segunda-feira, 1 de maio de 2006

Dia do trabalhador – 1 de Maio

Depois da tempestade
vem a bonança
Hoje passei, ao fim da tarde, pelo lugar da Senhora dos Campos, local da concentração anual de muitas centenas de trabalhadores. Ali se reúnem, há anos, para celebrar o Dia do Trabalhador, num ambiente de festa popular, bem ao jeito do nosso povo. Apesar da crise económica que se sente, sem que o Governo de José Sócrates consiga dar-lhe a volta, é bom que os trabalhadores continuem a viver o seu Dia de forma festiva, como anestésico para os sofrimentos que muitos enfrentam, mas também como sinal de que depois da tempestade vem a bonança. Todos sabemos que no País há trabalhadores sem conta que estão no desemprego e com salários em atraso, mantendo-se bastantes em situação laboral precária. A instabilidade profissional é uma constante nos nossos dias, o que leva a dramas terríveis no seio das famílias. Ninguém ignora este estado de coisas, mas nem por isso alimentamos a solidariedade social no dia-a-dia. Olhando pouco à nossa volta, ficamo-nos, a grande maioria das vezes, com os nossos pequenos problemas e ignoramos os dramas de tantos compatriotas nossos. No meio do barulho tão próprio das festas populares dei comigo a pensar que é urgente unir esforços na luta por melhores condições de vida dos trabalhadores portugueses. Cada um a seu modo devia comprometer-se a agir, no sentido de pressionar as forças políticas a criarem incentivos, para que novas empresas consigam dar trabalho a tantos portugueses que esperam ansiosamente por um salário digno e certo. Importante será, ainda, que os nossos empresários sejam criativos e corajosos, porque das suas capacidades depende grandemente o sucesso no esforço de debelar a crise económica e social que tantos de nós afecta. Hoje ouvi alguém dizer que os empregos estão a tornar-se num luxo raro. É uma sorte ter-se garantia de trabalho com remuneração justa e regular. Há centenas de milhares de desempregados, mas também é verdade que nem por isso devemos cair no desânimo e cruzar os braços. Melhores dias virão, se todos nos convencermos de que o futuro nos pertence. A festa do 1º de Maio, que muitíssimos celebraram, prova que, no íntimo, não faltará confiança nos empregadores ou futuros empregadores e esperança em dias melhores. Fernando Martins

Aveiro por estes dias

Aveiro, com seus recantos e encantos (Para ver melhor, clique na foto)

Editorial do DN de hoje

O dia de Maio
Helena Garrido
Faz hoje 120 anos que os trabalhadores dos Estados Unidos fizeram uma greve pela redução dos seus horários diários de trabalho de 12 a 13 horas para oito. Uma iniciativa que culminou com os "mártires de Chicago", como foram conhecidos deste lado do Atlântico, com a morte por enforcamento de quatro dos sete condenados pelos tumultos de 4 de Maio em Chicago, onde, em Haymarket Square, explodiu uma bomba que matou sete polícias. Dois anos depois, em Paris, ficou determinado que 1 de Maio seria o Dia Internacional do Trabalhador.
O mundo mudou e voltou a mudar muito desde esse tempo. Entre os dias de Maio do século XIX e este início de século XXI caminhámos de um estrutura organizativa tão bem exposta nos Tempos Modernos de Chaplin para uma rede, em construção, onde cada um funciona quase como uma "empresa" no seu sentido clássico de produtor de bens ou serviços. As novas tecnologias estão a criar essa nova organização que faz desaparecer a "empresa" enquanto espaço onde todos se reúnem para produzir. O trabalhador pode ser hoje um nómada ou estar na sua terra prestando serviços ao vizinho do lado ou a quem está do outro lado do seu mundo.
A tendência de morte do espaço físico único para trabalhar condena a lógica em que se apoiam os sindicatos nascidos na era industrial das fábricas. A baixa taxa de sindicalização em alguns países apenas reflecte a incapacidade de os sindicatos se adaptarem aos tempos modernos, que não os de Chaplin. Estar sindicalizado pode hoje, em alguns casos, prejudicar mais do que defender quem trabalha.
Em Portugal o sindicalismo deixou-se ainda ferir mais fundo quando se organizou por classes profissionais, funcionando como corporações e acentuando as assimetrias em empresas ou na administração pública. Os grupos em posição de fazer parar a organização foram conseguindo mais aumentos que os seus pares.
A CGTP promete repensar-se, tendo já encomendado um estudo sobre o trabalho na actualidade, a debater em Novembro.
Se conseguirem mudar por dentro, talvez os sindicatos possam sobreviver à invasão do seu território por organizações privadas ou da própria sociedade civil em rede. Hoje, para a maioria dos trabalhadores, é mais útil um site com domínio "org" que muitos dos sindicatos.
Mais do que reivindicativo numa lógica por vezes agitadora, um sindicato deste tempo tem de ser uma rede global e funcionar com os instrumentos de um grupo de pressão. O tempo daquele dia de Maio passou.

Um artigo de João César das Neves, no DN

A comédia do Estado bisbilhoteiro
O nosso tempo pode ser muito cómico, até no meio das dificuldades. Portugal está em crise e boa parte dela vem do Estado. Há problemas gravíssimos na saúde, educação, justiça, finanças. As causas são variadas, mas uma razão é paradoxal: o sector público não faz o que é da sua conta porque anda a fazer o que é da nossa.
Pagamos uma fortuna todos os anos ao Sistema Nacional de Saúde para tratar as doenças, dar consultas, cuidar enfermos; ele não faz isso bem, mas ocupa-se a proibir o fumo. Nós dedicamos muito dinheiro às forças de segurança para prenderem os ladrões e protegerem os cidadãos; em vez disso andam a discutir umas décimas no grau de alcoolemia. Nós esbanjamos milhões no Ministério da Educação para ensinar os miúdos a ler, escrever e contar; em vez disso, dedica-se a congeminar educação sexual. O Ministério das Finanças arruína o País com os seus gastos, mas anda muito preocupado com o sobreendividamento das famílias.
Há umas décadas, quem tratava destes assuntos - tabaco, vinho, sexo, poupanças - eram as tias velhas e beatas. Sendo assuntos do foro pessoal, só algumas bisbilhoteiras se atreviam a comentá-los. Nessa altura, sem pachorra para aturar os ralhetes gongóricos, repudiaram-se as abelhudas moralistas. Passou a viver-se de forma desinibida e emancipada, participando numa sociedade livre e tolerante, que respeitava o indivíduo. Esta foi a grande vitória cultural de meados do século passado.
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Citação

"A virtude da caridade é o exercício da faculdade de amor sobrenatural. A virtude da fé é a subordinação de todas as faculdades da alma à faculdade do amor sobrenatural. A virtude da esperança é uma orientação da alma em direcção a uma transformação depois da qual ela será por inteiro e exclusivamente amor."
Simone Weil,
in "Carta a um homem religioso"

domingo, 30 de abril de 2006

Educação Moral e Religiosa Católica

Documento da Conferência Episcopal Portuguesa
Um valioso contributo
para a formação
da personalidade
Introdução
1. A Educação é uma tarefa fundamental da sociedade. Dela depende, decisivamente, o desenvolvimento harmonioso e integral das crianças, dos adolescentes e dos jovens, e a qualidade do progresso da sociedade.
Porque está em causa a pessoa humana, razão de ser e objecto central da missão da Igreja, a Conferência Episcopal Portuguesa pronunciou-se sobre a Educação, num passado relativamente próximo, através de uma carta Pastoral, em que expôs o seu pensamento e convidou todos os parceiros educativos a conjugarem esforços para melhorar a Educação em Portugal1 .
A Igreja Católica está presente nas múltiplas instâncias promotoras da Educação, onde, na fidelidade à sua missão específica, procura “proporcionar à pessoa a visão cristã do mundo, do homem e de Deus, e não se demitirá de continuar a oferecer, com total liberdade, propostas educativas”2 .
A sua acção educativa reveste-se de múltiplas formas e realiza-se, em primeiro lugar junto da família, comunidade educativa por excelência. Além disso, realiza-se através das suas próprias instituições educativas, particularmente as escolas católicas, mas também, no empenhamento em instituições estatais e privadas.
Assume especial importância a presença institucional que a Igreja Católica tem oferecido à Escola, nomeadamente no plano do Ensino Religioso Escolar, que usufrui, entre nós, de uma longa e relevante tradição. Essa intervenção consubstancia-se na disciplina/área curricular disciplinar de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), de carácter facultativo, que abrange os ensinos básico e secundário (do 1º ao 12º ano de escolaridade).
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Um texto de Anselmo Borges, no DN

Maria Madalena nos textos apócrifos
As mulheres têm motivos para uma boa relação com Jesus. Ele, durante a vida, com escândalo de muitos, teve para com elas uma atitude e comportamento de muita simpatia e ternura. Se a Igreja histórica nem sempre lhe seguiu o exemplo, havendo mesmo um forte contencioso das mulheres com a Igreja oficial, isso deve-se a muitas razões, como heresias que desprezavam o corpo, o sexo e o feminino, questões ligadas ao poder e ao machismo.
Para lá dos textos canónicos - aqueles que a Igreja aceitou como regra de fé -, há também os apócrifos, que a Igreja não recebeu, não significando isso que não possam ter importância. Entre eles encontram-se os textos gnósticos, de que tanto se tem falado e acessíveis sobretudo com a descoberta, em 1945, da biblioteca de Nag Hammadi, no Egipto (o Evangelho de Judas insere-se nesta tradição).
Ora, o que dizem os apócrifos sobre Maria Madalena?
A tradição apócrifa, sobretudo gnóstica, tem textos muito controversos sobre a relação entre Jesus e Maria Madalena. Assim, no Evangelho de Filipe, pode ler-se: "A companheira do Salvador é Maria Madalena. O Salvador amava-a mais do que a todos os discípulos e beijava-a frequentemente na boca. Os outros discípulos disseram-lhe: 'Porque a amas mais do que a nós?' O Salvador respondeu-lhes, dizendo: 'Porque não vos amo a vós como a ela?'"
No Evangelho de Maria, Pedro, com animosidade, reconhece que o Mestre a apreciava mais do que às outras mulheres, perguntando inclusivamente: "Falou com uma mulher sem que o soubéssemos, e não manifestamente, de modo que todos devemos escutá-la? Será que a preferiu mais do que a nós?"
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