Vasco Lagarto
"Temos a responsabilidade
do serviço público local"
do serviço público local"
A Terra Nova, prestes a completar 25 anos, assume-se, cada vez mais, como o principal órgão informativo da região de Aveiro em termos radiofónicos. À frente deste projecto comunicacional está, desde a primeira hora, o engenheiro Vasco Lagarto, que realça que a rádio presta serviço público local. Entrevista conduzida por Jorge Pires Ferreira.
CORREIO DO VOUGA - A rádio Terra Nova (TN) recebeu no feriado de Ílhavo, que este ano coincidiu com o 25 de Abril, uma medalha “pelos seus 25 anos de trabalho, ao nível da comunicação e promoçao do município de Ílhavo”, mas esta é uma rádio que se assume cada vez mais como regional…
VASCO LAGARTO - Nós de facto consideramos que pertencemos à região de Aveiro. Estamos sedeados no concelho de Ílhavo, somos uma rádio local, segundo o que está estipulado legalmente, mas cada vez mais o que acontece extravasa os limites do concelho e procurarmos estar enquadrados com o que vai acontecendo à nossa volta.
Até onde chega a rádio?
A qualquer parte do mundo, através da Internet. Mas em termos radiofónicos, chega a um raio de cinquenta quilómetros.
Que balanço faz destes 25 anos? Chegou aonde esperava?
Quando iniciámos um projecto desta natureza, não definimos metas. É um projecto, tem sempre algo de novo em cada dia e temos de estar atentos àquilo que o futuro nos vai mostrando. É evidente que ao princípio nunca pensámos que a TN pudesse ter o impacto que tem hoje, até pelo projecto em si, pela vertente em que nos concentramos, que é a componente mais informativa. Temos outras vertentes, mas a informação é o que caracteriza a nossa rádio. Esse é o valor acrescentado que a comunicação social local pode dar. Não são os meios de comunicação social nacionais que vêm falar do que está a acontecer nos bombeiros daqui e dali ou o que se passa na assembleia municipal deste ou daquele concelho. Sentimos que existe essa responsabilidade. Existe a necessidade de um serviço público. Infelizmente, esse é um serviço público que não é pago. Foi uma das guerras que tive com a Secretaria de Estado há muitos anos. Infelizmente, não chegámos a bom porto.
Considera uma injustiça os portugueses pagarem a taxa [na factura da electricidade] para a rádio pública que não faz um serviço público local…
Exactamente. A rádio pública não presta o serviço público de cobertura local. Não vão a todas as regiões. Não se pede que o façam, porque isso era praticamente impossível, de qualquer forma, achamos que a comunicação local e regional também tem essa função e devia ser paga por esse serviço, assim como são pagos outros serviços universais.
Quando esta rádio começou, havia muitas outras nas regiões, que entretanto foram encerrando. A TN é uma sobrevivente?
Sim, em termos de projecto. Há muitas que se mantém vivas passando apenas música. A componente musical é sempre mais barata. Para ter uma rádio desse tipo basta ter equipamento e uma pessoa para fazer a gestão da programação e pouco mais. Realmente a TN, pelos recursos que têm, as pessoas que cá estão, pela orientação que foi sendo dada, aposta na componente informativa. Mas a vida não tem de maneira nenhuma sido fácil, pelo menos nos últimos anos. E estimo que nos próximos continue difícil. Não passamos ao lado daquilo por que o país está a passar.
Refere-se à diminuição de publicidade?
Claro. A TN em grande parte vive da publicidade. Ora, a despesa com publicidade é a primeira a ser cortada quando as empresas começam a sentir dificuldades. Isso vai acontecer com maior intensidade nos próximos tempos.
Lembra-se do primeiro dia da TN?
Não foi um dia assim muito especial. Tínhamos o sistema de antenas instalado, em frente à sede, que continua a ser na Rua Gil Eanes, n.º 31, na Cooperativa Cultural e Recreativa da Gafanha da Nazaré. Numa manhã sábado, 12 de Julho de 1986, ligou-se um pequeno emissor e um gravador a passar música.
Lembra-se da música?
Não me lembro. Liguei a meia dúzia de pessoas, disse-lhes para sintonizar em 104.9 FM. Era a frequência planeada para o concelho de Ílhavo. De tarde, nesse mesmo dia, a casa ficou cheia de gente procurando descobrir como ir mais além. Estivemos na Rua Gil Eanes até 1997, altura em que mudámos para o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, onde nos encontramos actualmente, mas a sede oficial oficial continua na Cooperativa.
Quantas pessoas trabalham na TN?
São sete os colaboradores formais. Depois há outros colaboradores que fazem programas e outro tipo de colaboração. São voluntários. Não são pagos - gostava de realça-los porque têm uma consciência de serviço à comunidade que é cada vez mais rara.
Tem ideia de quantos ouvem a TN?
Não sabemos. Mas sabemos que quando alguém cá dentro “põe o pé na argola”, é logo alertado por um ouvinte. Há sempre alguém que ouve. Fazer um estudo de audiência seria interessante, mas não há meios financeiros para tal. Em termos de Internet, a nossa página tem mais de 2 milhões de “hits” por mês, o que significa cerca de 500 mil visitantes únicos. Tanto por computador como através dos [telemóveis] smartphones.
A rádio é seguida nas comunidades de emigrantes?
Sim, sabemos até que na Costa Leste dos EUA muitas comunidade seguem o Beira-Mar pela Internet. Normalmente coincide com a hora do almoço deles. Mesmo quando os jogos são transmitidos pela TV, muitas destas comunidades seguem-nos pela rádio. Há tempos tivemos uma falha de energia e a rádio continuou a funcionar porque temos sistemas alternativos, mas não a Internet. De imediato tivemos telefonemas da Alemanha e dos EUA a perguntar o que estava acontecer.
Ainda são a única rádio a acompanhar sempre o Beira-Mar?
Actualmente, não. Fomos a única que o acompanhou quando estava na mó de baixo. Agora que está na primeira divisão, há mais que o acompanham.
Durante algum tempo alimentou o sonho de um jornal…
Neste momento a questão não se põe. Não quer dizer que no futuro não se venha a pôr. Seria sempre um complemento. Há três ou quatro anos tivemos um percalço que nos obrigou a fazer um investimento avultado e que levou a abandonar essa ideia. A questão é que temos a rádio, temos a Internet e muitas vezes nota-se que o complemento de um jornal seria interessante.
O nome “Terra Nova” não tem também uma conotação religiosa?
O nome “Terra Nova” é muito feliz por várias razões. Primeiro, porque é transversal à região e ao concelho, pelo que não motiva qualquer pequena trica entre as freguesias. Segundo, é um nome que está bastante enraizado na história. É uma espécie de homenagem a todos aqueles que construíram esta região através da pesca longínqua, que foi a actividade que nos anos 50 e 60 fez com que a região crescesse em termos económicos e humanos. Terceiro, na realidade, também se prende com o facto de considerar que um órgão de comunicação social deve ser um motor bastante activo na transformação da terra nova. Podemos fazer essa ligação. Podemos, dar uma componente transcendente ao nome. Mas isso fica subjacente na cabeça de cada um. Penso que é um nome rico. Como uma pintura, sujeita-se a várias interpretações.
“Correio do Vouga” desta semana