quinta-feira, 25 de junho de 2020

A Nina



OS GATOS

Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem

Um deus que nos hospeda
nos seus vastos aposentos
de nervos, ausências, pressentimentos,
e de longe nos observa

Somos intrusos, bárbaros amigáveis,
e compassivo o deus
permite que o sirvamos
e a ilusão de que o tocamos

Manuel António Pina

NOTA: A Nina, a nossa gata, tem carta branca para cirandar pela casa e arredores. Um pouco vadia, ou não fosse essa a sua origem, gosta de dar as suas voltas pelo quintal, mas regressa sempre. Dorme bem, que os gatos, pelos vistos, são dorminhocos, e quando acorda aprecia a companhia das pessoas, mantendo um silêncio misterioso. Hoje, depois do passeio matinal, procurou-me no sótão. Olhou-me fixamente, talvez a tentar descobrir o meu estado de espírito neste tempo frescote e de confinamento, e desandou para a janela. Olhou a paisagem, mirou quem passava, voltou-se para mim e deu-me ordens para lhe tirar o retrato. E como não sou poeta, lembrei-me deste poema de António Pina que diz tudo o que eu não seria capaz de dizer.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Lotação das nossas praias

Agência Portuguesa do Ambiente 
decide lotação das praias 
do concelho de Ílhavo

Praia da Meia Laranja - 2300 pessoas 
Praia da Barra - 11 800 pessoas 
Praia da Costa Nova - 11 000 pessoas 
Praia do Oudinot - 400 pessoas 

Árvore parada



Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria,

no livro POESIA

terça-feira, 23 de junho de 2020

Romaria ao São João

Neste dia, há 13 anos, 
alinhavei as notas que republico,
pela sua oportunidade 
São João, painel cerâmico
Capela de São João na Praia da Barra

Fogueiras,  promessas, cravos, sardinha

Hoje vai ser noite de São João, um pouco por todo o lado. Cada terra com seus usos, uns persistentes e outros a caírem com o tempo, famosas são as festas em honra do precursor no Porto e em Braga, para lembrar apenas as mais famosas e cujos ecos chegam até aqui. Mas isso não quer dizer que nas Gafanhas e arredores não haja São João, que esse santo, afinal, porque é um dos três santos populares, não pode ficar esquecido.
Nos meus tempos de menino e moço, o que lá vai há muito, por esta hora era um corrupio de romeiros a caminha da Barra, onde ainda existe a capelinha em honra do santo que baptizou Cristo, para depositarem aos pés do São João os cravos das suas promessas. Das suas promessas, pois claro, pois não é verdade que o santo se encarregava na altura de pedir a Deus que limpasse a pele dos suplicantes dos cravos, ou verrugas, que inexplicavelmente lhes deformavam a derme? Vinham eles (os romeiros, claro), de toda a parte, de perto e de longe, com seus farnéis, em jeito, também, de quem quer inaugurar a época balnear.
Agora já se perdeu esse hábito de vir ao São João em romaria. Os cravos ou verrugas já saem mesmo sem promessas, com um simples e adequado unguento, e até parece que o São João passou à história. E de tal modo assim é que, aquando da criação da paróquia da Praia da Barra, denominada da Sagrada Família, ninguém se lembrou dele para padroeiro daquela terra, a que tantas e tão boas recordações me ligam. Ninguém se lembrou, não! Eu lembrei-me, mas ninguém considerou oportuna a ideia. O São João já não fazia milagres (nem nunca os fez, acrescento eu, que isso é responsabilidade exclusiva de Deus) e portanto está tudo dito.
Ainda havia as fogueiras, em plenas ruas, para queimar o que havia a mais nos quintais. Saltava-se a fogueira entre risadas, cantava-se e dançava-se à roda, até às tantas, passava-se de rua em rua, a ver qual era a maior (seria?), os rapazes decerto para ver as moças e estas à espera deles, sempre sob os olhares curiosos e atentos dos mais velhos, bebiam-se uns copitos e pouco mais.
Agora, a música é outra. Há sardinha e mais sardinha, com boroa, caldo verde e vinho, mas o São João fica esquecido. As tradições, hoje, não são o que eram. Nem têm que ser sempre cópias fiéis de antanho. Respeite-se, no entanto, algo do essencial. O importante é que o povo se divirta, saudavelmente. Com ou sem marchas, com ou sem sardinhas, porque a alegria cura muitos males.

Fernando Martins

Arvoredo com sombras


No parque Infante D. Pedro, em Aveiro, não faltam sombras do arvoredo para podermos sentir a frescura em dias de calor mais forte, se eles vierem, como se espera.

domingo, 21 de junho de 2020

Um Verão tranquilo



Esta minha fotografia não é para servir de modelo ao Verão deste ano, registado para a história como o Verão do coronavírus. É só para lembrar que estamos na estação das praias, desta feita sem os ajuntamentos, como determinam as circunstâncias. Tem havido abusos e as autoridades vão estar atentas, porque o Covid-19 anda por aí a fazer estragos. 
Como regularmente tenciono apresentar mensagens com ares do Verão, lembrei-me de partilhar com os meus amigos esta inquietação motivada por quem ainda não percebeu que a desobediência de alguns pode afetar muita gente. Um Verão tranquilo para toda a gente.

Nota: A partir de hoje, vou passar a escrever os nomes das estações do ano com a primeira letra maiúsculo.

Continuidade e ruptura

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

"O recurso à diferença histórica não pode significar 
o culto da indiferença perante a violência, seja de que época for."

1. Os incitamentos à violência em nome de Deus, no chamado Antigo Testamento (AT), espantam-nos por boas e ambíguas razões. Por boas razões, porque a voz que pode ser escutada, em todos os tempos e lugares, no íntimo da consciência humana, consciência ética, não desresponsabiliza ninguém. O bem é para fazer e o mal para evitar, como o próprio S. Paulo lembrou [1]. Por outro lado, o poema que abre a actual organização da biblioteca do povo de Israel é um hino à bondade e à beleza do universo coroado pela harmonia do ser humano, masculino e feminino. É o fruto da bênção criadora de Deus extasiado com o seu próprio poema cósmico [2].
Nesta perspectiva, dizer Deus é evocar a infinita generosidade de fazer ser e de nos fazer uns para os outros, segundo o carisma de cada um, incompatível com a força demoníaca da destruição. O recurso à diferença histórica não pode significar o culto da indiferença perante a violência, seja de que época for.
Mas a violência actuante no AT pode espantar-nos por ambíguas razões. A mais ambígua de todas é a proclamação comunitária de salmos que invocam Deus para massacres diabólicos. É também ambígua, porque uma desejável selecção dos salmos ou de parte de alguns salmos, para a oração comunitária – o que me parece desejável –, poderia sugerir o projecto de uma Bíblia expurgada, mutilada. Seria uma violência contra a história e um atentado contra a biblioteca de um povo.

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