domingo, 23 de dezembro de 2012

Chegou num dia de chuva miudinha...

A prenda! 
Maria Donzília Almeida



Chegou num dia de chuva miudinha, que enche de humidade o ar e cria uma saturação tal, que tudo parece escorrer à nossa volta. É a morrinha de uso tripeiro, que nos penetra até aos ossos. Assim estava o aposento, onde a prendinha foi depositada. 
Apesar de já ter passado a idade da inocência, quase acreditaria que foi prenda do Menino Jesus, que a colocou no meu sapatinho, quatro dias antes do Natal. Apareceu, assinaladamente, no dia em que aconteceu o solstício do inverno, 21 de dezembro. 
Evoco aqui, as palavras de ST Éxupery: “Mal nos conhecemos, inaugurámos a palavra amigo!” 



Poesia para este tempo


Carta de Natal a Murilo Mendes

 Querido Murilo: será mesmo possível
Que você este ano não chegue no verão
Que seu telefonema não soe na manhã de Julho
Que não venha partilhar o vinho e o pão

Como eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia-a-dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidiano

Descubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e dividido

Hoje escrevo porém para a Saudade
— Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade —

E o poema vai em vez desse postal
Em que eu nesta quadra respondia
— Escrito mesmo na margem do jornal
Na Baixa — entre as compras do Natal

Para ligar o eterno e este dia

Sophia de Mello Breyner Andresen 

Lisboa, 22 de Dezembro de 1975

Em  "O Nome das Coisas", 1977

sábado, 22 de dezembro de 2012

Jesus não é um simples conto ou um mito

Natal da dignidade humana
Anselmo Borges



Numa troca célebre de cartas entre o cardeal Carlo M. Martini e o agnóstico Umberto Eco, publicadas com o título "In cosa crede chi non crede?", U. Eco escreve: Mesmo que Cristo fosse apenas o tema de um grande conto, "o facto de esse conto ter podido ser imaginado e querido por bípedes implumes, que só sabem que não sabem, seria miraculoso (miraculosamente misterioso)". O Homem teve, a dada altura, "a força, religiosa, moral e poética, de conceber o modelo do Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos, da vida oferecida em holocausto pela salvação dos outros. Se fosse um viajante proveniente de galáxias longínquas e me encontrasse com uma espécie que soube propor-se este modelo, admiraria, subjugado, tanta energia teogónica, e julgaria esta espécie miserável e infame, que cometeu tantos horrores, redimida pelo simples facto de ter conseguido desejar e crer que tudo isto é a Verdade."

A Caminho do Natal - 21


E o Natal aconteceu…




Aquela pequena aldeia no sopé da montanha parecia uma pequena cidade. Ficava no fim da estrada que vinha de longe logo após a ponte que atravessava o pequeno rio, tendo como pano de fundo a alta montanha coberta de árvores com resquícios da neve acumulada durante a noite.
Inspirava uma certa quietude a quem se aproximava, começando por ver a torre da igreja num ponto mais alto e depois o fumo que saía de algumas chaminés nestes dias de fim de Outono.
Embora pequena, possuía muitas das comodidades de uma cidade, ainda que em ponto mais pequeno: a igrejinha era como uma pequena catedral, a escola primária, o salão de festas, o campo de jogos, a filarmónica, o grupo de teatro e o clube desportivo.
Era também muito orgulhosa das suas tradições que ia relembrando através do ano, mas o que empolgava deveras toda a população era o Auto de Natal levado à cena pelos alunos da escola, anualmente no início das férias desta quadra, que o representavam no salão de festas. Era rara a família que não tinha um pequeno actor envolvido e à medida que o Natal se ia aproximando começavam a conjecturar quem iria representar quem.

Este ano a ansiedade era maior. Estaria a jovem professora, chegada no início do ano lectivo, à altura de tal responsabilidade? Logo que chegou à aldeia foi posta ao corrente da sua esperada colaboração como ensaiadora do nobre espectáculo que encerraria o primeiro período de aulas. Não podia falhar!
Os dias foram correndo e quando se aproximava o início dos ensaios, Simão, um dos alunos, segredou à professora com quem ficava só, no final da aula, enquanto limpava o quadro preto:

A fé de Maria abre caminho a quem acolhe Deus


Maria visita Isabel



FELIZ ÉS TU PORQUE ACREDITASTE
Georgino Rocha

Isabel proclama feliz Maria, sua prima, porque acreditou na mensagem que o enviado de Deus lhe anunciara. Não se dirige a ela na linguagem de hoje, do tu relacional, mas na terceira pessoa, deixando “em aberto” que a saudação abrange todo aquele que acredita. A fé de Maria abre caminho a quem acolhe Deus na sua vida e com Ele colabora na realização do projecto de salvação. A felicidade de Maria – tão bem expressa no poema/cântico do Magnificat – brota da leitura da história, tempo e espaço onde Deus actua e quer envolver-nos. A nossa correspondência livre e generosa origina a experiência feliz de sermos amados e responsabilizados.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O INVERNO JÁ CHEGOU


O inverno também tem a sua beleza

À espera da primavera

Começa hoje o inverno. O solstício do inverno, que se assinala nesta data, diz-nos que temos hoje o dia mais pequeno e, consequentemente, a noite mais longa. Teremos assim possibilidades de ficar um pouquinho mais no quentinho da cama. Agora, acabaram-se as queixinhas de que há frio, vento e chuva. E ficaremos à espera da primavera que surgira em março. 
Tenho para mim que todas as estações do ano, cá pelas bandas do mundo onde fica Portugal e não só, têm o seu encanto e o inverno não foge à regra santíssima de nos convidar a ficar mais por casa, no aconchego da família e ao calor da fogueira, se a pudermos manter, que a lenha agora custa bom dinheiro. Já la vai o tempo de se ir à lenha à mata da Gafanha, contentando-se os gafanhões com os ramos secos que caíam ou arrancavam à socapa, sem o guarda-florestal ver, a que chamávamos frança, nem sei porquê. Nos tempos que correm, quem pode compra lenha cortada à medida, para não dar trabalho. 
O que esperamos, afinal, é que o inverno não seja rigoroso de matar, mas que frio e chuva venham só quanto baste, e que nos não falte o ânimo para esperar, pacientemente, pela primavera, sinal de renovação pessoal e de vida que brota pela natureza fora, com força para vencer crises e reiniciar projetos que amarfanhem derrotas nunca antes sonhadas.

Fernando Martins

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