quinta-feira, 6 de julho de 2017

Época Balnear: “Zero mortos... menos um”


O Comandante da Capitania do Porto de Aveiro, Carlos Isabel, aposta num balanço no final da presente época balnear de “zero mortos... menos um”, recordando o anterior Verão, que chegou ao fim nas praias de Aveiro sem qualquer vítima mortal. “Zero mortos... menos um” é um lema da Capitania, li no Diário de Aveiro. Excelente lema, já que, como é sabido, há muitos aventureiros que podem estragar a festa balnear. E o que importa fazer? Importa ter em conta os avisos adequados para cada dia e respeitar os conselhos dos nadadores-salvadores. Nada de aventuras em zonas desprotegidas. E tudo será mais fácil.

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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Gastronomia: Tosta rústica de bacalhau e maçã


Penso que os petiscos em tempo de verão têm um sabor especial. Não quero dizer que o percam nas outras estações do ano, mas cá para mim o verão é porventura mais propício ao convívio e à confraternização. Daí a ideia de publicar neste meu espaço um bom petisco que poderá servir como ponto de partida para à volta da mesa se conversar enquanto se come e bebe algo diferente. A sugestão aqui fica, com votos de bom apetite e melhor proveito. 



Ingredientes (4 pax): 
Pada de Vale de Ílhavo (2 uni)
Bacalhau fumado (1 emb./aprox.200g)
Maçã golden (250g)
Espinafres (300g)
Manteiga (qb)
Ovos (4 uni)
Limão (1 uni)

Preparação

Em meia pada de Vale de Ílhavo, faça um corte longitudinal.
Com o miolo para baixo, coloque num sauté antiaderente e deixe tostar ligeiramente.
Descasque as maçãs, corte em gomos e reserve em água, com um pouco de sumo de limão (para que não oxidem).
Escalfe os ovos e reserve.
Num sauté antiaderente, salteie ligeiramente as maças com manteiga e um pouco de sumo de limão.
À parte, salteie também os espinafres com um fio de azeite.
Para a montagem, coloque a tosta com o miolo para cima, disponha a maçã, de seguida os espinafres e o bacalhau fumado e termine com o ovo escalfado. 

Bom apetite!

Receita apresentada pelo Chef Udine Peixe, no âmbito do “Showcooking para Miúdos” do Festival do Bacalhau 2016.

NOTA: Publicado na agenda "Viver em..." da CMI

terça-feira, 4 de julho de 2017

A nossa Gente — Ângelo Valente e Sofia Nunes



Julho celebra a juventude no Município de Ílhavo e, num mês próspero em atividades que lhes são destinadas, destacamos dois dos jovens mais dinâmicos e notáveis do concelho: Ângelo Valente e Sofia Nunes. É já praticamente impossível falar em gerontologia em Portugal sem mencionar o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo. E é muito por causa deles. 
Ângelo Valente é animador social, Sofia Nunes é gerontóloga. Quando, em 2011, o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo os juntou, poucos meses depois de abrir portas, estavam longe de imaginar que viriam a formar uma equipa tão popular. 
A premissa que os inspira é simples, embora concretizá-la seja um desafio diário: multiplicar a felicidade, dividindo-a. “Ver cada pessoa feliz” é, de resto, assim que a dupla resume o objetivo daquilo que é mais que um trabalho. Para Ângelo e Sofia, estar no Centro Comunitário é estar em casa, em família, “rodeados de pessoas, música, abraços, amizade, do Vadio e da Viana”. Vadio e Viana são os cães de estimação do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, verdadeiras sessões de terapia em quatro patas. Foram ambos adotados pela instituição e são fortes aliados no combate à depressão e à solidão dos utentes. Têm sido, provavelmente, dois dos cães mais mediáticos do país, nos últimos anos, acompanhando Ângelo e Sofia em todas as suas intervenções. 
Foi em 2014, com um vídeo que parodiava o da música “Wrecking Ball”, de Miley Cyrus, que Ângelo Valente e Sofia Nunes perceberam que tinham as armas certas para fazer algo diferente: um sentido de humor consciente, mas desprovido de pudores, a “família” certa e as redes sociais, que os erguiam no número de seguidores muito rapidamente. Entre esse vídeo e serem a equipa que dá a cara pelo lar mais conhecido do país, passou menos de um ano.
Centenas de entrevistas, reportagens inteiramente dedicadas a eles, um “Alta Definição” (SIC) com o utente Alfredo, duas conferências Futuridade com lotação esgotada e convidados como Daniel Oliveira, Marisa Matias, Nuno Markl, Fernando Alvim ou Manuela Ferreira Leite. 
Ângelo e Sofia têm o currículo cheio, mas isso nem os preocupa muito. O que realmente lhes importa é a quantidade de sonhos que já conseguiram concretizar, o número de pessoas que se identifica com eles e os que já não têm medo de envelhecer, graças a eles. “A missão é desmistificar a velhice e a institucionalização, sensibilizando a sociedade para se tornar mais integradora de forma a que todos possamos envelhecer de forma livre, autónoma e feliz” e, para isso, o animador e a gerontóloga garantem que é muito importante que, mesmo depois de envelhecer, seja “valorizado o potencial de cada ser humano, o contributo de todos, independentemente da sua condição ou faixa etária”. A equipa assume que a institucionalização é “um evento marcante na vida de qualquer pessoa e exige muito, até da família, principalmente ao nível emocional”. Mas, Ângelo e Sofia garantem que as melhores respostas são “o amor e a aceitação” e que, na maior parte dos casos, a adaptação é bem sucedida e grande percentagem dos utentes acaba por reencontrar, no Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, “uma felicidade que já julgava extinta”. 
Quem os conhece e está atento ao seu trabalho, à ligação que estabelecem com os que os rodeiam, percebe perfeitamente porquê. Ângelo e Sofia merecem tudo de bajulador que se diga sobre eles. 
Nossa gente: resta-nos agradecer que nos multipliquem a felicidade, juntando-se.

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

NOTA: Não tenho o gosto de conhecer pessoalmente os homenageados deste mês pela agenda "Viver em..." da CMI, mas sei das suas iniciativas levadas a cabo no Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, algumas das  quais foram badaladas na comunicação social. Porque se trata de ações que fogem, tanto quanto sei, do dia a dia de muitas instituições de âmbito igual ou semelhante ao do Centro Comunitário que animam, numa conjugação de saberes (animação cultural e gerontologia) a todos os títulos meritória, apraz-me sublinhar que podem e devem ser seguidas por muitos técnicos que trabalham nestas áreas. Nos tempos que correm, urge levar à prática o espírito criativo e inovador junto de quem precisa de recriar novos horizontes que justificam uma existência feliz. 
Os meus parabéns. 

M.ª Donzília Almeida — Dia Internacional sem Sacos Plásticos


Já que há Um Dia Europeu Sem Carros, Um Dia Internacional Sem Sacos Plásticos, por que não Um Dia Nacional Sem Corrupção? Haverá algum ideólogo corajoso que leve a proposta ao parlamento?
Como sou muito sensível a questões ambientais e uma defensora acérrima da reciclagem, achei interessante haver um dia dedicado a este tema.
As práticas aqui defendidas, que para mim, são já uma rotina diária, tornam-se mais prementes, no atual contexto nacional.
Um dia, estando eu, numa loja de comércio local, reencontrei uma antiga aluna, atualmente a residir em França. Depois de calorosos cumprimentos, a conversa versou sobre questões ecológicas e o contributo do homem para a preservação do ambiente. Constatámos que ambas partilhávamos as mesmas ideias sobre a defesa de um ambiente saudável, alguma semente por mim deixada? Na despedida, ofereceu-me um saco de nylon, que guardado na carteira, leve e prático, está sempre à mão para uma compra inesperada. Além de tudo, tem uma inscrição que para mim é uma lição para a vida.
O mundo assinala hoje, o Dia Internacional Sem Sacos Plásticos, uma efeméride institucionalizada com o objetivo de alertar a sociedade para a necessidade de reduzir o consumo e utilização excessiva de objetos descartáveis.
O 3 de julho é promovido pela Fundação Privada Catalã para a Prevenção de Resíduos e Consumo Sustentável e pretende sensibilizar a população para esta problemática.
Segundo o Programa das Nações Unidas Para a Ambiente, PNUA, estima-se que um cidadão, na Europa, consome cerca de 500 sacos plásticos por ano, que acabam no lixo ao fim de meia hora de utilização ou então no meio-ambiente, criando-se vastas ilhas de lixo plástico nos oceanos (80% da poluição marinha). Como os animais confundem o plástico com alimentos, acabam por morrer pela ingestão desse material, como as tartarugas e outros anfíbios.
Os sacos de plástico são constituídos por resinas tóxicas, provenientes do petróleo, e levam cerca de 500 anos a decompor-se. Apesar da gravidade da situação, apenas 2% da população mundial recicla sacos plásticos
Nesse sentido, já foram sensibilizadas algumas lojas e  supermercados para o uso de sacos de papel, biodegradáveis. Para além do consumo de recursos, o uso excessivo e insustentável de sacos, é potenciado pela falta de valor que lhe é atribuído, pois é oferecido. Neste momento, em alguns hipermercados, já se paga pelos sacos, o que é dissuasor para o consumidor, sendo esta medida, amplamente, defendida pelos ambientalistas.
Perante este panorama desolador de incúria e irresponsabilidade, faço um apelo a toda a gente e em particular às mulheres, a quem está, maioritariamente, atribuída a tarefa das compras. Será um estímulo para a dona de casa ir ao baú, onde tem guardadas aquelas preciosas obras artesanais: crochet, bordados, patchwork, ou um simples bocado de chita...que as noivas levavam no enxoval. E reabilitar as saquinhas do pão!
Os tempos modernos apelam a um facilitismo e funcionalidade das tarefas, mas quem sofre é o ambiente. Os resultados falam por si!

M.ª Donzília Almeida

03.06.2017

A Ria está mais limpa: A Gafanha já pode respirar mais fundo

A Gafanha pode respirar fundo e a ria está mais limpa… a bacia de contenção de lixiviados e a estação de tratamento estão prontas… estão, assim, finalizadas as obras da Bacia de Contenção de Lixiviados e a Estação de Tratamento, no Cais Comercial do Porto de Aveiro.
O sistema é formado por uma bacia de captação das águas, que envolve a zona do Petcoke, que escoa para depósitos, os quais drenam para dois tanques finais de sedimentação e tratamento dos efluentes É a última das obras reclamadas pela Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha (ADIG), para reduzir ao mínimo as emissões de partículas do Petcoke sobre a Gafanha da Nazaré e povoações a sul. 
Vem juntar-se às benfeitorias já anteriormente realizadas pela Cimpor e pela APA: A Barreira Eólica contra Ventos Dominantes, o Canhão de água vaporizada sobre a pilha de Petcoke na carga e descarga, navios de transporte mais pequenos e começo imediato da carga para camiões cobertos, cuidados com as gruas, paragem da movimentação com ventos mais fortes e a Estação de Monitorização da Qualidade do Ar Ambiente
É o culminar feliz dum sonho e dum direito dos gafanhões. Como diria António Gedeão: “Enquanto o homem sonha, o mundo pula e avança”…
É justo reconhecer a disponibilidade que a Administração da Cimpor e o atual Presidente da Administração do Porto de Aveiro sempre tiveram para dialogar connosco, por forma a "chegar a bom porto" na minimização dos problemas da poluição pelo Petcoke e Clinquer.
Agora é obrigatório continuar a seguir o procedimento já habitual no manuseamento dos referidos produtos, proporcionando à Gafanha da Nazaré e seus habitantes um ambiente mais saudável.

NOTAS:
1. Fonte: ADIG
2. Edição de Fernando Martins

domingo, 2 de julho de 2017

Bento Domingues — Nem Lutero nem Francisco


«O que mais me espanta não são os 500 anos de ausência de Lutero em Portugal. O que me desconsola é a nossa resistência passiva à reforma, muito mais abrangente e global, desencadeada pelo Papa Francisco, o segundo Papa dos tempos modernos, verdadeiramente católico, isto é, de abertura universal. O primeiro foi João XXIII.»

1. No passado dia 21, o Grémio Literário evocou os 500 anos “dos acontecimentos que abalaram a Europa na sequência do acto simbólico que marcou o início do movimento religioso e cultural na Cristandade e que ficou registado na História sob a designação de Reforma. Foi a 31 de Outubro de 1517 que Martinho Lutero afixou nas portas da igreja de Wittenberg as suas 95 famosas teses, que acabaram por conduzir a um cisma profundo e durável na Igreja de Roma”.
Segundo a tradição, isto aconteceu na véspera da festa de Todos os Santos. A dramatização desta data deu origem à Festa da Reforma, embora a sua fundamentação histórica seja questionada, dado que a narrativa é de Melâncton, em 1546, depois da morte de Lutero.
O V Centenário da Reforma já foi inaugurado, na Alemanha, em 2008, como a Década de Lutero.
É uma ocasião para os historiadores da cultura, da política e da teologia reexaminarem cinco séculos de história extremamente complexa e, talvez, colherem algumas lições para o nosso presente de renovados fanatismos políticos e religiosos
A Ausência de Lutero em Portugal foi o título da minha intervenção. Portugal não é a pátria de Lutero e os portugueses também não o puderam acolher no séc. XVI, nem com discernimento nem sem discernimento. Além disso, e não só em Portugal, ser bom católico era dizer mal dos protestantes e ser bom protestante era dizer mal dos papistas.
Para assinalar os 450 anos da sua morte, o Centro de Estudos de Teologia/Ciência das Religiões, da U. Lusófona, realizou um importante colóquio, cujos contributos já estão publicados. Merecem reedição. Tentei, no prefácio, explicar as razões da ausência de Lutero entre nós [1].
O P. Carreira das Neves, com o seu Lutero. Palavra e Fé, tenta preencher essa lacuna: “O tema que vamos tratar tem sido objecto de milhares de livros, artigos e pronunciamentos religiosos, políticos, sociológicos, filosóficos. Só estranha o facto de nenhum autor português ter assumido, nestes 500 anos que nos separam de Lutero, a responsabilidade de escrever sobre esta pessoa que está na origem do protestantismo luterano e das igrejas evangélicas.” [2]
Ausente em Portugal, teve mais sorte no Brasil, onde já foram publicados 12 volumes das Obras Seleccionadas de Martinho Lutero [3]. 
O luterano Artur Villares pergunta: “Cinco séculos depois, com a poeira da História a assentar e as polémicas, ódios e extremismos definitivamente encerrados nas prateleiras da apologética de todos os participantes, o que significa, para o homem de hoje, o nome de Martinho Lutero? Para muitos nada; para outros tantos, um mero revoltado, um rebelde, que destruiu a unidade da Igreja do Ocidente; para outros ainda, uma figura histórica, de assinalável grandeza, um dos construtores do mundo moderno. E para os luteranos? Naturalmente que a herança de Lutero é imensa: foi o pai do alemão moderno; foi o autor de uma vasta obra teológica, que hoje abarca cerca de cem volumes; dignificou o casamento, dando ele próprio o exemplo, ao casar em 1525 com a ex-freira Catarina de Bora, de quem teve seis filhos. Compôs dezenas de hinos, reestruturando o canto congregacional na Igreja. Reafirmou o sacerdócio universal de todos os crentes e introduziu o vernáculo como língua litúrgica. Inspirou grandes mestres da música, como Bach e Mendelssohn. E tudo isto, sem dúvida, foi entrando no património das igrejas após Lutero.” [4]
O dominicano Yves Congar, investigador da obra de Lutero, concluiu que ele “é um dos maiores génios religiosos de toda a História. Coloco-o no mesmo plano que Santo Agostinho, São Tomás de Aquino ou Pascal. [...] Ele repensou todo o cristianismo. Ofereceu-nos uma nova síntese, uma nova interpretação”. [5]

2. Não cabe nesta crónica apresentar todas as razões que fizeram de Lutero um ausente da nossa cultura, da cultura que se desenvolveu em diálogo com a Reforma. Frei Jerónimo de Azambuja (†1562), grande exegeta da Bíblia, declarou no Concílio de Trento que “em Portugal, graças à providência divina e aos cuidados do rei muito cristão, não se vislumbra qualquer sinal da heresia luterana que enche o mundo”. De facto, os contactos testemunhados de portugueses com Lutero foram escassos. Os métodos da Inquisição, o controlo dos livros nos portos e nas livrarias construíram adequadas barreiras de protecção contra o contágio luterano.
No século XVI, quando se queria insultar gravemente alguém, bastava chamar-lhe “Lutero”. D. Frei Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga, aguentou muitas insolências de alguns cónegos, mas protestou vivamente quando o apelidaram de “Lutero”. [6]

3. Muitos passos de aproximação e de entendimento mútuo já foram dados entre católicos e luteranos. Em 1999, foi assinada a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação. O Papa Francisco, na viagem ecuménica à Suécia, entre 31 de Outubro e 1 de Novembro de 2016, no contexto da comemoração católico-luterana dos 500 anos da reforma protestante, assinou uma declaração comum com o presidente da Federação Luterana Mundial.
A fórmula Ecclesia semper reformanda é antiga. A Igreja, quando não vive em processo de contínua reforma, deforma-se. É da sua condição humana e cristã. Somos justificados pela graça de Deus e pecadores pelo mau uso da nossa liberdade. Para não envelhecer, é preciso renascer, deixar-se transformar.
O que mais me espanta não são os 500 anos de ausência de Lutero em Portugal. O que me desconsola é a nossa resistência passiva à reforma, muito mais abrangente e global, desencadeada pelo Papa Francisco, o segundo Papa dos tempos modernos, verdadeiramente católico, isto é, de abertura universal. O primeiro foi João XXIII.
A resistência à reforma dos ministérios ordenados está a privar a Igreja Católica dos serviços mínimos sacramentais às comunidades. Os padres, que são cada vez menos, tornaram-se robôs de missas, baptizados e casamentos.
Será que nas resistências às reformas de Bergoglio se esconde a aposta na 4.ª Revolução Industrial para seminários de robôs mais sofisticados? 

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Martinho Lutero. Diálogo e Modernidade, prefácio de Frei Bento Domingues, Edições Universitárias Lusófonas, 1999
[2] Pe. Carreira das Neves, Lutero. Palavra e Fé, Presença, Lisboa, 2014, p.17
[3] Responsabilidade da Comissão Interluterana de Literatura. São Leopoldo.
[4] http://igreja-luterana.pt/site/lutero-ontem-e-hoje/
[5] Cf. Pe. Carreira das Neves, Op. Cit., pp. 419-422
[6] Cf. Martinho Lutero. Diálogo e Modernidade, pp. 7-12

sábado, 1 de julho de 2017

Maria Donzília Almida — Solidariedade

M.ª Donzília Almeida

“Não temos, nas nossas mãos, as soluções para todos os problemas do mundo, 
mas diante de todos os problemas do mundo, temos as nossas mãos.” 

Friedrich Schiller

Canal de S. Roque

Nas grandes cidades, como nas pequenas urbes, estacionar começa a ser tão difícil como encontrar agulha em palheiro. Os lugares onde antigamente se podia fazê-lo, e eram muitos, foram invadidos por parquímetros, onde é obrigatório o condutor deixar a moeda. 
Um incentivo ao uso de transportes alternativos, como os transportes públicos, as bicicletas? As bugas, em Aveiro, postas à disposição dos utentes, são já uma medida a apoiar. Será, também, uma forma de combater o sedentarismo, já que há pessoas que não se deslocam 100 metros a pé. Por ter nascido, na planura das Gafanhas, sou uma adepta fervorosa da bicicleta. 
Como meio de transporte, esta tem-se tornado popular, em várias cidades europeias, como noutros pontos do globo. É muito comum ver-se os executivos das empresas, pedalarem, de fato e gravata, para o local de trabalho. Eu própria usei a bike, na minha deslocação para a escola, ou ia a pé. Morava a dois quilómetros de distância... Ainda pensei usar a trotinete que me tinham oferecido pelos anos, mas… onde levava a pasta e o PC? Não passou de uma ideia peregrina. 
A bike tem superado o uso de automóveis em vários países desenvolvidos, como a Holanda, onde existe em grande número. E, com o tempo, outros lugares estão a seguir esse exemplo saudável, ecológico e económico. Melhora-se a qualidade de vida, o ambiente e as condições de mobilidade urbana. Em Amsterdão, quase toda a população adotou este meio de transporte, pois há muitas ciclovias para os ciclistas. 
Há outras cidades nas quais a implementação da bike, é bem visível. Copenhague, na Dinamarca, foi escolhida como a primeira cidade do mundo a incentivar o uso da Bike City. Atualmente, tem mais de 200 quilómetros de ciclovias, com novas auto-estradas de bicicleta, em desenvolvimento, para chegar aos arredores. A cidade tem uma das mais baixas taxas de parque automóvel da Europa. 
Em Paris, quando os níveis de poluição atmosférica subiram muito, a cidade proibiu o uso de carros, por uns tempos. A poluição diminuiu, drasticamente, e desta forma, a cidade pretende desencorajar o uso de automóveis nos próximos anos. No centro da cidade, não poderão utilizá-los ao fim de semana o que será alargado no futuro. Em Berlim, na Alemanha, vai crescendo o número de ciclistas. São investidos milhões para melhorar a segurança nas ciclovias e construção de novas vias. Recentemente, foi criado um serviço gratuito, de aluguer de bicicletas, com o objetivo de estimular o seu uso e facilitar a vida de moradores e turistas que desejam conhecer a região. A Angela Merkl deve rejubilar, por ser para o mundo, o exemplo de um país superdesenvolvido e preocupado com o ambiente, em oposição ao polémico Donald Trump. 
Em Tóquio, no Japão, o uso de bicicletas é tão frequente, que algumas empresas criaram estacionamentos subterrâneos. São realizados, diariamente, passeios culturais pelas principais atrações desta metrópole. 
Porque a distância, até Aveiro, é de cerca de oito km, apesar de eu ser muito sensível a questões ambientais, não me desloquei de bike. Lá tive que me socorrer do automóvel para chegar ao me destino. 
Foi, precisamente, quando procurava lugar para estacionar, que algo de insólito ocorreu. O Canal de S. Roque é um dos poucos lugares, na cidade, onde o estacionamento é gratuito, mas estava à pinha. Depois de muito procurar qualquer buraquinho remanescente, dei sinal para estacionar, quando um carro se interpôs e ocupou o lugar. Buzinei, reclamando o lugar que me tinha saído na lotaria. Ato contínuo, um jovem todo sorridente, de óculos espelhados, retrocedeu, libertando o lugar que era exíguo e pedindo-me desculpa. Comecei a ficar (bem) impressionada! Nos dias de hoje? Assiste-se a cada picardia entre condutores! 
Tive alguma dificuldade em alinhar o veículo, deixando espaço para os carros adjacentes poderem fazer as suas manobras. O jovem que observava a minha imperícia, ofereceu-se, prontamente, para me estacionar o carro. A princípio, mostrei alguma relutância e receio, em lhe pôr a chave na mão. Um sentimento de insegurança perpassou na minha mente, considerando o que os telejornais vão apresentando, diariamente. Só desgraças, burlas, violência, pedofilia e outras coisas quejandas. Resolvi arriscar e confiar, dando-lhe o benefício da dúvida. Em boa hora o fiz, pois em três tempos, o carro estava devidamente estacionado. Não fui lesada…mas não estava lá a TVI (!) para testemunhar o “incidente” e alimentar o espírito altruísta das pessoas. O sentido mórbido é a especialidade desse canal de televisão. 
Sensibilizada, por este ato de genuína solidariedade, agradeci efusivamente ao jovem, e pensei com os meus botões: Afinal, dizem tão mal da juventude de hoje, eu tive a clara demonstração do contrário! Bem haja a juventude hodierna! 
Bem lá no fundo do meu ser, uma ponta de narcisismo veio à tona. “A quem é boa pessoa, até o vento lhe apanha a lenha!” 

Mª Donzília Almeida 

29.06.2017 


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