Ainda bem que o discurso do Papa aos bispos portugueses não passou despercebido e deu ocasião a muitas interpretações e reflexões, não faltando quem julgasse e pensasse que o Papa os censurou duramente e os humilhou perante os seus diocesanos, a Igreja e a sociedade. O discurso está publicado desde a primeira hora. Cristãos e agnósticos reagiram, mais estes que os outros, e pronunciaram-se, nem sempre com critérios correctos de leitura e apreciação, tanto sobre o Papa como sobre o seu discurso.
Ouvido Bento XVI, achei as suas palavras oportunas e interpeladoras para o momento que vivemos. Falou-se, por lá e por cá, na deficiente tradução. Mas isso em nada impede a compreensão e muito menos uma tradução viva e coerente, feita por via de zelo, reflexão e acção. Ora esta depende dos bispos em conjunto, de cada bispo com os seus colaboradores, dos cristãos acordados e dispostos a andar e a colaborar, para que a Igreja tenha sentido no presente e seja orientação para o futuro dos crentes.
Aos atentos não lhes passa despercebida a preocupação dos bispos para que, num mundo em mudança cultural e ante os ataques frequentes à Igreja e à sua acção pastoral, bem como às instituições fundamentais da sociedade, como a família e seus membros, se encontrem caminhos novos capazes de traduzir hoje para todos, de modo compreensivo e motivador, o Evangelho de sempre. No campo que é próprio de cada um, com preocupação idêntica e iguais dificuldades se debatem muitos outros responsáveis sociais, em relação aos seus objectivos. O relativismo, a preocupação de nivelar por baixo, o individualismo exacerbado, a anarquia mental e moral põem ao sabor do vento corações e cabeças, muitas casas onde vive gente séria, que quer acertar.
A dificuldade de renovar a comunicação e de construir com seriedade e estabilidade é da Igreja, mas também dos pais, dos educadores, dos governantes, dos comunicadores, de todos quantos servem, com ideal e sentido, as pessoas e a comunidade. Os bispos, no seu conjunto, sentem o desafio, não desistem, não enterram a cabeça, não derivam para margens de maior facilidade. Podem não ver claro, mas não fecham os olhos, nem cedem ao mais badalado. Também não estão apavorados com a diminuição dos que frequentam os templos.
No discurso há advertências e certezas para reflectir. O Papa não inventou, não ralhou, não se deparou com um caso raro e singular. As suas preocupações são as da Igreja numa Europa que deixou inquinar as raízes e perdeu o rumo. Não são muitos os crentes preparados para enfrentar os desencontrados vendavais que a fustigam. O Vaticano II não está cumprido. A Igreja que dele recebeu uma luz singular, centrada em Jesus Cristo e na sua mensagem, é a Igreja Comunhão e Missão, com suas riquezas e consequências, que isto comporta. Dar consciência aos leigos da sua dignidade, dar lugar aos seus direitos e deveres, não tem tido caminho fácil. A ferrugem do tempo, que dá pelo nome de clericalismo e tradicionalismo vazio, bem como o desequilíbrio que entrou nas tarefas sacerdotais e a dispersão de vida de muita gente, não têm favorecido mudanças pastorais inadiáveis. A isso se refere muito justamente o Papa, quando fala de “construir caminhos de comunhão, encontrar novas formas de integração na comunidade, mudar o estilo de organização da comunidade eclesial e a mentalidade dos seus membros, em ordem a uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado”. Assim se realizará na Igreja a unidade co-responsável. A exigência da iniciação cristã, que o Papa sublinha e sobre a qual os bispos portugueses vêm reflectindo, é convicção comum de que se trata do caminho certo para evitar mais baptizados pagãos, termos mais convertidos ao Evangelho de Cristo e mais cristãos adultos que sejam rosto sereno e corajoso de uma Igreja viva e comprometida. Há já caminhos andados neste rumo, mas ainda muitos a exigir potentes máquinas de surriba, antes que se tornem viáveis.
Acalmadas as críticas, os bispos, movidos por dever e convicção, mais que por emoções, irão, com outros cristãos, “ver, julgar e agir”. Há campo vasto em aberto.
A viagem vem sendo longa e penosa, mas a missão urge e desistir não é da Igreja.
Ouvido Bento XVI, achei as suas palavras oportunas e interpeladoras para o momento que vivemos. Falou-se, por lá e por cá, na deficiente tradução. Mas isso em nada impede a compreensão e muito menos uma tradução viva e coerente, feita por via de zelo, reflexão e acção. Ora esta depende dos bispos em conjunto, de cada bispo com os seus colaboradores, dos cristãos acordados e dispostos a andar e a colaborar, para que a Igreja tenha sentido no presente e seja orientação para o futuro dos crentes.
Aos atentos não lhes passa despercebida a preocupação dos bispos para que, num mundo em mudança cultural e ante os ataques frequentes à Igreja e à sua acção pastoral, bem como às instituições fundamentais da sociedade, como a família e seus membros, se encontrem caminhos novos capazes de traduzir hoje para todos, de modo compreensivo e motivador, o Evangelho de sempre. No campo que é próprio de cada um, com preocupação idêntica e iguais dificuldades se debatem muitos outros responsáveis sociais, em relação aos seus objectivos. O relativismo, a preocupação de nivelar por baixo, o individualismo exacerbado, a anarquia mental e moral põem ao sabor do vento corações e cabeças, muitas casas onde vive gente séria, que quer acertar.
A dificuldade de renovar a comunicação e de construir com seriedade e estabilidade é da Igreja, mas também dos pais, dos educadores, dos governantes, dos comunicadores, de todos quantos servem, com ideal e sentido, as pessoas e a comunidade. Os bispos, no seu conjunto, sentem o desafio, não desistem, não enterram a cabeça, não derivam para margens de maior facilidade. Podem não ver claro, mas não fecham os olhos, nem cedem ao mais badalado. Também não estão apavorados com a diminuição dos que frequentam os templos.
No discurso há advertências e certezas para reflectir. O Papa não inventou, não ralhou, não se deparou com um caso raro e singular. As suas preocupações são as da Igreja numa Europa que deixou inquinar as raízes e perdeu o rumo. Não são muitos os crentes preparados para enfrentar os desencontrados vendavais que a fustigam. O Vaticano II não está cumprido. A Igreja que dele recebeu uma luz singular, centrada em Jesus Cristo e na sua mensagem, é a Igreja Comunhão e Missão, com suas riquezas e consequências, que isto comporta. Dar consciência aos leigos da sua dignidade, dar lugar aos seus direitos e deveres, não tem tido caminho fácil. A ferrugem do tempo, que dá pelo nome de clericalismo e tradicionalismo vazio, bem como o desequilíbrio que entrou nas tarefas sacerdotais e a dispersão de vida de muita gente, não têm favorecido mudanças pastorais inadiáveis. A isso se refere muito justamente o Papa, quando fala de “construir caminhos de comunhão, encontrar novas formas de integração na comunidade, mudar o estilo de organização da comunidade eclesial e a mentalidade dos seus membros, em ordem a uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado”. Assim se realizará na Igreja a unidade co-responsável. A exigência da iniciação cristã, que o Papa sublinha e sobre a qual os bispos portugueses vêm reflectindo, é convicção comum de que se trata do caminho certo para evitar mais baptizados pagãos, termos mais convertidos ao Evangelho de Cristo e mais cristãos adultos que sejam rosto sereno e corajoso de uma Igreja viva e comprometida. Há já caminhos andados neste rumo, mas ainda muitos a exigir potentes máquinas de surriba, antes que se tornem viáveis.
Acalmadas as críticas, os bispos, movidos por dever e convicção, mais que por emoções, irão, com outros cristãos, “ver, julgar e agir”. Há campo vasto em aberto.
A viagem vem sendo longa e penosa, mas a missão urge e desistir não é da Igreja.
António Marcelino