Fazem parte dos verbos fundamentais da nossa existência. Andam de mãos dadas e de pés atados: o ser e o ter. Às vezes sós, muitas vezes acompanhados do saber, do fazer, do dar, do amar.
O nosso viver confronta-se invariavelmente entre a liberdade de se ser, a necessidade de se ter, a responsabilidade de se dar, a capacidade de se fazer, a exigência de se saber, o impulso de se amar.
Mas, num tempo impulsionado cada vez mais pelas tecnologias poderosas e pela obsessão da circunstância, é entre o ser e o ter que nos vemos constantemente desafiados.
É de tal modo assim, que na linguagem corrente nos deixamos aliciar pela hegemonia do ter, mesmo se com isso apenas estamos a ser.
Usa-se e abusa-se do ter, para se expressar uma acção, um movimento, um processo, um estado de alma até.
Já não sói dizer-se “penso”, mas “tenho uma ideia”, “quero” mas “tenho vontade”; ou um “tenho um desejo”, quando nos bastaria tão simplesmente a conjugação do verbo desejar. E, não raro, até nos damos conta de que, em vez de “sermos”, dizemos que “temos uma vida”…
Este tipo de linguagem denuncia a supremacia quase inconsciente e perigosamente alienante do ter sobre o ser, no nosso quotidiano.
Até os problemas que nos consomem em cada dia já não são do domínio do ser mas do ter. Por isso, dizemos “Eu tenho um problema” o que significa que transformamos a percepção do problema em qualquer coisa que passamos a possuir: o próprio problema!... E este vinga-se passando de possuído a possuidor.
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