segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Bento Domingues - Em mudança acelerada



“Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo ‘sempre se fez assim’, então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo.”

Papa Francisco


1. Poderá a hierarquia da Igreja Católica mudar não apenas de orientação, mas sobretudo a velha prática de adiar soluções urgentes para um futuro indefinido?
A pergunta é antiga e percorre toda a história de reformas dentro da Igreja. Eu próprio conheço esse lamento desde a minha juventude. Quando agora se diz que o Papa Francisco está a alterar perigosamente o rumo da Igreja, provocando muitas resistências e ameaças de cisma, há sempre quem acrescente, com algum cepticismo: são maiores as mudanças no discurso do que na realidade dos factos. Mais uma vez, está a perder-se um momento de graça divina e de inadiável necessidade eclesial.
Isto sabe a conversa de velhos: velhos conservadores e velhos progressistas. Não esqueço, no entanto, que foi de um velho, minado por doença incurável, que saíram as palavras e os gestos mais audaciosos no século XX. Foram os do papa João XXIII. Os seus sucessores não perceberam que a autêntica virtude da prudência abre luz verde à audácia das decisões ponderadas, superando a linguagem do oportuno e inoportuno. Para trás não há paz e não é do império da mesmice que se podem esperar soluções inéditas.
Se olharmos para a fotografia do Sínodo dos Bispos dedicado ao tema os jovens, a fé e o discernimento vocacional, 2018, temos a evidência de que não foi um sínodo de jovens. Foram bispos com idade de pais e avós a tentar entender os jovens sem, talvez, se darem conta que já não se trata dos jovens que eles tinham conhecido quando trabalharam – os que trabalharam – com essas idades. A cultura, que só pretende garantir o futuro repetindo o passado, não entende o espírito cristão: Eis que eu faço novas todas as coisas [1].​

domingo, 13 de outubro de 2019

As leis serão iguais para todos?




"Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei. Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica"



Fernando Sabino (1923-2004), 
escritor brasileiro

Li no PÚBLICO

NOTA: Transcrevo, com a devida vénia, porque é verdade. Vê-se a olho nu e não vislumbro forma de as nossas leis serem MESMO iguais para todos. A um pobre a lei aplica-se e o condenado, porque não tem dinheiro para enveredar pela justiça, pagando a bons advogados, está sujeito a ficar na cadeia. Um rico, com dinheiro a rodos e influências por todos os cantos, faz protelar as decisões dos tribunais  até o comum dos mortais se esquecer. E a vida continua. Ultimamente, não será tanto assim? Talvez, mas o avanços, no sentido de as leis serem iguais para todos,  são muito lentos...  Ou andarei enganado? 

Anselmo Borges - Sínodo para a Amazónia: um mini-Concílio Vaticano II


1. Começou em Roma no passado dia 6 e estará activo até ao próximo dia 27 o Sínodo para a Amazónia. Estão presentes 185 Padres sinodais, mas participam também membros da Cúria, religiosos e religiosas, auditores e auditoras, peritos, membros de outras confissões religiosas, convidados..., o que perfaz, em números redondos, 300 pessoas. 
Embora de modo expresso se dirija directamente só a uma zona determinada do planeta, ainda que extensíssima e tocando nove países (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), a sua temática -"Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral" - é universal e vai marcar este pontificado com um antes do Sínodo e um depois. Penso que estaremos num processo de recuperação da dinâmica do Concílio Vaticano II, um dos acontecimentos mais importantes, se não o mais importante, do século XX, para a Igreja e para o mundo. O Papa Francisco acentua que a sua missão fundamental é criar "processos" no tempo, irreversíveis, sem possibilidade de voltar atrás, a caminho de objectivos essenciais, que já vêm do Vaticano II. 

2. Destaco quatro desses pontos fundamentais, a debater no Sínodo e que influenciarão a Igreja universal. 

2. 1. Logo na terminologia. O Papa quer uma Igreja sinodal, isto é, na qual, como diz o étimo da palavra sínodo, se faça o caminho juntos. Repete constantemente: "a Igreja somos nós todos". Se é assim, o que é de todos deve ser partilhado por todos. Na véspera da abertura do Sínodo, aquando da imposição do barrete cardinalício aos novos cardeais, lembrou-lhes que não são príncipes, e pediu-lhes "lealdade" e "compaixão", também no sentido etimológico da palavra: partilhar as alegrias, as tristezas e as angústias de todos, a começar pelos "descartados", com os quais devem ser samaritanos, e que evitem ser "funcionários". Um desses novos cardeais, Cristóbal López, arcebispo de Rabat, sabe que assim deve ser, ao afirmar: "Os cristãos são todos iguais, o ser bispo ou cardeal não nos torna superiores a ninguém". Na Igreja, não pode haver duas classes: os clérigos e os leigos, pois toda a Igreja é uma Igreja de iguais, ministerial. 

É sempre bom sair de casa... mas às vezes


É sempre bom sair de casa, mas às vezes encontramos amigos que andam tristes. Antigamente, não era tanto assim. Mais novos, respirávamos ainda o ar de muita felicidade. Hoje, porém, encontrei um amigo de longa data numa situação dolorosa. Sua esposa faleceu há pouco tempo com 75 anos. Ainda há meses os vi numa celebração religiosa sem aparências de fragilidades. 
Os filhos, com as suas vidas, vivem longe, mas quando pode, aos fins de semana, vai visitá-los, alternadamente. Durante a semana vive sozinho com as memórias da esposa e os afazeres do dia a dia. Conheço outros casos e sinto que há bastante gente, homens e mulheres, na mesma situação. Eu sei que a roda da vida continua, mas é bom que nos habituemos a mudanças bruscas que podem  surgir, nas camadas mais idosas. 
Para o animar, lá fui adiantando que se envolvesse em tarefas que o ocupassem física e emocionalmente. O espírito precisa de ser dinamizado para alimentar a alma e animar o corpo. Felizmente, já  aconteceu, disse o meu amigo: uma instituição já o conquistou para trabalho voluntário. Ainda bem. 

F. M. 

sábado, 12 de outubro de 2019

TURISMO – Se a moda pega...

Turistas em Aveiro 
Veneza já agendou a cobrança de uma taxa para entrar na cidade. Pretende-se estancar o afluxo  de turistas, segundo se diz e lê. Em 2020, quem gostar de visitar a cidade dos canais, em Itália,  tem de pagar...  Na cidade dos canais, em Aveiro, estaremos longe disso, penso eu
Habituei-me a olhar para os turistas como gente que gosta de apreciar terras e culturas, pessoas e monumentos, mas também de saborear gastronomias próprias de cada região. Pelos vistos, o que é demasiado cansa e...  será que prejudica? Não é o turismo uma indústria que movimenta muitos milhões? E não dá emprego a muita gente? E não saem do turismo benefícios sociais, económicos e culturais para tantos? 
Se a moda pega, não será um certo descalabro a tantos níveis para os países? 

Ler no PÚBLICO 

Fernando Martins 

Piódão - Uma aldeia com história


Em maré de evocações, venho com uma rua ou ruela de Piódão, uma aldeia com história. Por mais que pense, jamais chegarei a imaginar vidas isoladas e perdidas por aqui há séculos. Só a pé seria possível andar por estes recantos à cata de gente para conversar sobre o estado do tempo ou ensaiar uma saída em passeio até Arganil. Mas a aldeia teima em continuar para contar vivências de outras eras  com gente que por estas bandas se tornou foragida.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Eugénio de Andrade para este fim de semana


O SAL DA LÍNGUA

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém — mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade

Do livro "O Sal da Língua"
1.ª Edição -1995


NOTA: A Nina, gata cá de casa, tem a mania de cirandar por entre livros. E de vez em quando alguns caem sem que ela se incomode com isso. O dono que os apanhe. Hoje foi dia de cair Eugénio de Andrade. Tive sorte e reli "O Sal da Língua".

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