sexta-feira, 10 de março de 2006

ROTA DA LUZ CONSOME-SE A SI PRÓPRIA

Sede da Rota da Luz

Novo presidente da Rota da Luz, em entrevista ao Diário de Aveiro "A Rota da Luz tem um lado
autofágico e consome-se a ela própria"
Sente que é presidente de uma instituição fragilizada, já que os municípios têm dado sinais de descontentamento com o funcionamento da Rota da Luz e falam até na necessidade de criar outra entidade?
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Este é o momento em que os municípios, as administrações regionais e a administração central estão a pensar na reformulação do modo de encarar o turismo. Não é um exclusivo das autarquias – todos estamos a pensar quais os novos modelos adequados. É um momento importante porque os modelos se estão a definir. As regiões de turismo, por força de novas entidades que surgem mas também por causa dos novos paradigmas, têm de repensar a sua maneira de intervir. Estamos todos de acordo quanto a isso. O turismo é cada vez mais uma componente importante do PIB e percebemos que este modo de agir tem de ser muito mais bem organizado do que o foi até hoje.
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quinta-feira, 9 de março de 2006

CAVACO SILVA toma posse como Presidente da República

Presidente da República reafirma disponibilidade para cooperar com o Governo
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, reafirmou hoje, durante a cerimónia de tomada de posse, que está a decorrer no Parlamento, a sua total disponibilidade para cooperar com o Governo de José Sócrates. Cavaco Silva propôs cinco desafios à sociedade portuguesa. O primeiro é a criação de condições para o crescimento mais rápido da economia, com o objectivo de proporcionar mais emprego aos portugueses e aproximar Portugal dos parceiros europeus.
O segundo desafio compreende a qualificação dos recursos humanos, tanto ao nível da educação dos jovens como da qualificação dos trabalhadores.
A terceira proposta feita por Cavaco Silva reside no reforço da credibilidade do sistema de justiça, com o intuito de criar um sistema de justiça "mais eficaz, credível e responsável".
O quarto ponto é a sustentabilidade do sistema social e a necessidade de se encontrar uma fórmula que permita manter o actual apoio social aos mais desfavorecidos, aos desempregos e aos reformados.
Por último, Cavaco Silva apontou a credibilização do sistema político como o quinto desafio a que Portugal tem de responder. "Os agentes políticos têm de ser um exemplo de cultura da honestidade, de transparência, de responsabilidade, de rigor na utilização dos recursos do Estado, de ética do serviço público, de respeito pela dignidade das pessoas, de cumprimento de promessas feitas", sublinhou.
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Um artigo de Bagão Félix, no Correio do Vouga

SER E TER
Fazem parte dos verbos fundamentais da nossa existência. Andam de mãos dadas e de pés atados: o ser e o ter. Às vezes sós, muitas vezes acompanhados do saber, do fazer, do dar, do amar. O nosso viver confronta-se invariavelmente entre a liberdade de se ser, a necessidade de se ter, a responsabilidade de se dar, a capacidade de se fazer, a exigência de se saber, o impulso de se amar. Mas, num tempo impulsionado cada vez mais pelas tecnologias poderosas e pela obsessão da circunstância, é entre o ser e o ter que nos vemos constantemente desafiados. É de tal modo assim, que na linguagem corrente nos deixamos aliciar pela hegemonia do ter, mesmo se com isso apenas estamos a ser. Usa-se e abusa-se do ter, para se expressar uma acção, um movimento, um processo, um estado de alma até. Já não sói dizer-se “penso”, mas “tenho uma ideia”, “quero” mas “tenho vontade”; ou um “tenho um desejo”, quando nos bastaria tão simplesmente a conjugação do verbo desejar. E, não raro, até nos damos conta de que, em vez de “sermos”, dizemos que “temos uma vida”… Este tipo de linguagem denuncia a supremacia quase inconsciente e perigosamente alienante do ter sobre o ser, no nosso quotidiano. Até os problemas que nos consomem em cada dia já não são do domínio do ser mas do ter. Por isso, dizemos “Eu tenho um problema” o que significa que transformamos a percepção do problema em qualquer coisa que passamos a possuir: o próprio problema!... E este vinga-se passando de possuído a possuidor. :
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ROTA DA LUZ VAI MUDAR DE NOME

A Região de Turismo da Rota da Luz deverá mudar a sua designação, revelou o novo presidente da instituição, Pedro Silva. Em entrevista ao Diário de Aveiro, a publicar nos próximos dias, o responsável adiantou que está em marcha um projecto de renovação da imagem institucional do organismo, de que faz parte a alteração do nome. «As regiões de turismo no país foram mudando o seu nome para que pudesse haver uma maior identificação geográfica», afirmou, acrescentando: «Qualquer pessoa em Espanha ou França percebe onde está Leiria-Fátima, ou o Alto Tâmega, ou a Serra da Estrela... São referências geográficas». «A Rota da Luz deve ser a única no país que não tem uma referência geográfica específica. Para melhor identificar a região, temos de mudar», salientou ao Diário de Aveiro, advertindo que a alteração da designação carece de aprovação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. O novo nome – que Pedro Silva não revela – será encontrado em conjunto com as autarquias que integram a Região de Turismo da Rota da Luz, de quem terá partido a ideia de alterar a designação da instituição. «Estamos a fazer contactos com as câmaras municipais e tenho encontrado muita sensibilidade», finalizou. Águeda, Albergaria-a-Velha, Arouca, Aveiro, Castelo de Paiva, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga, Vagos, Vale de Cambra e São João da Madeira são os municípios que integram a Rota da Luz.

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Fonte: Um texto de Rui Cunha, no Diário de Aveiro

Um artigo de D. António Marcelino

COMPAIXÃO,
GRANDEZA
DE UM SENTIMENTO
FRATERNO Aqui há uns anos, quando disse, perante uma situação, então ainda dolorosa e difícil de compreender e de aceitar, que o sentimento mais respeitador e estimulante era a compaixão, rasgaram-se as vestes pelo escândalo de uma tal opinião. Tratava-se de um programa de televisão, preparado com grande publicidade, na qual não faltava pimenta suficiente para estimular, convidar a ver e a não perder. A compaixão não é nem dó nem pena, mas sintonia interior com a situação e os sentimentos do outro ou dos outros, que leva ao gesto fraterno de fazer o que é possível para ajudar, a fim de que a pessoa não se sinta só e perceba que há sempre um ombro amigo que se pode encostar ao seu, dividir o peso da sua cruz e convidar a prosseguir. O Deus de Israel teve compaixão do povo, escravizado no Egipto. Jesus Cristo mostrou a sua compaixão para com a multidão que, no deserto, estava esvaída de cansaço e de fome, sem meios para responder à sua necessidade. Este sentimento divino encontrou resposta para um e outro caso. A mensagem quaresmal do Papa fala deste sentimento de compaixão, porque, no mundo de hoje, há multidões famintas de pão, de saúde, de alegria, de paz, de amor, de respeito, de justiça, de apreço. Onde não houver atenção a esta realidade e consideração pelo que ela tem de doloroso, nada muda, a não ser para pior, no sentimento e na dor de quem se sente marginalizado, desatendido, não amado nem respeitado. Um irmão sente a dor do irmão e partilha-a, é cireneu de quem se verga ao peso da cruz e, como o samaritano da parábola, muda projectos pessoais para ser alívio consolador e eficaz. Um irmão não passa ao lado de quem sofre, nem é indiferente aos esforços de quem vai avançando na vida com confiança e esforço Um irmão não julga nem condena, antes compreende e ama. É esta a grandeza e a beleza da compaixão fraterna, da solidariedade aberta para com aquele, de perto ou de longe, que precisa de estima e de apoio. A pobreza da nossa sociedade está no egoísmo que torna estéril o espaço das relações pessoais, mata os sentimentos nobres, capazes de compaixão e de partilha, e estabelece, a partir de critérios pouco honestos e falíveis, que não reconhecem dignidade, nem direitos e deveres, a todos por igual. O calor da fraternidade, afectiva e efectiva, humaniza a sociedade. A frieza egoística que só tem lugar para os interesses pessoais, satisfeitos a qualquer preço, é um vendaval selvagem que destrói a justiça, mina a verdade, levanta muros de divisão e discórdia, torna impossível os sentimentos gratuitos. O amor compassivo traduz a procura serena do bem do outro, mormente quando ele já o não consegue por si ou encontra fechadas todas as portas de acesso para o poder alcançar e desfrutar. Para um crente, o projecto de Deus, revelado em Jesus Cristo, é um desafio que o leva a pôr os pés na terra de todos os que sofrem e a cultivar um coração fraterno. Ao crente, verdadeiro e sincero, amarga o pão da abundância, quando cruza os seus olhos com os olhos incómodos e o rosto desfigurado do faminto. A compaixão, expressão de amor e de caridade efectiva, não dispensa nem ilude a justiça. Porém, a vida do dia a dia vai-nos mostrando como é difícil a justiça para um coração que não sente a dor do próximo e é incapaz de compaixão e de sintonia com quem quer que seja, tanto nos momentos de sofrimento, como das pequenas alegrias. A Quaresma, bem compreendida e vivida, molda o coração ao bem, um coração de carne não de pedra. No respeito sem condições e na partilha generosa, permite e alimenta relações fraternas, as únicas que humanizam o mundo das pessoas e dão gosto à nossa vida em sociedade.

quarta-feira, 8 de março de 2006

SEMANA SOCIAL, EM BRAGA, de 9 a 12 de Março

Carta Aberta aos cristãos e «a todos os homens de boa vontade» a propósito das Semanas Sociais Portuguesas
"Uma Sociedade
Criadora
de Emprego"
Vai realizar-se em Braga, de 9 a 12 de Março, nova edição das Semanas Sociais Portuguesas, uma iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, através da sua Comissão do Laicado e Família.
Em boa hora, a organização decidiu debater nesta edição o problema do emprego - um tema da maior importância e da maior actualidade, particularmente para Portugal. A este propósito, tenham-se em presença, pela preocupação que provocam, as mais recentes estatísticas publicadas por diversos organismos públicos nacionais e internacionais.
Na senda da inspiração do Papa João XXIII, este fórum destina-se certamente aos cristão e «a todos os homens de boa vontade» que, por exigência de consciência, estão preocupados com as implicações éticas, políticas e sociais do problema em causa no cumprimento da missão do Homem.
Estimula-se, pois, a viva participação de todos! Esta participação concretiza-se certamente pela presença nas sete sessões programadas, que contam com reflexões de várias personalidades com mérito reconhecido nacional e internacionalmente. Entre elas estão Renato Cardeal Martino, Jacques Delors, António Guterres, António Borges, Victor Constâncio, Jorge Braga de Macedo, Augusto Mateus, Daniel Bessa, Manuel Braga da Cruz, Eduardo Marçal Grilo e Roberto Carneiro. Concretiza-se, também, pelo posterior testemunho vivo da participação, nos diversos contextos da realidade social e da realidade eclesial.
Para esse efeito, mais que a discussão no âmbito das análises puramente científicas, instrumentos sempre exigíveis para o esboço de soluções possíveis, o fórum procurará criar, também, espaço para uma dinâmica de responsabilidade e de iniciativa, podendo cada um dar contributo relevante - pelo menos motivar os demais.Portanto, para além do convite que vos é dirigido, solicita-se que divulguem esta iniciativa e seus resultados nos contextos das vossas vivências, motivando as pessoas das vossas relações a participar no desenvolvimento e divulgação das soluções que aí se gizem para a questão do emprego, para bem de todos.
Com o maior empenho e que haja uma grande participação do vosso meio, junto os meus melhores cumprimentos,
Braga, 8 de Março de 2006
Pedro da Cunha-Sottomayor
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Um artigo de José Tolentino Mendonça

Bíblia, literatura e beleza
Quando Santo Agostinho, no seu De Doctrina Christiana, escrevia que quem folhear a Bíblia «encontrará muitos géneros de locução de tanta beleza», ousava temerari-amente equiparar os Livros Sagrados à excelência literária dos textos clássicos, reconhecendo que a qualidade espiritual é também enunciada por uma qualidade estética. Para Agostinho, a Bíblia era, claro, fonte de experiência religiosa, mas também, e de um modo irresistível, uma escola de escrita e de leitura. O seu século, porém, estava encravado num estreito cânone de beleza: se um jovem quisesse aprender a surpresa e perfeição do estilo devia unicamente beber na tradição retórica ou poética tradicional, que é como quem diz greco-latina. A Bíblia era apenas um suporte religioso. Uma língua de trapos acusada de ‘rusticitas’. As coisas que contava tinham um sentido, mas descritas de um modo irrelevante numa sociedade que se amotinava em torno aos filósofos, aos dramaturgos ou aos tribunos. As palavras de Agostinho falando de «tanta beleza» a propósito da Bíblia representariam, aos ouvidos do seu tempo, não um juízo, mas uma provocação. Hoje não sei bem o que são.
O entendimento da Bíblia, como repertório avulso de verdades, leva a que ainda um grande número de abordagens ao texto bíblico se interesse mais pelas ideias de homem, de alma ou de escatologia, negligenciando as ditas ‘palavras’, isto é, os dados da expressão, muitas vezes considerados como aspectos menores ou estranhos ao estudo de um documento essencialmente religioso. Embora, nos últimos anos, se vá consolidando a verificação de que a verdade bíblica é solidária com o seu suporte estético expressivo, pois fé e linguagem intrinsecamente se reclamam. E esteja a alterar-se uma certa conjuntura intelectual que remetia a Bíblia para o restrito domínio do religioso, esquecendo que a condição teológica da Bíblia é inseparável da sua natureza propriamente literária.
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