor tem nas mãos esteve, desde a sua primeira edição, nas mãos de sucessivos leitores, que o leram como quem ouve uma voz que o silêncio atacou, mas não conseguiu possuir». E mais adiante refere: «Nos “Sonetos”, há a força feroz dos mares, o risco rápido do relâmpago e do raio, a rouquidão rupestre das pedras e dos penhascos.»
Aqui fica uma sugestão de leitura, integrada na rubrica Ares de Outono.

FM

domingo, 29 de outubro de 2017

Georgino Rocha: Cheguei. E agora?


O passageiro chega à estação. Vê partir o comboio da vida. Os seus companheiros prosseguem viagem. Ele fica. Só. A noite aproxima-se e quer envolvê-lo. Temores fugazes fazem-se sentir. Sem qualquer luz interior, começa a ficar amargurado. E agora?
Parece ouvir rumores suaves, ecos profundos da sua consciência peregrina. De vez em quando, brilha uma chispa do bem feito e que agora o acompanha. Reacende-se a esperança. Um outro horizonte vai-se desvendando na sua imaginação, alimentada pela bondade do coração. A paz do espírito regressa confiante. E adormece, em tão feliz companhia.
A memória ajuda a ver figuras conhecidas, pessoas amigas, rostos familiares. E o sorriso dos pais e dos irmãos brilha com uma intensidade deslumbrante. Ouve uma saudação, repetida vezes sem conta, enquanto estava a caminho. “Ainda bem que te encontro. Chegaste bem?! Olha para nós: Estamos felizes”.
Embalado, e com o olhar fixo, é surpreendido por uma outra presença: a de Maria, Nossa Senhora. Que belas recordações das festas que lhe faziam. Ela é a Mãe de todos os amigos de Jesus, seu Filho. Traz o seu manto aberto e é grande. Sente-se acolhido e aconchegado. Que boa experiência vai fazendo!
A iluminar o manto do aconchego, surge Jesus Cristo, discreto, manso e humilde, a querer fazer ouvir a sua voz: “Vem servo bom e fiel; entra na alegria do teu Senhor”. Sacia a aspiração do teu coração. Chegaste onde podes saborear o amor de doação. Incondicional. De modo novo e definitivo.
E a credenciar o que ouvia, vê erguer-se alguém semelhante às figuras descritas pelos evangelhos da Bíblia. Era Deus. Percebe que tem um sorriso contido, mas firme. E faz ecoar, como outrora no rio Jordão e no monte da Transfiguração, a sua palavra solene: Tu és meu filho muito amado. Reveste a roupa da festa que para ti está preparada. Alegra-se e exulta. Passou o tempo da tribulação. Agora estás em família. A viver as surpresas do meu amor. Ainda bem que chegaste!
O sonho dá lugar à realidade. As sementes lançadas no tempo surgem em frutos saborosos de eternidade feliz. E o poeta, em tom premonitório de sabedoria popular, vem lembrar: Tenho uma viagem marcada. Mas quando a faço não sei. Do que tenho não levo nada. Só levo tudo o que dei.

Georgino Rocha

Bento Domingues — Descongelar, protestar, agir


1. Espero que as últimas notícias de Fátima não sejam a viagem a Roma do bispo António Marto para agradecer a visita do Papa Francisco e a celebração da chegada ao Santuário de uma relíquia de João Paulo II. É de supor que lhe tenha agradecido, sobretudo, as admiráveis homilias feitas na Cova da Iria e tenha apresentado as medidas que o Santuário tomou, se é que existem, para fazer desses textos instrumentos da evangelização de Fátima. Para quando o abandono de invocações e orações muito pouco cristãs?
A doutrina católica não se pode guardar sem a purificar. Tudo o que é verdadeiramente cristão cresce, progride, tende continuamente para a plenitude, como Bergoglio acaba de lembrar, a propósito do XXV aniversário do Catecismo da Igreja Católica. A Tradição é uma fonte de vitalidade quando não é confundida com as tradições da preguiça, do “sempre assim foi”.
Como diz o Papa, só uma visão parcial pode conceber o “depósito da fé” como algo estático. A Palavra de Deus não pode ser conservada em naftalina, como se fosse uma velha manta que é preciso proteger das traças. É uma realidade dinâmica que progride e cresce. Tende para a perfeição. Ao sublinhar que “se fortalece com o decorrer dos anos, cresce com o andar dos tempos, desenvolve-se através das idades”, Francisco entra pelas arrojadas expressões de São Vicente de Lérins (séc. V) [1].
Em conversa com os jesuítas colombianos, o Papa argentino, foi ainda mais incisivo: não se pode continuar a ser formado como eu fui, numa filosofia escolástica decadente, bastante ridícula e que, depois, se traduzia numa pastoral dominada pela casuística.
A seguir, aproveitou uma pergunta desse diálogo para enfrentar os adversários que o caluniam e destacar o que, a seu ver, «deve ser dito por justiça e também por caridade. De facto, ouço muitos comentários – respeitáveis, porque de filhos de Deus, mas errados – sobre a Exortação apostólica pós-sinodal. Para compreender a Amoris laetitia é preciso lê-la do começo até ao fim (…). Alguns afirmam que a Amoris laetitia não tem uma moral católica ou, pelo menos, uma moral segura. Sobre isto gostaria de reafirmar, com clareza, que a moral da Amoris laetitia é tomista, do grande Tomás. Podeis falar sobre isto com um grande teólogo, entre os melhores e mais maduros de hoje, o cardeal Schönborn. Desejo dizer isto para que ajudeis quantos crêem que a moral é mera casuística. Ajudai-os a darem-se conta de que o grande Tomás possui uma riqueza imensa, capaz de nos inspirar ainda hoje» [2].
O acolhimento das relíquias de João Paulo II, em Fátima – todos os santuários estão carregados de relíquias –, não pode fazer esquecer um fenómeno muito curioso. Jesus de Nazaré não nos deixou nenhum resto do seu corpo nem da sua veste. As únicas relíquias de Jesus Cristo são as comunidades cristãs de hoje, em comunhão com as do passado. Frei Francolino Gonçalves, que viveu na Escola Bíblica de Jerusalém mais de 40 anos, como investigador e professor, indignava-se ao ver tantos grupos católicos, acompanhados de padres e bispos, a olhar para um túmulo vazio, esquecidos de visitar as comunidades cristãs da chamada Terra Santa. Procuram relíquias que não existem e ignoram as comunidades do Ressuscitado!

2. Nos dias 20-21, deste mês, realizou-se, na Universidade Fernando Pessoa, o Congresso (Re)Visões de Fátima. Como não pude estar em tudo, é impossível assinalar o alcance de todos os seus contributos no âmbito das ciências humanas, da teologia e da filosofia. A publicação das Actas marcará a novidade e a importância dessa multifacetada investigação fora do âmbito confessional.
Nos dias 21 e 22, participei no Encontro de formação do persistente Movimento «Fraternitas», uma associação privada de fiéis, constituída por Padres dispensados do exercício do ministério, casados ou não, e as suas esposas ou viúvas. Tem estatutos aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa. Goza de personalidade jurídica sem fins lucrativos.
Dito assim, continuamos na ignorância da significação da história da opção pelo casamento de muitos padres e dos seus heróicos esforços para continuarem membros activos, nas paróquias e nas dioceses, a partir da sua competência profissional e preparação pastoral. As resistências que encontraram e encontram em Portugal, e noutros países, fizeram de uma nova oportunidade evangelizadora, na linha do Vaticano II, uma perda irreparável [3].
O tema do Encontro de formação deste Outubro, realizado no Seminário Redentorista de V.N. de Gaia, vinha com este título: A “Igreja do Papa Francisco”- andamento, linhas, armadilhas…
Deixo aqui uma passagem do texto discutido por todos:
(…) Em contraste com o caloroso acolhimento que este Papa está a ter entre aqueles que se afastaram da Igreja ou de quem a Igreja se afastou, os participantes no encontro concluíram que, entre nós, está a verificar-se uma resistência passiva contra as suas orientações doutrinárias e pastorais. Mesmo que não se trate de resistência, é preocupante verificar como os documentos do Papa caem rapidamente no esquecimento ou não têm a repercussão que se esperaria. Por exemplo, a maioria das publicações da Igreja está a dar um lugar quase irrelevante às luminosas catequeses papais contidas nas suas múltiplas intervenções e nas homilias proferidas em Santa Marta.
Frente a movimentos organizados de resistência aos documentos programáticos do Papa, torna-se preocupante verificar que os órgãos hierárquicos da Igreja, designadamente a Conferência Episcopal, não tomem uma posição pública de defesa clara das orientações pastorais por ele protagonizadas. Numa altura em que se avolumam ataques tão ruidosos ao nosso Papa, este silêncio torna-se inaceitável, pois está a lançar uma grande perplexidade entre muitos sectores do Povo de Deus, que esperavam, dos seus pastores, sinais mais insofismáveis de comunhão com o Papa.

3. Por causa dessa resistência passiva, pouco se ligou à Carta Encíclica Laudato Si (2015) que podia ter sido um instrumento de mobilização dos católicos para cuidarem, nos seus locais de habitação e trabalho, de um bem que é de todos. Falamos de direitos, mas esquecemos os deveres [4] de cada pessoa, entregando tudo à responsabilidade do Estado.
Voltaremos a este tema.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Cf L’Osser. Romano, 19.10.2017, pp.11-12
[2] Ib., p. 12
[3] Cf. para a história, Alípio Martins Afonso, Cónego Filipe de Figueiredo, Homenagem vivencial da Fraternitas Movimento, Águeda, 2010; espiral boletim da Fraternitas Movimento.
[4] Declaração Universal dos Deveres Humanos, Proposta do InterAction Council, 1. Setembro. 1997. Edição Pro Dignitate, Fundação de Direitos Humanos.

sábado, 28 de outubro de 2017

Dia Mundial da Terceira Idade



Celebra-se hoje, 28 de outubro, o Dia Mundial da Terceira Idade, razão mais do que suficiente para assinalar o facto, ou não pertencesse eu a essa faixa etária. E se porventura já ultrapassei esse estádio da vida, nem por isso deixo de ficar tranquilo, porque certamente já alguém admitiu a hipótese de regulamentar o Dia Mundial da Quarta Idade.
Não sou dos que desdenham destas comemorações porque, no fundo, o que se pretende com elas é chamar a atenção para a realidade da vida concreta dessas pessoas, carentes de mais cuidados e atenções, a diversos níveis, nomeadamente, económicos, sociais, familiares, culturais e de saúde. 
Não sendo o meu caso, que tenho a Lita, minha mulher, há mais de 50 anos, filhos e netos que nos acarinham, a verdade é que há muitos idosos que vivem sós, esquecidos, menosprezados e até abandonados. 
Permitam-me que sublinhe a importância dos menos jovens na sociedade atual, fundamentais na transmissão de saberes, de valores e tradições, contribuindo ainda para a estabilidade familiar, sobretudo pelo exemplo, pela palavra oportuna, pelo conselho carregado de experiência vivida e pelo estímulo de emoções congregadoras. 
Não gostaria de saber que há idosos maltratados, humilhados e atirados para um canto como coisa inútil. Mas fico feliz quando sei que há idosos ocupados a ensinar artes e ofícios, a relatar histórias das suas vidas, a transmitir conhecimentos caídos em desuso, a partilhar sonhos concretizados e a indicar caminhos do bem, do belo e do bom, vivenciados durante décadas. 
Um futuro à medida das necessidades e sonhos das gentes da minha geração.

Fernando Martins

Mudança da hora


Logo mais, domingo, 29 de outubro, às 2 horas, atrase o relógio 60 minutos. Quando isso acontecer, ficamos na uma hora. É fácil e até temos sorte porque podemos dormir mais uma horita. Depois, tudo continua a rolar, normalmente. O nosso corpo e a nossa mente acabam por se adaptar. E a vida prossegue como dantes.

Paulo Costa na hora de deixar a política partidária

Paulo Costa

Ao cessar funções na Câmara Municipal de Ílhavo, como vereador, Paulo Costa teve a gentileza de me enviar um texto de despedida e de agradecimento. «Após 16 anos de intensa actividade, que me envolveram de uma forma total e me realizaram completamente, entendi que, apesar de gostar imenso daquilo que faço, chegou a hora de fazer outras coisas fora da Câmara e fora da política partidária», disse. 
Paulo Costa, que sempre me honrou com a sua amizade, foi, realmente, um vereador com uma capacidade muito grande para dialogar com toda a gente, independentemente da cor partidária dos seus interlocutores, o que diz muito do seu caráter e do seu modo, franco e aberto, de participar na política e na vida, sem sectarismos nem complexos. 
As suas palavras de agradecimento, ao fim de 16 anos de entrega total à comunidade, como vereador, vão, obviamente, para todos os que com ele privaram, mas não deixa de reconhecer que viveu, na autarquia ilhavense, «momentos verdadeiramente memoráveis» que o «ajudaram a crescer e a amadurecer como político, como profissional, mas acima de tudo como homem». E acrescenta: «O que sou hoje, devo-o aos bons momentos, assim como aos menos bons, mas sobretudo às pessoas com quem tive o privilégio e a felicidade de conviver». 
Gosto, francamente, de políticos que não se deixam levar pela «vã glória de mandar», tendo a coragem de procurar outras vias de enriquecimento pessoal e de serviço à comunidade, na certeza de que a vida nos oferece outros horizontes de empenhamento social e profissional, tão válidos e importantes como os do mundo da política partidária.
Um abraço amigo para o Paulo Costa, com votos das maiores venturas.

Fernando Martins

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