E assim vamos no ciclo do tempo. Lento, veloz, sereno, revolto. O tempo que se recicla e nos recicla. Lança-nos no retorno das coisas, nas repetições da paisagem, do sol, da chuva, da terra, da semente, do sono outonal, do renascimento, numa teimosia de renovar e reviver dentro do mesmo espaço e duma duração que se sente mas se não vê. O tempo, afinal, não existe. Existimos nós que passamos, morremos continuamente para a etapa anterior e nos refrescamos no presente e no advir. Sentindo sempre que tudo é volátil, passageiro, aparentemente insignificante. Experiências, descobertas, emoções, com o rodar do tempo esvaem-se, envelhecem, parecem sem sentido.
E, todavia, a esperança que sempre emerge mesmo das mortes, dos outonos, das sementeiras profundas, das árvores desnudadas e tristes, reaviva-nos irresistivelmente. De tal modo que a morte continua a ser visceralmente repugnante. Temos sempre preparado o alerta máximo para qualquer ameaça próxima ou distante. Mesmo com a fé pronta para entender a ressurreição e a eternidade sempre extraímos de cada breve momento a seiva plena como se fora um composto de eternidade. Foi Deus quem nos plantou na alma este instinto de eterno que ultrapassa o nosso raciocínio e mesmo as formulações da nossa fé. Está no âmago do homem. Com a vinda de Jesus cada pequeno gesto em torno da árvore da vida ganhou um significado novo. Não se trata duma armação lógica, mas da certeza íntima de que Ele remiu todos os segundos do tempo e da eternidade e por isso tudo ganha uma interpretação transcendente. Olhamos, assim, de outro modo para as Estações, a natureza, o próximo e o longínquo, a tempestade e o tom primaveril que sempre irrompe das tardes mais cinzentas. O fim do ano litúrgico, a coroa de todos gestos de redenção, a esperança do renascimento no esboçar dum advento intemporal mas prenhe da história redentora de Jesus. Assim nos apercebemos que o Natal é muito mais que uma soma de objectos trocados. É o grande jogo do afecto pela vida nos seus diferentes tons. É uma liturgia, uma parábola, uma história mais que mágica. Real. Com a estrela, os magos, o canto dos anjos, o Menino reclinado, a humanidade em festa porque redimida. Seja em que tom for, este hino de Deus no meio dos homens nunca pode deixar de ser repetido. Mesmo que o Natal pareça mais um ciclo com menos imaginação.
António Rego
E, todavia, a esperança que sempre emerge mesmo das mortes, dos outonos, das sementeiras profundas, das árvores desnudadas e tristes, reaviva-nos irresistivelmente. De tal modo que a morte continua a ser visceralmente repugnante. Temos sempre preparado o alerta máximo para qualquer ameaça próxima ou distante. Mesmo com a fé pronta para entender a ressurreição e a eternidade sempre extraímos de cada breve momento a seiva plena como se fora um composto de eternidade. Foi Deus quem nos plantou na alma este instinto de eterno que ultrapassa o nosso raciocínio e mesmo as formulações da nossa fé. Está no âmago do homem. Com a vinda de Jesus cada pequeno gesto em torno da árvore da vida ganhou um significado novo. Não se trata duma armação lógica, mas da certeza íntima de que Ele remiu todos os segundos do tempo e da eternidade e por isso tudo ganha uma interpretação transcendente. Olhamos, assim, de outro modo para as Estações, a natureza, o próximo e o longínquo, a tempestade e o tom primaveril que sempre irrompe das tardes mais cinzentas. O fim do ano litúrgico, a coroa de todos gestos de redenção, a esperança do renascimento no esboçar dum advento intemporal mas prenhe da história redentora de Jesus. Assim nos apercebemos que o Natal é muito mais que uma soma de objectos trocados. É o grande jogo do afecto pela vida nos seus diferentes tons. É uma liturgia, uma parábola, uma história mais que mágica. Real. Com a estrela, os magos, o canto dos anjos, o Menino reclinado, a humanidade em festa porque redimida. Seja em que tom for, este hino de Deus no meio dos homens nunca pode deixar de ser repetido. Mesmo que o Natal pareça mais um ciclo com menos imaginação.
António Rego