segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Jardim Oudinot Renovado e Convidativo

 


Parabéns! Esta é a palavra mais justa para quantos idealizaram e avançaram com esta prenda para os amantes da natureza e do prazer da vida ao ar livre. Para os nossos autarca e APA (Administração do Porto de Aveiro), mas também para quantos, ao longo de décadas, lutaram para que as obras dos portos não eliminassem, pura e simplesmente, o Jardim Oudinot, que os nossos pais e avós usufruíram, em horas festivas ou de descanso. 
Não pude estar presente, como gostaria, mas soube, à distância, da inauguração. Hoje fui lá e gostei. Gostei bastante de ver muita gente a passear e a apreciar o que foi feito. O bom gosto impera e o povo saberá gostar desta prenda, merecida, que lhe deram. A Gafanha da Nazaré e todo o concelho de Ílhavo têm, agora, um espaço condigno que estará aberto a quem o desejar. Todos quantos gostam da Ria, da vida sã, da maresia e da tranquilidade que as águas mansinhas da laguna inspiram. 
As árvores e arbustos plantados, mais a relva verdinha que já desponta, com a ajuda da rega automática, são motivos para nos atraírem para ali. 
Quem gostar de caminhar, quem precisar de exercícios de manutenção física e mental, quem gostar de meditar olhando a água e as aves que cirandam por ao sabor do aragem que o céu azul emoldura, quem necessitar de afugentar o stresse e quem apreciar a calma que um ambiente sadio proporciona têm agora um parque de lazer, para todas as idades e para todos os apetites. 
Passei hoje pelo renovado Jardim Oudinot, mas voltarei muitas vezes. Os meus parabéns para todos nós. 

F. M.

MULHER DE GRANDE FÉ

A relação humana está sempre condicionada pela identidade do masculino e do feminino e pela reciprocidade de ambos. É uma constante que brota da natureza e se educa pela cultura e pela religião. Homem e mulher, entre si, não são apenas complementos ou sobreposições, nem estão “condenados” à competitividade ou anulação. Pelo contrário, estão chamados a realizar em comum a missão recebida de cuidar da terra e da vida, manifestando o rosto benigno de Deus presente e actuante nas atitudes de cada um. Também no campo religioso.
O episódio da cananeia é uma preciosidade do Evangelho sobre a relação de Jesus com a mulher e, nesta forma de relacionamento, uma novidade em todo o universo religioso. A cena tem como protagonistas principais: A mãe aflita pela doença da filha, os discípulos e Jesus. O fio condutor passa pelo diálogo – por vezes desconcertante – entre eles, mas em que sobressai a mulher-mãe.
Jesus actua em contracena ao que se esperava: silêncio perante o pedido feito, resposta “seca” aos discípulos que se haviam interposto, sentença desconcertante face à insistência da mãe aflita e, finalmente, assentimento e concessão do bem desejado.
É verdadeiramente em contracena pois o seu modo de agir com as mulheres caracteriza-se pelo maior respeito: nunca feriu a sensibilidade feminina, por palavras ou atitudes; nunca evocou o estatuto de inferioridade social a que estavam votadas; nunca desvalorizou a missão da mulher. Pelo contrário, relaciona-se com normalidade, acolhe as que o procuram, enaltece as suas capacidades, aceita a sua companhia na “obra” da missão e encarrega algumas de funções muito específicas.
À luz do proceder normal de Jesus, e apesar do muito que já se andou no reconhecimento e na aceitação do “papel” da mulher na Igreja, quanto é preciso progredir para destrinçar as “capas” culturais das verdadeiras razões bíblicas e teológicas. Destrinçar e agir em conformidade.
Mas a heroína é a mulher-mãe. Apenas uma preocupação a domina: a cura da sua filha que sofria horrivelmente. Nada pede para si. Nada teme enfrentar: nem o desprezo, o ridículo ou a ironia. Está decidida a tudo. Entra em sintonia com Jesus. Aceita migalhas em vez de pão, pois estas também são dadas aos cachorrinhos. O importante é que a sua filha seja liberta do mal.
E Jesus “aprende” com a atitude desta mulher estrangeira. Abre-se a outros horizontes da missão. Liberta-se do reduto judaico. Antevê horizontes mais vastos: Também os “gentios” são chamados para a mesa do Senhor, a comer do seu pão, a beber do seu vinho.
O diálogo da cananeia com Jesus é admirável. Ela, uma mulher simples, revela as suas capacidades persuasivas para alcançar o que deseja, deixa-se guiar pelo coração inteligente e pela vontade decidida, tal o amor à filha e a certeza na eficácia da autoridade de Jesus. A sua confiança e paciência, a sua humildade e insistência provocam “uma brecha” na reserva de Jesus, tocando as fibras mais sensíveis do seu ser e as prioridades do seu agir missionário. E ela, que soube fazer da necessidade a sua maior virtude, obtém não apenas a cura da filha, mas o elogio mais rasgado da sua fé.
Georgino Rocha

domingo, 17 de agosto de 2008

FÉRIAS: Notas do Meu Diário

FORA DO MUNDO, NO MUNDO
Parti para férias, a 2 de Agosto, liberto de compromissos e de olhos postos no Portugal mais quente. Para trás, ficou o meu quotidiano de muita ocupação, às vezes de nadas. Senti que era importante repensar atitudes e alterar comportamentos, numa perspectiva de encher a vida de coisas mais úteis, quiçá de substratos mais consistentes e mais enriquecedores. Deixei computador, jornais, revistas, televisão e rádio. Tudo o que psicologicamente me envolvesse plenamente. Apenas a ideia de ler uns livros, se possível, mas com calma. Deixei em casa a necessidade de abrir, em qualquer sítio, as caixas do correio electrónico. Deixei o hábito de estar a par, via Net, do que se passava no mundo. Deixei passar para a terra que pisava as cargas electromagnéticas que me alimentavam o stresse. Abri o espírito a horizontes mais azuis e a temperaturas mais quentes que o nosso País oferece a quem ali, no Algarve, procura encontrar-se consigo próprio, com os outros (os mais íntimos, sobretudo) e com Deus. A viagem, sob forte calor, tornou-se cansativa para a minha débil resistência. Almoço em Évora, no restaurante Cozinha da Santo Humberto, já conhecido de outras andanças por aquelas bandas. Embora inapropriado para o dia quentíssimo, apostei no ensopado de borrego. Os pratos típicos sempre nos dão sabores agradáveis. Foi o caso. Na casa que nos esperava, no aldeamento Pedras da Rainha, iniciei o meu período de férias deste ano. A alma estava cheia de tranquilidade. E do prazer de estar fora do mundo, no mundo. 2 de Agosto FM

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 90

MÉTODOS
Caríssima/o: E como se ensinava nos idos de quarenta e de cinquenta dos últimos século e milénio, com todas as limitações com que se deparavam professores e alunos? Ou melhor: como aprendíamos? Logo à partida, a voz do professor e o quadro. Tudo o professor explicava, exemplificava, demonstrava com a voz; se fosse caso disso e oportuno, um esquema ou desenho no quadro. Depois o aluno lia, relia, praticava, memorizava: a aprendizagem seria tanto melhor quanto mais se aproximasse do modelo apresentado pelo professor. A base experimental fornecia-no-la a vida em família e no campo, onde já tinha sido observado e experienciado muito do que era lido e decorado. As crianças então passavam os seus tempos livres em contacto directo com a natureza – nas sementeiras e nas colheitas, a cuidar dos animais ( desde a alimentação, ao fazer da cama, o colher dos ovos, o mungir as vacas e as ovelhas, a matança do porco...). Também as compras na loja, com os respectivos pagamentos e trocos, eram tarefas dos pequenos – e ai se faltava um tostão! Apregoa-se que todo o ensino tinha por base a memória e que o trabalho do aluno se baseava na repetição. Porém, pelo que fica dito acima, dá ideia de que não seria bem assim... Mesmo aceitando esse apriorismo, não podemos esquecer o treino da vontade, da disciplina e do trabalho... Veremos mais tarde que, adquiridas as noções básicas (tabuadas, conjugações dos verbos, ...) e as automatizações, muito se treinava o cálculo mental e se apelava à inteligência na resolução de problemas aritméticos (que aprenderíamos depois a resolver nas regras de três simples, nas equações e nos sistemas de duas equações). Chegando a altura de fazer um estudo comparativo de metodologias e processologias, bom será que se equacionem todas as premissas e componentes, partindo do aluno, passando pelo professor e indo até ao social e enquadramento natural. Manuel

AGITAÇÃO PARALISANTE E PARALISIA AGITANTE

A questão que o Homem é para si mesmo mostra-se paradoxal. Por um lado, é inevitável: o abismo insuperável entre o que espera e quer ser e o que realmente alcança obriga-o a perguntar: o que sou? Que ser é este entre ser e não ser e que nunca é plenamente? Por outro lado, a questão é insolúvel, porque, para conhecer--se, o Homem precisava de saltar para fora de si em ordem a poder ver-se de fora, objectivamente. Ora, precisamente este salto é impossível.
Depois, o Homem vive-se a si mesmo em processo e em tensão. E são muitas as suas tensões. Lá está sempre a pulsão e a lógica, a afectividade e o pensamento, o inconsciente e o consciente, a emoção e o cálculo, o impulso e a razão. Aliás, essa tensão inscreve-se numa base neurofisiológica - há o cérebro que funciona holisticamente, mas com três níveis: o paleocérebro, o cérebro arcaico, reptiliano, o mesocéfalo, o cérebro da afectividade, e o córtex com o neocórtex, em conexão com as capacidades lógico-racionais. Não é sabido, até por experiência própria, que muitas vezes as respostas emocionais escapam ao controlo racional por causa do chamado "atalho neuronal" e do "sequestro emocional", como mostrou Paul D. Mac Lean? De repente, demos uma resposta a alguém de que depois nos arrependemos, a pulsão sobrepôs-se à razão...
É verdadeiramente paradoxal a constituição humana. Somos constituídos e vamo-nos constituindo a partir de uma herança genética e de uma história, numa determinada cultura. É próprio do Homem não ter uma natureza fixa e imóvel, porque é histórico e cultural. Somos afectivos e racionais. Ninguém começa com a inquirição racional do mundo. Primeiro, o ser humano sentiu o mundo e foi afectado por ele, positiva ou negativamente. É muito lentamente que a razão se vai erguendo no seu uso teórico-prático.
Anselmo Borges
Leia todo o texto em DN

sábado, 2 de agosto de 2008

FÉRIAS

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Nos próximos 15 dias, estarei de férias, algures onde possa respirar um ar diferente, para conviver com familiares e com os meus sonhos. No regresso, estarei rejuvenescido e pronto para outro ano de trabalho, ao sabor das minhas capacidades e obrigações. Também com presença assídua no mundo da blogosfera. Boas férias para todos os meus amigos.
Fernando Martins

QUARENTA ANOS DEPOIS: A 'HUMANAE VITAE'

"Ano das decisões" chama Hans Küng, no segundo volume das suas "memórias", ao ano de 1968: um ano de ruptura na Europa e na América do Norte, também porque foi o ano da explosão do movimento da revolta estudantil. Nesse ano, aconteceu Maio de 68, Martin Luther King foi assassinado, Moscovo esmagou a "Primavera de Praga". Ficou sobretudo a revolução cultural, com a utopia, a crítica social, o fim das convenções, a autonomia e a auto--realização, a procura de estilos alternativos sob o slogan: "Make love, not war." Neste contexto e com a data de 25 de Julho de 1968, Paulo VI publicou a Humanae Vitae, proibindo, contra a maioria da Comissão papal, constituída por teólogos e peritos de diferentes especialidades, a contracepção artificial - em linguagem corrente, a encíclica contra a pílula. Indo contra todas as expectativas, foi uma enorme decepção. Lembro-me de que me encontrava então na Holanda e como o cardeal Alfrink, arcebispo de Utreque, foi à televisão acalmar os ânimos, dizendo que esta não era a última palavra. Por todo o mundo, bispos, teólogos e padres, perante a descredibilização da Igreja, tentaram o mesmo: conter o abalo. Por causa da encíclica, Hans Küng enfrentou a infalibilidade papal num livro célebre: Unfehlbar? (Infalível?), substituindo a infalibilidade pela indefectibilidade: "a Igreja manter-se-á na verdade do Evangelho, apesar dos erros (não sem erros), sempre possíveis." Paulo VI era um homem inteligente, culto, democrata e reformador. Depois da morte de João XXIII, ousou continuar o Concílio, publicou encíclicas históricas, como a Populorum Progressio, foi à ONU defender os direitos humanos, assumiu a responsabilidade histórica de aplicar o Concílio, estava na disposição de acabar com a lei do celibato obrigatório, se os bispos num Sínodo tivessem votado favoravelmente - quem sabe disto? Mas era também um homem tímido e hesitante e, face ao vendaval da aplicação conciliar e à revolução sexual em curso, receou uma hecatombe. À distância de 40 anos, julgo que a mensagem essencial da Humanae Vitae era: no domínio sexual, não vale tudo. Nos seus recentes Jerusalemer Nachtgespräche (Conversas nocturnas em Jerusalém), o cardeal Carlo Martini reconhece que o facto de Paulo VI ter subtraído o tema aos Padres conciliares, para assumir "a solidão da decisão" de modo totalmente pessoal, "não foi um bom pressuposto". À distância de 40 anos e face aos aspectos positivos da encíclica, mas também aos seus "estragos", poderíamos ter "uma nova perspectiva". "Estou firmemente convencido de que a direcção da Igreja pode mostrar um caminho melhor. A Igreja recuperará credibilidade e competência." "É um sinal de grandeza e autoconsciência alguém confessar os seus erros e a sua visão estreita de ontem." Assim, embora não seja provável que o Papa revogue a encíclica, o cardeal espera que possa escrever uma nova, que vá mais longe: "É legítimo o desejo de que o Magistério diga algo de positivo sobre a sexualidade." O equívoco da encíclica é a sua concepção de uma natureza fixa e imóvel, centrada na biologia. Ora, por um lado, a sexualidade humana não se reduz à biologia, pois tem de integrar múltiplas dimensões - a biologia, a afectividade, a ternura, o amor, o espírito - e, por outro, a ética não tem um fundamento naturalista e biologista. Depois, é próprio da natureza do Homem ser histórico e cultural e intervir artificialmente, com responsabilidade, na natureza. Há quem insinue - sem razão? - que o mal-estar da Igreja em relação ao sexo provém do medo do poder contra o prazer. Mas a Igreja tem de reconciliar-se com o corpo, a mulher e a sexualidade. Não confessa o cristianismo que Deus mesmo em Cristo assumiu a humanidade em corpo? O Papa não pode continuar, nas suas visitas pastorais, a ter de pedir constantemente desculpa pelos padres pedófilos. A pedofilia é um crime e é incompatível com o sacerdócio. A Igreja tem de ser uma instituição fiável, mas há quem pense que, neste domínio, enquanto se mantiver a lei do celibato obrigatório, ela estará sob o fogo da suspeita.