sábado, 31 de março de 2018

SAUDADES DESTES HORIZONTES



Tenho saudades dos horizontes vistos do cimo da Serra da Boa Viagem, Figueira da Foz. Enquadrado pelo arvoredo da serra, Quiaios em baixo e ao lado o oceano, o nosso oceano, e ainda a marca sempre expressiva de Fernando Pessoa a recordar-nos, harmoniosamente, que vale a pena ter nascido, sinto a certeza de que na próxima visita à Figueira, ali mesmo hei de reconhecer a magia de ouvir o vento passar.

A NOSSA RESSURREIÇÃO NA MORTE

Uma reflexão de Leonardo Boff


«O fato maior para o cristianismo não é a cruz de Cristo mas sua ressurreição. Sem a ressurreição Cristo teria ficado no passado, no panteão dos mártires abnegados, sacrificados por uma grande causa, um sonho de um Reino de justiça,de amor incondicional e de total entrega a Deus. Mas nunca reuniria pessoas para celebrarem sua presença viva entre nós. A ressurreição significa exatamente essa presença inefável de toda a realidade de Jesus,chamado por São Paulo como o “novissimo Adão”, com um corpo transfigurado, corpo-espiritual, dentro da história humana.»

Ler toda a reflexão aqui 

sexta-feira, 30 de março de 2018

A IMPRESSIONANTE MORTE DE JESUS

Reflexão de Georgino Rocha



João, o apóstolo predilecto, é testemunha da morte de Jesus, juntamente com algumas mulheres, de que se destaca Maria, a Mãe. E descreve os momentos principais dos instantes derradeiros que, com alguns elementos dos outros evangelistas, nos oferecem um quadro exemplar da “arte de bem morrer”, da boa morte. A situação não podia ser mais dramática: insultos dos ladrões crucificados, mofa dos soldados romanos, no ofício de algozes e vigias, João e a Mãe de Jesus com o pequeno grupo de mulheres indefectíveis. A ver o acontecimento está o centurião. A dar sinais do sucedido fica o templo e o universo. E, nós à distância que o coração aproxima, contemplamos com devoção o evoluir da vida do Nazareno prestes a findar-se. Ele, o agonizante, é o protagonista. Entregando o espírito entre gritos e lágrimas. Com dignidade. Em liberdade. Com confiança filial.
Jesus toma a iniciativa. De silêncio e respeito, para com o ladrão revoltado e injurioso; de aceitação benevolente do pedido do ladrão arrependido; de entrega da Mãe a João e desta àquela; de reclinar a cabeça, antes de confiar ao Pai o seu espírito. Que maravilha, humanamente falando! Tudo prevê em harmonia. Tudo deixa a indicar que a missão fora cumprida com perfeição. Tudo com enorme dignidade.
E parecia ser tão natural e humano agir de modo diferente. Ao ladrão revoltado dizer-lhe: recebes o que mereces; ao arrependido, ainda bem que reconheces; à Mãe e a João, não se esqueçam de mim e guardem a minha memória; aos soldados vigilantes, satisfazer-lhes o desejo vencendo o desafio. Mas a atitude de Jesus manifesta a novidade do ser humano tão diferente que “transpira” de divino. Não desce da cruz, dando provas de um amor inexcedível e da justeza da opção tomada livremente; não se preocupa pela sua memória efémera (havia previsto outra presença na ceia e no mandamento novo); não retribui os ladrões com repreensões e censuras; não condiciona a natureza e demais elementos da criação, mantendo-os fora do que lhe estava a acontecer. De facto, Deus humanado em Jesus é totalmente diferente. O episódio do Calvário manifesta-o claramente. E fica como símbolo emblemático para todo o sempre. Olhar para ele é ver o visível e admirar o Invisível. Vêem-se dores, descobrem-se amores. Vêem-se trevas, descobrem auroras da Páscoa. Vêem-se lágrimas de desolação, descobrem-se sinais de júbilo e consolação. Só a fé no Crucificado/Ressuscitado abre o acesso a esta realidade nova.

HOJE ACORDEI ASSIM…






Hoje acordei assim… com as nuvens ameaçadoras, descarregando, quando menos se espera, a chuva benfazeja, mas incomodativa para quem espera e desespera com a ausência real da primavera. Mas ela há de vir, mais dia menos dia, com a ressurreição de Jesus, que é sempre, desde há 20 séculos, a certeza de vida nova.
Boa Páscoa para todos.

Praia da Vagueira



Por este empedrado inacabado da praia da Vagueira andei um dia destes, saboreando a maresia debaixo duma aragem agreste, mas reconfortante. Os prazeres da alma não suplantam, imensas vezes, as dores físicas?

SEXTA-FEIRA SANTA

Anselmo Borges 


1 Estava já sentado para escrever este texto, quando me telefonam da portaria: que estava lá uma senhora, já de idade, que precisava muito de falar comigo. A senhora: "Como é que se pode acreditar em Deus que enviou o seu Filho para ser crucificado?" E eu: "Não se pode, minha senhora." Porque esse seria um deus bárbaro.
Em termos simples, foi assim. Pregou-se o pecado original - chamo a atenção para o facto de Jesus nunca ter falado em pecado original. De qualquer modo, pressupondo o pecado original, pensou-se que ele constituiu uma ofensa infinita a Deus, ficando uma dívida infinita para com Ele, que o ser humano não podia pagar. No contexto do direito feudal, Santo Anselmo teorizou sobre a doutrina da satisfação: Deus enviou então o seu Filho, que, sacrificado na Cruz, pagava a dívida, aplacando a ira de Deus e reconciliando-o com a humanidade.
Aí está um Deus sádico, pior do que um pai normal, sadio, um Deus que aliás contradiz o núcleo da mensagem de Jesus, que revelou que Deus é Pai-Mãe, de tal modo que a Primeira Carta de São João, a partir da experiência que os discípulos fizeram com Jesus, escreveu, na tentativa de dizer quem é Deus, que "Deus é amor incondicional". Este é o único Deus que é Evangelho, isto é, literalmente, notícia boa e felicitante, em quem se pode acreditar, entregar-se a Ele confiadamente na vida e na morte. O outro deus, tão frequentemente pregado e que tolheu e envenenou a vida de tantos, seria um deus sádico, em relação ao qual, portanto, só haveria uma atitude humanamente digna: ser ateu.

2 Jesus não foi vítima de Deus, mas dos homens. O cristianismo constitui a maior revolução na história da humanidade: uma revolução de e para a liberdade, a mais humanizadora. E tudo com fundamento na nova compreensão de Deus. Jesus fez a experiência filial de Deus, que não é omnipotente no sentido da omnipotência enquanto dominação e arbítrio, mas Força infinita de criar. Deus tudo criou e cria por amor e o seu único interesse é a alegria, a felicidade, a realização e a plenitude de vida de todos os homens e mulheres. A partir desse encontro com Deus Pai-Mãe, Jesus fez o que Deus faz: amou a todos, por palavras e obras, a começar pelos mais frágeis, os excluídos, os tristes, aqueles e aquelas que ninguém ama. E ousou transgredir as leis religiosas, como o Sábado, porque "o Sábado é para a pessoa e não a pessoa para o Sábado". E enfrentou os sacerdotes e as leis, curando ao Sábado. E disse que o núcleo da religião na sua verdade essencial passa pelo compromisso a favor dos abandonados e não pelos rituais religiosos: "Eu tive fome e destes-me de comer, eu tive sede e destes-me de beber, eu estava nu e vestistes-me, estava na cadeia e no hospital e fostes ver-me." "E quando é que o fizemos, Senhor?" "Sempre que o fizestes a um destes mais pequeninos foi a mim que o fizestes." Nada de explicitamente religioso nem confessional. O combate religioso essencial trava-se na luta pela justiça, pela dignidade de todos.

ENCONTRO FELIZ COM O SENHOR RESSUSCITADO

Reflexão de Georgino Rocha


Maria virou-se e viu Jesus


É manhãzinha. Maria Madalena está sentada à beira do túmulo de José de Arimateia. Tinha ido, com outras mulheres, ultimar o ritual de despedida que se fazia a pessoas de bem. A surpresa apanha-a em cheio. O coração havia ficado preso a sexta-feira “de trevas”, sobretudo ao enterro de Jesus, de que fora testemunha. Agora, a pedra de entrada tinha sido removida, o sudário arrumado e dobrado o lençol. Dir-se-ia que tudo estava disposto com o cuidado de quem termina a missão recebida. Surgia o vazio com toda a sua eloquência, a ausência com todo o seu enigma a suscitar dúvidas, a levantar interrogações. As lágrimas da saudade intensificam-se com hipóteses de desrespeito, de profanação, de rouba. Olhava para o chão e estava cheia de medo, diz o texto de Lucas, pois “dois homens, com roupas brilhantes, pararam perto delas e disseram: Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Ressuscitou”. (Lc 24, 1-12; Jo 20, 1-9).
“A manhã desse primeiro da semana, explica a Bíblia Pastoral em nota de rodapé, marca a transformação radical na compreensão e respeito do homem e da vida. O projecto vivido por Jesus não é caminho para a morte, mas caminho aprovado por Deus que, através da morte, conduz à vida. Doravante, o encontro com Jesus realiza-se no momento em que os homens se dispõem a anunciar o coração da fé cristã”.

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