quarta-feira, 5 de março de 2008

SUBSÍDIOS PODEM GERAR DEPENDÊNCIAS


Os jornais disseram que a CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais) recebe, anualmente, milhares de euros para poder desempenhar o seu papel de defensora dos interesses dos pais e dos alunos das nossas escolas. Sempre me repugnou a ideia de instituições como esta receberem subsídios do Estado. Porquê? Pela simples razão de que podem perder a independência face aos poderes instituídos.
Aceito, porém, que possam receber comparticipações para projectos de formação que contribuam para o desenvolvimento dos membros das instituições. Eu acho, no fundo, que as associações, sejam elas quais forem, devem ser o reflexo dos seus membros, os quais têm a obrigação de sustentar aquilo que lhes dá prazer. Sei de uma Câmara, a de Ílhavo, concretamente, que ajuda as instituições mediante contrapartidas ou parcerias, ou projectos de natureza social, cultural ou outra. Dar por dar não está na sua agenda. E nem deve estar, a meu ver.
Se o Estado se habituar a dar subsídios regulares, é certo e sabido que gera dependências, criando nas pessoas o hábito de se acomodarem à facilidade da vida. O Estado pode e deve estimular o associativismo, a solidariedade, o envolvimento das pessoas em acções de âmbito diverso, mas nunca sustentar instituições. Subsídios eventuais, repito, vá que não vá. Mas não mais do que isso.

FM

O PÚBLICO faz 18 anos


O PÚBLICO faz hoje 18 anos. Em termos humanos atingiu a maioridade. Sob o ponto de vista jornalístico já nasceu adulto e responsável. É, desde o primeiro número, o meu jornal diário. Só não o leio por motivos de força maior: doença ou outros incómodos. E quando isso acontece, fico com a sensação de um certo vazio. Depois, até chego à conclusão de que, na verdade, aconteceu algo de importante a que não tive acesso.
O PÚBLICO é considerado um diário de referência. No dia-a-dia traz o essencial do País e do mundo. Mas com frequência não me mostra o que aconteceu na minha rua, nem aborda alguns temas de que gostaria. Contudo, o fundamental, o retrato do quotidiano e a perspectiva do futuro próximo, vem lá.
Fico sempre satisfeito com o que publica? Não. Por vezes revolta-me a importância que dá a banalidades, a mexericos, a denúncias não suficientemente esclarecidas, a sensacionalismos… Mas talvez isso seja hoje uma forma de condescender com a (inevitável) procura de novos leitores e mais publicidade, base da sustentabilidade económico-financeira de um qualquer órgão de comunicação social. De qualquer modo, continuo a cultivar o princípio de que nem sempre os fins podem justificar os meios.
Parabéns ao PÚBLICO e a quantos o fazem no dia-a-dia, em luta constante pela qualidade.

FM

terça-feira, 4 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Vencer o Pessimismo

1.
Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.

Alexandre Cruz

AVEIRO SEM TGV?


Diz-se que o TGV vai passar por Albergaria-a-Velha, preterindo Aveiro. Diz-se, também, que tal acontece por razões técnicas. E o povo de Aveiro, que sempre teve os comboios ao pé da porta, fica deste vez a ver navios, que também já se foram.
Estou a lembrar-me das histórias que me contaram, em menino: Se não fosse o José Estêvão, a Linha do Norte passaria por Águeda, perdendo a cidade dos canais em toda a linha.
Cá para mim, José Estêvão faz muita falta. Ou políticos como ele, que trazia a alma de Aveiro sempre à flor da pele e na ponta da língua, que escrever não era com ele, ao que parece.
Outros tempos, estes que agora vivemos. Nem o TGV seguramos. Será por toda a gente, ou quase, ter automóvel, cá por estas bandas?

FM

GOVERNO E PROFESSORES EM GUERRA


MEDIAÇÃO É URGENTE

Ontem, no Prós & Contras, o tema foi mais uma vez sobre o conflito entre Professores e Governo. Os convidados debitaram as suas doutas opiniões, enrolando-se algumas vezes, pelo desconhecimento perfeito que tinham das razões da “guerra”. Mas por fim lá veio uma proposta interessante, do neurocirurgião João Lobo Antunes, que mereceu aplausos de muitos. Isto, dizia ele, tal como está, já não vai pelo diálogo. Só uma mediação, protagonizada por gente independente e de reconhecido mérito, poderá sanar o conflito. Também me parece. Que pare a “guerra”, que sejam nomeados os representantes de ambas as partes, que se estudem as propostas governamentais e as contrapropostas dos professores, que tudo seja bem explicado à classe que tem por missão formar os homens e mulheres de amanhã e que não se esqueçam dos pais e muito menos das crianças. Entretanto, as aulas têm de continuar, os professores têm de ensinar, os alunos têm de aprender…
No final, a mediação dita a solução ideal. Bom trabalho a todos…

FM

A miragem da ressurreição


Mete-se pelos olhos dentro uma espécie de desencanto depressivo que se difunde e contagia. Copiam-se e colam-se textos e declarações de tempos idos mais próximos ou remotos que repetem até à exaustão esta fatalidade de ser português neste oeste da Europa. E sobem as comparações, raramente documentadas, com a excelência do "lá fora" para se impor a conclusão de que estamos encurralados na nossa mediocridade sem honra nem remissão. À porta do desespero. Ingovernáveis na violência, na insegurança, no desemprego, nas crises sucessivas de autoridade e autoridades que parecem conduzir-nos na justiça, saúde e educação a uma proximidade do abismo que brada por um qualquer messias, como já noutros tempos aconteceu.
Já era alegria, na romagem para Jerusalém, avistar a cidade santa. Tal como o horizonte da Terra Prometida animava o povo na sua caminhada árdua e aparentemente inglória.
O actual Papa ao propor-nos a Esperança como o grande horizonte para além dos horizontes, certeza para além das hipóteses, plenitude para lá das nossas estreitas métricas, dá-nos a chave para o entendimento da história e o ímpeto para prosseguirmos viagem. Sem esquecermos que a esperança também somos nós. Que a fazemos, alimentamos, muito para além de sentimentos ou pressentimentos ocasionais. Na certeza do nunca alcançável em pleno enquanto andarmos por cá.
Por isso se precisa mais de quem aponte caminhos e semeie a esperança do que de profetas azedos que se divertem na sua literatura de cordel semeando crispações e proclamando liberdades à sua medida.
Os cristãos são chamados a uma leitura serena e sábia da história, mas também à miragem da ressurreição em todas as mortes que vão acontecendo. Nada adianta ficar a chorar junto à pedra do túmulo. Importa rolá-la para entender que a ressurreição acontece em todo o processo redentor.

António Rego

LIVROS PARA MOÇAMBIQUE


Leitor atento e solidário fez-me chegar um apelo de uma professora sua amiga que se encontra a trabalhar em Moçambique, numa escola de formação de professores. Nesta altura, a sua amiga professora, a Vanessa, é também responsável pela biblioteca da escola, que está na fase de organização. Como é normal, a biblioteca tem pouquíssimos livros. O país é pobre e não há possibilidades de montar, de raiz, uma biblioteca minimamente equipada.
A Vanessa, contudo, não é pessoa para desanimar. E como é pessoa prática e entusiasta, resolveu recorrer aos amigos, solicitando livros. Foi o que fez, prometendo enviar fotos da biblioteca e dos livros que forem enviados. Diz ela que os livros podem ser em Português ou Inglês.
Já agora, permitam-me um conselho: Não estejam à espera de encher um contentor; enviem pelo correio os que puderem.

Aqui fica o endereço:

Jorgen Ohre
ADPP-Escola de Professores do Futuro
GAZA
C.P. 489 Maputo
Moçambique

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