quarta-feira, 21 de maio de 2008

PASSE SOCIAL


A Quercus propôs hoje às empresas que atribuam aos seus quadros o Passe Social, em vez dos carros de alta cilindrada. Poupar-se-ia muito dinheiro na aquisição desses veículos e diminuía, drasticamente, o consumo de gasolina. O ambiente também saía grandemente beneficiado. A ideia não é má, mas os meus amigos acreditam que os quadros das empresas têm assim tantas preocupações com o ambiente? Os ambientalistas às vezes são uns "poetas"…
Há anos entrevistei na Rádio Terra Nova dois ambientalistas. Durante o programa, mostraram que tinham muitas ideias, dando sugestões e mais sugestões. Uma delas incidia sobre a utilização da bicicleta em vez do automóvel... Lembraram até que a nossa região, de traçado de planície, favorecia a circulação de bicicletas, como era notório na Gafanha da Nazaré. Concordei.
Quando saímos do estúdio e os acompanhei à rua, verifiquei que ambos se tinham deslocado em bons automóveis. Não resisti e perguntei-lhes:
- Então não vieram de bicicleta?
- Sabe, de carro é mais prático e mais rápido!
Pois é… Bem prega Frei Tomás: “Olha para o que eu digo e não para o que eu faço!”
FM

Abdicar do futuro


Abdicar da família é abdicar do futuro. Esta é uma das convicções mais fortes que norteiam a presença católica na sociedade e, por certo, uma das mais incompreendidas, com reacções muito díspares em relação a esta defesa tão determinada de um modelo que a Igreja acredita ser o melhor para o casamento e, sobretudo, para o desenvolvimento das crianças que surjam nesse projecto de vida.
Admito que seria mais confortável para quem legislar em função de programas supostamente modernos e progressistas que as convicções religiosas fossem relegadas para esferas mais íntimas, com menos impacto na coisa pública, como se as crenças pessoais não servissem para determinar a vida, mas para serem conservadas numa espécie de museu interior, com exposição limitada às quatro paredes dos locais de culto.
O conformismo típico de muitos espíritos portugueses poderia levar muitos a dizer que o ideal é evitar o confronto, reduzir o alcance da mensagem aos que, à partida, partilham os mesmos valores, e deixar que as diversas opiniões sejam lançadas à praça mediática para que cada um “compre” a que melhor lhe parecer.
Não se trata, em última instância, de impor uma visão da vida ou da sociedade, mas de uma preocupação de fundo, que passa pela constatação das consequências de modelos e políticas que têm afectado, sobremaneira, tudo o que se relaciona com a instituição familiar e com as crianças. É ao presente e ao futuro dos mais pequenos da sociedade que esta edição semanal lança um olhar mais atento, questionando alguns dos caminhos trilhados até agora pela sociedade do nosso país, que deixa tantas crianças desprotegidas, muitas vezes à beira da catástrofe, hipotecando assim o que de melhor estaria reservado para um novo Portugal.
Resta saber que grau de compromisso estarão dispostos a assumir todos os que partilham uma visão da vida inspirada pelas convicções católicas sobre a vida e a família. Não é tempo de campanhas nem de grandes discursos, mas o futuro pede uma acção decidida, em especial junto dos mais desprotegidos nas novas gerações. Porque o amanhã não espera. E não podemos abdicar do futuro.

Octávio Carmo

“Dá vontade de lhe bater”

A propósito do livro Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares, que ando a ler, Saramago diz, com a autoridade que lhe vem do Prémio Nobel da Literatura que é, e com a carga da fama e do proveito que usufrui, de grande escritor que também é, que “Jerusalém é um grande livro, que pertence à grande literatura ocidental. Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos [agora tem 38]: dá vontade de lhe bater!”
Esta frase diz tudo. Diz que Gonçalo M. Tavares merece mesmo ser lido por quem aprecia uma escrita escorreita, coisa não muito frequente em muita livralhada que anda por aí; diz da justiça intelectual de um escritor de renome mundial; diz da ternura que um escritor idoso nutre por um jovem que despontou, há tempos, para a arte de bem escrever; diz que, afinal, não falta quem seja capaz de escrever com muito nível, de forma aparentemente tão simples.

FM

Festa do Corpo de Deus

Alegoria da Beira-Mar (Colecção Centro Paroquial da Vera-Cruz), de Gaspar Albino

No próximo dia 22 de Maio, dia santo de guarda e feriado nacional, ocorre a solenidade litúrgica do “Corpo e Sangue de Cristo”, denominada entre nós por Festa do Corpo de Deus. Embora a instituição do sacramento da Eucaristia seja celebrada em quinta-feira santa, no enquadramento do Tríduo Pascal comemorativo do Mistério da Redenção, a Igreja julgou oportuno, desde há séculos, consagrar um dia especial ao culto solene e, quando possível, com manifestações colectivas em honra do Santíssimo Sacramento. A intenção da Igreja é avivar no espírito dos católicos a fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia.

Como tem sido habitual, a solenidade do “Corpo e Sangue de Cristo” será celebrada na cidade de Aveiro da seguinte forma, além das Missas programadas:

- Às 16.00 horas, na igreja matriz da Vera-Cruz, Eucaristia concelebrada, sob a presidência do sr. Bispo de Aveiro.

- Às 17.00 horas, procissão eucarística, com a participação de Irmandades e Associações, que terá o seguinte itinerário:

- Largo da Apresentação, Praça 14 de Julho, Rua de Domingos Carrancho, Praças de Joaquim de Melo Freitas e de Humberto Delgado, Ruas de Coimbra e dos Combatentes da Grande Guerra, Praça do Marquês de Pombal e Igreja das Carmelitas, onde terminará com a bênção do Santíssimo Sacramento.

ENCONTRO POÉTICO LUSO-ESPANHOL


Na sequência do intercâmbio cultural iniciado em 1993, o Grupo Poético de Aveiro vai realizar, nos próximos dias 30 e 31 de Maio, um Encontro Poético Luso-Espanhol.

Dia 30 de Maio, pelas 21.30 h, no Navio Santo André (junto ao Porto de Aveiro - Forte da Barra).

Dia 31de Maio, pelas 21.30 h, na Feira do Livro de Aveiro.

Além de poetas daquela Associação, estarão presentes representantes da Academia Castelhano-Leonesa da Poesia, Grupo Literário e Artístico Sarmiento de Valladolid, Revista poética hablada de Juan de Baños-Palência. Também estará presente o editor e poeta de Pontevedra Fernando Luis Poza.

terça-feira, 20 de maio de 2008

As supostas dúvidas do ministro e as fragilidades do país


O ministro da Economia, Manuel Pinho, considerou, ontem, dia 19 de Maio, "muito preocupante" o aumento dos preços dos combustíveis e garantiu aguardar o estudo pedido à Autoridade da Concorrência para ter a certeza de que "não existem factores anormais" a empolá-los.
"A situação é muito preocupante, porque tem impacto sobre o poder de compra das famílias e sobre a vida das empresas", reconheceu o ministro, quando questionado pelos jornalistas sobre as subidas nos preços dos combustíveis.
Manuel Pinho falava em Aljustrel, distrito de Beja, após a cerimónia, presidida pelo primeiro-ministro, José Sócrates, que assinalou o arranque simbólico da produção comercial do complexo mineiro daquela vila alentejana.
Apesar de frisar que o preço dos combustíveis é um factor que "ultrapassa" o Governo, o ministro da Economia lembrou que, no que respeita ao executivo, já foi pedido à Autoridade da Concorrência para fazer, "com urgência", um "diagnóstico" sobre a situação. Nesse estudo, acrescentou, serão analisados "todos os factores que, eventualmente, possam estar a travar a concorrência no sector e, com isso, empolar artificialmente o aumento de preços dos combustíveis".
À noite, do mesmo dia, quem teve a possibilidade de ver o programa “Prós e Contras”, na RTP1, ouviu alguns dos presentes no debate dizer que o ministro da Economia recebe, pelo menos, trimestralmente, um relatório da Autoridade da Concorrência sobre o preço dos combustíveis, em Portugal, pelo que está perfeitamente dentro deste assunto, desde sempre.
A ser assim, o que espera o Dr. Manuel Pinho? Milagres? Parece, isso sim, que estamos perante mais um estudo encomendado para ir iludindo os portugueses.
Independentemente das subidas do preço do barril de petróleo, Portugal não tem infra-estruturas que permitam um mercado eficiente e uma concorrência autêntica, o que acaba por penalizar, ainda mais, os consumidores portugueses, ao que se acrescenta, o valor do IVA e do Imposto Sobre Combustíveis (ISP) praticados em Portugal.
À custa de tudo isto, vamos ficando a saber, cada vez melhor, das inúmeras fragilidades que o país tem, praticamente em todos os sectores, e o petrolífero, infelizmente, não foge à regra geral. É preciso fazer muito mais do que pedir estudos à AdC, e o ministro Manuel Pinho sabe disso, perfeitamente.

Vítor Amorim

Na Linha Da Utopia


O retorno da intolerância?

1. Esta é a pergunta incómoda que não se quer fazer nem responder. Mas os recentes acontecimentos da África do Sul, mesmo sem generalizar, dão que pensar. Um certo retorno do apartheid, se é que ele chegou a desaparecer de vez, incendiou de violência xenófoba as ruas da capital Joanesburgo. A segregação racial conhecida como apartheid (palavra que significa «vida separada»), havia sido adoptada legalmente em 1948 na África do Sul. Ironia da história, no ano da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos que veio dizer precisamente o contrário desse limitativo regime sociopolítico em que os brancos detinham o poder e os povos restantes eram subjugados. Foi com Frederik de Klerk (n. 1936) que em 1990, finalmente, foi abolido o regime apartheid, de que se destaca a libertação de Nelson Mandela (n. 1918), activista do Congresso Nacional Africano e que sucederia de Klerk na presidência de África do Sul.
2. Apesar dos seus 43% de desemprego e pobreza crescente, a África do Sul continua a afirmar-se como um dos países ourados de África. Por isso para lá correm multidões de povos vizinhos da Nigéria, Malawi, Congo, Moçambique e especialmente do Zimbawe, estes na ordem de três milhões, vindos da sua instabilidade e incerteza pós-eleitoral. Já estamos a ver o efeito: uma explosão demográfica e a escassez de alimentos e de empregos faz sobrar a acusação de que os migrantes chegados vêm tirar os recursos aos naturais de África do Sul. A onda violenta liquidou, entre centenas de feridos, já algumas dezenas de pessoas (24 segundo agências de informação), fazendo vir à memória os anos idos das maiores crueldades e turbulências na Joanesburgo dos anos 80. A palavra violência e ódio regressou à ribalta naqueles lados do mundo, gerando ambientes intolerantes da maior crueza.
3. Diante das acentuadas mobilidades humanas, ora voluntárias ora involuntárias (como é o caso destas multidões de refugiados à procura da sobrevivência) cresce a incerteza quanto à capacidade da coexistência das diversidades humanas que são sempre reflexo de diferenças socioculturais. Esta insegurança avoluma-se com a concentração macro-económica e com a sobejante escassez de recursos para as multidões famintas. O ditado é certo e é já antigo: «Casa onde não há pão…». Que dizer das multidões que atravessam África para entrar na (ilusão da) Europa? Não há soluções fáceis nesta complexidade dos povos, mas criação de fortaleza e a subjugação exploradora dos recursos naturais que mantém a estratégica dependência não é o melhor caminho. O mundo tem crescido muito em termos de conhecimento tecnológico; mas a questão de fundo do desenvolvimento humano e da consciência da unidade do género humano na saudável e bem vinda diversidade de povos e etnias é um caminho sempre mais lento que, hoje, faz temer a retracção do retorno das intolerâncias. Esta situação é só mais uma que nos confirma que é decisivo (re)conhecer a complexa transculturalidade que está a acontecer.

Alexandre Cruz