“O prazer do colecionador
está
em pegar em algo inútil
e torná-lo útil”
A Gafanha da Nazaré deve muito a pessoas que aqui se radicaram, vindas um pouco de todo o país e até do estrangeiro. Desta feita fomos visitar um transmontano, António Rodrigues, de Vidago, concelho de Chaves, que reside na nossa cidade desde 1995. Licenciado em Física pela Universidade de Aveiro, ingressou na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, como professor, em 1991. Nesta cidade casou e tem um gosto especial pelo coleccionismo, que pratica com paixão. Colecciona rádios antigos, pequenos e de válvulas, que lhe enchem uma sala, devidamente arrumados. E deles fala, com conhecimento e riqueza de pormenores, levando os visitantes a fazer mais e mais perguntas, às quais ele responde com prontidão e entusiasmo. Essa paixão começou com um rádio TELEFUNKEN, avariado, que o sogro lhe ofereceu.
Entusiasmou-se com a ideia de o pôr a funcionar, com a ajuda de um amigo, e tanto bastou para nunca mais parar. Depois desse outros vieram, também avariados, após visitas a Feiras de Velharias em Aveiro. “O gosto começou com a recuperação dos rádios”, adiantou o nosso entrevistado. E logo acrescentou que “o prazer do coleccionador está em pegar em algo inútil e torná-lo útil”.
António Rodrigues tem cerca de 220 rádios quase todos a funcionar, havendo sempre o cuidado de utilizar peças originais e das próprias marcas e épocas, que adquire na Feira da Ladra e outras, mas também pela Internet, mais no estrangeiro do que em Portugal.
Coleccionador atento e estudioso, apoia os seus conhecimentos em literatura que vai comprando e em consultas que faz, no sentido de obter a mais fidedigna informação. A sua colecção não é um armazém de rádios, pois cumpre as mais elementares regras do coleccionismo. Os rádios estão catalogados, com registos técnicos e históricos fundamentais, condições em que os adquiriu e onde. Por isso, visitar a colecção de rádios do professor António Rodrigues é ouvir uma belíssima lição de história, impossível de reproduzir no pouco espaço de que dispomos no jornal.
De relance, pudemos testemunhar a existência de rádios das mais diversas partes do mundo, nomeadamente, da Holanda, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, América, Portugal, Checoslováquia, Áustria e Suíça, ente outros países. E durante a conversa ficámos a saber que o nosso entrevistado consegue identificar a proveniência geográfica e a marca de cada rádio, pois todos denunciam características próprias.
Como raridade, na sua óptica, mostra-nos um aparelho conhecido por EMISSORA NACIONAL, português, também chamado SALAZAR, de 1935. A ele está ligada a Emissora Nacional, ao tempo dirigida pelo Capitão Henrique Galvão, e destinava-se a funcionários públicos. Cada rádio custava 200$00 e podia ser pago em prestações. Mas o mais valioso é um FADA 1000, americano, 1946, custando hoje uns mil euros. É dos primeiros rádios assimétricos e o plástico exterior, “Catalim”, muda de cor conforme a luz ambiente.
Sobre o aproveitamento político deste meio de comunicação social, António Rodrigues exibiu um rádio alemão, o VOLKSEMPFANGER, o rádio do povo. Foi uma criação destinada a difundir a propaganda nazi. Fabricaram-se dezenas de milhões de aparelhos e eram vendidos a preços baratos, para chegarem a todas as famílias. De cor preta, com a águia imperial bem à vista, funcionava apenas em onda média, de curta captação, para impedir a audição de programas radiofónicos estrangeiros. No quadrante estavam indicadas as cidades alemãs que tinham retransmissores.
O professor da Secundária da Gafanha da Nazaré falou-nos, durante a visita que fizemos à sua colecção, da evolução dos rádios, desde os anos 20 do século passado até aos nossos dias. Os primeiros eram produzidos artesanalmente por técnicos, a pedido dos interessados. A caixa era de metal e nos anos 30 começou a usar-se a madeira. Mais tarde veio a baquelite, que, pelo facto de permitir o fabrico de caixas em série, a partir de moldes, fazia reduzir o preço dos aparelhos. No seu “site” – http://www.cfeci.pt/sites/radiosantigosnoar –, os nossos leitores podem ficar a saber muito mais.
Fernando Martins
NOTA: Texto publicado no TIMONEIRO; A foto é de hoje (26 de maio de 2015)