sábado, 8 de dezembro de 2007

O drama de receber ditadores



A Cimeira UE-África, que está a decorrer em Lisboa, acordou muita gente para a triste realidade de termos de conviver, dentro do possível, com ditadores e corrupto. Alguns deles sanguinários. As exigências políticas e as obrigações diplomáticas têm destas coisas. Quantas vezes, na vida, mesmo sob o ponto de vista particular ou social, temos de estar lado a lado com gente dessa, obviamente à nossa escala. De qualquer modo, e aceitando a opinião de muitos, os ditadores não podem ser marginalizados, mas devem ser envolvidos pelas nossas estratégias, sempre numa perspectiva de os levarmos a reconhecer os valores da democracia e dos direitos humanos.
Naturalmente que não será de um dia para o outro que essa gente reconhecerá que não estamos em tempos de ditaduras e de atropelos aos valores que nos enformam, de tolerância, de liberdade, de democracia e de justiça social. Daí que Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, tenha dito que está com pessoas com quem sua mãe gostaria que não estivesse. Acrescentou, depois, em entrevista a uma televisão, que o povo não tem culpa dos ditadores que tem, pelo que a UE não pode deixar de apoiar quem passa fome e outros horrores. A UE não patrocina iniciativas dos ditadores e corruptos, mas dá a mão, através de organizações não governamentais, às populações que se encontram na miséria.
Desta forma, a UE vai mostrando que não está com os ditadores, que não os ajuda, que não alinha com tiranos, mas que ajuda, isso sim, populações sem conta que estão na miséria extrema. Por estas é que a Cimeira UE-África aceita a participação de ditadores, sanguinários e corruptos. Se, afinal, não queremos estar lado a lado com esses, queremos e devemos estar com os oprimidos.

Fernando Martins
Foto: José Sócrates e Durão Barroso

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