Maria visita Isabel |
FELIZ ÉS TU PORQUE ACREDITASTE
Georgino Rocha
Isabel proclama feliz Maria, sua prima, porque acreditou na mensagem que o enviado de Deus lhe anunciara. Não se dirige a ela na linguagem de hoje, do tu relacional, mas na terceira pessoa, deixando “em aberto” que a saudação abrange todo aquele que acredita. A fé de Maria abre caminho a quem acolhe Deus na sua vida e com Ele colabora na realização do projecto de salvação. A felicidade de Maria – tão bem expressa no poema/cântico do Magnificat – brota da leitura da história, tempo e espaço onde Deus actua e quer envolver-nos. A nossa correspondência livre e generosa origina a experiência feliz de sermos amados e responsabilizados.
Isabel e Maria configuram o rosto social de quem, na cultura judaica, é insignificante e menosprezado. Mulher que não tivesse filhos era desconsiderada e objecto de comentários insultuosos. Uma estéril e em idade avançada, outra virgem e adolescente! Ambas de aldeias quase ignoradas no mapa das terras que contam para a gente ilustrada do tempo. Ambas de famílias modestas, apesar de sérias e piedosas. Ambas dotadas de uma confiança total que as disponibiliza para o “impossível”.
E o “impossível” acontece. Os filhos-prenda nascem e confirmam a esperança que habita e floresce no coração das mães. Zacarias e José, cada um a seu modo, vêem superadas as provações por que passaram. De Zacarias, fica-nos um cântico de libertação; de José, apenas o silêncio contemplativo, o olhar penetrante, a doação incondicional.
Duas mulheres juntas mostram que, mesmo nas situações mais humildes, se pode cultivar a flor da esperança que não murcha com o tempo nem com a adversidade. Uma confirma a outra no valor da fé confiante. “Parece” que estão a celebrar em casa de Zacarias o seu “Ano da Fé” e a cimentar a certeza de que vale a pena esperar contra toda a esperança. Então, como agora, atendendo ao que vemos à nossa volta!
Juntas sabem proclamar a humanidade dos nascituros e a presença activa do Deus da vida. Juntas são rosto do serviço anónimo que resume o de tantas mãos do nosso tempo. São espelho de quem fala de Jesus com enlevo, ternura e desassombro e não dos problemas / queixumes que certamente as assaltavam e limitavam. Juntas constituem um espelho da Igreja que anuncia, celebra e serve a Cristo e a sua oferta de misericórdia, de libertação, de justiça, de pão, de fidelidade, de esperança.
Feliz és tu! A tua colaboração faz com que se cumpra tudo o que te foi dito da parte do Senhor. Alia a fé à ousadia como Isabel e Maria.