domingo, 26 de janeiro de 2020

Cardeal Sarah, Papa emérito e Francisco

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


«Não temos dois Papas, existe apenas um, Francisco»

1. Julgo que nunca no Vaticano a Cúria tinha ouvido tais denúncias como as que tem ouvido da parte do Papa Francisco. Que "a corte é a peste do papado", que sofre de doenças terríveis como "sentir-se imortal, indispensável", "uma Cúria que não se autocritica, que não procura melhorar é um corpo doente", "a fossilização mental e espiritual", "Alzheimer espiritual", "a rivalidade e a vanglória", a doença da "esquizofrenia existencial", que é a de "quem vive uma vida dupla", a doença dos "rumores, mexericos, murmurações, má-língua", que pode levar ao "homicídio a sangue frio", a doença de "divinizar os chefes"...
Estas foram as críticas elencadas logo na saudação natalícia de 2014. Têm-se sucedido ao longo dos anos. Neste Natal, Francisco avisou de modo frontal: "Hoje não somos os únicos que produzem cultura, nem os primeiros nem os mais escutados". Mais: "Já não estamos num regime de cristianismo, porque a fé, especialmente na Europa, mas inclusivamente em grande parte do Ocidente, já não constitui um pressuposto óbvio, e ela até é frequentemente negada, gozada, marginalizada e ridicularizada." Por isso, concluiu, citando o cardeal Carlo Martini, outro jesuíta, que foi arcebispo de Milão: "A Igreja anda com duzentos anos de atraso. Porque não se mexe? Temos medo. Medo em vez de coragem? No entanto, o cimento da Igreja é a fé, a confiança, a coragem... Só o amor vence o cansaço."

sábado, 25 de janeiro de 2020

Bom e oportuno conselho



Bom e oportuno conselho. Todos podem enfiar a carapuça. Mesmo com erros ortográficos, toda a gente entende. Sigam esta proposta neste fim de semana. E depois digam alguma coisa... 

Foto captada no google

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Gafanha da Nazaré - Rua do Casqueirita

A propósito do Armando Ferraz, 
um amigo evoca o Tio Casqueirita,
nome de rua na Marinha Velha  

Ontem, ao editar um texto alusivo a um projeto da Câmara de Ílhavo, no qual se falava de Armando Ferraz, o último fantocheiro, como um dia o designei num escrito que elaborei para o recordar, apontei um link para mais informações sobre o seu trabalho de artista popular, muito querido na terra. E ao revisitar o que então escrevi sobre o Armando Ferraz deparei com um comentário, muito oportuno e desafiante. Veio de Nelson Calção e de sua esposa Teresa, pessoas amigas que muito estimo, residentes nos Estados Unidos da América. 
No comentário em que aplaudiam o que eu havia escrito sobre o último fantocheiro, referiram outra figura que também devia merecer a minha atenção, o que não fiz na altura, nem sei porquê. A vida às vezes ocupa-nos com tantas banalidade que nem tempo nos dá para o essencial.  E disseram assim:

«Obrigado por dedicares este teu blog a uma pessoa [Armando Ferraz] tão simples, mas em meu ver muito merecida.
Outras personagens não menos castiças da nossa terra, merecem de igual forma o seu espaço neste magnifico "forum".
E porque recordar é viver, aqui vai mais uma dica: lembras por certo, tão bem ou melhor do que eu, do "ti Casqueirita", que como o Armando Ferraz se envolvia praticamente em tudo: lembro-me dos ranchos folclóricos, do futebol, e se não estou em erro foi também o dono do primeiro carro de praça como então era chamado, da nossa terra, e muitas outras coisas que agora não me vêm à mente.
Talvez num futuro próximo, alguém se debruce sobre a sua história, para que todos conheçamos melhor essa personagem castiça da nossa gente, e não caia no esquecimento.
Uma vez mais um sentido obrigado pela tua dedicação.
Um abraço amigo para todos.» 

Nelson P. Calção 

NB: Ora aqui está uma boa achega sobre uma figura típica da nossa terra, que em devido tempo foi homenageada pela nossas autarquias, ao atribuírem-lhe a honra de ser nome de uma rua na Gafanha da Nazaré, Rua do Casqueirita. O seu filho emigrou  para o Brasil. 
Realmente, o Tio Casqueirita, de seu nome Manuel Casqueira,  merecia-a, bem perto da casa em que viveu, na Rua Padre Américo, na Marinha Velha. E sublinho que, para além do rancho folclórico e do clube de Futebol, o Atlético Clube da Marinha Velha, ainda cultivava e vendia  flores, mas ainda  fazia caixões. A sua residência era conhecida por Casa das Flores, assinalada, bem à vista, em painel de azulejo. 

F. M.

Resposta pronta a Jesus que chama

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo da Palavra de Deus, 
III do Tempo Comum

“Precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura"

Papa Francisco 

“Imediatamente” é a expressão usada no Evangelho de Mateus para indicar a reacção dos irmãos Pedro e André, pescadores do mar da Galileia, ao apelo/convite de Jesus para o seguirem. O mesmo acontece a outros dois irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu. “Vinde e segui-me”, diz-lhes Jesus indicando o que pretendia confiar-lhes: serem pescadores de homens, libertos da estreiteza da faina enredada e abertos à largueza dos horizontes da missão itinerante. - Mt 4, 12-23.
A que se deverá esta prontidão? À vontade de aliviar o cansaço da rotina sem futuro, à fama incipiente de Jesus, em Cafarnaum, à novidade da mensagem anunciada na pregação, ao desejo secreto do coração humano sempre inquieto na busca da verdade e do bem, ao olhar penetrante de Jesus e à força convincente do seu apelo? Será difícil apontar uma razão objectiva, mas o narrador do episódio destaca que “Jesus viu” e, assim, despertou energias adormecidas e motivou decisões ousadas.
“Precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura, afirma o Papa Francisco na Carta Apostólica em que institui o Domingo da Palavra de Deus que hoje ocorre; caso contrário, o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira”.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Gafanha da Nazaré - Robertos e Marionetas


O Palheta, festival de Robertos e Marionetas, regressa de 5 a 8 de março sob o mote da viagem, na Gafanha da Nazaré, «uma cidade em que as pessoas se movimentam cada vez mais de bicicleta, mas também num Município que se abre cada vez mais para acolher outros lugares no seu projeto através da cultura». Trata-se de uma organização do 23 Milhas, um projeto cultural da CMI que pretende animar a nossa terra, envolvendo toda a comunidade. E não faltará um percurso artístico orientado pela artista Vera Alvelos, lê-se no site da autarquia ilhavense. 
Ainda está agendada «uma exposição permanente sobre a relação da Gafanha da Nazaré com os Robertos e as Marionetas, sem esquecer um dos seus grandes impulsionadores, Armando Ferraz; a outra, praticamente inédita em Portugal, é uma exposição de marionetas do Oriente, as “Vozes da Terra”, através do espólio de Elisa Vilaça, uma viagem fascinante numa forma alternativa de construir e contar o teatro de marionetas.»

Ler mais aqui

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Saramago - Aí para baixo é a ria de Aveiro


«É um momento solene. Aí para baixo é a ria de Aveiro, quarenta quilómetros de costa, vinte quilómetros para o interior, terra firme e água rodeando, todas as formas que podem ter as ilhas, os istmos, as penínsulas, todas as cores que podem ter o rio e o mar. O viajante fez bem as suas orações: não há vento, a luz é perfeita, as infinitas águas da ria são um imóvel lago. Este é o reino do Vouga, mas não há-de o viajante esquecer as ajudas da arraia-miúda dos rios, ribeiras e ribeirinhos que das vertentes das serras da Freita, de Arestal e do Caramulo avançam para o mar, alguns condescendendo afluir ao Vouga, outros abrindo o seu próprio caminho e encontrando sítio para desaguar na ria por conta própria.
Digam-se os nomes de alguns, de norte para sul, acompanhando o leque desta mão de água: Antuã, Ínsua, Caima, Mau, Alfusqueiro, Águeda, Cértima, Levira, Boco, fora os que só têm nome para quem vive à borda deles e os conhece de nascença. Se este tempo fosse de estivais lazeres, estariam as estradas em aflição de trânsito, as praias em ânsia de banhos, e nas águas não faltariam as embarcações de folguedo mecânico ou à vela. Mas este dia, mesmo de tão formoso sol e de tão aberto céu, é de alto Inverno, nem sequer está a Primavera em seus primeiros ares. 
O viajante, pelo menos assim quer acreditar, é o único habitante da ria, além dos seus naturais, homens e bichos da água e da terra. Por isso (todo o bem há-de ter sua sombra) estão as salinas desertas, os moliceiros encalhados, os mercantéis ausentes. 
Resta a grande laguna e a sua silenciosa respiração azul. Mas aquilo que o viajante não pode ver, imagina, que também para isso viaja. A ria, hoje, tem um nome que bem lhe quadra: chama-se solidão, fala com o viajante, ininterruptamente fala, conversas de água e limosas algas, peixes que param entre duas águas, sob a reverberação da superfície. 
O viajante sabe que está a querer exprimir o inexprimível, que nenhumas palavras serão capazes de dizer o que uma gota de água é, quanto menos este corpo vivo que liga a terra e o mar como um enorme coração. O viajante levantou os olhos e viu uma gaivota desgarrada. Ela conhece a ria. Vê-a do alto, risca com as pendentes patas a polida face, mergulha entre o moliço e os peixes. É caçadora, navegante, exploradora. Vive ali, é ao mesmo tempo gaivota e laguna, como laguna é este barco, este homem, este céu, esta profunda comoção que aceita calar-se.» 

José Saramago 
“Viagem a Portugal”, 1981 

Isabel dos Santos e as fortunas fáceis

Isabel dos Santos 
Com razão, criticamos os que enriquecem rapidamente sem possuírem ordenados por aí além, sem grandes heranças e sem negócios reconhecidamente rentáveis. De um dia para o outro, apresentam-se  na praça pública de brutos carros, férias de sonho, moradias de luxo e hábitos de vida sumptuária. De onde lhes vem o suporte para tudo isso? Está no segredo dos deuses. 
Porém, quando se trata de figuras públicas, nomeadamente, políticos e empresários, ninguém escapa à possível denúncia do povo que se sente traído pela confiança nelas depositada. E a comunicação social encarrega-se de denunciar segredos, que os poderes judiciais não terão tempo nem pessoal para investigar ou sequer procurar saber a origem dos rendimentos patentes aos olhos de toda a gente.
O caso de Isabel dos Santos saltava à vista. Todos se espantavam com os seus investimentos e negócios de projeção internacional, mas ninguém ousava alertar o mundo para o que se passava em Angola. Seu pai,  José Eduardo dos Santos, seria o escudo oficial que protegia fortunas acumuladas por sua filha, deixando na miséria milhões de angolanos. Sem dó nem piedade. O ex-presidente até poderá declarar que nunca se meteu em negócios nem rascunhou cartas de recomendação para sua filha Isabel singrar na alta finança. Nem seria preciso. O apelido “dos Santos” seria o suficiente. 
Felizmente, a democracia conseguiu impor-se e o novo Presidente da República, João Lourenço, abre as portas dos cofres fortes para mostrar que estão vazios. 
Há, como não podia deixar de ser, cúmplices em Portugal e um pouco por toda a parte, alguns dos quais terão comido do mesmo saco, direta ou indiretamente. E agora, curiosamente, não sabem de nada.
Aguardaremos as conclusões das investigações em curso com serenidade. Não podemos acreditar que tudo venha a cair em saco roto.

Fernando Martins

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