1. Quando interrompi estas crónicas, as preocupações dos meios de comunicação, acerca do fenómeno religioso, estavam centradas em algumas sondagens, nomeadamente numa realizada na Alemanha, revelando que 52% dos inquiridos acreditava em Deus, mas só 22% se declarava religioso e comprometido com alguma instituição religiosa. Saiu daí o slogan: “espiritualidade sim, religião não”! Uma minoria mais jovem designava-se a si própria como “crente sem religião”.
Não vou regressar hoje a essa problemática. Com a modernidade, a religião deixou, em alguns países, de estruturar o Estado e a sociedade, mas só por miopia se poderia julgar que iria desaparecer. Foi-se reconfigurando, de modos diferentes, segundo as geografias culturais. As medições estatísticas são importantes para detectar alguns sinais de mudança. O futuro é, no entanto, o tempo das surpresas. Por razões que não irei explicitar, suponho que haverá muitas mudanças e eclipses, mas não me parece que o fim da religião, mesmo no Ocidente secularizado, esteja para breve.
Parece-me que o diálogo inter-religioso, no qual os participantes sejam capazes de rever as respectivas posições, no que poderão ter de agressivo, será um caminho com futuro. S. Pedro deixou uma boa regra para os cristãos: estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede; fazei-o, porém, com mansidão e respeito [1].
S. Pedro tocou no essencial: convicção, razão e bons modos são o caminho do cristão e, se o diálogo correr mal, mais vale sofrer do que fazer sofrer.