VIMO-LO CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE
Georgino Rocha
“Vimo-Lo cheio de graça e de verdade” é como João apresenta o Verbo de Deus que se faz carne e habita entre nós. “Vimo-lo” é certeza reconhecida e testemunho assertivo, afirmação testada e anúncio jubiloso. O Verbo de Deus faz-se carne humilde e a sua glória brilha na fragilidade de uma criança. A Palavra eterna ressoa nas vozes do tempo e assume as formas de comunicação humana. A tenda de Deus ergue-se na história e assume as “marcas” contingentes da humanidade, configurando-se não como templo de pedras, mas como consciência desperta para a dignidade da sua vocação a deixar-se encher de graça e de verdade. Grande maravilha! Felizes os que a sabem apreciar.
João apresenta-O assim não por fantasia engenhosa pessoal e da comunidade a que se dirige, mas por terem visto a glória do Senhor e experienciado o seu amor, por terem ouvido a sua palavra e transmitido a sua mensagem, por terem tocado as suas “chagas” e partilhado a sua paixão. Apresenta-O assim com um propósito claro explicitado na sua 1ª carta: “ Para que estejais em comunhão connosco. A nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo … para que a vossa alegria seja completa” (Jo 1, 3 e 4).
A alegria completa nasce da fé e da comunhão dos que têm um coração livre, uma consciência aberta à verdade, um desejo sincero de felicidade, um propósito de crescimento no amor fiel. Acolher Jesus e cultivar os seus sentimentos constitui a maior prenda que Deus faz a cada um de nós e a toda a humanidade. Ele é a fonte inesgotável da alegria cristã, a palavra sublime de todas as “estratégias de aproximação” e comunicação, o diálogo propositivo à liberdade humana para que se deixa iluminar pela verdade.
O nascimento de Jesus – o Verbo de Deus que habita entre nós - foi contemplado em silêncio fecundo por José, em amor maternal por Maria, em simplicidade admirativa e esforçada pelos pastores, em adoração sapiente pelos magos, em alegria esfusiante pelos coros angélicos. E como seria vivido pelo próprio Jesus? A resposta é admirável: “Eis-me aqui: Eu venho para fazer a Tua vontade” – afirma, dirigindo-se a Deus, seu Pai. E surgiu a nova humanidade que está em “construção” na história, configurando com o nosso esforço a entrega natalícia de Jesus.