A metáfora dos nossos dias:
21 de Maio de 2011
Maria Donzília Almeida
O dia amanhecera cinzento. “Um anímico véu de mistério cinzento,” citando Oliveiros Louro, parecia abater-se sobre a planície das Gafanhas. Era a natureza a associar-se, como elemento premonitório daquilo que estava para ocorrer.
Na mente, revolvia-se a cena tantas vezes evocada, da ida do ancião para o monte. Reza a história que encontrando-se às portas da morte, um pobre homem fora transportado para o monte, onde acabaria os seus dias, à mercê das intempéries e das aves de rapina. No momento da despedida, divide a manta que lhe fora deixada para se proteger, nas duras noites de inverno, em duas partes e entrega-a ao filho, dizendo: — Toma lá, é para usares quando os teus filhos te vierem trazer aqui!
Por muito cruel que pareça, esta história retrata bem a tristeza e abandono a que são sujeitos os idosos das sociedades modernas. Têm sido noticiados, nos últimos tempos, casos verdadeiramente dramáticos de pessoas solitárias que acabam por morrer ao abandono nas suas casas. Há referências, também, a familiares de pessoas idosas e doentes, que os despejam nos hospitais, por altura das festas em família. Por maior que seja o repúdio que sentimos por atitudes desta desumanidade, elas continuam a ocorrer com a frequência que a insensibilidade das pessoas consente.