quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Amnistia Internacional mostra realidades chocantes

A Marieke participou, na terça-feira, num encontro do Núcleo de Aveiro da Amnistia Internacional, onde pôde ver e meditar sobre fotos chocantes. Há experiências vividas em encontros como estes a que não podemos ficar indiferentes. Dilacerando-nos, acabam por nos fazer bem. Vejam aqui.

Bíblia na mão, família ao seu lado, testemunho de esperança

Serve mal o país quem se julga dono do povo e se esquece de proclamar bem alto, com convicção e coragem, que ninguém no mundo tem categoria para ser dono de alguém. Há um só Senhor. Por Ele, todos somos iguais, todos somos livres, todos somos necessários. Quem se esquece que é servidor da sociedade e não defende, de modo claro, a célula básica e indispensável da sua consistência, no presente e no seu futuro, a família, não entendeu ainda o que é estar ao serviço do essencial e do bem comum. Obama, o presidente para quem o mundo olha, quis, antes de tomar posse, participar com os seus familiares, num acto religioso na sua Igreja; quis fazer o juramento de bem servir o seu país tocando com a sua mão a Bíblia que sua esposa segurava; quis estar ladeado pela sua família em momento tão solene e único, sem se importar se assim o permitia ou não o protocolo do Estado. Estes e outros gestos significativos não foram gestos de acaso. Foram opções e decisões da vontade livre de um homem responsável, expressões que indiciavam, para além das exigências protocolares da cerimónia, compromissos pessoais com raízes profundas. Obama, para estimular nos seus concidadãos a união, a esperança e a tomada de consciência das suas responsabilidades, fez memória da história, falou-lhes de crises superadas e de batalhas vencidas, deu-lhes ânimo para poderem juntos ir sempre mais além. Não ocultou nem minimizou as dificuldades do presente, mas também não deixou, pelo modo como se lhes dirigiu, que se sentissem esmagados, por mais graves que sejam tais dificuldades. Onde há crises, há sempre desafios e enfrentar. Foi um falar de manifesta convicção. O mundo estava vendo e ouvindo. Decerto se apercebeu de que, para além da cor da pele, estava ali um homem crente, lúcido e corajoso. Os Estados Unidos da América, nos últimos anos, e até já nos penúltimos, têm sido atacados e denegridos, por muita gente, mundo fora e, especialmente, por gente desta Europa que não pára de olhar para o próprio umbigo e de se enredar em ideologias redutoras, perdendo assim a consciência das suas raízes e fechando-se a horizontes de vida. Não é que tudo aí esteja bem e que o novo presidente não deva rever projectos em curso e encontrar caminhos novos de futuro, dada a repercussão dos seus actos num espaço alargado, para além do seu próprio espaço geográfico. Toda a gente viu, desde a campanha eleitoral e repetidas à saciedade após a sua eleição, que as suas preocupações não o vão deixar dormir sossegado. Pelo realismo do seu discurso, ninguém poderá pensar que ele se julga um iluminado salvador do mundo. Muito do terreno, que tem de pisar todos os dias, está armadilhado. Na América do Norte, como noutros países, os interesses criados e instalados, de pessoas e grupos, que em todo o lado os há e não olham a meios, nunca fazem tréguas definitivas. O sonho de Luther King, que também foi profecia, está inicialmente cumprido. Não falta agora gente, negra e branca, que sempre aspirou por caminhos novos onde todos se pudessem mover em igualdade, a dar as suas mãos às do novo presidente, transmitindo assim a primeira condição para governar e lutar, de que ele não está só. Muita gente, em Portugal, se regozijou com a eleição de Obama. Alguns sentem-se já incomodados com a confissão pública e desassombrada das suas convicções religiosas. São estas mentalidades, no poder ou com influência no mesmo, que lançam suspeições e se mostram incapazes de se libertarem de preconceitos, atávicos ou adquiridos, como se esses fossem riqueza pessoal e social. A separação Igreja-Estado, no país de Obama sempre foi modelar nas relações, no respeito mútuo e na colaboração. Assim vai continuar, por certo, sem intromissões, mas, também, sem açaimos. Obama mostrou a sua verdade interior, sem medo de críticas, de dentro ou de fora. A grandeza do homem não está no cargo que exerce. Vem de dentro. Alimenta-se num manancial que não seca, não em represas de águas turvas. António Marcelino

GAFANHA: Coisas de antigamente - 3

As malhadas
"Mas se a malhada com o malho, como é óbvio, era a mais usual, não podemos esquecer outros processos empregados para separar o grão da espiga. Um deles, por exemplo, também teve a sua época. Referimo-nos à utilização de animais (vacas, sobretudo). Caminhando em círculo sobre o cereal estendido na eira, lá iam separando o grão da espiga com uma paciência inaudita, sob o olhar atento das pessoas que, de penico ou balde na mão, impediam que os excrementos e urina caíssem sobre os cereais."
FM
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Dr. Maximiano Ribau


A propósito do falecimento do Dr. Ribau, cuja notícia neste blogue chegou muito longe, o meu leitor e amigo João Marçal enviou-me dois textos, que aqui publico, com muito gosto. Demorei a pô-los no meu blogue, porque estive à espera de uma fotografia. 

Assiste doente às 6 horas da manhã 

Dizia minha mãe que o Dr. Ribau tinha orientado a escolha do nome com que fui baptizado, pois foi meu médico nos meus primeiros dias de vida. Eu digo que ele talvez a tenha salvado quando, chamado às 6 horas da manhã, logo compareceu em nossa casa assistindo-a num AVC que, felizmente, só leves sequelas lhe deixou e apenas durante algum tempo. Muitas vezes comentámos esta sua disponibilidade. Que descanse em paz. 

Cebola nos dentes do engaço 

Tendo-nos deixado há pouco mais de um mês, a sua memória perdurará no espírito dos que o conheceram. Foi o médico ideal para os seus conterrâneos que compreendia e ao lado de quem estava nos momentos de aflição. Gostava de lembrar esses contactos com toda a compreensão, sabedor da inocência e tradição do povo. Contava com satisfação o dia em que há muitos anos foi procurado por um camponês que se havia ferido espetando um engaço num pé. Durante a prestação dos cuidados médicos que lhe dedicou, perguntando ao acidentado se já havia tomado alguma precaução quanto ao sinistro, este respondeu com toda a convicção: - Espetei uma cebola nos dentes do engaço. 

João Marçal

No restaurante “O Adriano”

Ao Almoço Estava eu em meditação! Será homem ou mulher? P’ra mim, é uma confusão; Os traços d’ homem lá estão, E de mochila na mão, Escolha o que me aprouver! Cabelo grisalho aparado, Vestuário masculino, O rosto todo enrugado, No bolso, tabaco arrumado, Co ’a mão sapuda tirado P’ra cumprir o seu destino! Lá chamou o empregado, P’ra lhe vir trazer à mesa, Verde branco engarrafado, E um pouco refrigerado P’ra poder ser partilhado Por mais alguém, com certeza! Nisto chega uma senhora, Que à sua mesa se senta, Como a sua antecessora, De certa idade detentora, Talvez também fumadora Que vai consultar a ementa. Não me pus a adivinhar, O que terá sido a refeição, Mas quando a vi levantar, E sair do seu lugar, Para as mãos ir lavar, Terminei a reflexão! Era uma dama anafada, Pois alguns pneus eu lhe vi! Sob a camisa apertada Que à frente era abotoada E nuns calções enfiada, Com bolsos de lado à safari! M.ª Donzília Almeida

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

António Rodrigues: Um transmontano com gosto pelo coleccionismo



  “O prazer do colecionador 
está em pegar em algo inútil 
e torná-lo útil”


A Gafanha da Nazaré deve muito a pessoas que aqui se radicaram, vindas um pouco de todo o país e até do estrangeiro. Desta feita fomos visitar um transmontano, António Rodrigues, de Vidago, concelho de Chaves, que reside na nossa cidade desde 1995. Licenciado em Física pela Universidade de Aveiro, ingressou na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, como professor, em 1991. Nesta cidade casou e tem um gosto especial pelo coleccionismo, que pratica com paixão. Colecciona rádios antigos, pequenos e de válvulas, que lhe enchem uma sala, devidamente arrumados. E deles fala, com conhecimento e riqueza de pormenores, levando os visitantes a fazer mais e mais perguntas, às quais ele responde com prontidão e entusiasmo. Essa paixão começou com um rádio TELEFUNKEN, avariado, que o sogro lhe ofereceu. 
Entusiasmou-se com a ideia de o pôr a funcionar, com a ajuda de um amigo, e tanto bastou para nunca mais parar. Depois desse outros vieram, também avariados, após visitas a Feiras de Velharias em Aveiro. “O gosto começou com a recuperação dos rádios”, adiantou o nosso entrevistado. E logo acrescentou que “o prazer do coleccionador está em pegar em algo inútil e torná-lo útil”. 
António Rodrigues tem cerca de 220 rádios quase todos a funcionar, havendo sempre o cuidado de utilizar peças originais e das próprias marcas e épocas, que adquire na Feira da Ladra e outras, mas também pela Internet, mais no estrangeiro do que em Portugal. 
Coleccionador atento e estudioso, apoia os seus conhecimentos em literatura que vai comprando e em consultas que faz, no sentido de obter a mais fidedigna informação. A sua colecção não é um armazém de rádios, pois cumpre as mais elementares regras do coleccionismo. Os rádios estão catalogados, com registos técnicos e históricos fundamentais, condições em que os adquiriu e onde. Por isso, visitar a colecção de rádios do professor António Rodrigues é ouvir uma belíssima lição de história, impossível de reproduzir no pouco espaço de que dispomos no jornal. 
De relance, pudemos testemunhar a existência de rádios das mais diversas partes do mundo, nomeadamente, da Holanda, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, América, Portugal, Checoslováquia, Áustria e Suíça, ente outros países. E durante a conversa ficámos a saber que o nosso entrevistado consegue identificar a proveniência geográfica e a marca de cada rádio, pois todos denunciam características próprias.
Como raridade, na sua óptica, mostra-nos um aparelho conhecido por EMISSORA NACIONAL, português, também chamado SALAZAR, de 1935. A ele está ligada a Emissora Nacional, ao tempo dirigida pelo Capitão Henrique Galvão, e destinava-se a funcionários públicos. Cada rádio custava 200$00 e podia ser pago em prestações. Mas o mais valioso é um FADA 1000, americano, 1946, custando hoje uns mil euros. É dos primeiros rádios assimétricos e o plástico exterior, “Catalim”, muda de cor conforme a luz ambiente. 
Sobre o aproveitamento político deste meio de comunicação social, António Rodrigues exibiu um rádio alemão, o VOLKSEMPFANGER, o rádio do povo. Foi uma criação destinada a difundir a propaganda nazi. Fabricaram-se dezenas de milhões de aparelhos e eram vendidos a preços baratos, para chegarem a todas as famílias. De cor preta, com a águia imperial bem à vista, funcionava apenas em onda média, de curta captação, para impedir a audição de programas radiofónicos estrangeiros. No quadrante estavam indicadas as cidades alemãs que tinham retransmissores. 
O professor da Secundária da Gafanha da Nazaré falou-nos, durante a visita que fizemos à sua colecção, da evolução dos rádios, desde os anos 20 do século passado até aos nossos dias. Os primeiros eram produzidos artesanalmente por técnicos, a pedido dos interessados. A caixa era de metal e nos anos 30 começou a usar-se a madeira. Mais tarde veio a baquelite, que, pelo facto de permitir o fabrico de caixas em série, a partir de moldes, fazia reduzir o preço dos aparelhos. No seu “site” – http://www.cfeci.pt/sites/radiosantigosnoar –, os nossos leitores podem ficar a saber muito mais.


Fernando Martins 

NOTA: Texto publicado no TIMONEIRO; A foto é de hoje (26 de maio de 2015)

Crónica de um Professor

“É em CASAIS NOVOS
que se fazem os Bolinhos d’Amor”
Na diversidade doceira que abundou nesta quadra natalícia, assomou à sua memória, esta inscrição, lida em grandes parangonas e colocada a toda a largura da rua! Na verdade, deparava-se com este anúncio, quando passava por Penafiel, no seu périplo docente, por este país rural. Os ocupantes do Mercedes amarelo, liam, sorriam e comentavam! Era tema para uma dissertação filosófica, entre os professores, com formações académicas diferentes, logo, cada qual, com uma visão particular do assunto. – Pois! Claro que é nos casais novos que se fazem os bolinhos de amor! Pudera! Com todo o manancial que possuem! E... um sorriso brejeiro aflorava ao rosto daquelas criaturas, arrancadas ao sono, a altas horas da matina. Até esqueciam o sacrifício feito, para cumprirem o seu dever profissional. Era esta a afirmação mais recorrente, no grupo, que andava todo na faixa etária dos anos 30! Só o M. mais maduro e experiente nas liças da vida docente e noutras, contrapunha com alguma reserva. Era o mais velho e o único cavalheiro. – E nos casais mais velhos, maduros, experientes? Acham que aí já não há ingredientes para o amor? Eu discordo! Sem o conhecimento empírico que hoje tem do tema, a teacher não podia opinar, com convicção e conhecimento. Mas, como sempre, gostou de ouvir os mais velhos, fonte de sabedoria catalogada (!?), arquivou na sua jovem memória este episódio, mais um, enriquecedor da sua, hoje, ampla experiência de vida. No regresso da Escola, de quando em vez, havia sempre lugar para estacionar o automóvel. Sim, que o veículo conduzido pela M. tinha estofos e gabarito para essa designação! Os outros, dos colegas acompanhantes, a descansar na garagem, lá em casa, eram uns meros carros de passageiros na sua humildade de meio de transporte! Aquele merecia, inteirinho, ser apodado de um automóvel! Por detrás, havia o suporte de um marido industrial... Cansados de um dia de actividade lectiva, não tanto como hoje (!!!), mais por estarem afastados geograficamente das suas residências, ainda sem a comodidade e celeridade dos IPs que tanto aproximam e encurtam as distâncias, lá paravam. Era numa enorme cozinha rústica, de lavrador, que eram confeccionados, vendidos e saboreados, aqueles deliciosos bolinhos de amor! Um forno de larga boca era o foco das atenções dos fregueses, enquanto degustavam os apetitosos docinhos, sentados em toscas mesas, dum ambiente, acolhedoramente, rural. Ainda hoje, volvidos 24 gloriosos anos, a teacher guarda bem, nas suas papilas gustativas, o sabor requintado, exótico, DIFERENTE, daquela especialidade doceira! Que saudade, desses bons velhos tempos! À guisa de conclusão, atreve-se a desafiar o teor daquele anúncio: o amor... tem sabor em qualquer idade!!! Mº Donzília Almeida 02 Janeiro 09

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