quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O mascarilha

O mascarilha é um gato vadio que a Lita adotou. Trata-o com esmero e o bichano assentou arraiais cá por casa. Gosta do arvoredo e sabe rebolar-se na relva, sobretudo no verão. Também aprecia a caça aos pássaros. Desde que escolheu os nossos domínios e apreciou o carinho de quem dele cuida, sente-se o dono disto tudo. 
Há dias, senti que o chilreio da passarada com trinados de encantar quem tem a sorte de os ouvir deixaram de existir. E eu, que tanto os apreciava, disse logo: — O mascarilha, com o seu vício de caçar, é o culpado desta tristeza. A Lita, contudo, garante: — Tem calma, os passarinhos hão de voltar. Deus queira que sim.

Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

«A Paz como Caminho de Esperança: 
Diálogo, Reconciliação e Conversão Ecológica»


A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho»[1]. Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis. 
A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos. 
As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.

Ler toda a Mensagem do Papa aqui 

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

As nossas paisagens - Praia da Barra


Aproxima-se o final de 2019 e já se vislumbra o novo ano cheio de projetos, realizáveis, uns, irrealizáveis, outros. É sempre assim. E a vida, em 2020, recomeçará como este areal: frio, desértico, seco, porventura agreste. Mas logo depois,  com o crescer do ano, como por magia, o areal retoma a vida, o povo ocupa-o, revolve-o, caminha sobre ele e tudo se agita, deita-se na areia para melhor ver o céu azul, olhos nos olhos, e tudo brota com esperança renovada. 
Bom Ano para todos.

Fernando Martins

Balanço do ano pela positiva

A Lita e eu olhamos o futuro
O hábito de fazer o balanço do ano vai continuar e terá os seus apreciadores. Os órgãos de comunicação social encarregam-se disso recorrendo aos seus arquivos, tão diferentes como diferentes são as linhas editoriais de cada um, com toda a legitimidade. O que uns apontam como relevante, sob o ponto de vista positivo e negativo, não é unânime, nem poderia ser. E eu, embora com alguns registos nos meus arquivos, não vou por aí. Agradaria a uns e desagradaria a outros. 
Assim, depois de refletir, cheguei à conclusão de que 2019 foi para mim um ano muito bom. O que houve de positivo superou, em grande medida, o que de negativo ou menos bom me aconteceu. 
Felizmente, tenho de reconhecer que a vida me tem dado aquilo de que preciso: Amor dos que me cercam, saúde, alegrias, otimismo, esperança em dias melhores para toda a família, paz, sentido de solidariedade e de partilha, tempo e espaços para os meus gostos pessoais no dia a dia, amizades, silêncios e sonhos, disponibilidade e capacidade para aceitar os outros tal como são, humildade, algumas dores para reconhecer as minhas fragilidades. Muito do que passou já foi levado pelas nortadas que sempre conheci, mas não me deixaram  a alma vazia. Rejuvenescido pela esperança, acredito que  o futuro a Deus pertence. 
Bom 2020 para todos 

Fernando Martins 

Santa Maria, Mãe de Deus, Rogai por Nós

Reflexão de Georgino Rocha


“Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda. Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação. E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si”.

Papa Francisco 

A Igreja coloca o Novo Ano sob as bênçãos de Maria e destaca a sua maternidade divina como fundamento da sua especial relação com Jesus Cristo e da sua função cooperante no projecto de salvação. Também o Papa Francisco, seguindo uma tradição que vem de Paulo VI, dedica neste dia uma mensagem de Paz aos Responsáveis das Nações e a todos os homens de boa vontade. A nossa reflexão anda à-volta destes factos que procuramos meditar.
A invocação à Santa Mãe de Deus abre a segunda parte da Avé Maria, oração decorrente do diálogo do Anjo Gabriel com ela aquando da anunciação. Nasce e flui como resposta do povo cristão perante a contemplação das maravilhas enunciadas na primeira parte: Maria, a cheia de graça, convidada a alegrar-se, que fica surpreendida e preocupada com a mensagem recebida, que é escolhida para ser a Mãe de Jesus, o filho do Altíssimo, que quer saber o como de tudo isso que contrasta com a sua opção de noivado com José, que confia na verdade narrada, que se disponibiliza para ser a obediente serva e assumir tão grandioso projecto. Maria, a reconhecida por Isabel como a Mãe do Senhor, a bendita entre as mulheres que gera no seu ventre um fruto precioso, Jesus.
“Rogai por nós, Santa Mãe de Deus” reza, na Salve Rainha, a fé do povo cristão em súplica confiante ao sentir as aflições da vida e os males do mundo, ao fazer a experiência da fragilidade humana e das provocações adversas, ao dar largas às aspirações do coração que quer ser fiel à Palavra do Senhor e à Igreja que a proclama, e participar da sua missão na terra e gozar da sua recompensa no Céu.
Maria é Mãe de Deus por ser a Mãe de Jesus, seu filho carnal. No seu seio, Deus adquire forma humana, faz-se um de nós, humaniza-se. Faz-se célula germinal e vive as fases marcantes da concepção à idade adulta, da criança adolescente ao jovem amadurecido. Nada do que é genuinamente humano lhe é estranho. Até a experiência da morte, berço da vida nova, a feliz ressurreição. Querer encontrar Deus é procurar em Jesus a verdade do ser humano, o espírito filial, a relação fraterna, o cuidado solícito por toda a criação e pelo ambiente, nossa casa comum. Corremos o risco de dirigir o nosso olhar para onde Deus não está. Enquanto o tempo é tempo e a história tiver a marca da finitude, é na humanidade de cada pessoa e na relação de todas entre si que Ele se esconde para nos dar a alegria da surpresa do encontro amigo e da aliança de amor.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Sem balanço de 2019 e votos para 2020

Frei Bento Domingues

"Neste ano, cresceu muito o número dos amigos e familiares, o meu irmão Bernardo, com quem já não posso falar nem aguardar notícias"

1. Estamos a chegar ao fim do ano e continuamos dentro do mistério do tempo e dos seus enigmáticos sinais. Como não fui reler as crónicas de 2019, fico sem saber o que apontei, o que realcei o que me passou despercebido ou mal avaliado, assim como as esperanças e os receios que não se confirmaram.
Neste ano, cresceu muito o número dos amigos e familiares, o meu irmão Bernardo, com quem já não posso falar nem aguardar notícias. Continuarei a falar deles e, intimamente, a manter uma relação viva com aqueles que Deus não pode esquecer. É também com eles que rezo e, quando celebro a Eucaristia, convoco-os sempre a todos. Preciso desse mundo para continuar a viver. Já há muitos anos, uma jornalista perguntou-me o que desejava escrever como epitáfio sobre a sepultura. Respondi que, se alguém tiver essa triste ideia, escreva: não estou aqui.
Contaram-me que, numa aldeia do Norte, muito católica, morreu uma criança e todas as crianças foram ao funeral. De regresso a casa, uma perguntou à mãe: se eu morrer o que é que me acontece? O teu corpinho vai num pequeno caixão para o cemitério e a tua alminha vai direitinha ao céu, respondeu a mãe. E eu? Interrogou a criança!
Quando tenho de participar num funeral, lembro-me sempre de uma observação de Jesus perante a euforia dos discípulos ao regressarem entusiasmados de uma missão que tinha sido um êxito e que o Mestre confirmou. Acrescentou, no entanto, algo inesperado: alegrai-vos antes porque os vossos nomes, a vossa vida, está inscrita nos céus, no coração de Deus [1].
Conta o texto de S. Lucas que Jesus, naquele momento, estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo. Havia um motivo para aquela comoção: durante séculos e séculos, os que se julgavam sábios e entendidos nas Escrituras tinham ocultado o essencial ao povo simples, “aos pequeninos”: bem-aventurados os olhos que vêem o que vós estais a ver. Pois eu digo-vos que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram. Ocultaram-nos que somos misteriosamente amados de Deus, mesmo quando nos sentimos abandonados, como o próprio Jesus se sentiu na cruz. É este o cume da revelação cristã.

As nossas paisagens - Ria na Torreira



A Ria está cheia de paisagens circundantes que se refletem na tranquila laguna que sustenta tanta gente, direta ou indiretamente. O viajante queda-se com olhos atentos e alma aberta à serenidade que as águas salinas sabem oferecer-lhe. 

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