Reflexão de Georgino Rocha
para a Festa de Pentecostes
"O sopro de Jesus gera em nós um coração novo, um olhar puro, uma audácia ousada, uma experiência feliz"
João coloca o envio do Espírito Santo no dia da Ressurreição, o primeiro da semana, ao anoitecer (da esperança dos discípulos). Jo 20, 19-23. Lucas prefere situá-lo na festa de Pentecostes, festa tradicional das colheitas, festa memorial que passa a celebrar a aliança de Deus com o seu povo, a partir do Sinai. Lucas, com esta opção, pretende fazer catequese e mostrar que o novo povo, a comunidade cristã, nasce com a vinda do Espírito e o anúncio de Jesus ressuscitado pelos apóstolos.
A narrativa de João “visualiza” esta vinda de forma expressiva e solene. Constitui uma cena enternecedora, cheia de significado, tendo Jesus apresentado as suas credenciais ao grupo amedrontado – apesar dos sinais de esperança ocorridos durante o dia -, fechado em si mesmo e na casa onde estava reunido, enquanto a noite descia lentamente sobre a cidade. E a reviravolta acontece, a começar pela sintonia criada e audácia assumida.
Jesus aparece e coloca-se no meio deles, deseja-lhes a paz, mostra as feridas da sua paixão, reafirma a união que mantém com Deus Pai de quem é o enviado, anuncia a missão que lhes vai confiar, sopra sobre eles e diz: “Recebei o Espírito Santo”. Que “evolução” anímica e espiritual se pode pressentir neste episódio singular: da dispersão interior à convergência em Jesus, o centro do encontro que gera vida; do medo castrador à coragem fecunda e inovadora; da inquietação perturbante à pacificação harmoniosa e confiante; da tristeza amarga pela sensação de uma ausência sofrida à experiência exultante de alegria pela novidade da presença tão desejada; do vazio existencial face ao presente e ao futuro, ao envolvimento imediato na missão condensada na “gestão” sábia do perdão como dom de Deus.