«Gostei muito das suas explicações biblicas que primam, como sempre, pelo rigor e pela serenidade. Mas gostava de lhe colocar uma questão: nos tempos que correm, quando tantos de nós sofrem as injustiças de um mundo em que a economia se sobrepôs às pessoas, não acha que seria muito mais importante ver o Chefe Supremo da Igreja Católica aproveitar para se referir, como fez Cristo, aos vendilhões do templo e ser a voz dos que a não têm? Eu lamento imenso que, de uma maneira formal, a Igreja não se manifeste com mais veemência como afinal o fez o seu criador. desejo que tenha passado um Natal em paz, junto dos seus.»
Albertina Vaz
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Boa noite, minha cara amiga
Muito obrigado pelo seu comentário, sinal de que gosta de partilhar opiniões e de manifestar inquietações, rumo a uma sociedade mais justa e mais fraterna. Nesse espírito, permita-me que também me pronuncie sobre o tema que é por demais pertinente.
O assunto que põe à minha consideração não tem sido e penso que nunca será esquecido pelo Papa Bento XVI, na sequência do que outros Papas fizeram, e que é, afinal, obrigação deles, na qualidade de cristãos atentos e responsáveis. O mesmo, aliás, compete a todos os que foram batizados. Essa competência advém da missão profética que lhes (nos) cabe exercer: denunciar o erro e anunciar a Boa Nova, que mais não é do que a Mensagem Evangélica entregue aos homens e mulheres de boa vontade há dois mil anos. Não apenas denunciar nem só anunciar, mas ambas as coisas, conforme as circunstâncias, porém, com base no testemunho pessoal.
É certo que, como humanos, muitas vezes nos esquecemos dessa missão profética. Papas e demais clérigos, mas também leigos, não estão suficientemente atentos às realidades quotidianas dos que mais sofrem, tanto no corpo como na alma. Ao longo da história, houve erros e lapsos imperdoáveis, como é sabido, a par de muita coisa ótima e digna de registo. Contudo, permita-me que não concorde consigo, quanto ao comportamento do Papa Bento XVI.
Quem estiver atento ao que ele diz, denunciando os erros e anunciando os caminhos evangélicos, sabe, como eu sei, porque todos os dias procuro estar informado, que o Papa, com a serenidade e a competência que se lhe reconhece, nunca se cala perante o sofrimento que grassa na humanidade. Catástrofes, fomes, guerras, violências, xenofobias, perseguições, genocídios, tudo tem merecido de Bento XVI a palavra certa na hora exata, com condenações e apelos à paz e ao diálogo, com intervenções diplomáticas e encontros que proporcionem a justiça e o bem das pessoas mais sofredoras. Há imensos escritos dos Papas no site do Vaticano e dos Bispos nos sites das dioceses, bem como na Agência Ecclesia e noutras, que permitem leituras livres.
Quem, como eu, está atento ao que diz e faz o Papa sabe que é assim. E como ele, também os bispos agem do mesmo modo, falando e escrevendo, mas ainda promovendo nas dioceses respostas concretas às carências das pessoas e famílias. A Albertina sabe, como eu sei, que a grande maioria das respostas sociais são de matriz cristã e católica, desde as Misericórdias às IPSS e outras instituições, sob as mais variadas formas.
O que acontece é que alguma comunicação social raramente sublinha esta realidade, porque apenas lhe interessa o crime, o desastre, o escândalo e a história do homem que mordeu no cão. O bom, o solidário, a inovação social, a criatividade nas respostas à fome e a caridade (amor) não interessam a alguns órgãos de comunicação. É pena. E daí, o desconhecer-se o que recomendam o Papa, os bispos e os presbíteros, para além de um sem-número de leigos envolvidos na solidariedade social e na caridade (amor) cristã.
Minha cara amiga
Volto agora ao meu escrito intitulado “O meu amigo Xavier”, razão de ser do seu comentário.
O problema é que, infelizmente, há jornalistas incultos e impreparados sob o ponto de vista religioso e espiritual, o que os leva a cair na tentação de procurarem banalidades para atrair mais leitores, ouvintes e telespetadores, se calhar por pressões de patrões que querem vender muito mais jornais e publicidade.
O caso do burro e da vaca no presépio é paradigma do que afirmo. Que interessa isso, quando o mais importante é a análise que o Papa faz aos textos de S. Mateus e S. Lucas, sobre o nascimento de Jesus, refletindo sobre o que pensa e sabe e citando renomados teólogos e biblistas, mesmo não católicos?
Ouvi muitas referências à história do presépio sem vaca e sem burro. E a alguns interlocutores perguntei se tinham lido o livro. Ninguém o lera e nem sequer sabiam da sua existência. Leram num jornal qualquer e assim multiplicaram, porventura sem o querer, uma crítica sem qualquer sentido. Outros nem sabiam que o presépio havia sido recriado por S. Francisco no século XIII. De qualquer forma, Bento XVI não mandou retirar nada e até, há dias, como foi noticiado, inaugurou no Vaticano o presépio com a vaca e o burro. Porque está, naturalmente, na nossa tradição, que, todavia, tem sido conspurcada pelo Pai Natal, o deus comercial que muita gente adora, em detrimento do Menino-Deus.
O escrito que publiquei no Correio do Vouga e no meu Pela Positiva nasceu com a ideia de sublinhar a singeleza do nascimento de Jesus, com indiscutível fundo de verdade, e que é símbolo evidente de amor e de paz, nas vivências familiares de muitos de nós.
Em resumo, minha cara amiga, permita-me que lhe diga, tristemente, que há muita gente a escrever e a falar na comunicação social sobre religião, apenas com os conhecimentos hauridos na catequese da infância e em cujas cabeças ficaram tão-só princípios incipientes, à espera de continuidade, coisa que raramente aconteceu. Mais valia falarem de futebol, que aí é mais pontapé menos pontapé. E como recomendação, deixe-me sugerir a quem visita o meu blogue a leitura de “Jesus de Nazaré — A Infância de Jesus”, de Joseph Ratzinger (Bento XVI).
Votos de um 2013 cheio de fraternidade
Fernando Martins