Crónica de Frei Bento Domingues
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Papa e Freiras |
1. Diz-se que entre as coisas que o Espírito Santo ignora é o nome e o número das congregações religiosas femininas. Não é segredo para ninguém que muitas estão em crise, o que pode baralhar ainda mais as contas. Ao contrário do que muita gente pensa, não são uma espécie em extinção. É verdade que nenhuma tem promessa de eternidade, mas ao longo da história da Igreja, quando algumas desaparecem surgem outras. Deslocam-se, de país para país, de continente para continente muito mais depressa do que as comunidades masculinas. Estão, por vezes, com muitas dificuldades num país ou num continente e cheias de vigor noutros. Entre as de vocação contemplativa, há semelhanças e diferenças, mas entre as de vida activa, variam mais os estilos e a história do que os carismas propriamente ditos.
Perguntar se o futuro da Igreja é também feminino é ridículo. O livro [1], recentemente publicado, com esta interrogação é muito estimulante para pensar o papel das mulheres na Igreja, que se encontram sempre nas periferias mais arriscadas e nas intervenções mais inovadoras.
A interrogação não me espanta. Segundo as narrativas do Novo Testamento - alterando os esquemas da situação da mulher no judaísmo – foram elas que ressuscitaram a fé e a esperança do movimento cristão, nos ânimos dos discípulos, abalados com a crucifixão das suas espectativas de poder.
Os homens nunca lhes perdoaram esse atrevimento e depressa arranjaram doutrinas para as secundarizar a nível da direcção das comunidades e da presidência da celebração dos sacramentos, especialmente da Eucaristia.
Esqueceu-se que mulheres e homens, na Igreja, são todos sacerdotes pela mesma razão sacramental: não existe um baptismo próprio para homens e outro próprio para mulheres! A sacramentalidade da identidade cristã exprime-se no baptismo e alimenta-se na celebração da Eucaristia, cuja simbólica é uma refeição familiar, de muitas famílias. Jesus, aliás, exprimiu o seu projecto fazendo família com quem não era da sua família.