domingo, 9 de dezembro de 2007

ARES DO OUTONO





PRAIA DA BARRA
Vou à Praia da Barra desde que me conheço. De Verão ou de Inverno. Na Primavera ou no Outono. Todas as ruas, mesmo as mais recentes e fruto de uma urbanização com base no cimento armado, me são familiares. De tal modo que, quando passo, é frequente encontrar gente conhecida. De perto ou de longe. Hoje, com ameaças de chuva, lá fui mais uma vez. Com o Farol da Barra a dominar a paisagem desde há uns cem anos. De qualquer canto, ele desafia-me a fixá-lo na minha máquina. No areal deserto, nem marcas de gente havia. E mais ao fundo, a boca da barra dá passagem a navios que entram e saem constantemente. Quer chova quer faça sol. Num contínuo movimento que renova a paisagem a cada olhar.


O GRANDE DILEMA

“Será necessário, para obter segurança, dialogar com criminosos, apertar a mão a torturadores, tratar quaisquer déspotas de democratas, esquecer guerras e fomes, deixar entre parêntesis a corrupção, alimentar a cleptocracia e debitar, com ar confiante, longos discursos de lugares-comuns optimistas congratulatórios? Será que o preço que tem de se pagar pela paz inclui a criação e a manutenção de uma Nomenclatura internacional imune, impune e “off shore”? Será que o próprio desta casta é o hotel de cinco estrelas, o caviar, os vintages caríssimos, a trufa branca e os aviões transformados em lupanares de luxo?” António Barreto, no PÚBLICO de hoje NOTA: Escrevi ontem sobre a Cimeira UE-África, admitindo a necessidade de se receberem os ditadores, os sanguinários e os corruptos, porque provocar a sua marginalização seria pior. Perder-se-ia a oportunidade de diplomaticamente os sensibilizar para os valores da democracia, entre outros. António Barreto levanta nesta sua crónica a questão, com perguntas pertinentes, que aqui ofereço aos meus leitores, para reflexão.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 52


LENDA DO ABADE DE PRISCOS

Caríssima/o:

Desde logo uma interrogação: que é um «prisco»?
Os dicionários registam a palavra como adjectivo e significando “antigo”; mas no Diário da República III Série de 06/06/2003, onde se faz a descrição das armas desta freguesia, lá aparece: «...com três priscos (penhascos pequenos) de negro, alinhados em faixa...». Portanto, prisco é um penhasco pequeno.

E agora que lenda vamos encontrar em Priscos?
Os “livros “ falam como gente:
«Lenda do Abade de Priscos, Papa de Cozinheiros».(Cf. Sítio da freguesia de Priscos)
E acrescentam:
«Da história da freguesia, ressalta a figura do Abade de Priscos, de seu nome Manuel Joaquim Machado Rebelo. Pároco da freguesia de Priscos, onde esteve colocado quase cinquenta anos, foi um dos maiores cozinheiros portugueses do século XIX, imortalizando uma receita de pudim. »

Remando para outra fonte, a Wikipédia, pode ler-se:

«O Pudim Abade de Priscos é um
pudim típico de Braga, sendo uma das poucas receitas que o Abade de Priscos transmitiu para o público.
O pudim ficou conhecido quando Pereira Júnior, director do Magistério Primário feminino de Braga, no antigo
Convento dos Congregados, pediu ao Abade de Priscos receitas para ensinar no magistério.

O pudim é confeccionado num tacho de
latão ou cobre onde é colocado meio litro de água. Quando esta estiver a ferver, coloca-se meio quilo de açúcar, uma casca de limão, um pau de canela e cinquenta gramas de toucinho (é proposto que seja gordo e de preferência de Chaves ou de Melgaço) e deixa-se ferver até atingir ponto espadana. Batem-se quinze gemas e mistura-se-lhes um cálice de vinho do Porto até ficar em meio ponto, depois de bater novamente. A calda de açúcar é, então, vazada através de um coador fino para uma tijela onde estão as gemas, mexendo-se tudo. Barra-se uma forma com açúcar em caramelo e deita-se aí o preparado que é posto a cozer durante 30 minutos em banho-maria. O pudim é desenformado quando estiver quase frio.»

Assim sendo, na companhia da Maria Beatriz, vamos fazer a prova desta delícia culinária e, já agora, incorporá-la no cardápio da Avó!

Manuel

ADERAV tem petição na Internet




Com o objectivo de alertar para a situação de degradação em que se encontram as igrejas geminadas de Santo António e de S. Francisco, em Aveiro, e incentivar a sua recuperação, a ADERAV – Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, tem uma petição na Internet, que pode ser “assinada” em www.aderav-aveiro.blogspot.com A igre-ja de Santo António, que integrou o extinto convento, remonta ao século XVI, e a antiga capela da Ordem Terceira de S. Francisco teve origem no século seguinte. Os dois templos comunicam interiormente, formando um conjunto arquitectónico classificado, facto que não impede que tenham sofrido uma acentuada degradação, nomeadamente no que se refere aos painéis de azulejos e revestimentos cerâmicos, às talhas douradas e às pinturas sobre madeira.Para a ADERAV, a recuperação deste conjunto arquitectónico ainda é possível, de acordo com um estudo elaborado por uma equipa do Centro de Res-tauro e Conservação da Universidade Católica do Porto, que avalia em 415.000 euros o investimento necessário para a sua recuperação, montante ao qual se deverão acrescentar as despesas de engenharia civil inerentes à recuperação do próprio edifício.

Fonte: CV

sábado, 8 de dezembro de 2007

BISPO DE AVEIRO




D. António Francisco
está entre nós há um ano

Completa-se hoje, 8 de Dezembro, um ano sobre a entrada de D. António Francisco dos Santos em Aveiro, como Bispo da Diocese. Há um ano, não pude, por razões por demais conhecidas dos meus amigos, estar presente na cerimónia que decorreu na Sé, mas não faltei hoje à Eucaristia de acção de graças pela missão episcopal de D. António e de ordenação do diácono Filipe Coutinho, rumo ao presbiterado.
No silêncio da Catedral, durante bons minutos, recordei todos os bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que bem conheci. Com alguns deles colaborei no seu labor pastoral, à medida das minhas disponibilidades e das minhas capaci-dades. A minha memória, recuando algumas décadas, mostrou-me quanto a diocese, a cidade de Aveiro e sua região devem a esses bispos, todos diferentes, mas todos em sintonia com as necessidades espirituais do povo de Deus que lhes foi entregue. Direi mesmo que as suas diferenças, temperamentais sobretudo, se mostraram complementares, ou não exigissem os contrastes, que marcam a maneira de ser e de estar de povos da ria, do mar, do Vouga e da serra, respostas pastorais diversificadas.
À homilia da missa desta tarde, D. António Francisco frisou que celebrava este primeiro aniversário com todos os aveirenses, “na partilha, na oração, na alegria e no compromisso pastoral”, sublinhando que já não saberia viver sem nós.
Considerando que é hora de olhar em frente, face aos desafios lançados, em Novembro, pelo Papa, aos bispos portugueses, durante a visita ad limina, D. António Francisco recordou a importância do serviço aos mais pobres. Referiu, depois, a urgência “da criação de estruturas para a missão” e de “espaços onde as pessoas se encontrem com Deus”. Quanto a ele, o Bispo de Aveiro prometeu que vai continuar “próximo e irmão” de cada um de nós.
Permitam-me que sublinhe esta faceta de D. António Francisco, no relacionamento com as pessoas. Pelos poucos contactos que mantive com ele, não pude deixar de registar a facilidade com que se mantém próximo dos que o procuram, a naturalidade com que os escuta, a simplicidade com que avança com propostas pastorais, a convicção com que afirma a fé que o anima. Por isso, a certeza que mantenho de que Aveiro saberá estar com o novo Bispo, sobretudo nesta hora da renovação de mentalidades e de atitudes, conforme pediu Bento XVI, na linha da concretização do Vaticano II, que muitos teimam em manter nas gavetas das sacristias.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



O DIA DOS DIAS

1. 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Dia (con)sagrado que no meio do séc. XX representa um ponto de chegada (e de partida) na recepção da dignidade humana como patamar de todas as realizações. Até esta “meta volante” ser assinalada na Convenção de Paris, a 10 de Dezembro de 1948, tragicamente, foi muito o sangue derramado pelas duras intolerâncias da menoridade humana. A partir deste dia, construído também na base das grandes mensagens de dignidade revelada que vão percorrendo os séculos, o “TEMPO” histórico ganha uma nova contagem. 10 de Dezembro, representará, assim, o dia para todos os dias, o sentido do comum ideal a ser atingido por todas as nações, pessoas, instituições, comunidades.
2. Uma nova ordem se abriu no pensamento-acto humano. A comum dignidade de todos os seres humanos, (re)encontrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, integrando o melhor dos “possíveis” até esse presente, vence as limitações das anteriores coordenadas humanas, particularmente da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto de 1789). Nesta, ainda na incapacidade humana limitada de que viria a ser reflexo a emergência de nacionalismos de exclusão da “diferença”, não tinham lugar nem a “mulher” nem o não-cidadão, o que vagueia pela rua ou é de etnia diferente… Hoje não celebramos, pois, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) mas sim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), celebramos a dignidade humana que supera (e dá fundamento na ordem do SER) todas as concepções de cidadania da legalidade das incertas e procuradoras razões de estado.
3. Para o séc. XXI, desta herança de dignidade como imperativo ético, ergue-se a pergunta: e “os outros” (que afinal podemos ser nós)? A “alma” do 10 de Dezembro, celebrado em múltiplas iniciativas, acontecimentos, cimeiras (…) e reflexões, relança-nos aquela pergunta do livro Génesis: “que fizeste do teu irmão?” Essa pergunta ao longo da história foi merecendo e continua a merecer muitas respostas. A busca da resposta do (essencial) ideal humano faz reinterpretar todos os sistemas e níveis do conhecimento contemporâneo, dos mais abstractos aos mais concretos da ordem social comum, pois dos 30 artigos de 1948, continua a destacar-se o 29º em que todos “têm deveres para com a comunidade”. Estes comprometem-nos na liberdade democrática responsável e dizem-nos que enquanto a dignidade humana não brilhar assumidamente em tudo o que “somos” e “fazemos” vivemos a história incerta da procura da “TERRA-PÁTRIA” da unidade plural de que nos fala Edgar Morin.

Alexandre Cruz

O drama de receber ditadores



A Cimeira UE-África, que está a decorrer em Lisboa, acordou muita gente para a triste realidade de termos de conviver, dentro do possível, com ditadores e corrupto. Alguns deles sanguinários. As exigências políticas e as obrigações diplomáticas têm destas coisas. Quantas vezes, na vida, mesmo sob o ponto de vista particular ou social, temos de estar lado a lado com gente dessa, obviamente à nossa escala. De qualquer modo, e aceitando a opinião de muitos, os ditadores não podem ser marginalizados, mas devem ser envolvidos pelas nossas estratégias, sempre numa perspectiva de os levarmos a reconhecer os valores da democracia e dos direitos humanos.
Naturalmente que não será de um dia para o outro que essa gente reconhecerá que não estamos em tempos de ditaduras e de atropelos aos valores que nos enformam, de tolerância, de liberdade, de democracia e de justiça social. Daí que Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, tenha dito que está com pessoas com quem sua mãe gostaria que não estivesse. Acrescentou, depois, em entrevista a uma televisão, que o povo não tem culpa dos ditadores que tem, pelo que a UE não pode deixar de apoiar quem passa fome e outros horrores. A UE não patrocina iniciativas dos ditadores e corruptos, mas dá a mão, através de organizações não governamentais, às populações que se encontram na miséria.
Desta forma, a UE vai mostrando que não está com os ditadores, que não os ajuda, que não alinha com tiranos, mas que ajuda, isso sim, populações sem conta que estão na miséria extrema. Por estas é que a Cimeira UE-África aceita a participação de ditadores, sanguinários e corruptos. Se, afinal, não queremos estar lado a lado com esses, queremos e devemos estar com os oprimidos.

Fernando Martins
Foto: José Sócrates e Durão Barroso

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