sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Candura

Crónica de Maria Donzília Almeida



“A admiração
 é a ingenuidade da inteligência.”

Berilo Neves

Para cativar a atenção e o interesse dos alunos, hoje em dia, o professor tem de fazer malabarismos, que noutra épocas se atribuiriam apenas aos acrobatas circenses.
Dadas as solicitações a que está sujeito o aluno, na concorrente escola paralela, caberá ao professor superá-las, se quer conquistá-lo para o contrato pedagógico.
Assim e para conquistar os alunos para o assunto da aula, a teacher recorreu a uma nova estratégia, na abordagem da matéria desse dia.
Ia ensinar as criancinhas a dizer a morada em Inglês e para isso usaria a 1.ª pessoa: My address is…. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Recordando São Pedro de Moel



Na minha coleção de fotografias digitalizadas, que é um caos autêntico, encontro frequentemente imagens de viagens que fiz, de museus que visitei, de paisagens que contemplei e de tudo o que me tocou: um poema, uma árvore, pessoas, monumentos e tanta... tanta coisa. O que importa é pegar nisso e reviver momentos agradáveis, renascendo o desejo de voltar. Recordar não é reviver?

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A Bom Jesus de Braga

Crónica de Maria Donzília Almeida




Santuário do Bom Jesus


Durante a minha efémera permanência em terras minhotas e quando ares primaveris convidavam a um passeio dominical, o Bom Jesus de Braga impunha-se como um destino apetecido e ali mesmo à mão. À sombra de frondosa vegetação, aspira-se o ar puro que enche os pulmões, enquanto a mente se perde numa contemplação e reflexão retemperadoras da alma.
Nesta cidade, a natureza e a arte de André Soares e do coronel Vila-Lobos combinam-se para fazerem deste local um verdadeiro ex-libris da cidade dos Arcebispos.

Em louvor de Tolentino Mendonça

Ou o exemplo 
de uma poética 
da espiritualidade



Durante anos decisivos da sua existência ao serviço da Igreja e da cultura em Portugal, o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) foi orientado e movido pelo Padre José Tolentino Mendonça, que o conduziu com a força tranquila do exercício cristão dos seus talentos de inteligência e sensibilidade.
O rosto e a travessia do SNPC refletiram, pois, o perfil e a atitude de um Diretor não preocupado em ter presença espetacular ou intervenção ostensiva no terreno (ciente, aliás, de que «nenhum nome/ serve jamais para dizer/ o fogo»), mas empenhado na eficiência discreta e no gesto inspirador de uma autêntica poética da espiritualidade.
Graças a Tolentino Mendonça, o SNPC foi durante anos ajudando a descobrir o sentido nos «intervalos do silêncio», que os atos e as palavras guardam. No confronto com «o assombro e a tensão inerentes à vida» foi apontando ou abrindo caminhos de "via spiritus" e "via pulchritudinis" para o valor divino do humano.
Com a contenção que impera na sua obra lírica, com a densidade de sugestões reflexivas que dela ressalta para as suas crónicas e para as suas homilias, a sua condução do SNPC ensinou a ver o implícito e a ler o flagrante segundo uma gramática do assentimento, na «partilha/ do furtivo/ lume».
Iniciados nesta poética da espiritualidade, vamos cultivar o seu exemplo!

José Carlos Seabra Pereira
Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Publicado em 18.11.2014


Nota: Faço minhas as palavras certas e oportunas do novo Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. Tive o prazer de me encontrar algumas vezes com o padre e poeta Tolentino, cujos escritos me habituei a ler e a meditar a partir deles. Continuarei a saborear os seus livros à medida que forem publicados. Presentemente estou com o mais recente, "A Mística do Instante", que me conduz por caminhos que eu nunca havia calcorreado. E com que prazer tenho encontrado paisagens de corpo e alma, com tonalidades de puro deleite! Do padre Tolentino muito teremos ainda de esperar porque a sua riquíssima sensibilidade está atenta à vida que vale a pena ser vivida.

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Mordomias sem sentido


Cavaco Silva, quando terminar o mandato,
passa  a ter gabinete neste palácio

«Como ex-Presidente da República, Cavaco Silva vai ter direito a um gabinete, uma secretária, um assessor e carro com motorista e combustível. Este era, aliás, o último orçamento em que poderia incluir verbas para a despesa com obras num futuro gabinete. Na proposta que está na Assembleia da República, estão 700 mil euros destinados a obras de conservação e restauro, mas nem todo o dinheiro é para o futuro gabinete. Parte será para pequenas obras no Palácio de Belém, no Museu da Presidência da República ou no Palácio da Cidadela.»

Ler no Observador


NOTA: Confesso, com toda a franqueza, que não entendo certas leis, como esta que dá direitos especiais aos ex-Presidentes da República, sendo certo que, terminados os seus mandatos, passam à situação de homens (ou mulheres, se fosse o caso) comuns. Homens comuns, com liberdade para intervirem na vida, na política, na cultura, na solidariedade, nas artes e em tudo, afinal, tal como um normal reformado ou aposentado. Até podiam ficar livres para missões especiais a pedido do Presidente da República em exercício.
Portanto, para quê e porquê gabinete próprio em palácio, com secretária (pessoa), assessor, carro, motorista e combustível? Será que ele não tem casa própria, carro, não sabe conduzir, e não terá dinheiro para o combustível? Francamente.



Indivíduo livre


“Se o indivíduo é passivo intelectualmente, 
não conseguirá ser livre moralmente”

Jean Piaget, 1896 - 1980

Lírica do Ciborgue



o ciborgue habita
debaixo da tua pele

pouco a pouco
ele toma conta
de todos os teus
sentidos e não sentidos

com os olhos ele vê
as cores que não há
nos ouvidos
músicas silenciosas
pela pele os toques
tocam nas coisas
imponderáveis
na boca os sabores
sabem de cor
os desgostos do gosto
no nariz
os odores são
as dores que sobem
desde a raiz
e no todo teu corpo
eles inauguram
os movimentos
que são teus pensamentos
na mágica do leve
levitarás em breve
nos espaços
abstratos
de todos os teus atos
trilhões das tuas células
serão sutilmente alteradas
e as funções
dos teus órgãos
serão novas
quando já não terás
um só eu
mas vários eus
que nem sequer
serás
é com eles
que para sempre
viverás
para além do óbvio
Homo Sapiens Ciborgue
irmão de mim próprio

E. M. de Mello e Castro
"Lírica do Ciborgue"

Nota: Sugestão do caderno Economia do EXPRESSO