"Quando se fala das dificuldades do diálogo da Igreja com a sociedade, parece admitir-se que está consumado o exílio da fé cristã no mundo da cultura ocidental e que já não existem pessoas e grupos com sede e fome do Evangelho de Jesus."
1. O mês de Setembro, a ritmos diversos, abre um novo Ano Pastoral. As dioceses, as paróquias e os diversos movimentos começam a executar programas previstos para alimentar, nos praticantes da vida eclesial, formas inovadoras de ir ao encontro das pessoas e dos grupos que parecem longe, indiferentes ou hostis às igrejas.
O programa da diocese de Lisboa, para 2019-2020, tem uma formulação muito generosa, mas que se pode prestar a alguns equívocos: “Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias!” Dito assim, até parece que Cristo está ausente das periferias, esperando que alguém se lembre de o conduzir para fora de portas.
De facto, em regime de Cristandade, a pastoral mais corrente – não a única – resumia-se em apresentar, na Catequese, as verdades a crer, os mandamentos a observar e os sacramentos a receber. Na saída para fora dos espaços da Cristandade, supunha-se que era o missionário que levava Cristo para as terras onde Ele nunca tinha chegado. Ele teria de propor aos gentios o Credo cristão, os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, assim como administrar os Sete Sacramentos.
Com o advento da Modernidade, as sociedades ocidentais, com ritmos, formas e em graus diversos, emanciparam-se da tutela das Igrejas e das Religiões. Alguns falam da secularização, não só da sociedade, mas também da vida privada. Antes, nascer e tornar-se cristão eram acontecimentos quase simultâneos. O ambiente cultural exigia a transmissão dos rituais da fé. Com a liberdade religiosa, cada um terá de fazer a sua escolha. As referências cristãs passam a estar fora do ambiente cultural. Por vezes, sobretudo onde vigoravam programas estatais de ateísmo militante, tentou-se eliminar as próprias marcas que tinham deixado na cultura.