segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Um artigo de João César das Neves, no DN

Posted by Picasa João César das Neves A vida da cidade que já não é
Nova Orleães já não é. Uma cidade inteira, das mais simbólicas e ricas do mundo, desapareceu debaixo do desastre esmagador. De um dia para o outro, a terra do calor e ritmo, a combinação única de culturas, a personalidade incomparável deixou de ser. The Big Easy já não há.
Será certamente reconstruída, mas a nova Nova Orleães nunca será a velha Nova Orleães. Os novos sítios não substituirão os antigos recantos. O cheiro da tinta fresca cobrirá três séculos de História. Sobretudo, as vidas perdidas que deram vida à velha Nova Orleães nunca mais regressarão. A nova Nova Orleães será certamente grande e bela, terá certamente calor e ritmo, mas não será mais Nova Orleães. Nova Orleães já não é.
Perante o desastre, a cultura mediática entrega-se à tarefa mais ociosa e inútil denunciar responsáveis e ralhar com culpados. Faz assim em todos os desastres naturais. Nos fogos florestais portugueses, como no tsunami natalício do Índico ou no furacão de Nova Orleães. A culpa é dos ministros, dos interesses económicos, dos presidentes da câmara ou dos presidentes nacionais. O Governo tem culpa da seca, do envelhecimento, da desertificação. Perante a calamidade, discute-se política e exigem-se meios técnicos. Como se isso fosse a causa e a solução. Claro que houve erros e faltam recursos. Claro que se exigem reforços e novas medidas. Mas há algo que vai muito para lá disso tudo.
Esquecem que, por melhores que sejam os detectores de maremotos ou furacões, por mais fortes que sejam os diques ou os bombeiros, por mais que limpemos as matas ou compremos aviões, há uma dimensão irredutível e inelutável na nossa vulnerabilidade. O poder humano é minúsculo perante a catástrofe.
Plínio e todo o Império Romano ficaram chocados com a destruição de Pompeia em 24 de Agosto de 79. Voltaire e todo o Iluminismo ficaram chocados com a destruição de Lisboa em 1 de Novembro de 1755. Agora todos ficámos chocados com a destruição de Nova Orleães em 29 de Agosto de 2005. Vulcões, terramotos, furacões. Não melhorámos muito em dois mil anos. Quando a nação mais rica e poderosa de todos os tempos perde uma das suas grandes cidades em poucas horas, tem de haver algo muito para lá disto tudo.
O que há para lá disso é a suprema estupidez de perder uma cidade em poucas horas. Toda a beleza, toda a elevação e elegância, todo o fervilhar e animação, todo o calor e ritmo, toda a vida de Nova Orleães já não é. Esta é a suprema estupidez que fica para lá de todos os debates. Mas esta estupidez é a estupidez de toda a vida.
O que aconteceu a Nova Orleães em poucas horas é o que acontece a todas as cidades ao longo do tempo. A velha Roma já não é, tal como a velha Pompeia. A velha Lisboa já não é, a de ontem como a de 1754. Os que morrem pacificamente hoje nas suas camas não são, tal como Nova Orleães. A suprema estupidez é a perda, a mudança, o fim a que tudo está sujeito. Nada há mais certo que a morte. Subitamente ou devagar; e por vezes a agonia lenta é ainda mais estúpida que a súbita. O fim é a suprema estupidez de toda a vida.Mas o sentido de tudo advém da sua finalidade, tal como a razão da viagem é o destino. A perda e o sofrimento ganham significado pelo que vem depois. A horrível dor de parto justifica-se pelo nascimento. O cirurgião que amputa não é estúpido, porque salva o corpo todo. O semeador que enterra comida não é tonto, porque ela germina. A morte só é estúpida se nada vier depois. Vista apenas do lado de cá, a vida é estúpida porque morre. Vista a partir daquilo em que morte a transforma, a vida ganha sentido. Como a semente.
Todos os tempos, todas as culturas, sempre compreenderam que a vida, toda a vida, só tem sentido quando vista depois da morte. Quer o fim seja lento, quer súbito, como Nova Orleães, a vida só ganha sentido quando ultrapassa a morte. Esta é uma verdade universal, presente em todas as culturas. Todas, menos esta estúpida cultura mediática que vê desaparecer Nova Orleães sem perceber para onde ela foi.

domingo, 11 de setembro de 2005

Um texto de Gabriel Garcia Marquez

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Gabriel Garcia Marquez 


  PARA REFLEXÃO...

“Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem. Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate! Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas… Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida… Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas. Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha. Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento. 
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens … Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…” 


NB: Texto recolhido numa instituição, onde se encontrava exposto.

Um artigo de D. António Marcelino

Posted by Picasa Bem comum e ética na política
Ouvimos há dias um recente candidato à Presidência da República dizer que Portugal vive “um momento de crise, de desorientação e de indiferença.”. Falou da “crescente ausência de valores cívicos” e disse que “o pessimismo” é o pior dos problemas que nos afectam.
Um retrato assim sombrio, embora não constitua novidade, não dá lugar à tranquilidade. Embora com os exageros próprios, recomendados pelo acontecimento — era o anúncio da candidatura a Belém — o estado do país justifica alguns comentários.
O diagnóstico, com alguns matizes, deve ser aprofundado e levar-nos às causas da situação, para não se cair na tentação de pensar que tudo se resolve providencialmente, ou com a chegada de um qualquer cidadão, que se julga ele ou que outros julgam, ser o salvador da pátria. Ir por esse caminho, será regressar a um sebastianismo saloio, com nevoeiro tão denso que logo oculta a realidade e desvirtua o sucesso do herói esperado.
O momento, não sendo ainda dramático, é preocupante. Como não há efeitos sem causas que os provoquem, impõe-se um reflexão, séria, objectiva e serena, para que seja honesta, sobre o que está acontecendo neste país que o levou, perigosamente, a um vazio de esperança e de vontade de reagir. Há os que dizem que somos assim e não há nada a fazer. Tais opiniões nem resolvem, nem confortam. Mas, também, nada há a esperar de festivais de elogios, sonhos esfusiantes, punhados de areia aos olhos.
Afinal, o que se passa ? A partir de cima, parece que o bem comum deixou de ser projecto de todos e a favor de todos, dando lugar à conquista e defesa de prestígios pessoais e partidários; as leis fazem-se e interpretam-se consoante interesses e ideologias e, do mesmo sítio e do gabinete ao lado, saem orientações contraditórias; para cumprir promessas eleitorais que, honestamente, não se podiam nem deviam fazer, mudam-se leis, fazem-se acordos duvidosos, queimam-se pessoas, diz-se e logo se desdiz; há órgãos da comunicação social controláveis a promover pessoas, calar verdades, servir interesses partidários e pessoais; a corrupção aumenta, como erva daninha; põem-se amigos em estátuas de pé alto e apeiam-se cidadãos de estatura e mérito; interrompem-se projectos válidos que não foram de sua iniciativa e geram-se divisões que irão durar décadas e paralisar a necessária colaboração; fomenta-se o assalto das ideologias subversivas, a pretexto de liberdade e troca de favores; promulgam-se leis à revelia da realidade do país, das pessoas e dos seus direitos; uns são ouvidos sem falar e outros esquecidos, mesmo que gritem; o país põe-se de cócoras, ante vacuidades vistosas de outras terras, quando aí os responsáveis já sofrem dores com o caos por elas gerado…
O que se pode esperar assim das pessoas, riqueza de um país, senão desinteresse, desorientação, pessimismo, desconfiança? Tudo terreno fácil para o individualismo, os jogos de interesses, a crítica destrutiva, a falta de esperança e de empenhamento? O povo honesto vê, a partir de cima, destruídos os seus valores, como o amor ao trabalho, a honradez nos compromissos, o respeito pelos bens alheios, a solidariedade mútua, a verdade e a fidelidade nas relações pessoais; os seus esforços não reconhecidos, seus sonhos e projectos ridicularizados. O povo só serve para votar e pagar impostos?
Dar coragem às pessoas é ir ao encontro das causas que tudo destroem; é uni-las e não as dividir por critérios discutíveis de direitas e esquerdas; é não as iludir com promessas; é mostrar-lhes que o país está acima dos compadrios políticos; é dizer aos jovens, com factos e testemunhos de honestidade e de verdade, que Portugal tem futuro; é procurar políticos que vejam o bem comum como único projecto capaz de aglutinar vontades e esforços; é promover a união e a colaboração, respeitar e acolher as diferenças legítimas.; é não apagar a verdade histórica e aprender com os erros cometidos. Afinal, é tomar a sério a verdadeira democracia.

AROUCA: Terra e gentes merecem uma visita

 


 
Numa organização da Câmara Municipal da Lousã, com o apoio do ISCIA, encontra-se patente, até ao próximo dia 18, no Museu Etnográfico daquela vila, a exposição "Um Olhar sobre a Arouca". À descoberta da Serra, Paulo Bastos traz-nos o Sr. Manel, brasões, cruzes, carroças, moreias, as pedras parideiras e muito mais. 
Arouca é uma simpática vila situada no extremo nordeste do distrito de Aveiro, num vale esguio e fértil, cercado por diversas serras. O Monte da Mó e a Serra da Freita, erguem-se aprumados e vigilantes, como escoltas que guardam o riquíssimo tesouro da vila. De entre as várias relíquias que poderá encontrar em Arouca, destacam-se o Mosteiro de Arouca, o qual compreende a Igreja paroquial e o túmulo de D. Mafalda, o Calvário, Capela da Senhora da Mó e a Casa dos Malafaias, conhecida por "Casa Grande". 
Arouca é dotada de uma riqueza geológica muito forte, tendo no passado havido uma forte exploração de minerais, nomeadamente o volfrâmio. Agora subsistem apenas as ruínas das minas e as inúmeras escombreiras, que se podem visionar um pouco por todas as encostas.

Um texto de Luís Naves, no DN

Um mundo em mudança ou o dia que mudou o mundo?
Nos meses seguintes ao 11 de Setembro de 2001, muitos textos sobre os atentados começavam pela frase "o dia que mudou o mundo". Passados quatro anos, o tom peremptório tende a desaparecer. Há mesmo quem pense que a sociedade dos países atingidos pelo terrorismo não terá mudado de forma tão profunda como se previa após cada acção destrutiva.
Houve mudanças, não apenas na América mas em outros países afectados pela vaga de ataques da Al-Qaeda a sensação de segurança dos cidadãos já não é a mesma, o que tem reflexos na vida quotidiana; as pessoas não viajam da mesma maneira; mudaram os destinos turísticos; as minorias muçulmanas sentiram o impacto de mais discriminação; por outro lado, haverá hoje, nos países ocidentais, um interesse desconfiado pela cultura islâmica; até a linguagem foi enriquecida, com termos que reflectem o novo fenómeno (quem conheceria a palavra talibã, por exemplo?).
Os atentados (nos EUA, em Londres, em Madrid) terão mudado a geopolítica. A opinião pública ocidental ganhou consciência do perigo colocado pelo crescimento do radicalismo islâmico. Nos últimos quatro anos, parte da actualidade andou em torno deste tema. A Administração americana chama-lhe "guerra contra o terror" e nela tem gasto muito dinheiro.
No entanto, é difícil dizer se a diminuição da intensidade do conflito israelo-palestiniano é consequência desta nova preocupação. Por outro lado, as teses que pretendiam ligar o regime de Saddam Hussein à proliferação das armas de destruição maciça estão hoje desacreditadas, enquanto antigos elementos da Administração americana admitem que os indícios que ligavam Saddam ao terror islâmico eram, já na altura em que foram apresentados por Washington, pouco credíveis. No fundo, admite-se que não foi este o motivo da invasão do Iraque. E que dizer da atrocidade de Beslan, cujo horror tem génese na Chechénia, uma guerra pós-soviética, num caótico fragmento da implosão da Guerra Fria, que por acaso tem maioria muçulmana? Faz parte do mesmo conflito do 11 de Setembro, do 11 de Março ou do 7 de Julho?
(Para ler mais, clique DIÁRIO DE NOTÍCIAS)

sábado, 10 de setembro de 2005

ÍLHAVO: BIBLIOTECA NO PALÁCIO DE ALQUEIDÃO

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BIBLIOTECAS COM VIDA Amanhã, domingo, a Biblioteca Municipal de Ílhavo vai ser inaugurada no antigo Palácio de Alqueidão, depois das profundas obras de remodelação e recuperação por que passou aquele secular edifício e nas quais foram investidos dois milhões e 155 mil euros. O restaurado edifício inclui ainda o Fórum da Juventude e a Capela de Alqueidão. Entretanto, a Câmara Municipal de Ílhavo anuncia que em breve serão abertos pólos de leitura nas Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo. Penso que poucos contestarão estas iniciativas da autarquia ilhavense ligadas à cultura, em especial, e à promoção da leitura, em particular. Ler, hoje como sempre, é importantíssimo na vida, ou não sejam os livros fontes inesgotáveis de saberes e de vivências. Os livros, quando bem escolhidos, levam-nos a viajar através dos tempos, fazem-nos reviver acontecimentos históricos, abrem o nosso espírito a novos horizontes, recriam o imaginário dos leitores, promovem a solidariedade entre os homens e tratam-nos como amigos de tantas horas. Importa, por isso, que as Bibliotecas tenham vida, que saibam conquistar novos leitores, que se abram a gentes de todas as idades e condições sociais, que sejam actualizadas com muita regularidade. Que sentido faz ter bibliotecas abertas, se apenas nos oferecem livros que poucos lêem, se não apresentam literatura recente para gostos diversos, se não investem na aproximação entre escritores e leitores? Fernando Martins

Um artigo de Francisco Crespo, no SOLIDARIEDADE

Posted by Picasa Francisco Crespo, presidente da CNIS Unidade e Corresponsabilidade
Um mensário, auto-qualificado de Economia Social e Acção Solidária, após alguns meses de estranho silêncio, entendeu dever arremeter mais uma vez contra a CNIS, tecendo, num tom alarmista e pretensamente preocupado, uma série de considerações que a dão como palco privilegiado de tramóias e jogos de poder estranhos aos interesses do conjunto de IPSS que a Confederação representa.
Não nos espanta tal atitude, já que, como é sabido, o respectivo director havia prometido guerra aberta a quem teve de actuar face ao crescendo de críticas e de conflitos que cada edição do nosso "Solidariedade" então suscitava.
Procurei, no que diz respeito à solução deste problema, agir com total respeito pelas pessoas envolvidas. Sabia, no entanto, como sei hoje, que ciclicamente a vida da CNIS seria objecto de todo o tipo de manobras especulativas que, no final, permitissem demonstrar o erro crasso que foi a alteração de estratégia de produção do "Solidariedade".
E elas aí estão mais uma vez…
Agora são os Bispos que estão perplexos e preocupados com uma alegada crise da CNIS, o que poderia levar à criação de uma união vertical das instituições da igreja, urgindo por via disso "procurar um presidente"; "antecipar o Congresso"; "promover eleições" e "defender as IPSS".
Pese embora o tom comicieiro e eleitoralista do texto publicado, que não enganará ninguém de boa fé, creio ser importante dizer que, individual ou colectivamente, os Senhores Bispos não manifestaram ao presidente da CNIS, por qualquer forma, alarme perante uma propagandeada crise interna.
(Para ler todo o artigo, clique SOLIDARIEDADE)

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