sexta-feira, 7 de maio de 2021

Jesus convida-nos a viver a sua alegria

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo VI da Páscoa

São João, o discípulo amado que reclinou a cabeça no ombro de Jesus na ceia de despedida, deixa-nos em discursos sucessivos as confidências mais íntimas e profundas do Mestre, antes de ir para o Jardim das Oliveiras e iniciar o processo da paixão. As leituras de hoje convidam-nos a contemplar o amor de Deus manifestado na pessoa, nos gestos e palavras de Jesus e, agora, tornado presente na vida diária pelo amor dos discípulos. Na Igreja comunidade, núcleo da civilização do amor. Vamos acompanhar a narrativa e saborear a sua mensagem.
Em discurso directo, Jesus dá a conhecer as relações que mantém com Deus Pai e as que pretende que os seus discípulos cultivem e pratiquem. Não recorre a metáforas nem a símbolos. Fala de realidades sublimes em linguagem normal. E centra-as no amor em cadeia, que tem a fonte no Pai, toma o rosto humano em si mesmo, estende-se a quem o segue e ama como ele. Este é centro donde provém tudo quanto faz e diz. Este é o centro para onde converge a missão que confia à comunidade dos amigos. Este é o centro que gera a mais eloquente história de amor vivida de tantas maneiras, ao longo dos tempos, por pessoas de todas as idades e categorias sociais. Jo 15, 9-17
“Verdadeiramente esta passagem é uma bela história de amor. Amor em cascata. De Deus Pai para seu Filho Jesus. De Jesus para seu Pai. De Jesus para nós, seus seguidores, mas antes de tudo seus amigos. Ele no-lo diz. E de nós para todos os que encontramos e amamos. Mais, a alegria, a sua alegria nos será oferecida e nos possuirá. Esta história de relações, convida-nos a sermos responsáveis de a transmitir. O Senhor não nos escolheu como seus amigos para ficarmos de braços cruzados, mas para irmos para a vida e aí darmos fruto. Como? Cada um terá de descobrir. Ele espera-nos neste caminhar”. Marie Bernadette, Vers dimanche.
Amar como ele é padrão e medida para o agir humano. Ele mostra bem onde encontra forças, a quem dá preferência e os custos que paga. Deixa claro qual é o projecto de salvação que Deus vai realizando por meio do Espírito Santo e da cooperação de toda a humanidade, sobretudo da Igreja.
O Papa saudou a beatificação de José Gregório Hernández (1864-1919), médico venezuelano conhecido pela sua dedicação aos pobres, que se celebrou na última sexta-feira, em Caracas, dia um de Maio. Elogiou um “médico cheio de ciência e de fé” que, como “bom samaritano”, soube reconhecer “o rosto de Cristo” nos doentes, com “caridade evangélica”.
Antes da celebração da beatificação, Havia enviado uma mensagem em que afirma: “Acredito sinceramente que este momento de unidade nacional, em torno da figura do médico do povo, constitua um momento especial para a Venezuela e exige ir mais longe, dando passos concretos em favor da unidade, sem se deixar vencer pelo desânimo”. E deu-se um passo imediato no encontro dos responsáveis do Presidente e do Cardeal de Caracas, visando a reconciliação nacional.
O amor fundado em Cristo faz das diferenças, comunhão; e da distância, proximidade; das rivalidades, concórdia; e do egoísmo e auto-estima, doação; do momento fugaz, ponto de encontro; e da tentação, oportunidade de superação; do esquecimento de si, memória viva e fecunda; e da morte que desfaz a “nossa morada terrestre”, a porta aberta para a vida plena de ressuscitados.
Esta qualidade de amor manifesta-se nos frutos pascais que “compensam”, em muito, a “privação” de outros bens, fruto de opções livres. Sirva de exemplo a lista que as aparições de Jesus ressuscitado apresentam, ora em género de saudação inicial, ora de entrega confiante ao longo da conversa com os discípulos: a paz, a reunião fraterna, o perdão recíproco, a fé confiante, o anúncio do futuro prometido, o envio em missão universal, a presença activa do Espírito encarregado de recordar todos os ensinamentos e de guiar na busca da verdade, o voto/apelo a que a nossa alegria completa.
Os discípulos são amigos e não servos, escolhidos e não recrutados, enviados como mensageiros e não auto-complacentes retidos em grupos fechados. Viver a alegria de Jesus é amar quem ele ama e cultivar os seus sentimentos. A comunidade dos amigos seguidores tem, aqui, a matriz da sua identidade. Fiel a esta matriz está chamada a ser testemunha do amor de Deus no mundo, sobretudo junto dos cansados da vida, dos torturados pelas incertezas, dos empobrecidos de bens indispensáveis, dos entristecidos e privados da esperança que rasga os limites do presente e dá sentido aos horizontes do futuro. A prova da fidelidade tem, sobretudo, este rosto de proximidade e de serviço, alegre e gratuito.

Pe. Georgino Rocha

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