quinta-feira, 26 de março de 2020

SEM SAIR DE CASA



Uns telefonemas deram-nos conta de que alguém pensou em nós. 
E não poderemos  fazer o mesmo? 

Sem me sentir doente, estou obrigado por leis ditadas pelo coronavírus a ficar em casa. À partida é coisa simples: levantar, preparar para o dia, tomar as refeições, ouvir ou ver as notícias, escutar uma ou outra análise, umas catastróficas e outras animadas pela pedagogia da esperança, arejar a cabeça, estimular os sentidos e pensar no dia em que poderei sair, livremente, sem medo de contágios. 
Perante o incerto, dou comigo a pensar nos dias que se adivinham muito difíceis para os sem trabalho e sem emprego, com cortes salariais, sem recursos para uma vida digna. Empresas que suspendem a laboração, negócios de portas trancadas, escolas e instituições encerradas, famílias sem dinheiro para as compras do dia a dia. 
Os números de infetados com o COVID-19 continuam a crescer e as mortes enlutam famílias pobres e ricas, com predominância dos mais idosos, os mais fragilizados, perante a nossa incapacidade. 
Uns telefonemas deram-nos conta de que alguém pensou em nós. E não poderemos  fazer o mesmo, contactando familiares, amigos e conhecidos…? 

F. M.

quarta-feira, 25 de março de 2020

QUANDO A ALMA DÓI...

Em momentos difíceis, é fácil cair no desânimo. Não vale a pena pregar que andamos sempre otimistas, quando a alma dói. Estamos todos a viver horas complicadas e incertas. Ninguém ignora que o COVID-19 tem sido uma caixa gigante de problemas ainda longe da compreensão da ciência. E muitos de nós, contudo, pregamos ânimo para quem nos ouve ou lê, na esperança de que, mais dia menos dia, se descubra a forma de enfrentar o vírus mais contagioso das últimas décadas. Não sei se outros o terão imitado. 
Todos assistimos à luta para o travar. Em quarentena, uns, e outros na frente da batalha, nomeadamente, médicos, enfermeiros, paramédicos, técnicos, auxiliares, pessoal que opera no silêncio nos vários setores dos hospitais e clínicas, recebem apenas, à distância, os nossos aplausos e sentidos agradecimentos. Que mais poderíamos fazer? 
E depois deste desabafo, cá vai uma palavra de amizade solidária para os que mais sofrem, os que foram infetados e estão em tratamento, os que aguardam os resultados das análises, os familiares dos que não resistiram. Que todos saibamos olhar para o lado, na esperança de que uma palavra, um sorriso ou um gesto tornem mais leve a dor dos sofredores.

F. M. 

terça-feira, 24 de março de 2020

SILÊNCIO ...



Em tempo de silêncio... O  silêncio do meu quintal com os pinheiros a quererem  chegar ao céu.

QUARESMA EM TEMPO DE COVID-19

Sem dificuldades, associo a Quaresma aos dramas provocados pelo COVID-19 nos tempos em curso. Tempos de medos e angústias, de silêncios e reflexões, mas também de esperanças, que depois da tempestade vem a bonança. 
O nosso mundo foi surpreendido por uma guerra ainda sem fim à vista, não com armas sofisticadas criadas pelo homem, mas por uma arma invisível capaz de aniquilar vidas sem conta, resistindo aos apelos dos sofredores, às orações dos crentes e à inteligência dos cientistas. Sucedem-se os medos, multiplicam-se as receitas e os conselhos médicos,  aceitam-se as decisões dos governantes e isolam-se as pessoas entre paredes das suas habitações, mas as tréguas teimam em surgir. 
Em casa, como milhões de pessoas de todo o universo, haverá razões para todos refletirmos sobre a Quaresma que temos em curso. Sobre a oportunidade que nos é dada para a partir dela reestruturarmos novos estilos de vida, em família e na sociedade, no sentido da construção de uma paz mais duradoira, mais solidária, mais voltada para a natureza e para Deus, que está em tudo e em todos, como cremos. 

F. M.

segunda-feira, 23 de março de 2020

A PANDEMIA: INCERTEZAS E O ESSENCIAL

Crónica de Anselmo Borges 
publicada no semanário SOL

1. Julgávamo-nos omnipotentes e navegávamos na arrogância. De repente, os nossos planos ruíram e percebemos que não dominamos tudo e que precisamos de humildade. E somos empurrados para o mais urgente: pensar, porque demos conta da nossa fragilidade e somos confrontados com o medo, também por causa da ameaça da morte, que se tinha tornado distante e até um tabu. 
Qual é o fundamento último e o sentido último da minha existência, da Humanidade, do universo? O que é que verdadeiramente vale? Estamos entregues à fatalidade, ao acaso, ou tudo assenta no Mistério último de bondade e de misericórdia, a que chamamos Deus, o Criador e Salvador? 

2. É perante calamidades como a que estamos a viver que as pessoas revelam quem realmente são, no seu melhor e no seu pior. 
Pude constatar em directo, num hospital, por causa de um irmão meu, doente oncológico, a entrega competente e carinhosa de médicos e enfermeiros. E sabe-se da oferta solidária para ir às compras para idosos ou pessoas frágeis. E um telefonema a oferecer ajuda e a avançar para ela, mesmo correndo riscos iminentes e graves. É o dever e a caridade verdadeira... 
Mas também há quem se aproveite da fraqueza e da miséria. Os burlões. Até apareceram falsos padres que se ofereceram para ir a casa dar a comunhão ou ouvir em confissão pessoas idosas. E o presidente dos Estados Unidos queria ficar com o monopólio de uma futura vacina. E estúpidos perversos espalham, através dos média e das redes sociais, fake news e as suas alarvidades. 

A MINHA QUARENTENA

Por razões conhecidas, estou de quarentena em minha casa. Não tenho programas predefinidos, vivo ao sabor da maré, sem horários limitadores das minhas liberdades e estou em paz, tanto quanto é possível, nesta hora de imensos sofrimentos para tantos. Apenas colaboro numa ou noutra tarefa, ouço as notícias sobre a evolução do COVID-19, escolho as músicas que me acompanham, escrevo e leio o que me apetece. Também converso sobre a situação por que estamos a passar, tentando compreender os efeitos do coronavírus num futuro próximo, que prevejo devastadores para a economia já frágil em muitos países do mundo, a começar pelo nosso, para além das mortes que provoca. E tenho dificuldades em perceber como é que, com tantos e tão estrondosos sucessos científicos e tecnológicos, não é possível enfrentar e vencer um vírus, capaz de paralisar o universo, qual guerra de armas demoníacas que tudo destrói, sem dó nem piedade. 

F. M.

O EXPRESSO

Leio o EXPRESSO desde o número um. Já lá vão muitos anos, é certo, mas foi para mim um jornal de referência, como costuma dizer-se. Era o semanário com fontes mais credíveis, na opinião de muito boa gente. Dizia-se, decerto com alguma razão, que tinha as portas abertas dos ministros e ministérios, sendo apetecido por artistas, empresários e figuras públicas de todos os quadrantes. Não posso garantir, mas intuía isso mesmo pelas informações, entrevistas e reportagens oportunas e variadas, que se traduziam em grandes lições para mim. Também apreciava os colunistas e críticos das artes, ciências e espetáculos. Enfim, era o meu jornal dos fins de semana. 
Com o decorrer do tempo habituei-me a rejeitar ou dar apenas uma vista de olhos a cadernos que pouco o nada me diziam. E assim foram passando os anos. 
Em férias, muitas vezes andei de terra em terra à cata dele. Não o ter à mão era um problema. Sentia-me incomodado, mas acabava por encontrá-lo dias depois. E ficava satisfeito por me sentir bem informado. 
Um dia destes, fui levado a aceitar o digital. Já tinha o PÚBLICO online e o EXPRESSO entrou agora no mesmo caminho. Ainda estou a dar os primeiros passos, porque cada jornal tem os seus formatos e a suas opções tecnológicas, mas já poderei trazer no bolso o meu semanário de há tantos anos para o ler em qualquer canto. Os sacos cheios de cadernos e muita publicidade já não me pesam nem incomodam. 

Fernando Martins